O nome do italiano, Rigoleto Martino tem lugar na história da cidade de Uberaba, Minas Gerais, com destaque no campo da música, sido o compositor do hino do Uberaba Sport Club, além de marchas, dobradose valsas. E o que relata Arquivo Publico de Uberaba. .
"Filho de Antônio de Martino e Solamina De La Barba De Martino, nasceu em 29 de
Junho de 1881, em Vila Arieli, na Itália. Descendente de família ligada à música, chegou ao Brasil em 1895 em companhia de sua mãe e dois irmãos.
Vieram diretamente para Uberaba. Aqui já se encontrava o chefe da família sr.
Antônio De Martino, que havia instalado uma indústria de pastíficio, na rua João Caetano, onde hoje existe o Hotel Modelo, sendo que mais tarde foi transferido para a rua Padre Zeferino.
Nesta cidade Rigoleto ingressou nas atividades industriais (pastífico) com seu pai e, posteriormente com uma bem montada destilaria. Na casa de Antônio de Martino, todos eram músicos. Ernani, era clarinetista e Giocondo Garibaldi, tocava piston. Rigoleto era compositor e tocava bombardino, e enquanto trabalhava na sua fábrica, estudava música.
Foi aluno de música do professor Eloi Bernardes Ferreira.
Com o intuito de aperfeiçoar seus conhecimentos musicais adquiriu na Itália, através
de amigos vários livros de harmonia e composição musical. Estudioso, dedicado e
possuidor de fina sensibilidade artística, se tornou um grande musicista e inspirado compositor.
Em 1910, Rigoleto De Martino fundou a "Corporação Musical Ítalo Brasileira",
tornando-se seu maestro, regendo-a por cerca de 26 anos e compondo inúmeras peçasmusicais que foram por ela executadas.
Rigoleto exercitou-se tanto em música que adaptou para sua banda , às mais célebres óperas da época. Compôs de tudo. Desde música para aniversariantes, até obras mais complexas. Chegou mesmo a compor, uma missa completa.
Foi o Hino do Uberaba Sport Club que o consagrou definitivamente e o perpetuou na memória do povo.
Para Rigoleto tudo era pretexto para compor: o aniversário de um parente, a morte de um irmão, a visita de um amigo, um jogador de futebol, uma visita a uma cidade, os familiares etc. Entre suas inúmeras obras musicais compôs: Marchas, valsas, dobrados, Hinos, Músicas para teatro, Habaneras, Xote, Polcas, Canções Sertanejas, Tango , Foxtrote, Mazurca, Tanguinho, Galope, Passo doble, Fantasia, Gavotte.
Rigoleto de Martino foi por muitos anos tesoureiro da Societá de Mutuo Socorso
Fratellanza Italiana, de Uberaba. Casou-se com Maria Jesuína da Costa, em 1909 nesta cidade, com quem teve os seguintes filhos: Fausto De Martino, Yolanda De Martino, Ítalo De Martino, Hilda deMartino, Ézio De Martino.
Faleceu em Uberaba, no dia 4 de julho de 1937, recebendo inúmeras homenagens póstumas. As mais recentes foram prestadas pela Banda do 4º Batalhão, que entregou á família uma medalha comemorativa, e um trofeu de música popular, entregue pelo Colégio Estadual, em cerimônia no Cine Teatro São Luis".
Um blog para difundir e aprofundar temas da presença italiana no Brasil, bem como valorizar o Made in Italy. Um espaço para troca de informações e conhecimento, compartilhando raízes comuns da italianidade que carregamos no sangue e na alma. A italianidade engloba a questão das nossas raízes italianas e também reserva um olhar para a linha do tempo, nela buscando e resgatando uma galeria de personagens famosos ou anônimos que, de alguma forma, inseriram seus nomes na História do Brasil.
domingo, 9 de janeiro de 2011
sábado, 8 de janeiro de 2011
História (235 ) “Far l’ América (138 ): A colonização de Barão do Triunfo, no Rio Grande do Sul (2)
O início da imigração italiana no município gaúcho de Barão do Triunfo,no Rio Grande do Sul, é assim descrito no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)
“Depois de alojados em seus lotes e adaptados ao meio, iniciou-se efetivamente a colonização. Mesmo sem tecnologia para a agricultura, as colheitas eram fartas, devido à fertilidade das terras. Cada grupo de imigrantes, por nacionalidade, produzia o que conhecia de seu país de origem. Sendo assim, os italianos, de imediato, plantaram seus parreirais, árvores frutíferas, hortaliças, etc.
