Em sua tese de doutorado (Pensiero e Dinamite Anarquismo e Repressão em São Paulo nos anos 1890
) junto ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Claudia
Feierabend Baeta aborda a presença, atividades e repressão dos
militantes anarquistas residentes ou atuantes em São Paulo nos anos
1890, contextualizando, inclusive, o cenário da chegada dos atividas
italianos no final do século XIX.
“Já nos primeiros anos da década de 1890, havia comentários de que era uma
estratégia geral dos países europeus, 'onde só se [falava] de greves ou de manifestações de
operários e desempregados, com as ameaças de dinamite e o espantalho do 1º de Maio’
conceder passaportes àqueles cuja presença não era desejada e que mostravam interesse em
deixar o país".
"Havia, no entanto, suspeitas de que, mais do que facilitar o embarque dos
anarquistas, o governo italiano incentivava sua partida: já em 1893, chegaram às
autoridades brasileiras denúncias de que aquele governo fazia embarcar, ‘com destino ao
Brasil, agregados às famílias no caráter de primos, a indivíduos a quem quer expulsar da
Itália por serem anarquistas e socialistas conhecidos.’ ".
"O cônsul italiano, conde Edoardo
Compans de Brichanteau, em correspondência com o Ministero degli Affari Esteri em
1894, chegou mesmo a sugerir que os indivíduos que compunham ‘o primeiro núcleo de
anarquistas (...) no Brasil’ eram italianos e, aparentemente, haviam sido enviados 'pelo
próprio Governo Régio após os dolorosos fatos do 1º de Maio em Roma' "
"As
autoridades
brasileiras procuravam tomar tais sugestões com cuidado, relativizando
a responsabilidade
do governo italiano na migração de tais indivíduos, mas as denúncias
persistiam. Entre os indivíduos suspeitos de anarquistas, eram os
italianos especialmente
temidos no Brasil, tanto por suas idéias anarquistas e práticas
subversivas, personificadas
nas figuras dos magnicidas – todos italianos – que atentaram contra os
chefes de Estado e
realeza na Europa, como pela grande afluência de imigrantes dessa
nacionalidade que por
aqui aportavam".
"Não é por acaso que a Itália vai aparecer como procedência mais
recorrente de anarquistas que se instalaram em São Paulo nos primeiros anos da década de
1890, nem que aos comissários responsáveis pela migração para o Brasil fosse cobrada
grande vigilância em relação àqueles que deixavam os portos italianos.
Daí as preocupações quando chegavam às autoridades brasileiras”.
Daí as preocupações quando chegavam às autoridades brasileiras notícias como a
seguinte:
"'Partida – Por volta das 17 horas de ontem o vapor Matteo Bruso, da [companhia
de navegação] Velloce partiu para o Rio de Janeiro e Santos com 1150 emigrantes dos quais
(....) 737 para Santos diretamente para São Paulo.
Entre estes últimos, havia o anarquista Fumelli Monti Nivardo, de Lucca, que, com
sua mulher e filhos, conduz-se ao Brasil onde será introduzido no estado de São Paulo.
Ele segue espontaneamente, talvez para escapar de possíveis perseguições, e o
próprio governo facilitou-lhe o embarque. Isso não impediu que durante a sua breve parada
de dois ou três dias em Gênova ele fosse continuamente escoltado por dois vigias, que não o
deixaram por um só momento, nem de dia, nem à noite, acompanhando-o em todos os
lugares, mesmo a bordo, (...) nunca o perdendo de vista, até que o Matteo Bruso levantasse
âncora' .”
"O recorte da notícia publicada pelo periódico de Gênova acompanhou o ofício do
Cônsul Geral do Brasil na Itália ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores. A intenção do
cônsul era alertar as autoridades brasileiras para que pudessem tomar as medidas cabíveis
na chegada do 'anarquista italiano' ".
Um blog para difundir e aprofundar temas da presença italiana no Brasil, bem como valorizar o Made in Italy. Um espaço para troca de informações e conhecimento, compartilhando raízes comuns da italianidade que carregamos no sangue e na alma. A italianidade engloba a questão das nossas raízes italianas e também reserva um olhar para a linha do tempo, nela buscando e resgatando uma galeria de personagens famosos ou anônimos que, de alguma forma, inseriram seus nomes na História do Brasil.
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Olá. Sou Bisneto do Nivardo Fumelli Monti.Meu avô era filho dele.
ResponderExcluirEduardo, obrigada por essas informações. Sou bisneta do Nivardo. Atualmente moro em Roma. Abs
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