terça-feira, 16 de março de 2010

História (115)– Especial: Imigrantes e Fascismo(2)

Em  O Brasil, os imigrantes italianos e a política externa fascista, 1922-1943 ,  o pesquisador  João Fábio Bertonha (Unicamp) mostra qual era, em 1925, olhar do governo fascista da Itália em relação aos imigrantes radicados no Brasil em 1925,


"Os interesses italianos para o Brasil nos anos 20 podem ser melhor compreendidos, porém, através da leitura de um surpreendente relatório escrito em 1925 por um emissário do governo italiano que, após passar três anos no Brasil, enviou um relato incrivelmente lúcido, tanto sobre a situação dos italianos no Brasil como sobre as pretensões de Roma no país na década de 20.

Umberto Sala inicia seu relatório4 comentando como a Itália continuava sua crise demográfica e que, fechada a porta americana, a única saída disponível era a América do Sul e, em especial, o Brasil. Sala ressaltava imediatamente, porém, que isso era apenas um potencial e que vários fatores (exploração capitalista em níveis fora do concebível mesmo de italianos para italianos, ação estatal de proteção aos trabalhadores inexistente, etc) inibiam um retorno da migração italiana de massa para o Brasil.

Ainda assim, o autor acreditava no enorme potencial do Brasil e em especial do Estado de São Paulo e augurava como fundamental o não abandono do país pela política italiana. Nesse sentido, Umberto Sala lamentava o relativamente baixo nível de envolvimento dos italianos na política paulista e discutia como seria proveitoso fazer os italianos e seus filhos conservarem a italianidade, mas agirem na política local em defesa dos interesses da comunidade e da Pátria mãe.

Nesse momento, o autor ressaltava que, se fosse possível realmente fazer os italianos influírem na vida política do Estado, estes conseguiriam, por simples peso demográfico, criar um grande centro de influência italiana na América Latina. Incorporar militarmente esse centro à Itália seria, continua o autor, muito difícil devido à distância e à presença do poder dos Estados Unidos, mas surgiria, de qualquer forma, um centro de expansão da raça italiana, onde a solidariedade de origem, raça e cultura formaria algo semelhante a um “Dominion” inglês como o Canadá ou a Austrália, onde se poderia contar com um lugar conveniente para enviar os excedentes demográficos italianos, um aliado seguro em caso de guerra e uma complementação econômica que seriam básicas para a sobrevivência da raça italiana.

A tendência separatista de São Paulo também seria um fator auxiliar para firmar o predomínio italiano no estado. Em nome dessas possibilidades, o autor recomendava o retorno da imigração italiana, as boas relações com o Brasil e a firme união da coletividade em torno da italianidade e das diretrizes de Roma. Para isso, as sessões dos fasci all’estero e das associações dos ex-combatentes seriam fundamentais, e ele termina seu relatório ressaltando o progresso e o desenvolvimento desses órgãos”.

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