A produção gradativamente foi aumentando. O excedente da produção passou a ser comercializado nas cidades próximas, como Barra do Ribeiro, Guaíba, Arroio dos Ratos e São Jerônimo. Eram os carroceiros da Vila que realizavam este transporte, partindo daqui com seus carroções puxados por burros, levavam os produtos que trocavam por outros aqui não existentes. Nesta viagem demoravam-se por volta de quinze dias entre ida e volta. Entre os produtos comercializados, destacavam-se o vinho, a cachaça, o trigo, o milho e o feijão.Nos primeiros anos, houve um período de progresso na localidade. Aproveitaram as quedas d'agua do local para instalarem pequenas serrarias, moinhos de trigo e milho, descascadeiras de arroz e, também, para produzir energia elétrica.
Porém, houve um fator que contribuiu decisivamente para o atraso do desenvolvimento do distrito de Barão do Triunfo, que foi o desastre ecológico ocorrido no dia 15 de janeiro de 1941, quando uma tromba d?agua, caracterizado como "enchente de 41" destruiu, em poucos minutos, residências, moinhos, serrarias, plantações, cantinas, criações, 33 pontes, pontilhões e até mesmo modificando a geografia nas proximidades do Arroio Baicuru, sendo que o próprio leito do arroio, em certos trechos, foi desviado pela violência das águas. Somente a ponte de Faxinal ficou em pé.
Durante 2 anos o Distrito ficou isolado do resto do município. Passou a faltar tudo. A agricultura foi destruída, e de fora nada podia chegar, pois não havia estradas, nem pontes, só a pé ou, raramente, a cavalo se podia ainda chegar ali. Muitos foram embora, para tentar a sorte em outro lugar.
Os que aqui permaneceram tiveram que recomeçar como seus antepassados. Após muita luta e perseveranças surgiram dias melhores.Um fator que contribuiu para minimizar o impacto da enchente foi a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Barão do Triunfo. Por iniciativa do vigário local, Padre José Wiest, oferecendo assistência social e assistência técnica aos trabalhadores rurais em geral. Em 23 de outubro de 1892 foi fundada na sede da Vila Barão do Triunfo uma sociedade denominada 'Società Fratellanza Italia', organizada pelos imigrantes de origem italiana, com o objetivo de congregar sócios para fins assistenciais e culturais. No ano de 1938, esta sociedade passa a se chamar: "Sociedade Beneficente e Recreativa Cruzeiro", devido ao Decreto Lei nº 383, de 18 de abril de 1938, baixada pelo governo da República, que exigia a nacionalização de todas as sociedades culturais e estrangeiras. Em 1980, o nome da sociedade é novamente alterado, passando a se chamar "Sociedade Cultural e Recreativa Cruzeiro”.
“Depois de alojados em seus lotes e adaptados ao meio, iniciou-se efetivamente a colonização. Mesmo sem tecnologia para a agricultura, as colheitas eram fartas, devido à fertilidade das terras. Cada grupo de imigrantes, por nacionalidade, produzia o que conhecia de seu país de origem. Sendo assim, os italianos, de imediato, plantaram seus parreirais, árvores frutíferas, hortaliças, etc.
A produção gradativamente foi aumentando. O excedente da produção passou a ser comercializado nas cidades próximas, como Barra do Ribeiro, Guaíba, Arroio dos Ratos e São Jerônimo. Eram os carroceiros da Vila que realizavam este transporte, partindo daqui com seus carroções puxados por burros, levavam os produtos que trocavam por outros aqui não existentes. Nesta viagem demoravam-se por volta de quinze dias entre ida e volta. Entre os produtos comercializados, destacavam-se o vinho, a cachaça, o trigo, o milho e o feijão.Nos primeiros anos, houve um período de progresso na localidade. Aproveitaram as quedas d'agua do local para instalarem pequenas serrarias, moinhos de trigo e milho, descascadeiras de arroz e, também, para produzir energia elétrica.
