Bilac de armadura em ilustração de Voltolino |
Após a publicação das críticas Bilac, Bananére deixaria de fazer do
quando de cronista de “O Pirralho”, conforme anunciava a própria revista na edição seguinte: "Deixou de fazer
parte desta revista o talentoso moço Alexandre
Marcondes Machado, que sob o interessante pseudônimo de Juó de Bananére vinha
ha muitos annos com as suas magníficas “Cartas d’Abaxo O´Piques” desopilando o
fígado dos nossos leitores. Ao optimo companheiro os nossos agradecimentos com
os melhores votos de felicidade".
Elias Thomé Saliba (Departamento. de História – USP), em
artigo publicado na Revista de História ( n.137, São Paulo, dez. 1997)
relembra e comenta esse episódio:
“Contra a maré de elogios e saudações públicas ao
"príncipe dos poetas brasileiros", Juó Bananére escreveu uma
impertinente paródia da presença de Olavo Bilac em São Paulo
e, sobretudo, da famosa oração que o poeta pronunciou aos estudantes da
Faculdade de Direito. Esta paródia foi publicada, um dia depois da festiva
aparição de Bilac na Faculdade de Direito, na coluna de Bananére, em O
Pirralho.
Bananére começa com uma notícia triunfal:‘A vesta do Bilacco - Quartaferra teve a nunciada visita du
Bilacco, principe dus poeta brasileiro, o Dante nazionalo! Uh! Mamma mia, che sucesso!
O saló stava xíinho di gente pindurado. Gada lustro apparicia un gaxo de banana
di gente. Bilacco disse moltos suneto gotuba’
.O problema é que a paródia envereda depois por lances mais
delicados, por exemplo, quando o próprio Bananére se compara a Bilac: ‘Nom é só o Bilacco que é uleomo de lettera -(ío) també
scrivo verso, ió també scrivo livro di poesies chi o Xiquigno vai inditá, i chi
undia va vê si nom é migliore dus livros du Bilacco... ‘
Em seguida, o próprio Bananére aparece como convidado para
uma ‘circunferenza na Gademia di Commerco du Braiz’; seu discurso, inteirinho
em macarrônico, é uma paródia absolutamente anárquica da fala nacionalista de
Bilac:
‘Signori! Io stó intirigno impegnorato con ista magnifica
rocepicó chi vuceio acaba di afazê inzima di mim. É moltas onra p'un pobri
marqueiz! (tutto munnno grita: nó apuiado!) Io ê di si ricordá internamente, i
con molta ingratidó distu die di oggi! I aóra mi permitano che io parli un
pocco da golonia italiana in Zan Baolo, istu pidaçó du goraçó da Intalia,
atirado porca sorte inzima distas praga merigana. É una golonia ingolossale!
Maise di mezzo milió di italiano stó ajugado aqui, du Braiz, ó Buó Rittiro, i
du Billezigno ó Bizigue! I chi faiz istu mundo di intaliano chi non toma gonta
du Cumerçu, das Fabrica, da pullitica, du guvernimo - i non botta u Duche dus
Abruzzo come prisidenti du Stá nu lugáro du Rodrigo Arveros?’
Finalmente, Bananére conclui sua arenga anárquica,
parodiando a célebre retórica de Bilac. (Lembre-se, aqui, dos famosos reptos do
discurso de Bilac, por exemplo, quando dizia: "O que se tem feito, o que
se está fazendo, para a definitiva constituição da nacionalidade?"). Eis
Bananére:
‘I quali é consequenza diste relaxamento? É qui os intaliano
aqui non manda nada quano puteva inveiz aguverná ista porcheria! Quale é a
consequenza da bidicaçó da nostra forza i du nostro nacionalismo? É chi nasce
una crianza, a máia é intaliana, o páio é intaliano e illo nasce é un gara di
braziliano! Istu no podi ingontinuá, no! A voiz chi sono giovani i forte
cumpette afazê a reaccó, cumbattê, vencê e dinuminá istu tudo! Tegno dito"
- Rompi una brutta sarva di parma. Mi begiário, mi giugáro flor e mi liváro
incarregado até o bondi inlétrico" (O Pirralho, 1915, p.9)’.
Mas, na realidade não houve nem beijos nem abraços
triunfais, pois a cidade e sua jovem elite intelectual, parece, não estavam
para brincadeiras. Os estudantes da Faculdade de Direito, no dia seguinte
dirigiram-se afoitos, em magotes, para uma manifestação em frente a redação d'O
Pirralho - que então se localizava na rua XV de novembro, exigindo a demissão
do jornalista e ameaçando empastelar o jornal. Bananére é então demitido,
perdendo o seu lugar de "barbieri e giurnaliste" na sua famosa coluna
"Diário do Abaixo Piques" (O Estado de São Paulo,
1915, p.7). Parecia claro que, à parte as desavenças pessoais que ajudavam a
fermentar o conflito, o anarquismo lingüístico de Juó Bananére não se
enquadrava facilmente em fórmulas e manifestos, que pediam um mínimo de
clareza, renunciando a qualquer tipo de ambigüidade.O episódio é muito
revelador dos compromissos que a jovem intelligentsia de São Paulo
tinha com aquele nacionalismo algo difuso mas, que se nutria de uma única
certeza: sua raiz paulista, ávida por construir e reforçar uma hegemonia e, se
possível, estendê-la ao campo das letras e da cultura.
Após a saída de O Pirralho, o cronista macarrônico chegou a
escrever, a partir de 1916, muito esporadicamente nas revistas semanais O
Queixoso e A Vespa. Na primeira, Marcondes Machado comparece com uma coluna
intitulada "Sempr'avanti! - e na segunda revista, com a sua coluna
"Cartas d'Abax'o Piques." Mas será em "O Queixoso", no
final do ano de 1916, que Bananére irá detonar seu segundo desentendimento com
o então jovem estreante nas letras, Oswald de Andrade”.
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