Marcel de Almeida Freitas, antropólogo (UFMG), mestre em Psicologia Social (UFMG), professor da Faculdade da Cidade de Santa Luzia (disciplinas História da Arte, Psicologia e Antropologia), é autor do trabalho A influência Italiana na arquitetura de Belo Horizonte . O texto apresenta notas sobre a interferência da imigração italiana na urbanização de Belo Horizonte e a influência de trabalhadores italianos na construção da capital. Na foto, o postal do Palacete Dantas - obra de Luis (Luigi) Olivieri
“Sob o ponto de vista da arquitetura e do urbanismo, a
história de Belo Horizonte é idiossincrática, já que foi planejada segundo os
modelos de modernização que transformaram urbes como Paris, por exemplo,
e fizeram surgir outras, planejadas, como La Plata e Canberra, respectivamente
na Argentina e na Austrália. Assim nascia Belo Horizonte em 1897, embalada pelos valores de 'progresso e ordem', caros ao positivismo, paradigma filosófico-científico
que ditava mentalidades e práticas sociais em diferentes campos. Sob a égide
do ethos evolucionista, os republicanos de Minas Gerais queriam construir
uma cidade diversa do passado barroco, colonial e escravocrata que até
então marcara o Estado e o país”.
"Quando a cidade começou a ser efetivamente construída, os trabalhos requisitavam um batalhão. (....) Na construção de Belo Horizonte alguns engenheiros de origem
italiana já se destacavam entre os muitos europeus, como o Dr. Burlamaqui,
Gustavo Farnese e Adolfo Radice. Os empreiteiros Afonso Massini e Carlos
Antonini destacaram-se na construção do ramal ferroviário que ligava as
estações Minas e General Carneiro, o que facilitou a vinda de pessoas do Rio
de Janeiro para Belo Horizonte".
"No ramo da exploração calcária, sobressaiu o descendente de italianos J. Orlandini, proprietário da pedreira Acaba Mundo a partir de 1895. Segundo informações colhidas por Barreto (1996), Carlos Antonini nasceu na Itália em 1839 e faleceu em Belo Horizonte em 1913. Antes de emigrar, foi oficial do exército italiano. Atuou nos ramos de engenharia,
como arquiteto, projetista, industrial e construtor. Dentre suas obras destaca-
se a parte posterior do Palácio da Liberdade. Projetou e construiu sua própria
residência, localizada nas esquinas das ruas Bahia e Bernardo Guimarães,
prédio que abrigou por muito tempo a Escola Ordem e Progresso, hoje tombado
pelo Iepha".
"Outro italiano que despontou nas artes e
arquitetura da nova capital foi Luis Olivieri. Formado em Florença, integrou a
comissão construtora como desenhista e, em 1897, criou o primeiro escritório
particular desse ofício na cidade. Em 1911 realizou a primeira exposição de
arquitetura da capital (BARRETO, 1996). Projetou, dentre muitas obras, o
Palacete Dantas (atual Secretaria de Cultura, de 1916) e o atual Psiu (antigo
Bemge, na Praça Sete)".
"No suprimento de materiais para a construção civil, a todo vapor naquela
época, foram importantes os Papini, que introduziram as telhas francesas,
instalando cerâmicas na região do atual Bairro Saudade, e os Antonini, que
produziam tijolos na estrada antiga entre Sabará e Belo Horizonte, hoje Bairro
Cardoso. Nos primeiros anos de Belo Horizonte, o Sr. Alberto Bressane Lopes
ergueu uma vila de casas para aluguel nas ruas Grão Mogol e Alfenas, com o
intuito de atender à grande demanda de habitações da capital. Outra vila foi por
ele construída na Rua Rio Grande do Norte, chamando-se Villa Bressane.
"Em
julho de 1896, Belo Horizonte recebia a visita do Sr. Alessandro D’Atri, figura
importante na Itália. Em palestra aos que trabalhavam nas obras da cidade,
elogiou a maneira como eram tratados seus conterrâneos e a operosidade da
comissão. 'O que mais o admirou foi que (...) em cima dos altos andaimes, em
torno das construções e embaixo de cobertas de zinco, cantavam e assobiavam
alegremente os operários, italianos em sua maioria, assentando pedras, tijolos,
amassando argamassas' (BARRETO, 1996, p. 643)".
A empreitada (“tarefa”)
da nova Igreja Nossa Senhora do Rosário, situada na esquina da Rua Tamoios
com Avenida Amazonas, ficou a cargo de um descendente de italianos, o Sr.
Afonso Massini. A Secretaria das Finanças, atual Secretaria de Estado da
Fazenda, foi edificada pelos tarefeiros José e Caetano Tricolli. João Morandi,
por sua vez, foi um arquiteto e escultor bastante ativo na comissão construtora.
Era nascido na parte italiana da Suíça, na cidade de Lugano. Antes de chegar
a Belo Horizonte atuou na construção da cidade de La Plata, na Argentina, até
1896. Trabalhou na ornamentação interna de diversos logradouros: Palácio da
Liberdade, antigo Museu de Mineralogia, Instituto de Educação, Igreja São
José, Igreja Nossa Senhora do Rosário”.
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