Porém, houve um fator que contribuiu decisivamente para o atraso do desenvolvimento do distrito de Barão do Triunfo, que foi o desastre ecológico ocorrido no dia 15 de janeiro de 1941, quando uma tromba d?agua, caracterizado como "enchente de 41" destruiu, em poucos minutos, residências, moinhos, serrarias, plantações, cantinas, criações, 33 pontes, pontilhões e até mesmo modificando a geografia nas proximidades do Arroio Baicuru, sendo que o próprio leito do arroio, em certos trechos, foi desviado pela violência das águas. Somente a ponte de Faxinal ficou em pé.
Durante 2 anos o Distrito ficou isolado do resto do município. Passou a faltar tudo. A agricultura foi destruída, e de fora nada podia chegar, pois não havia estradas, nem pontes, só a pé ou, raramente, a cavalo se podia ainda chegar ali. Muitos foram embora, para tentar a sorte em outro lugar.
Os que aqui permaneceram tiveram que recomeçar como seus antepassados. Após muita luta e perseveranças surgiram dias melhores.Um fator que contribuiu para minimizar o impacto da enchente foi a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Barão do Triunfo. Por iniciativa do vigário local, Padre José Wiest, oferecendo assistência social e assistência técnica aos trabalhadores rurais em geral. Em 23 de outubro de 1892 foi fundada na sede da Vila Barão do Triunfo uma sociedade denominada 'Società Fratellanza Italia', organizada pelos imigrantes de origem italiana, com o objetivo de congregar sócios para fins assistenciais e culturais. No ano de 1938, esta sociedade passa a se chamar: "Sociedade Beneficente e Recreativa Cruzeiro", devido ao Decreto Lei nº 383, de 18 de abril de 1938, baixada pelo governo da República, que exigia a nacionalização de todas as sociedades culturais e estrangeiras. Em 1980, o nome da sociedade é novamente alterado, passando a se chamar "Sociedade Cultural e Recreativa Cruzeiro”.
História (234 ) “Far l’ América (137 ): A colonização de Barão do Triunfo, no Rio Grande do Sul (1)
O município gaúcho de Barão do Triunfo, tem seu
desenvolvimento intimamente ligado á imigração européia, em particular a
italiana, conforme relato do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
(IBGE)
”Em 1888, o governo da Província do Rio grande do Sul, resolveu demarcar as terras localizadas na Serra do Herval, sendo criada a sede do 1º distrito de São Jerônimo chamada de colônia de Barão do Triunfo.
No dia 16 de abril de 1889, a embarcação que trazia o restante dos imigrantes ancorou no porto da capital Gaúcha, Porto Alegre. Ao desembarcarem do navio Solferino, as famílias foram distribuídas em grupos de vinte pessoas e colocadas em pequenos barcos para seguirem viagem pelo Rio Jacuí em direção ao Município de são Jerônimo. Chegando à localidade conhecida como Charqueadas (hoje um Município da região Carbonífera).
Dias depois, os
imigrantes foram trazidos para um local conhecido como Faxinal. De Charqueadas
até o Faxinal, os imigrantes trouxeram os seus pertences em carretas puxadas a
bois.
O distrito de Barão do Triunfo pertencia ao município de São Jerônimo, com uma área de aproximadamente 16.000 hectares, estando distante da sede do município 63 quilômetros. “Sua situação geográfica é 8º36’30” a oeste do Rio de Janeiro, latitude sul, e está situada a 260 metros acima do nível do mar.
O início do município
ocorreu em 1889, quando imigrantes europeus ali chegaram. Desembarcaram em
Charqueadas, porto do Rio Jacuí. Daí rumaram em carroças puxadas por bois até o
local chamado Faxinal, onde foram alojados em barracões construídos pelo
Governo, até se instalarem definitivamente nos lotes de imigração.
Partindo de Faxinal, com suas famílias e todos os seus
pertences (ferramentas rudimentares, tais como: foice, machados, picão,
enxadas, facões, fornecidas pelo Governo da Província), iam abrindo seu próprio
caminho e traçando seu próprio destino. A caminhada foi penosa. Em todo o
caminho foram encontradas dificuldades que retardavam o avanço, tais como
animais selvagens, matas de difícil penetração, terreno acidentado, etc.
