sábado, 23 de janeiro de 2010

Gastronomia – O pão italiano nosso de cada dia (1)


Em São Paulo, um “tour” gastronômico pelo bairro do Bixiga (cuja origem está ligada à imigração italiana na cidade) nos remete ao irresistível sabor das padarias fundadas por imigrantes: Italianinha, São Domingos, Basilicata e 14 de Julho.

Cada uma delas é guardiã de uma italianidade que ajudou a transformar uma cidade provinciana em metrópole cosmopolita. O pão caseiro - à base de farinha de sêmola e batizado de “pão italiano” - que acaba de sair do forno é a marca registrada das padarias do bairro, onde também é possível encontrar outros produtos característicos da cozinha italiana: “aceto balsâmico di Modena” "ólio extravergine", "grana padano", "pastiera di grano", "panforte di Siena", entre outras delícias.

Na próxima postagem contaremos um pouco da história dessas padarias com sabor e alma italianos. 


História 37 - "Far l'America (5)": A decisão da elite rural no Congresso Agrícola de 1878





Um relato bem detalhado da Lei da Terra de 1850 e o contexto da substituição de mão-de-obra escrava pela força do trabalho do imigrante pode ser conferido na  dissertação de mestrado de André Luciano Simão.O trabalho avança em detalhes sobre a decisão de parte da elite rural brasileira apoiar a vinda de imigrantes europeus e asiáticos para substituir o regime escravocrata pelo do livre trabalho remunerado.

Em artigo publicado na Internet sob o título Agricultura e Mercado de Trabalho: Trabalhadores Brasileiros Livres nas Fazendas de Café e na Construção de Ferrovias em São Paulo, 1850-1890, a professora da Universidade de São Paulo) Maria Lúcia LaMounier (Departamento de Economia, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto -FEA-RP/USP) analisa o emprego de trabalhadores brasileiros livres em diversas atividades nas fazendas de café e na construção de ferrovias em São Paulo na segunda metade do século XI. Vale aqui destacar trecho do trabalho que faz referência à decisão da elite cafeeira em adotar a mão-de-obra européia, dada a inviabilidade de se manter o sistema escravocrata.


“Durante o Congresso Agrícola, realizado no Rio de Janeiro em 1878, os fazendeiros de café debateram várias propostas sobre o modo de encaminhar o problema da mão-de-obra. As sugestões abrangiam o uso de imigrantes europeus e asiáticos, a criação de milícias rurais e a coerção de brasileiros por meio de contratos draconianos reforçados por legislações repressivas. A proposta de uma ‘Comissão nomeada pelos lavradores de São Paulo’ favorecia claramente a promoção da imigração de europeus. A proposta aceitava também o engajamento de asiáticos como um meio de transição. Na opinião da Comissão, os trabalhadores brasileiros eram “indolentes” e resistentes ao “trabalho regular”. (Congresso Agrícola, 1878, p. 75-77). Mas durante os debates, vários outros fazendeiros paulistas sugeriram e defenderam mecanismos que incentivassem os nacionais a fornecer trabalho mais regular e estável”.

História 36 - "Far l'America (4)": avanços e recuos no sistema de implantação de colônias


Como docente da Universidade da Caxias do Sul, Luiza Horn Iotti é autora do artigoA Política Imigratória Brasileira e a sua Legislação – 1822-1914O texto passa em revista as medidas adotadas pelos governos brasileiros nesse amplo período, marcado por avanços e recuos.

A professora mostra que se com Dom Pedro I há a tentativa inicial do estabelecimento de colônias oficias com a fixação de imigrantes não lusos (em particular os alemães), o período regencial (1831-1840) marca uma inflexão no incentivo à imigração “. Os latinfudiários contrários a essa política viram com bons olhos a posição da Regência que “pôs fim à política imigratória subvencionada pelos cofres públicos, baseada na implantação de núcleos coloniais, foi abandonada, assim como as colônias fundadas durante o Primeiro Reinado”.

A questão da imigração ganharia novo fôlego a partir de 1848. Naquele ano o governo imperial publicava um decreto concedendo terras devolutas aos governos das Províncias, incentivando a criação de colônias provinciais, atraindo o interesse da iniciativa privada. Em 1850 o fim do tráfico de escravos (Lei Eusébio de Queiroz) e a promulgação da Lei da Terra mexeriam substancialmente com questão da imigração. "Regulamentada em 1854 através do Decreto n.º. 1318 de 30 de janeiro, a Lei de Terras também definiu a significação de terras devolutas, aboliu a gratuidade de lotes aos colonos, estabelecendo como único título de posse a compra”.

