sábado, 13 de fevereiro de 2010

História (71 ) – “Far l´America (39 ): imigração italiana em Araraquara, origens do associativismo

A socióloga abordou, em 2009, a questão da imigração italiana na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. O trabalho “Associações italianas como canais de mobilidade social” da socióloga  Rosane Siqueira Teixeira (Universidade Federal de São Carlos) fala sobre associativismo comunitário no início do século XX..

"A vida associativa dos italianos teve início na década 1850 nos centros urbanos do Piemonte, da Ligúria e da Toscana. As associações criadas nesta época dedicavam-se principalmente ao socorro mútuo, à educação de trabalhadores e ao estudo de melhores condições de trabalho".

"Diferentemente das corporações do Antigo Regime, essas associações eram regidas por regras e estatutos definidos. Grande parte delas serviu como meio de integração das classes operárias. Posteriormente, o fenômeno associativo se estendeu para outras regiões italianas e para as áreas rurais  No Brasil, as experiências associativas entre os italianos tiveram início ainda antes da grande imigração em massa. A necessidade de reunir-se em sociedades com fins de mútuo socorro e beneficência era uma “exigência imprescindível dos primeiros imigrantes” (Trento, 1989, p, 171).

"Também no interior do Estado de São Paulo, as formas associativas foram precoces devido ao peso numérico de imigrantes italianos que neste Estado chegaram, permitindo, assim, uma multiplicação de entidades associativas.Por sua vez, em Araraquara, no início do século XX existiam três associações de socorro mútuo e beneficência, cujas diferenças estavam caracterizadas de acordo com a região de origem dos italianos".

"A primeira associação a ser fundada foi a Società Meridionali Uniti.O pouco que se sabe é que ela também era chamada de Clube dos Meridionais e que seus sócios cultivavam a memória do rei Humberto, da Itália, cujo falecimento ocorreu no dia 29 de junho de 1900".

É claro, ela era uma associação constituída pela maioria (senão pela totalidade) dos italianos oriundos do Sul da Itália. Segundo Biondi (2002), essas associações eram geralmente de tendência monarquista e conservadora".

"A outra associação que existiu em Araraquara foi a Società Italiana di Mutuo Soccorso, fundada em 1901. Assim como a SMU, poucas informações foram deixadas sobre ela. Sabemos que ela era composta pela maioria dos italianos oriundos da Itália Central. Parece que a SIMS mantinha boas relações com a SIB, pois em setembro de 1908, ela a convidou para participar das comemorações do XX de Setembro11 e, nesta ocasião, a maioria do Conselho aceitou e compareceu (SIB, Livro de Atas, p. 31).

"Contudo, em novembro de 1909, um membro do seu Conselho fez uma proposta à SIB, que foi recusada. Tal proposta tinha como objetivo a união entre as duas associações (SIB, Livro de Atas, p. 56). Ao pesquisarmos o fundo particular de “José Ferrari Secondo”12, depositado no APHRT, encontramos um documento, registrado por ele, cujo conteúdo atesta que a SIMS se uniu com a SMU"

. Provavelmente, essa união ocorreu no ano de 1912. A terceira associação, fundada no início do século XX, recebeu o nome de Società Italiana di Beneficenza. As Atas de suas Assembléias ainda existem, mas elas não estão completas, pois o livro inicia com as reuniões do ano de 1908, sendo que a associação foi fundada em 5 de outubro de 1901. Ela era uma associação que congregava a maioria dos italianos precedentes do Norte da Itália. Nela também encontramos alguns sócios oriundos do Centro e do Sul, o que sugere uma homogeneidade. Mas era só na aparência, pois isso não minimizava a auto- 11 Esta data é considerada a “páscoa dos italianos”.

"Foi nesta data, no ano de 1870, que as tropas de Vitório Emanuel entraram em Roma. 12 Ele foi membro da SIU. 16 segregação no seio da associação, especialmente quando se tratavam das eleições para cargos na diretoria. A saber, durante a sua existência os representantes da diretoria se originavam, exclusivamente, do Norte da Itália".

"A SIB funcionou durante o período de 1901 a 1919. Além de socorrer seus próprios sócios em momentos de necessidades - doença, invalidez, funerais, auxílio aos familiares dos sócios após a sua morte etc. -, ela atuava também com o fim de prestar socorro aos italianos, independente de sua procedência, que se encontravam em estado de indigência. Ela também fazia ações de caridade em prol de instituições carentes (Cf. Teixeira, 2007). A diretoria que representou a SIB durante a sua existência era composta por uma maioria de trabalhadores semi-qualificados e do comércio".

"O recurso financeiro da SIB advinha das jóias pagas por ocasião das matrículas, das mensalidades no valor de dois mil réis, que permaneceram sem alteração até 1918, eventuais doações e lucros advindos da promoção de jogos nos períodos de maiores necessidades. As questões financeiras expressam as dificuldades do grupo em gerir seus objetivos sociais e, por isso, constantemente, seus membros usavam de artifícios, como o jogo de tômbola, para refazer o caixa".

"O abalo no fluxo de caixa era causado, sobretudo, pelo não recebimento das mensalidades. Contudo, mesmo com as dificuldades financeiras que freqüentemente passava, quando ocorreu a fusão com a SIMS, em 1920, seu patrimônio consistia em: um imóvel onde funcionava a sede social, um terreno com uma pequena casa, depósitos no Banco de Araraquara, dinheiro em caixa referente às mensalidades e mobília da sede".

Um comentário:

  1. Caro Eduado Fiora. Moro em Marília, e meu avó é italiano, mas na hora que fui procurar informações sobre ele, com a pretensa de conseguir dupla cidadania, deparei com dois problemas. O nome dele está modificado de CARLO REBECCHI, para VITTORIO CARLOS. Nos nossos documentos, uns aparecem como Carlos Vitório e outros como Vitório Carlos. Fiz uma busca na biblioteca digital do museu da imigração e encontrei o nome dele com a idade correta e os nomes dos pais com os nomes corretos. Então solicitei um extrato do registro de nascimento na itália, na cidade que ele nasceu e três horas depois recebi um documento em pdf que não é um registro em si, mas um comprovante do nascimento dele com os nomes dos pais exatamente como consta no Museu da imigração, apenas com o Dionisio em italiano DIONIGGIO, mas também nos documentos brasileiros dele que consegui, as informações não batem muito bem quanto a questão da idade. Meu pai afirmava que meu avô morreu com 89 anos e isso confere com a documentação do museu e da itália, só que consta no Óbito que faleceu com 87 e ainda não colocaram os nomes dos 11 filhos, porque cada um tinha ficado com nomes e sobrenomes diferentes. Mas a maioria deles ficou com CARLOS, como sobrenome como é o meu caso. Gostaria de saber se podes me orientar quanto a estas questões? Atenciosamente, Antonio Correa Carlos Filho, calosfac@ibest.com.br

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