Chegando ao local de destino, os lotes já estavam demarcados e os imigrantes foram distribuídos por linhas demarcadas. Sendo assim os italianos foram assentados na Linha Dona Francisca, Dona Amália, Estrada Geral e no local que havia sido destinado para sede da Colônia de Barão do Triunfo, nome este escolhido em homenagem ao grande General José Joaquim de Andrade Neves, que se destacou na guerra dos farrapos, entre 1835 e 1845”
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Italianità – O jeito de ser italiano na literatura de Alcântara Machado (4)
Assim começa a obra Brás, Bexiga e Barra Funda, livro que eternizou o nome de Antonio de Alcântara Machado na história da literatura brasileira.
"ARTIGO
DE FUNDO
Assim
como quem nasce homem de bem deve ter a fronte altiva, quem nasce jornal deve
ter artigo de fundo. A fachada explica o resto.
Este
livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos:
nasceram
notícias.
E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.
Brás,
Bexiga e Barra Funda é o órgão dos ítalo-brasileiros de São Paulo.
Durante
muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas
xingaram de tristes: as três raças tristes. A primeira, as caravelas
descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de "mostrar suas
vergonhas". A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta
se enamoraram das moças "bem gentis" daquela, que tinham cabelos
"mui pretos, compridos pelas espadoas". E nasceram os primeiros
mamalucos. A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e
servir a gente. Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas,
macumas. E nasceram os segundos mamalucos.
E os
mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil. O colosso
começou a rolar. Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças
aventureiras. Entre elas uma alegre que pisou na terra paulista cantando e na
terra brotou e se alastrou como aquela planta também imigrante que há duzentos
anos veio fundar a riqueza brasileira.
Do
consórcio da gente imigrante com o ambiente, do consórcio da gente imigrante
com a
indígena
nasceram os novos mamalucos. Nasceram os intalianinhos. O Gaetaninho. A
Carmela.
Brasileiros
e paulistas. Até bandeirantes.
E o
colosso continuou rolando. No começo a arrogância indígena perguntou meio
zangada:
Carcamano
pé-de-chumbo
Calcanhar
de frigideira
Quem
te deu a confiança
De
casar com brasileira?
O
pé-de-chumbo poderia responder tirando o cachimbo da boca e cuspindo de lado: A
brasileira, per Bacco!
Mas
não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se. Prosperou.
E o
negro violeiro cantou assim:
Italiano
grita
Brasileiro
fala
Viva
o Brasil
E
a bandeira da Itália!
Brás,
Bexiga e Barra Funda, como membro da livre imprensa que é,
tenta fixar tão somente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e
quotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. É um jornal. Mais
nada. Notícia. Só. Não tem partido nem ideal. Não comenta. Não discute. Não
aprofunda.
Principalmente
não aprofunda. Em suas colunas não se encontra uma única linha de doutrina.
Tudo
são fatos diversos. Acontecimentos de crônica urbana. Episódios de rua. O
aspecto étnicosocial dessa novísima raça de gigantes encontrará amanhã o seu
historiador. E será então analisado e pesado num livro.
Brás,
Bexiga e Barra Funda não é um livro. Inscrevendo em sua coluna de
honra os nomes de alguns ítalo-brasileiros ilustres este jornal rende uma
homenagem à força e às virtudes da nova fornada mamaluca. São nomes de literatos,
jornalistas, cientistas, políticos, esportistas, artistas e industriais. Todos
eles figuram entre os que impulsionam e nobilitam neste momento a vida
espiritual e material de São Paulo.
Brás,
Bexiga e Barra Funda não é uma sátira.
A REDAÇÃO"
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Historia ( 233) - "Far l'Amercia (136 )": Ecos da imigração italiana no Espírito Santo ( 2)
No texto "O
discurso da italianidade no Espírito Santo: realidade ou mito construído?", Maria Cristina Dadalto,
doutora em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e
professora do Centro Universitário Vila Velha (ES), analisa a imigração italiana
a partir de obras lierárias como o livro La vita de Vittorio: diário de um
imigrante, de autoria de Douglas Puppin, com base no diário do imigrante
Vittorio De Monti repleto de registros cotidianos, fotos , cartas entre outros
documentos.
