Paulo Vanzolini iniciou a carreira de compositor na década de 1940, influenciado por sambistas com os quais gostava de conviver. Tinha predileção pelos sambas só com a primeira parte.
Desde cedo, desenvolveu seu talento para improvisador de versos, tornando-se um campeão de desafios, além de criar letras e melodias que ora apresentam um retrato urbano de São Paulo, ora recorrem a temas mais regionalistas. Em 1945, compôs seu maior sucesso, o samba-canção "Ronda", que só seria gravado pela primeira vez, em 1953, pela cantora Inezita Barroso na RCA Victor.
Segundo declarações do próprio compositor, a gravação teria acontecido por acaso, já que ele e sua esposa haviam acompanhado Inezita ao estúdio da RCA, no Rio de Janeiro, pois eram amigos da cantora, que então realizava sua primeira gravação: "A moda da Pinga". Como a cantora não tivesse escolhido ainda outra canção para o lado B do 78 rpm, optou por gravar "Ronda" naquele instante. E assim foi feito.
Mas o sucesso desse samba viria mesmo a partir da gravação da cantora Márcia, na década de1960.
Na década de 1950, trabalhou na TV Record na produção de programas musicais, como o da cantora Aracy de Almeida. Na ocasião, aproximou-se de outro ícone da samba paulistano, Adoniran Barbosa, também contratado daquela emissora de televisão. Apesar de conversarem diversas vezes sobre a possibilidade de comporem juntos, a parceria jamais aconteceu. Também na década de 1950, lançou um livro de poemas intitulado "Lira".
Em 1962, mostrou o samba "Volta por cima" a Inezita Barroso, que preferiu não gravá-lo por lhe parecer pouco comercial.
Contrariando a opinião de Inezita, lançado naquele mesmo ano pelo cantor Noite Ilustrada em disco Philips, o samba "Volta por cima" tornou-se sucesso em todo o Brasil. Antes de ser gravado já era conhecido em boates paulistanas como "o samba do Vanzolini". Desde o sucesso do samba, "dar a volta por cima" passou a ser uma expressão recorrente no vocabulário popular, como consta no Dicionário Aurélio: "Dar a volta por cima. Superar uma situação difícil: 'ali onde eu chorei/ qualquer um chorava/ Dar a volta por cima que eu dei/ quero ver quem dava". Na década de 1960, era comum ouvir seus sambas na Boate Jogral, em São Paulo, cujo proprietário era o músico, parceiro e amigo Luís Carlos Paraná. Ali muitos artistas da música costumavam reunir-se e foi onde se lançaram em São Paulo Jorge Ben (depois Jorge Benjor) e Martinho da Vila.
Em 1967, Luiz Carlos Paraná e Marcus Pereira produziram para a gravadora Fermata o LP "Paulo Vanzolini: Onze sambas e uma capoeira", que trazia diversos intérpretes apresentando canções do compositor, como "Praça Clóvis" e "Samba erudito", ambos na voz de Chico Buarque.
"Praça Clóvis" é um samba que traduz o cotidiano da grande cidade entre os batedores de carteira e a lembrança da mulher amada que precisa ser esquecida e cujo retrato estava na carteira roubada pelo punguista.
No mesmo LP, "Ronda" é interpretada por Cláudia Morena. Ao cantor Luiz Carlos Paraná, seu grande amigo, coube a interpretação de "Capoeira do Arnaldo", que narra as dificuldades e os sofrimentos de um sujeito que abandona sua terra em busca de sucesso na cidade grande. A, letra, na verdade, pouco tem de melancólica e até trata desse sofrimento com humor. A melodia conserva uma atmosfera épica e é provável que a intimidade do compositor com desafios e improvisos tenha inspirado o tema regionalista desta canção.
Apesar de compor melodias e letras quase sempre sozinho, chegou a formar algumas parcerias, como a que resultou no trabalho com o compositor Toquinho, em meados dos anos 1960, pouco antes do violonista e compositor se juntar a Vinícius de Moraes. Ainda em 1967, participou com Toquinho do II Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, com "Na boca da noite", que venceu a etapa paulista. Em 1969, o cineasta Glauber Rocha incluiu agravação de "Volta por cima", na voz de Noite Ilustrada no filme "O dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", com o qual seria premiado como melhor diretor no Festival de Cannes.
No mesmo ano, compôs com Toquinho o samba "Boba".
Em 1974, teve três sambas gravdos pelo compositor, cantor e violonista Toquinho: "Boca da noite", que deu nome ao disco; "No fim não se perde nada" e "Noite longa", todos parcerias com Toquinho. Nesse ano, seu samba "Cara limpa" deu nome ao primeiro LP da cantora Cristina Buarque, considerada por ele uma das melhores intérpretes de samba. Também no mesmo ano, a gravadora Marcus Pereira, lançou o LP "A música de Paulo Vanzolini", que tinha obras suas interpretadas por Carmem Costa e Paulo Marquês: "Mulher que não dá samba"; "Falta de mim"; "Mulher que não dá samba", "Falta de mim", "Inveja", "Ronda", "Samba abastrato", "Sorrisos", "Teima quem quer", "Maria que ninguém queria", "Menina o que foi o baque", "Cara limpa", "Mulher toma juízo" e "Choro das mulatas". Ainda no mesmo ano, seu samba "Capoeira do Arnaldo", foi regravado no LP "O cantadô", de Rolando Boldrin.
