Mesmo antes de sua concepção, o monumento "Heróis da Travessia do Atlântico"- recolocado neste mês de dezembro de 2010 no seu lugar de origem, às margens da Represa de Guarapiranga,(zona Sul da cidade de São Paulo) - causou polêmica por estar associado à figura de Benito Mussolini. A Prefeitura de São Paulo, relembra como é que o monumento foi concebido.
"Uma comissão de imigrantes italianos encaminhou à Câmara Municipal, em
1924, um pedido de licença para construir um monumento em homenagem a
Benito Mussolini numa das praças de São Paulo. Mussolini,
primeiro-ministro da Itália entre 1922 e 1943, era líder do movimento
nacional-imperialista daquele país, conhecido como “fascista”. O pedido
foi debatido pelos vereadores, mas logo ultrapassou o recinto da Câmara,
provocando manifestações de vários segmentos da sociedade. Dada a
reação, o projeto foi abandonado. Dois anos depois, no entanto, a idéia
foi retomada, mas a oposição a ela continuava tão viva quanto sua defesa
e, mais uma vez, o projeto ficou em suspenso.
Pouco tempo
depois, o general Francesco De Pinedo, o piloto Carlo Del Prete e o
mecânico Vitale Zachetti, todos italianos, atravessaram o Atlântico a
bordo do hidroavião Savóia 55 “Santa Maria” e amerissaram na represa do
Guarapiranga no dia 28 de fevereiro de 1927. Uma multidão os aguardava,
composta, sobretudo, por italianos aqui radicados e seus descendentes.
No dia 1º de agosto do mesmo ano, João Ribeiro de Barros realizou a
mesma façanha, a bordo do hidroavião Jaú.
A Light & Power Company
teve de colocar bondes extras para atender aos populares que acorriam à
represa saudar o aviador brasileiro. A Sociedade Dante Alighieri propôs
a construção de um monumento “aos heróis da travessia do Atlântico”,
junto à barragem do Guarapiranga e próximo ao local das amerissagens, no
então município de Santo Amaro.
Para celebrar a aventura de seus
compatriotas, Mussolini enviou a São Paulo uma coluna, com capitel em
estilo jônico, retirada de uma construção milenar recém-descoberta no
monte Capitólio, em Roma. A coluna foi incorporada ao monumento,
inaugurado no dia 21 de agosto de 1929. Em declaração à imprensa, Ottone
Zorlini (Treviso, Itália, 1891 – São Paulo, 1967), autor da obra, falou
sobre o seu significado: “A junção ideal da época da Roma antiga às
modernas conquistas que renovam e perpetuam a grandeza do passado,
constitui a concepção geral da obra”.
No topo de um alto
pedestal, uma escultura de bronze, chamada de “Vitória Alada”, lembra o
sonho de Ícaro e aponta na direção do oceano. Na face frontal do
pedestal, estrelas de bronze compõem a constelação do Cruzeiro do Sul.
Nas laterais, encontram-se dois
fascios. Um deles tem a esfera
celeste e a inscrição “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira; o
outro, o símbolo de Roma: uma loba alimentando os irmãos Rômulo e Remo. A
coluna romana está engastada na parte inferior do pedestal. A altura
total do monumento é de cerca de 9 metros.
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Fascio e machadinha: simbologia fascista |
O fascio –
feixe de varas transportado por antigos oficiais romanos, junto com uma
machadinha, quando acompanhavam os magistrados – era um símbolo
utilizado na Antiga Roma para expressar a idéia de que, uma vez unidos,
os homens não poderiam ser vencidos. O
fascio foi resgatado por Mussolini e transformado em símbolo do fascismo.
Mussolini
tinha interesses estratégicos nos vôos pioneiros dos aviadores
italianos e estudava o estabelecimento de pontos de apoio para sua frota
aérea. Chamava De Pinedo de “Senhor das distâncias” e o acompanhou na
definição do itinerário da viagem pelo Atlântico e pelas Duas Américas. O
hidroavião Savóia 55 foi batizado com o nome de uma das caravelas de
Colombo, a “Santa Maria”, lembrando assim a descoberta da América pelo
navegador genovês. A travessia do Atlântico, maior desafio da viagem,
foi feita em linha reta entre Bolama, na Guiné Portuguesa (atual
Guiné-Bissau), e Natal, no Rio Grande do Norte, seguindo depois pela
costa brasileira até Buenos Aires. De Buenos Aires, os italianos
cruzaram a América do Sul pelo interior do continente, seguindo os rios
Paraná, Paraguai, passando por Manaus, Cuba, e alcançando a América do
Norte. A travessia do Atlântico Norte foi feita em linha reta, de
Terranova, no Canadá, à Ilha dos Açores".