segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Italianitá– O jeito de ser italiano na literatura do modernismo brasileiro:as sátiras de Juó Bananére (1)


Alexandre Machado
A imigração italiana e a italianidade de uma São Paulo em grande  transformação urbana, foram, nas primeiras décadas do século XX, fontes de inspiração para dois jovens escritores do Modernismo no Brasil: Alexandre Ribeiro Machado, que se firmou com pseudônimo Juó Bananére, e Alcântara Machado.Ambos autores deixaram um precioso legado, até hoje tema de estudos sócio-linguinticos em Faculdades e Universidades: um retrato do jeito de ser, e sobretudo de falar, dos italianos que se fixaram na capital paulista.
 
A sátira de Bananére
 
No dia  11 de abril de 1892, nascia na cidade Pindamonhangaba, interior de São Paulo, Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, filho de José Francisco Ribeiro Marcondes Machado e de Mariana Machado. Em 1895, com a morte de José Francisco, a viúva partiria rumo a  Araraquara (interior paulista)  Paulo, levando consigo seus oito filhos. Mais tarde os Machado seguiriam para Campinas ondeAlexandre completaria o ensino secundário.

Em 1911, com residência fixada em São Paulo e matriculado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, um novo tempo se abriria na vida desse jovem estudante, com sua participação na revista “O Pirralho”. E é na Pirralho que surge a figura de Juó Bananére, pseudônimo que Alexandre Machado optou para atuar como cronista  no periódico fundado por Oswald de Andrade. 

Quem abriu espaço para o nascimento de Bananére foi o próprio Oswald, que, sob o pseudônimo de Annibale Scipione,  publicava na revista crônicas no estilo macarrônico. 
Vários estudos e artigos produzidos no meio acadêmico brasileiro analisam a importância do gênero literário de Juó Banaére e suas implicações sociológicas e linguítsicas.

Ao comentar a caricatura de Bananére, criada por Voltolino (pseudônimo do ilustrador oriundo Lemmo Lenni ),Benedito Antunes (professor de Literatura Brasileira da Unesp, Câmpus de Assis, e autor de Juó Bananére: As Cartas d’Abax’o Pigues, São Paulo, Editora Unesp, 1998), lembra que “sua figura tem traços mais populares e cômicos do que a de seu antecessor (Anibale):cabeleira desgrenhada, nos bigodões em ponta e nas pernas arqueadas, como na casaca, no chapéu, na impagável bengala e no cachimbo fumarento que o acompanham. Passa a representar, dessa forma, o imigrante italiano mais pobre, que ocupava grande parte dos bairros populares da capital paulista, na figura daqueles que habitavam a Baixada do Piques’.

Benedito Antunes defende que tal representação deve ser avaliada dentro do contexto social de uma São Paulo repleta de imigrantes, cidadãos sujeitos ás mais diversas formas de preconceitos, entre elas  em grande número, e espalhados em bairros como Brás e Bexiga, os italianos, naturalmente, eram alvo preferencial dessa sátira  imigrante italiano "Pode ser que Oswald de Andrade, ao criar a coluna no semanário, não tenha ido muito além de uma intenção humorística semelhante à exploração mais corrente da situação do imigrante, que consistia em imitar o linguajar ouvido nos bairros populares do Brás, Bixiga, Bom Retiro, Barra Funda, Piques. 

Alexandre Machado, por sua vez, foi consolidando uma perspectiva um pouco diferente, fazendo com que a figura de Bananére desperte interesse ainda hoje, independentemente de sua motivação original. Isto porque logrou superar a imitação um tanto preconceituosa do linguajar dos forasteiros e atingiu um nível de criação textual que pode ser caracterizado como literário. Em outras palavras, foi como se, superando o macarrônico enquanto incapacidade de falar bem determinada língua, tivesse alcançado um nível superior de macarrônico, que poderia ser designado por gênero macarrônico. Aqui reside, a meu ver, o grande diferencial do fenômeno Bananére, que lhe garante sobrevivência e eventual incorporação definitiva ao cânone da literatura brasileira"
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