Os textos no dialeto macarrônico criado por Juó Bananére
(pseudônimo de Alexandre Marcondes Machado) ganharam
fama na revista O Pirralho, a partir de 1911. Posteriormente foram reunidos no
livro La Divina Increnca, cuja primeira edição data de 1924 (Irmãos Marrano, Editores).
O poema Migna Terra, por exemplo,
brinca, no macarronês de Bananére, com o famoso poema Canção do Exíio do poeta romântico Gonçalves Dias.
(Juó Bananére)
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá,
As aves che stó aqui,
Tambê tuttos sabi gorgeá.
A abobora celestia tambê,
Chi tê lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella
Chi non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi
Dus rio di tuttas naçó;
I os matto si perdi di vista,
Nu meio da imensidó.
Na migna terra tê parmeras,
Dove ganta a galligna dangolla;
Na migna terra tê o Vapr’elli,
Chi só anda di gartolla.
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Análise acadêmica
No site da Unicamp, uma das mais renomadas Universidades do
Brasil, Cesar Augusto de Oliveira Casella analisa o poema Migna
Terra no texto “La Divina Insgugliambaçó ou ‘como se lê um poema em português macarrônico”
“Migna Terra’ não é apenas uma paródia cômica do poema de
Gonçalves Dias, mas um canto paralelo, pois ao mesmo tempo em que ironiza seus
aspectos ufanistas e patrioteiros, presentifica o tema, atualizando-o para uma
nova situação. Através do conflito operativo de dois idiomas, o italiano e o
português, e sua resultante na invenção de uma nova linguagem, traz à tona um
momento histórico diverso daquele cantado pelo poema romântico”, analisa
Cristiana Fonseca. Além deste aspecto
histórico e social, e para além também do aspecto literário e estético, podemos
trabalhar o imbróglio de idiomas de que se serve o autor. A oralidade subjacente
à escrita de Juó é evidente. Pode-se ouvir um imigrante italiano que veio,
ignorante e esperançoso, trabalhar braçalmente no Brasil, ou melhor, nas
lavouras de café do interior paulista, território bem conhecido pelo engenheiro
Alexandre Machado, e que por um motivo ou
outro, acabou encravado em um bairro de imigração italiana na cidade de São Paulo.
Temos a mistura explicita e gráfica dos idiomas em galligna, em dove, em tuttas, em moltos. Temos índices da suposta ignorância, atribuída aos imigrantes ítalo-paulistanos, em abobora celestia substituindo abobada celestial, em maise grandi no lugar de maior. Temos aspectos ligados a sonoridade em abobora, que não possui o acento para que haja uma maior aproximação com o idioma italiano, em tê e em tambê, quando o final é alterado para se aproximar foneticamente do linguajar italianado”.
Temos a mistura explicita e gráfica dos idiomas em galligna, em dove, em tuttas, em moltos. Temos índices da suposta ignorância, atribuída aos imigrantes ítalo-paulistanos, em abobora celestia substituindo abobada celestial, em maise grandi no lugar de maior. Temos aspectos ligados a sonoridade em abobora, que não possui o acento para que haja uma maior aproximação com o idioma italiano, em tê e em tambê, quando o final é alterado para se aproximar foneticamente do linguajar italianado”.
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