O edifício que abriga o Museu de Arte de São Paulo (Masp) foi concebido pela arquiteta Lina Bo Bardi autora de um audacioso projeto arquitetônico marcado pelo enorme vão livre de 74 metros. Quem lembra a história desse projeto é Alexander Gaiotto Miyoshi, autor do trabalho Historiografias do Masp Ele cita depoimento do diretor do Masp e marido de Lina Bo Bardi, Pietro Maria Bardi.
“O terreno era da Prefeitura de São Paulo e seu doador, Joaquim Eugênio de Lima, impusera uma
exigência: qualquer construção ali realizada deveria manter a vista que se descortinava do centro
da cidade. Ficamos sabendo que Cicillo pretendia construir ali a sede do MAM de São Paulo,
encomendando o projeto ao arquiteto carioca Affonso Eduardo Reidy, sem considerar porém, a
necessidade de manutenção do belvedere, o que causou a recusa de sua proposta, que ocupava
todo o espaço.O local era ideal para o MASP. Sabendo da situação do terreno e das condições impostas pelo doador, Lina conversou com Edmundo [Monteiro, diretor dos Diários Associados], informando-lhe os detalhes. Ela realizou um projeto que mantinha a vista exigida para o centro da cidade [...].Edmundo resolveu falar com o prefeito Adhemar de Barros e chegaram a um acordo. Adhemar era candidato à reeleição na prefeitura e combinaram de fazer sua campanha pelos Diários Associados de graça, desde que ele, caso fosse eleito, aprovasse a concessão do terreno para a construção do MASP”.
Alexander Miyoshi lembra que “ainda hoje costuma-se citar a exigência do vão livre como a origem primordial do projeto arquitetônico, lembrando-se apenas eventualmente que o MAM também pleiteou o mesmo terreno à sua sede".
"No entanto, a declaração sobre a troca de
favores entre os Diários Associados e o prefeito Adhemar de Barros ajuda a esclarecer
sua razão: podemos supor que, na verdade, pouco importava ao prefeito se o belvedere
seria mantido livre de colunas ou não. O apoio prometido pelos Diários Associados era
o que de fato lhe interessava6, e a cessão do terreno ao MASP certamente não seria
impedida por uma cláusula como aquela, mesmo que o projeto não mantivesse o
belvedere livre de colunas. O projeto de Lina Bo caiu como uma luva, afastando as
tentativas de protesto do MAM, que não teria cumprido a exigência do doador. Hoje,
não sabemos até que ponto tal exigência foi determinante ao projeto; mas se
recordarmos que, naqueles tempos, a arquitetura e a engenharia no Brasil buscavam
destacar-se por obras audaciosas (como é o caso de Brasília), torna-se plausível
acreditarmos que a maior justificativa é a própria vontade em se fazer um edifício
extraordinário do ponto-de-vista técnico e estrutural, e expressivo sobretudo por esta
razão”.
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