“Já assentado no
território capixaba (Vittorio De Monti), explicita as expectativas e ansiedades
dos membros da colônia italiana, a ação presente no cotidiano por meio dos
mecanismos prescritivos e normativos em sua ordem social e os lastros que
mantinham com a terra de origem:
‘ Era a primeira reunião de professores que
ensinavam o italiano no Estado e nela estavam presentes (...). O homem falava
bem, estava bem vestido e foi logo entrando no assunto: primeiro agradecia em
nome do governo italiano o trabalho que vinha sendo feito por nós professores,
que precisamos ensinar bem os nossos alunos; fornecer para eles os cadernos e
livros; ensinar tudo sobre a Itália nossa querida terra natal; mostrar a eles
que a Itália tinha que estar no coração de cada um (...) (PUPPIN, 1994, p. 47)’.
“
“Na narrativa de
Vittorio, se apresenta também a dificuldade da população de se manter nas
colônias, isoladas da capital, sem amparo de serviços de saúde e comerciais, e
as estratégias criadas para superá-las:
‘ (...) há necessidade de fundar-se uma sociedade em
benefício dos italianos e foi assim que se fundou a: Fratellanza Agrícola di
Beneficenza Societá di Alfredo Chaves – Carita – Pátria – Instruzione – Lavoro.
“Uno per Tutti – Tutti per Uno’ (PUPPIN, 1994, p. 143)’.
Contando a história
de Vittorio, Puppin oferece a possibilidade de se conhecer a realidade
experimentada pelos imigrantes e os meios que buscaram para solucionar
coletivamente suas dificuldades. Assim, fundaram associações culturais,
agrícolas, entre outras, tecidas no inventário de suas memórias e
representações da experiência vivida por eles próprios ou por seus pais e avós
na Itália”.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Italianità: O jeito de ser italiano na literatura de Alcântara Machado (3)
Brás Bexiga e Barra Funda, obra de Antonio de Alcântara Machado, deve ser
lido, levando-se em conta alerta do próprio autor. ‘Este livro não nasceu
livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este
prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo’..
“O processo narrativo em Brás, Bexiga e
Barra Funda está apoiado no diálogo, ou seja, no discurso direto, em que a fala
das personagens é revelada ao leitor com o máximo de naturalidade, afastando a
presença do narrador e aproximando-a dos personagens na busca de melhor
caracterizá-los e também ao seu contexto, expondo a carga emotiva e os valores
que permeiam as suas ações. Brás, Bexiga e Barra Funda busca, através da
linguagem, marcar os registros de fala coloquial e mestiça que predominavam no início
do século, principalmente nos bairros que dão nome à obra, além de romper com
as formas expressivas e as estruturas já cristalizadas pelo uso generalizado.
Há uma fusão de gêneros literário,
jornalístico e publicitário, que causa estranhamento ao leitor quando se
depara, por exemplo, com um anúncio em letras maiúsculas, sem nenhum texto
introdutório em “Amor e sangue”: Há uma crítica não-velada à discriminação
social e de grupos estrangeiros que perpassa toda a obra, como se pode observar
em ‘Lisetta’, no orgulho da mãe da menina rica e na provocação desta à
italianinha pobre; no apontar para a falta de ética que vai se delineando no
percurso da narrativa de “Nacionalidade e ‘Armazém’; no mapeamento da busca do status econômico
a qualquer preço quando a esposa do Conselheiro José Bonifácio, que não
permitia o casamento de sua filha com o filho do carcamano, já não vê mais
obstáculos após vislumbrar grande futuro em uma sociedade comercial entre o
marido e o Cav.Uff.Salvatore Melli; na denúncia explícita em relação aos que
têm poder em “O Monstro de Rodas”, com a afirmação: “Filho de rico manda nesta
terra que nem a Light”, e no olhar poético para a infância interrompida de
Gaetaninho, cujo sonho era andar de carro e morre atropelado por um bonde
quando na partida e bola “o jogo na calçada parecia de vida e morte”. (Fonte: CPV EDUCACIONAL)
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Historia ( 232) - "Far l'Amercia (135 )": Ecos da imigração italiana no Espírito Santo ( 1)
Literatura e imigração. Este é o centro da pesquisa
realizada em 2008 por Maria Cristina Dadalto, doutora em Ciências Sociais pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora do Centro Universitário
Vila Velha (ES).