Começava,então, um novo ciclo no tocante à criação e desenvolvimentos de núcleos coloniais, abrindo, assim, o Brasil aos imigrantes europeus.

Italiani - Padre Sorio: religião, maçonaria e sangue

Na história da colonização italiana no rio Grande do Sul, no final do século XIX, não faltam episódios do envolvimento de padres italianos com as comunidades locais. A relação dos religiosos com o seus fiéis nem sempre foi amistoso.


É o caso do padre Antonio Sorio que em 1899 morerria de forma trágica quando voltava de uma capela, a cavalo. Sua história no Brasil tem relatos breves como o de frei Rovilio Costa (um dos maiores pesquisadores e editores de livros sobre a imigração no Rio Grande do Sul, falecido em 2009, aos 74 anos) e uma literatura mais aprofundada como livro O Crime Do Padre Sorio: Maçonaria E Igreja Católica escrito por Luiz Eugenio Vescio.

“Frei Rovilio faz as seguintes observações sobre o padre Sorio.

“O Pe. Vittorio Arnoffi, ex-franciscano, nomeado capelão de Silveira Martins em 3.11.1881, teve morte provocada violentamente, em 25.4.1884, segundo uns por trama da maçonaria (Rubert, 1977), segundo outros, em represália a seu procedimento. Com a morte do Pe. Vittorio Arnoffi, foi nomeado primeiro pároco de Silveira Martins o Pe. Antônio Sorio que em 31.12.1899 teve morte trágica, quando voltava de uma capela, a cavalo. Também esta morte é enigmática, estando em jogo a maçonaria (Rubert, 1977, p. 68) e acusações desabonadoras ao padre”.

“A interrogação sobre as acusações se deve sobretudo ao fato de o Pe. Antônio Sorio ter sido nomeado pároco de Silveira Martins com jurisdição sobre Vale Vêneto, que perdia, assim, a residência do sacerdote. Interpretação nesta linha se confirma pelas correspondências de 10.11.1884, de José Júlio de Albuquerque Barros, do palácio do Governo em Porto Alegre, recomendando ao chefe de polícia providências com relação ao fechamento da igreja de Vale Vêneto por moradores; carta de 5.9.1884, assinada pelos fabriqueiros e moradores de Vale Vêneto, declarando inicialmente: ‘I sottoscritti appartenenti a questa cappella dichiarano di non voler fare alcuno pagamento obbligatorio a qualsiasi sacerdote qualora non abbia la sua stabile dimora in questa località’.

Pela carta do Pe. Antônio Sorio, de 15.9.1884, ao bispo da diocese, bem se percebe que interesses escusos estavam presentes nas hostilidades à sua ação pastoral, como afirma, a certa altura: ‘Ontem, depois de celebrar a missa na matriz desta freguesia, dirigi-me para aquele referido lugar, Vale Vêneto, a fim de ali dizer missa hoje. Ali chegando, encontrei a capela cheia de gente e o negociante Paolo Bortoluzzi (o mesmo que motivara o abaixo-assinado dos colonos, na carta anterior) junto ao altar fazendo uma prédica. Exortando ele ao povo para que de nenhum modo me reconhecessem como vigário daquele lugar, não devendo ninguém, em caso nenhum, reclamar os meus serviços, pois só por esse modo se poderia obter um padre para residir aqui’ "

" Estranho zelo do Sr. Bortoluzzi, fechar a igreja e impedir a ação do padre! Não será que com a ausência do padre residente, sem a missa diária, não estaria em jogo o desfalque do comércio pela não aglomeração de fiéis? (Cartas que se encontram no Arquivo da Cúria, em Porto Alegre). Percorrendo a documentação existente no Arquivo da Cúria Metropolitana de Porto Alegre, não se encontra uma insinuação sequer contra os procedimentos morais dos padres Vittorio Arnoffi e Antônio Sorio, que segundo alguns teriam provocado suas mortes. Seguramente, a reação contra o comportamento moral dos mesmos seria maior do que a provocada pela mudança de residência deste último. Acusar-se-á, então, a maçonaria? Por que não considerar a reação de comerciantes que queriam sacerdotes e igreja a serviço de seus interesses?