Brás Bexiga e Barra Funda, obra de Antonio de Alcântara Machado, deve ser
lido, levando-se em conta alerta do próprio autor. ‘Este livro não nasceu
livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este
prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo’..
“O processo narrativo em Brás, Bexiga e
Barra Funda está apoiado no diálogo, ou seja, no discurso direto, em que a fala
das personagens é revelada ao leitor com o máximo de naturalidade, afastando a
presença do narrador e aproximando-a dos personagens na busca de melhor
caracterizá-los e também ao seu contexto, expondo a carga emotiva e os valores
que permeiam as suas ações. Brás, Bexiga e Barra Funda busca, através da
linguagem, marcar os registros de fala coloquial e mestiça que predominavam no início
do século, principalmente nos bairros que dão nome à obra, além de romper com
as formas expressivas e as estruturas já cristalizadas pelo uso generalizado.
Há uma fusão de gêneros literário,
jornalístico e publicitário, que causa estranhamento ao leitor quando se
depara, por exemplo, com um anúncio em letras maiúsculas, sem nenhum texto
introdutório em “Amor e sangue”: Há uma crítica não-velada à discriminação
social e de grupos estrangeiros que perpassa toda a obra, como se pode observar
em ‘Lisetta’, no orgulho da mãe da menina rica e na provocação desta à
italianinha pobre; no apontar para a falta de ética que vai se delineando no
percurso da narrativa de “Nacionalidade e ‘Armazém’; no mapeamento da busca do status econômico
a qualquer preço quando a esposa do Conselheiro José Bonifácio, que não
permitia o casamento de sua filha com o filho do carcamano, já não vê mais
obstáculos após vislumbrar grande futuro em uma sociedade comercial entre o
marido e o Cav.Uff.Salvatore Melli; na denúncia explícita em relação aos que
têm poder em “O Monstro de Rodas”, com a afirmação: “Filho de rico manda nesta
terra que nem a Light”, e no olhar poético para a infância interrompida de
Gaetaninho, cujo sonho era andar de carro e morre atropelado por um bonde
quando na partida e bola “o jogo na calçada parecia de vida e morte”. (Fonte: CPV EDUCACIONAL)
Nenhum comentário:
Postar um comentário