Na missão dos religiosos scalabrinianos em terras brasileiras destaca-se o trabalho do padre Giuseppe (José) Marchetti. Em 1895, em São Paulo, ele fundaria o Orfanto Cristóvão Colombo para acolher filhos e filhos órfãos de imigrantes. O site a ele dedicado relata a obra deste religioso italiano.
“Padre José Marchetti nasceu aos 3 de outubro de 1869, em Lombrici, distrito de Camaiore, na província de Lucca, Itália. Contam os familiares que às vésperas de partir para a Argentina um tio, o franciscano Padre Jerônimo Marchetti, abençoou o recém-nascido, pedindo a Deus que o fizesse um bom sacerdote missionário. No dia 3 de abril de 1892 foi ordenado sacerdote e celebrou sua primeira missa solene na cidade de Capezzano. Entre os convidados, achava-se o velho missionário franciscano. Durante o banquete aquele veterano das missões na América, polarizou a atenção de todos com seus contos missionários, mas especialmente a do jovem sacerdote.
Por fim, Padre José Marchetti não pôde mais manter secreto o seu propósito e revelou que também ele, há muito tempo, sentia-se chamado à mesma missão. De caráter reto e vontade férrea, depois de ter posto a mão no arado, não mais olhou para trás e se fez missionário e mártir para os irmãos mais pobres: órfãos e imigrantes italianos no Brasil.
No final do século passado, os problemas sociais eram muito graves na Itália. A realidade era dramática. A miséria atingia especialmente os camponeses. Por isso, milhões deles abandonaram a Itália em busca de melhores condições de vida. Padre Marchetti viu partir metade de seus paroquianos, decididos a emigrar para o Brasil. Ele mesmo os acompanhou até o Porto de Gênova para ajudá-los no momento da partida, impedindo-os de caírem nas mãos de agentes inescrupulosos, como acontecia freqüentemente.
Esse primeiro contato com a dura realidade, somado a uma vocação missionária já revelada e a conferência sobre a emigração, proferida por Dom João Batista Scalabrini, em Lucca, em 1892, interpelaram fortemente o coração do Padre Marchetti, motivando-o a dar uma resposta generosa de doação total, em favor dos imigrantes italianos no Brasil.
Como missionário externo da Congregação dos Missionários de São Carlos, comprometeu-se a acompanhar os emigrantes durante a travessia, como capelão de bordo nos navios da emigração. Em outubro de 1894, realizou sua primeira viagem ao Brasil. O apostolado com os emigrantes italianos nos navios e o contato com a situação dos emigrantes alargou sua visão sobre o problema migratório e aumentou-lhe o desejo de encontrar soluções.
Um episódio ocorrido durante a segunda viagem ao Brasil, em janeiro de 1895, teve um papel importante nessa busca. Esta viagem definiu o futuro do Padre Marchetti. Tinha ele, então, 25 anos.
Durante a viagem, morreu uma jovem senhora deixando o marido com uma criança de colo. O homem estava tão desesperado que ameaçava jogar-se ao mar. Para tranqüilizá-lo, Padre Marchetti prometeu cuidar da criança. Naquele lance de amor decidiu sua vida e sua morte. Tornou-se para sempre o missionário dos emigrantes e o pai de seus órfãos.
No Rio de Janeiro, Padre Marchetti desceu do navio, levando no colo a criancinha. Bateu em diversas portas para encontrar uma pessoa disposta a acolher o órfão. Daquele momento em diante, Padre Marchetti teve uma só idéia: construir, em São Paulo, um orfanato para os filhos órfãos dos imigrantes italianos e dos antigos escravos, dispersos pelas cidades e fazendas. Esta idéia, nutrida pro sua grande na Providência Divina e no desejo de fazer o bem, em pouco tempo, tornou-se realidade. Surgiu, assim, o Orfanato Cristóvão Colombo, no alto da Colina do Ipiranga, na cidade de São Paulo.
Chegando em São Paulo, Padre Marchetti encontrou-se com o benemérito Conde José Vicente de Azevedo, do qual obteve, em doação, um vasto terreno na Colina do Ipiranga. Os trabalhos de construção do Orfanato foram iniciados em 15 de fevereiro de 1895, em ritmo acelerado. No prazo de 9 meses, aos 8 de dezembro do mesmo ano, o novo orfanato, denominado Cristóvão Colombo, abriu suas portas aos primeiros 80 órfãos.
A fé, a esperança e a caridade, irremovíveis, guiaram o Padre Marchetti a uma vida religiosa-missinária-apostólica tão intensa que frutificou em grandes e inexplicáveis realizações no Brasil, no breve espaço de 22 meses.
Padre José Marchetti morreu em conceito de santidade a 14 de dezembro de 1896. Selou sua obra com o martírio.
No mesmo dia, Padre Natal Pigato, informando a Dom João Batista Scalabrini sobre a Morte de Padre José Marchetti, escreveu: “Morreu um santo! Estava pronto para o céu. Deus o quis ao seu eterno repouso. Assim tão cansado, consumido pelas fadigas, devorado pelos contínuos sacrifícios por amor aos seus orfãozinhos, pelos quais não parou nunca, nem de dia, nem de noite, para encontrar par ele o pão de cada dia. Terminou a sua vida, deixando-nos nas mãos da Providência”.
Padre Marchetti, além de gestos heróicos, realizou, sobretudo, os pequenos atos de cada dia com simplicidade, humildade e caridade. A vida dele foi como um mosaico: que se compunha de tantos pequenos fragmentos de cotidiano.
Ele acreditava nas verdades da fé e agia como acreditava, falava como sentia e se comportava como falava. Assim, ensinou aos cristãos o modo mais simples para se chegar a união com Deus e a todos indicou a coerência entre o pensamento e a ação.
Padre José Marchetti viveu pouco mais de 27 anos. Sua vida foi como a passagem de uma estrela cadente, porém com um rastro e com um testemunho que nos ilumina ainda hoje".
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