quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Italiani: Francesco Matarazzo, ícone da imigração italiana no Brasil (1)


Se o assunto é imigração italiana em São Paulo, o grande ícone que passaria para a história do Brasil é, sem dúvida, o conde Francesco Matarazzo, figura que ainda hoje desperta o interesse de muitos pesquisadores e historiados. Ronaldo Costa Couto, escritor, doutor em História pela Universidade de Paris-Sorbonne, economista é autor do livro Matarazzo (Planeta do Brasil, 2004), uma completa biografia do imigrante e empresário Francesco. 

Na Revista de História, publicação da Biblioteca Nacional, Costa Couta resume quem foi o conde Matarazzo. “Francesco desembarcou no Brasil disposto a fazer bons negócios. Mas logo recebeu uma péssima notícia: as duas toneladas de banha de porco que trouxera da Itália haviam naufragado a bordo de uma barcaça na Baía de Guanabara. A carga, seu maior investimento para recomeçar a vida no novo país, não tinha seguro. Um prejuízo como esse seria capaz de desanimar qualquer um. Mas ele não era qualquer um. Era Francesco Matarazzo, e se tornaria o maior empreendedor da história do Brasil.

Nascido em 1854 na pequenina Castellabate, região de Nápoles, aos 19 anos teve que interromper os estudos para assumir os negócios agropecuários e comerciais da família devido à morte precoce do pai, o médico Costabile Matarazzo.

A família enfrentaria tempos difíceis. Recém-unificada, a Itália sofria os efeitos da crise econômica europeia, especialmente em sua região sul. A ideia de emigrar amadureceria aos poucos. Tinha boas referências do Brasil, país grande, quase inexplorado, de vasto potencial e muitas oportunidades. Em visita aos Matarazzo, o amigo Francisco Grandino, radicado em Sorocaba, interior paulista, trazia notícias animadoras. O Brasil era o lugar ideal para “fazer a América”. Em 1881, com a ajuda da mãe, Mariangela, e de toda a família, o mais velho de nove irmãos cruzou o Atlântico com o objetivo inicial de tornar-se comerciante de secos e molhados.

Chegou com a mulher, Filomena, um filho de três anos e outro de colo.

A custosa carga de banha de porco fora escolhida por ser um produto essencial, que o Brasil importava dos Estados Unidos. Mas estava perdida. E agora, Francesco? Não é doutor, não conhece o país, não fala a língua. Segue para Sorocaba a fim de se encontrar com o amigo Grandino, estabelecido como pequeno comerciante, mas de muito prestígio na nascente colônia italiana. Simpático e trabalhador, Matarazzo é bem acolhido por todos.

Resta-lhe um milhar de liras, quantia apenas razoável, que usa na compra de quatro mulas e alguma mercadoria. Aventura-se como tropeiro comercial, zanzando pelas fazendas da região, tudo vendendo e tudo comprando. Em meados de 1882, abre modesto armazém de secos e molhados em Sorocaba. Comercialização de farinha de trigo, sal, fubá, arroz, feijão e outros alimentos. Especialmente banha de porco. 'Abri um botequim, ou venda, como se diz aqui no Brasil. Eu lhe faço notar que não tive jamais, nem procurei ter, o que se chama patrão', escreve a um amigo.

A estratégia rende rápidos lucros. Não demora a instalar pequenas fábricas de banha de alta qualidade na região, já com o apoio dos irmãos Andrea, o principal parceiro, Giuseppe e Luigi. Depois virão também Nicola e Costabile. Como a industrialização brasileira era incipiente, tenta produzir quase tudo de que precisa: fabrica não só a banha, mas as latas, as embalagens para acomodá-las, e assim por diante. Essa engenhosa verti¬calização leva o grupo a atuar em cadeias completas de insumo-produto: das matérias-primas ao produto acabado, transporte e comercialização final”.

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