A partir da produção literária produzida sobre a imigração italiana no Espírito Santo, a docente artigo busca analisar a construção do mito da italianidade como principal etnia a compor a identidade capixaba.
A partir da produção literária produzida sobre a imigração italiana no Espírito Santo, a docente artigo busca analisar a construção do mito da italianidade como principal etnia a compor a identidade capixaba.
Neste trabalho, Maria Cristina Dadalto pesquisou 45
obras (biografias, memórias, ficção e estudos acadêmicos, entre outros). A docente
explica que, da literatura analisada, 16 títulos, representando 35,7% da
produção, são memórias e autobiografias escritas ou reproduzida
por filhos e netos de imigrantes.
Dentro deste perfil, Dadalto destaca La vita de Vittorio: diário de um imigrante, de autoria de Douglas Puppin, com base no diário do imigrante Vittorio De Monti repleto de registros cotidianos, fotos , cartas entre outros documentos.
Dentro deste perfil, Dadalto destaca La vita de Vittorio: diário de um imigrante, de autoria de Douglas Puppin, com base no diário do imigrante Vittorio De Monti repleto de registros cotidianos, fotos , cartas entre outros documentos.
Um trecho do diário destacado por Daldato identifica
a família De Monti já contextualizando as razões o êxodo familiar.
“Nasci em 29
de janeiro de 1893. Filho de Santo e Nazarena. São italianos da gema,
legítimos, de Valdobbiádene. (...) Ele (papai) era um líder entre os jovens que
queriam reformas, que sofriam por querer reformas, que sofriam por ter que
viver sempre em guerra. A única saída encontrada era imigrar. Imigrando ficavam
livres das terríveis guerras e sonhavam alto nas fortunas que encontrariam na
América (PUPPIN, 1994, p. 20)”.
O livro de Puppin, de acordo com Daldato segue
mostrando “os motivos da busca por novas alternativas de grande parte dos
jovens italianos que emigraram para o Brasil, na figura de seu pai: pobres e
sem perspectivas de um futuro pleno de aventuras revolucionárias, se refugiam
no mito da fortuna presente nas terras americanas".
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Italianità – O jeito de ser italiano na literatura de Alcântara Machado (2)
Antes de aprofundar a análise sobre a obra mais importante de Antonio de Alcântara Machado, vale registrar uma breve biografia do autor retirada da Enciclopédia Itaú cultural de Liiteratura Brasileira.
“Antonio Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira (São Paulo25/05/1901 - 14/04/1935). Contista, cronista, crítico literário, romancista e jornalista. Filho do jurista, político e escritor José de Alcântara Machado d'Oliveira (1875 - 1941) e de Maria Emília de Castilho Machado. Seguindo os passos do pai e do avô, ingressa na Faculdade Direito do Largo de São Francisco em 1919. Ainda estudante, escreve artigos jornalísticos, crítica literária e teatral no Jornal do Commercio. Embora não participe da Semana de Arte Moderna (1922), apóia as novas idéias, aproximando-se dos escritores Oswald de Andrade (1890 - 1954) e Mário de Andrade (1893 - 1945) e do crítico Sérgio Milliet (1898 - 1966).
Em 1924, torna-se redator-chefe do Jornal do Commercio. Vai para Europa em 1925 e reúne as impressões de viagem em seu primeiro livro, Pathé-Baby, publicado um ano depois. Seu envolvimento com as idéias modernistas e a imprensa leva-o a fundar, com o ensaísta Paulo Prado, a revista Terra Roxa e Outras Terras; com Oswald de Andrade, a Revista de Antropofagia, em 1928, e com Paulo Prado e Mário de Andrade a Revista Nova, que dura de 1931 a 1932. Estréia com o livro de conto de Brás, Bexiga e Barra Funda, em 1927, e lança Laranja da China, em 1928.