Em 1977, seu samba "Ronda" foi relançado no LP "Jubileu de prata" nas vozes de Jorge Goulart e Nora Ney. Em 1978, teve os sambas "Mente" e "Longe de casa (Samba do Delmiro)", parcerias com Eduardo Gudin, gravados por Eduardo Gudin no LP "Coração marginal", lançado pela Continental. O samba "Mente" foi regravado no mesmo ano por Clara Nunes no LP "Guierreira", e o samba "Falta de mim", por Isaura Garcia no LP "Eu, Isaura Garcia". Ainda em 1978, o samba "Ronda" ganhou uma famosa interpretação de Maria Bethânia, que o incluiu no LP "Álibi", recordista de vendagens naquele ano. Ainda nesse ano, Caetano Veloso gravou o samba-choro "Sampa", no qual faz uma citação de um trecho da melodia de "Ronda".
No entanto, o autor jamais reconheceu nessa citação musical uma homenagem à sua obra, deixando transparecer com sua peculiar ironia que "Sampa" seria um plágio, ainda que inconsciente. "Ronda" foi também gravada por Carmen Costa, Ângela Maria e Nora Ney, entre outros cantores.
Além de Toquinho, teve como parceiros os violonistas Luís Carlos Paraná, cuja morte abalou-o profundamente, a ponto de perder o interesse por compor música, com seus parceiros habituais como Paulinho Nogueira e Adauto Santos, além do sambista Elton Medeiros, entre outros.
Em 1981, lançou pelo selo Estúdio Eldorado o LP "Paulo Vanzolini por ele mesmo", no qual interpretou seus sambas "Bandeira de guerra", "Tempo e espaço"; "Raiz"; "Samba erudito"; "Amor de trapo e farrapo"; "Alberto"; "Falta de mim"; "O rato roeu a roupa do rei de Roma"; "Cravo branco"; "Vida é a tua"; "Capoeira do Arnaldo"; "Samba do suicídio" e "Samba abstrato". Nesse ano, lançou pela coleção "Meus caros amigos", da editora Palavra e Imagem, o livro "Tempos de Cabo" com ilustrações do pintor Aldemir Martins, no qual relata a época em que servia o exército durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1983, seu samba "Boneca", parceria com Paulinho Nogueira, foi gravado por Paulinho Nogueira no LP "Água Branca". Nesse ano, o samba "Ronda", foi regravado por Ângela Maria no LP "Sempre Ângela", e por Jair Rodrigues no LP "Carinhoso".
Em 1984, teve o samba "Amor de trapo e farrapo" regravado por Nelson Gonçalves no LP "Ele e elas". Em 1988, Emílio Santiago regravou "Ronda" no LP "Aquarela brasileira", que foi relançada no ano seguinte por Cauby Peixoto no LP "Cauby é o show".
Em 1992, foi entrevistado no programa "Ensaio", por Fernando Faro, na TV E. Em 1996, seu samba "Seu Barbosa", foi gravado no CD "Sabiacidade", pelo cantor e violeiro Passoca. Foi homenageado pela USP, em 1997, num show em que apresentou composições inéditas como "Quando eu for, eu vou sem pena". Em 1999, durante as comemorações do 447º aniversário da cidade de São Paulo, foi homenageado com um espetáculo no Sesc Pompéia, que lembrou outros dois nomes do samba paulista: Adoniran Barbosa e Eduardo Gudin.
Em 2001, sua obra completa começou a ser gravada por diversos intérpretes selecionados pelo compositor para uma caixa de quatro CDs. O projeto foi coordenado por Ana Bernardo e pelo violonista e arranjador Ítalo Peron.
Sem saber tocar instrumentos, acostumou-se a cantar suas composições para músicos amigos que então escreviam a partitura ou saíam tocando pela noite. Por isso, algumas dessas composições ficaram esquecidas. Em 2002, o samba "Volta por cima" foi regravado pelo cantor Roberto Silva, que então retornava às gravações, tendo inclusive, colocado o título do samba no CD.
Em 2003 foi lançada a antologia com participação de grupos recentes de samba e choro como Trovadores Urbanos, Bando de Macambira, Seresta & Companhia, Entre Amigos e o Choro, e Nosso Choro, todos esses de São Paulo, além de cantores da noite paulistana como Ventura Ramirez e Ana Bernardo.
E também artistas há muito tempo identificados com a sua obra como Chico Buarque, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. A antologia de 52 sambas teve arranjos do violonista Ítalo Peron, companheiro de boemia do compositor, e foi lançada em uma caixa com 4 CDs com o título de "Acerto de contas", pelo selo Biscoito Fino. Os disco contaram com as participaç~es dos instrumentistas Isaías do mbandolim, Bocato, no trombone, Israel de Almeida no violão de sete cordas, Wanderson Martins, no cavaquinho, Joãozinho do Cavaco, Prata, na flauta, Guello, na percussão, Ubaldo Versonato. No clarinete e do arranjador Ítalo Peron no violão.
O lançamento, no Rio de Janeiro, aconteceu no Teatro Clara Nunes, com a presença do compositor. Na ocasião, composições como "Boca da noite", "Praça Clóvis" e "Samba erudito" foram interpretadas por grupo Galo Preto, Elton Medeiros, Carlinhos Vergueiro, Ana de Hollanda e Ana Bernardo. Aproveitando sua presença no Rio, o crítico R. C. Albin elaborou uma série de quatro programas radiofônicos veiculados pela Rádio MEC para todo o Brasil exibindo toda a caixa de Cds além de longa entrevista concedida especialmente pelo compositor.
Como compositor, entre seus maiores sucessos destacam-se o samba "Volta por cima", e o samba-canção "Ronda", até hoje apontado como recordista em execuções na noite paulistana. (fonte: www.dicionariompb.com.br - www.samba-choro.com.br)"
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