O caráter heterogêneo da imigração italiana no Brasil, marcado pela diferenças sócio-culturais dos pioneiros oriundos de diferentes regiões da Península Itálica, se refletiu, de imediato, na vida cotidiana, como demonstra a pesquisadora Maria Lúcia de Souza RangelRicci, do Centro de Memória Unicamp, autora do artigo ]”Conflitos D’Italianità e Ambigüidades das Diferentes Societàs em Campinas e seus Distritos de Sousas e Joaquim Egídio (SP)”, publicado no site da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica .
“Em 1874, encontramos em Campinas os primeiros italianos e
já em l896 representavam eles quase o dobro das demais correntes imigratórias.
Em l907, ocupavam o primeiro lugar no Estado de São Paulo
nas estatísticas referentes à imigração.
A maioria dos imigrantes italianos chegou às regiões ora
estudadas procedentes do Norte da Itália, contratado para o trabalho na lavoura
do café embora sem ter especialização e nem mesmo ofício determinado e com
família já constituída. Mas, todos vieram com seus seculares preconceitos
regionais.
Não seria, pois, com indivíduos tão heterogêneos, com
tendências de independência econômica, de enriquecimento, além de muitos
almejarem logo voltar ao seu torrão natal, possível formar quadros fixos de
operários permanentes em determinado ofício.
Com um pessoal que assim pensava, com um nacionalismo exacerbado,
desprezando o país em que se encontravam, apontando como estigma as doenças
tropicais, as pragas, os insetos, considerando inferiores negros, mulatos e
caboclos vendo-os como vadios, dados à embriaguez, mal vestidos e alimentados,
não seria possível se esperar deles nos primeiros momentos da chegada algum
interesse proveitoso à vida brasileira.
(...) A crise cafeeira iniciada em l929 transformou a
situação até então existente nas áreas paulistas: grandes latifúndios foram
repartidos e até abandonados e os colonos puderam, com o que conseguiram
amealhar, se transformarem em pequenos proprietários, formarem seus sítios com
a família e, assim, se emanciparem.
Especificamente no caso de Campinas, considerando-se que
constituíam um grande contingente, não tardou muito para que se envolvessem em
algumas confusões, apesar de seu temperamento geralmente alegre, mas agitado.
Assim, uma das primeiras que se tem notícia foi a 7 de abril de 1879 - a
chamada Revolução dos Italianos - quando saíram às ruas, em grande arruaça e
armados, unicamente, de... sapatos! Nunca se soube exatamente o porquê deste
movimento; pelo que noticiou a imprensa da época poderia ter sido para obtenção
de melhores salários nas fazendas e mais trabalho na zona urbana.
Foi este acontecimento o germe primeiro para a futura
criação do Vice-Consulado na cidade a fim de que os problemas que por vezes
surgiam mesmo fossem resolvidos através da autoridade competente”.
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