Em O Brasil,
os imigrantes italianos e a política externa fascista, 1922-1943 , o pesquisador João Fábio Bertonha (Unicamp) mostra qual era, em 1925, olhar do governo fascista da Itália em relação aos imigrantes radicados no Brasil em 1925,
"Os interesses italianos para o Brasil nos anos 20 podem ser melhor
compreendidos, porém, através da leitura de um surpreendente relatório escrito
em 1925 por um emissário do governo italiano que, após passar três anos no Brasil,
enviou um relato incrivelmente lúcido, tanto sobre a situação dos italianos no Brasil
como sobre as pretensões de Roma no país na década de 20.
Umberto Sala inicia seu relatório4 comentando como a Itália continuava
sua crise demográfica e que, fechada a porta americana, a única saída disponível
era a América do Sul e, em especial, o Brasil. Sala ressaltava imediatamente,
porém, que isso era apenas um potencial e que vários fatores (exploração capitalista
em níveis fora do concebível mesmo de italianos para italianos, ação estatal de
proteção aos trabalhadores inexistente, etc) inibiam um retorno da migração italiana
de massa para o Brasil.
Ainda assim, o autor acreditava no enorme potencial do Brasil e em especial
do Estado de São Paulo e augurava como fundamental o não abandono do país
pela política italiana.
Nesse sentido, Umberto Sala lamentava o relativamente baixo nível de
envolvimento dos italianos na política paulista e discutia como seria proveitoso
fazer os italianos e seus filhos conservarem a italianidade, mas agirem na política
local em defesa dos interesses da comunidade e da Pátria mãe.
Nesse momento,
o autor ressaltava que, se fosse possível realmente fazer os italianos influírem na
vida política do Estado, estes conseguiriam, por simples peso demográfico, criar
um grande centro de influência italiana na América Latina.
Incorporar militarmente esse centro à Itália seria, continua o autor, muito
difícil devido à distância e à presença do poder dos Estados Unidos, mas surgiria,
de qualquer forma, um centro de expansão da raça italiana, onde a solidariedade
de origem, raça e cultura formaria algo semelhante a um “Dominion” inglês como
o Canadá ou a Austrália, onde se poderia contar com um lugar conveniente para
enviar os excedentes demográficos italianos, um aliado seguro em caso de guerra
e uma complementação econômica que seriam básicas para a sobrevivência da
raça italiana.
A tendência separatista de São Paulo também seria um fator auxiliar
para firmar o predomínio italiano no estado.
Em nome dessas possibilidades, o autor recomendava o retorno da
imigração italiana, as boas relações com o Brasil e a firme união da coletividade
em torno da italianidade e das diretrizes de Roma. Para isso, as sessões dos fasci
all’estero e das associações dos ex-combatentes seriam fundamentais, e ele termina
seu relatório ressaltando o progresso e o desenvolvimento desses órgãos”.
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