Na década de 1930 intensifica suas atividades políticas - apóia o movimento constitucionalista de 1932, e se transfere para o Rio de Janeiro como secretário-geral da bancada paulista na Assembléia Constituinte. Em 1934, assume a direção do Diário da Noite e é eleito deputado federal, mas não chega a ser empossado: morre no ano seguinte por complicações de uma apendicite. Deixa inédita a peça teatral A Ceia dos Não Convidados e o romance inacabado Mana Maria, publicados postumamente. Sua obra, baseada numa prosa coloquial, aborda a rápida modernização da cidade de São Paulo, com seus automóveis, indústrias e imigrantes, principalmente os italianos".
domingo, 2 de janeiro de 2011
Italianità – O jeito de ser italiano na literatura de Alcântara Machado (1)
Contista, cronista, crítico literário, romancista e
jornalista. Essas são as faces de Antonio Castilho de Alcântara Machado de
Oliveira (São Paulo25/05/1901 - 14/04/1935),
uma das figuras centrais do modernismo brasileiro, autor do livro Brás, Bexiga
e Barra Funda. A obra é uma seleção de 11 contos ambientados em bairros
paulistanos onde era marcante a presença de imigrantes italianos.
O mundo virtual da internet oferece inúmeros textos que
analisam Brás, Bexiga e Barra Funda. Um
deles é de autoria do embaixador Rubens Ricupero. O diplomata inicia sua análise
descrevendo o contexto histórico que permeou a obra de Alcântara Machado.
“As duas primeiras
décadas do século marcam o momento de maior intensidade da maneira de ser
ítalo-brasileira. Antes, predominava o ítalo, o estrangeiro inseguro,
preocupado em sobreviver, ignorante da língua e dos costumes. Depois, irá
prevalecer, pouco a pouco, o brasileiro, o neto ou bisneto de italianos
integrado na comunidade, vivendo em bairros de gente afluente, não guardando
mais do que algumas palavras na língua dos avós.
Entre esses dois pólos
extremos, de cultura mais ou menos homogênea, estende-se o período híbrido da
mistura das línguas e das comidas, do apagar gradual dos valores e imagens do
país que ficou atrás e do engajamento progressivo na realidade nova. É quando os filhos de
imigrantes, confiantes em seus direitos de brasileiros natos, mais à vontade na
língua que aprenderam no Grupo Escolar do que no dialeto ouvido em casa, se
lançam à luta pela conquista de um lugar melhor na sociedade de adoção.
Às vezes com
agressividade, sempre com energia, esses ítalo-brasileiros vão abrir um espaço próprio,
que a cidade lhes concede com maior ou menor dificuldade, pois está também em
plena expansão.
Do burgo provinciano e
modorrento de 1800, só animado pelos estudantes da velha Escola de Direito,
quase perdendo para Campinas sua condição de Capital da Província, São Paulo prepara-se para ingressar no
ciclo contínuo de transformações que irá multiplicar-lhe 40 vezes a população — dos
165 mil habitantes de 1890 para os mais de 7 milhões atuais.
A prosperidade do café na
segunda metade do século XIX, antes das crises de superprodução deste século,
gera a acumulação de capitais que vai tornar possível a arrancada da
industrialização.
ma convergência de circunstâncias propícias concorre para
fazer de São Paulo a grande metrópole industrial de hoje: os capitais dos
barões e comissários do café; a energia elétrica produzida pelos canadenses da
Light na represa Billings, vizinha à cidade; a mão-de-obra e o mercado
consumidor fornecidos pelos imigrantes; as restrições às importações
conseqüentes à Primeira Guerra Mundial.
]
Os imigrantes italianos
serão, ao mesmo tempo, agentes ativos e beneficiários da industrialização e os
nomes peninsulares ficarão para sempre ligados à revolução industrial paulista.
A participação italiana é sensível já na fase inicial de indústria de bens de
consumo, alimentos ou tecidos, dominada pelos Matarazzos e Crespis, durante a
qual o Conde Francisco Matarazzo aparece como a figura simbólica dos novos
magnatas, uma espécie de Rockefeller paulista.
Mais tarde, ela se acentua no
desenvolvimento da indústria pesada de máquinas e equipamentos, onde a
inventividade mecânica dos italianos do norte vai criar os gigantes industriais
de hoje, os Bardellas, os Dedinis, os Romis.
Se a História, mais
sensível ao êxito ostensivo do que às vidas obscuras, vai guardar apenas os
nomes dos donos de fábricas, é preciso não esquecer que eram também, em geral,
italianos os que operavam essas fábricas. E serão italianos os trabalhadores
que introduzirão no Brasil as correntes de pensamento e ação sociais da Europa
contemporânea, o que se chamava, na linguagem policial de então, as doutrinas
exóticas: o anarquismo, o socialismo, o movimento sindical, a organização
das primeiras greves.
