quarta-feira, 3 de março de 2010

História (91) - Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (7)

Uma ótima análise do papel dos anarquistas italianos no movimento operário brasileiro vem de AdonileA. Guimarães autora do trabalho Moral anarquista e a conquista da questão social no Brasil l.

"(...) Os imigrantes europeus em sua maioria, italianos chegaram ao Brasil trazendo um sonho de uma vida melhor e mais justa. O que encontraram aqui, porém, foram as mesmas dificuldades das quais fugiram, a opressão do trabalhador em benefício do patrão. Entretanto, os imigrantes não traziam em sua bagagem apenas sonhos, traziam também experiências de lutas e métodos de ação políticas muito claras para alcançar seus objetivos. Os operários italianos diante das condições adversas que aqui encontraram, construíram um vínculo muito forte entre eles, essa união, embora fosse incentivada pela nacionalidade em comum e, conseqüentemente, facilitada pela língua materna, era construída, mais em função das condições materiais e ideológicas de existência".

"Essas experiências em comum, o convívio com as dificuldades que atingiam, sobretudo, os operários, encontraram nas idéias anarquistas e no método da ação direta um espaço de luta política que conseguia abrigar os anseios dos trabalhadores até então excluídos do cenário político oligárquico. No Brasil haverá núcleos anarquistas, de diversa orientação, a partir de pelo menos 1890, compostos em sua maioria de imigrantes e seus descendentes. Assim, contra os preceitos burgueses que se queria passar à população brasileira como universais foi erigida uma moral anarquista que se opunha a toda e qualquer tipo de conduta liberal".

"Se de um lado os valores nacionalistas, patrióticos, militaristas eram exaltados para a construção da nação brasileira, de outro, o universalismo trabalhista, antimilitarismo e a oposição às manifestações culturais burguesas como ao baile, ao futebol eram duramente criticadas pelos militantes anarquistas. Em prol de uma sociedade mais justa e igualitária os militantes organizavam piqueniques e confraternizações entre os trabalhadores, promovendo atividades culturais, como o teatro comunitário utilizado como órgão conscientizador e informativo de classe que tinha dupla função, o de reunir a classe operária em um ambiente cultural e, ao mesmo tempo, vincular as políticas sociais da classe de uma maneira informal que não fosse maçante e que, tivesse maior alcance entre os trabalhadores de diversas nacionalidades; pois muitos não sabiam ler e, portanto, inviabilizava a propaganda escrita".

"É bom lembrar que nesse momento a maioria da população brasileira era analfabeta, como só era válido o voto dos alfabetizados, o grosso dos brasileiros eram excluídos do processo eleitoral. Daí tem-se a grande adesão à ética anarquista que recusava a via institucional. Tendo em vista esses fatos, faz-se necessário, diferentemente, da historiografia clássica, reconhecer a prática política como uma forma ampla de expressão dos anseios e projetos dos seres humanos".

"Desse modo, a ascensão do anarquismo não se deve apenas ao baixo progresso técnico industrial e a uma incipiente classe operária, é fruto também de uma ação política mais eficaz de seus membros que, vivenciando as mesmas condições adversas, conseguiram construir através da ação direta, uma experiência política que abrangia todos os espaços comuns de coexistência dessa classe. Erigiram-se assim, não só um programa político que ia ao encontro dos anseios da classe trabalhadora, mas também uma moral que se opunha radicalmente, em todos os níveis, seja ele ideológico, econômico e até mesmo religioso à ideologia burguesa".

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