No acervo construído por Pietro Maria Bardi, o Museu de Arte de São Paulo traz a obra A Virgem Amamentando o Menino e São João Batista Criança em Adoração do artista lombardo Gianpietrino (chamado Gian Pietro Rizzi). Trata-se de um óleo sobre tela, 86 X 88 cm.(1500-1520).
"A obra faz emergir com habilidade de um fundo escuro personagens saturadas de sfumato leonardiano. Detectam-se com não menor evidência na invenção cênica componentes típicos das Virgens de Leonardo. O Menino Jesus, por exemplo, está em posição invertida em relação ao Menino da assim chamada Madonna Litta, do Hermitage, datada em geral de c. 1490, enquanto a paisagem fantástica entrevista pela janela, com suas montanhas e atmosfera extraterrenas, é de um leonardismo ortodoxo.
De modo geral, Giampietrino vale-se de motivos bem estabelecidos na tradição quatrocentista: o piso ladrilhado que escande com metro preciso a sucessão em profundidade dos planos, a janela que introduz a paisagem em contraponto ao cubo espacial, e o cortinado, com sua simbologia cênica diversa. A coluna decorada com folhas de parreira é supostamente alusiva ao mistério da Eucaristia e, como a cruz abraçada por São João Batista, prenuncia misticamente o sacrifício.
O Artista
Contemporâneo ou ligeiramente mais jovem que seus compatriotas Bergognone (ativo entre 1481 e 1523), Giovanni Boltraffio (1467-1516), Andrea Solario (1468/1470-1524), Marco d’Oggiono (c.1475-1530?), Cesare da Sesto (1477-1523) e Bernardino Luini (1480/1485-1532), Giampietrino pertence a toda uma geração de pintores lombardos profundamente influenciados pelas longas estadas de Leonardo da Vinci em Milão. A primeira menção ao artista é feita pelo próprio Leonardo que designa um certo Gian Pietro como seu discípulo, no manuscrito denominado Codice Atlantico (Richter 1883), a se datar, segundo Pedretti (1979), dos anos de 1497-1500.
Uma outra menção não surge antes do Tratatto dell’Arte della Pittura de Lomazzo (1584), que recorda um Pietro Rizzo Milanese. O primeiro núcleo de obras relacionáveis à atividade desse pouco conhecido discípulo direto de Leonardo remonta ao inventário da Galeria de Ambrogio Mazenta, do século XVII, no âmbito do qual apenas uma obra, o retábulo da igreja de San Marino, em Pavia, traz uma data segura: 1521.
Diversas obras de tema sacro- sobretudo representações da Sagrada Família, de Sacras Conversações, da Madalena e da Paixão de Cristo (Marani 1987, pp. 199-213)- distribuem-se em igrejas e museus lombardos, enquanto não menos recorrentes são certos temas de cunho mitológico e profano, tais como a Cleópatra do Louvre e a de Oberlin, inspiradas na Leda de Leonardo (Moro 1987, p. 727 ). A cópia da Última Ceia, conservada na Royal Academy de Londres, recentemente restituída a nosso pintor (Shell, Brown, Brambilla Barcillon 1988 ), situa-o entre os pintores lombardos de mais inspirada e estrita observância leonardiana". (Fonte: Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand).
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