Juó Bananere |
O ano era 1911 e nas páginas
da revista “O Pirralho” (fundada por um jovem que viria a ser um dos ícones
do Modernismo no Brasil, Oswald de Andrade), o cronista Juó Bananére (pseudônimo
do jovem estudante de engenharia, Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, de 19 anos) faria a sua
estréia substituindo Annibale Scipione (pseudônimo do próprio Oswald), que
publicava crônicas no estilo macarrônico.
O textos de Bananére foram
associados a uma caricatura criada por Voltolino,
pseudônimo de João Paulo Lemmo Lemmi (1884 -1926), paulistano, filho de
imigrantes italianos.
“Com trabalhos publicados
em diversas revistas e jornais, inclusive para a imprensa de língua italiana de
São Paulo, os desenhos de Voltolino traduzem o ambiente
urbano da Primeira República paulistana.
O caricaturista viveu e frequentou preferencialmente o triângulo das Ruas Direita, São Bento e XV de Novembro no centro de São Paulo, onde se localizavam as redações dos principais jornais e revistas para os quais trabalhava. A partir do centro, Voltolino desenhava com espontaneidade a caricatura da nascente sociedade proletária urbana e o correspondente ambiente industrial dos bairros da Barra Funda, Pari, Brás, Belenzinho, Móoca e Vila Prudente”. (Memória Fundap).
Segundo Ana Maria Belluzzo, no livro Voltolino e as Raízes do Modernismo, o personagem baseou-se em um tipo real da época: "Foi Francisco Jacheo, conhecido humorista, inseparável de Voltolino, que usava o nome de dom Ciccio, quem inspirou a criação de Juó
Verbete da Enciclopédia Itaú Cultural recupera texto de Herman Lima (História da caricatura no Brasil, 3º
Volume III. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963. p.1238-1239) que assim descreve Lemmo
Lemmi.
'Um dos desenhistas de humor
mais importantes e atuantes da imprensa paulistana em expansão no início do século
XX, João Paulo Lemmo Lemmi, apesar de filho de imigrantes
italianos, declarava-se paulistano da gema. Filho do artesão Ernesto Lemmi, aos
12 anos é levado a Pisa, Itália, para completar seus estudos técnicos. De volta
ao Brasil, se dedica à caricatura de forma autodidata, tendo colaborado com
alguns jornais locais na Itália.
É na imprensa paulistana de
língua italiana que encontra espaço para iniciar sua carreira por volta de
1905. Em jornais como Cara Dura: il giornale piu stupido del mondo,1 Il Grilo
di Flora e Il Pasquino Coloniale, Voltolino consolida os principais traços de
seu trabalho: de teor combativo, seu desenho satírico coloca-se a serviço dos problemas
sociais e políticos de seu tempo. Como ítalo-paulistano, a figura do imigrante
e seu processo de aculturação na nova cidade tornam-se os temas mais freqüentes
do artista, ao lado dos efeitos da industrialização nascente no âmbito do espaço
urbano e as agruras do cotidiano dos seus novos agentes sociais, como o operariado
e a pequena burguesia comercial, sem esquecer da velha oligarquia e da igreja. Dá
vida gráfica a Juó Bananére, personagem e pseudônimo literário de Alexandre Marcondes Machado (1892 -1933), tipo ítalo-paulista
criado em 1911 para expressar a mistura das duas culturas através da linguagem falada
e escrita.
É somente com sua participação
na revista carioca O Malho, entre 1908 e 1909, que seu nome torna-se mais conhecido.
Contudo, o reconhecimento nacional de Voltolino é consolidado por sua colaboração
na revista O Pirralho, entre 1911 e 1917, na qual chega a publicar 20 desenhos
por edição, inclusive diversas capas. A publicação, fundada por Oswald de
Andrade (1890 - 1954) e Dolor de Brito, dedica-se ao mesmo tempo à crônica
mundana, ao comentário político e à crítica da vida cultural de São Paulo, e e é
considerada por historiadores "o balão-de-ensaio" do modernismo de
22.
Em sua redação, Voltolino
trava contato com as polêmicas artísticas de seu tempo ao trabalhar com os
artistas Di Cavalcanti (1897 - 1976), Ferrignac (1892 -
1958), Guilherme de Almeida
(1890 - 1969) e, naturalmente, o próprio Oswald. Por outro lado, reconhece-se que
suas charges e ilustrações são responsáveis pela crítica política mais vigorosa
da revista, sendo impossível, como observa o crítico Sérgio Milliet (1898 -
1966), "entender o início do século XX paulista sem os desenhos de
Voltolino do Pirralho".
Seus desenhos são
conhecidos pela audácia, pelo traçado ágil, nervoso e despreocupado, em que o
efeito cômico é atingido mediante um grande poder de síntese, no qual a
economia gráfica se destaca. A determinação do risco e rapidez da execução dão
organicidade a seus personagens. Voltolino desenha-os primeiro a lápis para
depois, já totalmente decidido, finalizá-los com contorno a nanquim.
Com relação
às cores, gosta de usar as puras e intensas, usualmente trabalhadas em
contraste. Salvo quando precisa desenhar em papel couché, em que utiliza a
aguada em nanquim e a aquarela, suas cores são saturadas. A linguagem teatral e sua
coleção de gestos humanos, a animalização das personagens, os trocadilhos
visuais e verbais, a ironia, o disfarce e o simbolismo são típicos de
Voltolino. Contudo, deve-se notar que seu humor não é agressivo, ao contrário,
por vezes é complacente, principalmente com o imigrante italiano, pelo qual nutre
uma relação de afeto.
Na verdade, soube distinguir em suas charges aqueles que
"fizeram a América", e lutavam por reconhecimento social no Brasil às
vezes de forma ridícula, dos que não conseguiram chegar lá. Em 1914, passa a contribuir
para uma nova revista, A Cigarra, conhecida por seu cuidado com a qualidade gráfica.
Também colabora com outras revistas importantes como a D. Quixote, Revista do
Brasil, Panoplia, O Parafuso, O Queixoso, O
Sacy. Voltolino trabalha também como ilustrador de anúncios e cartazes, além da
ilustração de livros. É responsável
pelas ilustrações coloridas
da primeira edição de A Menina do Narizinho Arrebitado (1920) e Marquês de Rabicó
(1922), ambos de Monteiro Lobato (1882 - 1948)”.
Parabéns por seu trabalho e pela abrangência que ele mostra: a construção da pujança de São Paulo. No link abaixo, tem o trabalho que fiz sobre o Momento Itália/Brasil:
ResponderExcluirhttp://blogdodelmanto.blogspot.com/2011/10/momento-maior-italiabrasil-conde.html
Espero que seja do seu interesse,
Codialmente,
Armando Moraes Delmanto
(blogdodelmanto.blogspot.com)