No teatro brasileiro, Gianni Ratto foi outro italiano a deixar importante legado.
"Gianni Ratto nasceu em Milão em 27 de agosto de 1916, mas viveu até a juventude em Gênova, com a mãe, Maria Ratto, pianista e professora de canto lírico. Na escola primária era chamado de “bastardo” por não levar o nome do pai, de quem Maria se separou quando era muito pequeno e passou a sustentá-lo sozinha através de seu trabalho com a música. Foi assim que Ratto teve seu primeiro contato com a arte: não apenas com a música, como também com a cenografia, pois foi uma aluna de sua mãe (filha de Gordon Craig) que o levou, pela primeira vez, ao ateliê do cenógrafo - experiência que o marcaria por toda a vida.
Começou a trabalhar no campo das artes e da cultura muito jovem.
Enquanto ainda estudava no Liceu Artístico, conseguiu um estágio com Mario Labò, renomado arquiteto genovês que tornou-se seu grande amigo e mestre. Inscreveu-se, também, em diversos concursos organizados pelo governo nas áreas de cenografia e cinema, obtendo êxito em vários deles e terminando por conseguir uma bolsa de estudos para cursar Direção no Centro Experimental de Cinema de Roma.
Estudou também Arquitetura no Politécnico de Milão, mas foi obrigado a abandonar tudo em função do início da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu enquanto prestava o Serviço Militar obrigatório. Não concordando com a posição de seu país, desertou do exército italiano e fugiu para a Grécia, onde viveu com camponeses por dois anos, passando todo tipo de necessidade, até o término da Guerra.
Em 1946 mudou-se para Milão e começou, junto com o amigo da escola de oficiais Paolo Grassi, a fazer teatro como cenógrafo.
Trabalhando, a partir daí, em todas as vertentes do espetáculo (teatro dramático e lírico, musical, dança e revista), sua carreira teve uma rápida evolução que culminou com a fundação do Piccolo Teatro de Milão, ao lado de Grassi e Giorgio Strehler, e o trabalho como cenógrafo e vice-diretor artístico do Teatro Alla Scala de Milão. Tornou-se um dos cenógrafos mais respeitados da Europa, e colaborou ativamente para o pensamento artístico de seu tempo, escrevendo artigos para revistas especializadas e dando palestras. Foi figura-chave na reconstrução do teatro italiano no pós-Guerra, trabalhando ao lado de grandes artistas, como Maria Callas, Herbert Von Karajan, Mitropoulos e Igor Stravinski.
Após alguns anos de trabalho ininterrupto, começou a sentir uma estagnação e ao mesmo tempo uma vontade de explorar novas possibilidades dentro do teatro, como a direção.
Em 1954, Maria Della Costa e Sandro Polloni, que estavam prestes a inaugurar seu teatro em São Paulo, foram à Itália convidar Ratto para cenografar - e dirigir - o espetáculo de inauguração do Teatro Maria Della Costa - 'O Canto da Cotovia', de Jean Anouilh. Ratto aceitou o convite, e acabou apaixonando-se pelo Brasil e mudando-se para cá. Chegou aqui quando o teatro verdadeiramente brasileiro estava começando a surgir, e foi esta possibilidade de construção de algo novo que o encantou.
Foi grande incentivador da dramaturgia nacional, pesquisando autores e montando textos não valorizados à época, como “ A Moratória”, de Jorge Andrade e “O Mambembe”, de Artur Azevedo, que obtiveram grande êxito.
Trabalhou brevemente no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e organizou um departamento de teatro para o MASP. Fundou e dirigiu companhias teatrais estáveis, como o Teatro dos Sete, em 1958 (com Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Sergio Britto e Ítalo Rossi), que teve um trabalho altamente premiado, e o Teatro Novo, nos anos 1970, um teatro/escola que abrigava um elenco permanente, um corpo de baile e uma orquestra de câmara - iniciativa fechada pela ditadura militar. Através de seu trabalho e dos conhecimentos que trouxe, participou como formador de pelo menos três gerações de artistas e técnicos teatrais brasileiros. Atuou também, formalmente, como professor, em vários cursos ministrados em diversas escolas e centros culturais (EAD-USP, Conservatório Nacional de Teatro, Universidade da Bahia, entre outros).
Realizou inúmeras montagens teatrais e operísticas, exercendo diversas funções na construção da cena: direção, iluminação, cenário e figurino, o que fez dele um verdadeiro 'homem de teatro'. Trabalhou também, como tradutor de textos teatrais, articulista para jornais e revistas, e autor de prefácios e textos para livros. Foi, ocasionalmente, ator, como no filme 'Sábado', de Ugo Giorgetti, e na série de TV “Anarquistas Graças a Deus”.
Aos oitenta anos tornou-se escritor na língua portuguesa, publicando seu primeiro livro, uma autobiografia, 'A Mochila do Mascate'.
Publicou também 'Antitratado de Cenografia', 'Crônicas Improváveis', “Noturnos' e 'Hipocritando'. Recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos, e em 2003 recebeu o Prêmio Shell por sua contribuição para o teatro brasileiro. Faleceu em 30 de dezembro de 2005 em São Paulo, aos 89 anos de idade". (Fonte
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