É nesse contexto dinâmico
de expansão econômica, de aumento da população, de modernização urbana, de
criação de oportunidades que se situam dois fenômenos, um cultural, outro
sociológico: a Revolução Modernista de 22 e a emergência da geração dos filhos
de imigrantes. Do encontro desses mundos vai surgir o livro de Alcântara Machado.
Os dois movimentos
apresentam afinidades evidentes. Ambos são jovens, vigorosos, modernos,
inovadores, numa postura que se pode resumir como basicamente otimista diante
da possibilidade de construir o futuro.
E o que vai explicar, no
livro, de um lado, a ênfase na descrição do que é força, ascensão, êxito, na
vida do imigrante e, de outro, o silêncio sobre o problemático e as tensões
mais profundas, a presença da dor apenas sob a forma de sentimento
individualista”.
sábado, 1 de janeiro de 2011
Memorie - Recordações do Bexiga
A prefeitura mantém ativo o site São Paulo Minha Cidade, aberto para receber postagens relatando memórias pessoais sobre bairros paulistanos. É o caso de Sao Paulo Minha Cidade, que relata recordações do Bexiga, bairro que recebeu grande contingentes de italianos.
"Quem te viu, que te vê, meu saudoso Bexiga. Quem te viu como eu, vem a lembrança a amizade entre os vizinhos, a parceria sincera que norteava os amigos, sem falar da ajuda mútua sempre presente nas famílias "bexigentas". Bons tempos foram aqueles.
Nasci na Rua Major Diogo, no. 680 (esta rua começa na Rua Santo Antonio e termina na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio).
Minha avó paterna veio da Itália (palazzo San Gervásio, província de Potenza), viúva, com seus dois filhos: Domingos e Carlos. Este último, Carlos Belviso, veio a ser meu pai. Minha mãe chamava-se Adelina Rubano.
Chegada da Itália, foi morar na Rua Major Diogo, no. 735, onde casou-se novamente com Antonio Lancelotti (bastante conhecido no bairro, por sua honestidade e bondade com o próximo).
Minha infância foi alegre, saudável e muita amizade entre os coleguinhas, aliás, uma das muitas marcas do Bexiga.
Fiz o jardim da infância numa escola no Morro dos Ingleses. Lembro-me como se fosse hoje, o sabor ainda na boca, do meu preferido, o sanduíche de pão doce com bastante mortadela.
Em seguida ao jardim da infância estudei na escola italiana "Arnaldo Pratola", que ficava na mesma rua onde nasci, e seu proprietário e professor era o famoso educador Giuseppe Cardinale. Esta escola lançou as primeiras sementes para a formação futura de nosso caráter. A disciplina, a honestidade, a honradez, a verdade, sempre eram uns dos seus lemas. Ah!, se tivéssemos hoje escolas desse naipe... Que maravilha.
A conclusão do curso primário deu-se no Grupo Escolar Júlio Ribeiro, na Rua Major Diogo, no. 200. Escola muito boa em que seus professores realmente se dedicavam. Que boas lembranças tenho da professora dona Marina, que junto dos alunos, um a um, se preciso, nos ensinava com paciência.
Nesse grupo escolar, nós, brasileiros atuantes (olhe só, tínhamos pouca idade) fazíamos coleta de borracha para ser usada na 2a. Guerra Mundial, e depositávamos no pátio da escola. Conseguíamos verdadeira montanha de borracha. Época muito boa essa.
Já mocinho, passei a estudar no Colégio Santo Alberto, na Rua Martiniano de Carvalho, junto à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, dos padres carmelitas. Lembro-me, com saudades e admiração, dos professores: Benedito, na matemática, Mendes, em português, Mecozzi, no desenho, Oswaldo, na geografia, o diretor frei Romualdo, e outros que não me vêm à memória.
Nessa época os amigos eram muitos. O Massao (Mário), filho do seu José e da dona Maria, japoneses, proprietários da quitanda, era parceiro algumas vezes do jogo de cartas típico italiano chamado Tre sete. Falava também um pouco do italiano. A coisa mais gostosa na quitanda era o coco em pedaços e o caqui.
Bem em frente de minha casa, num humano cortiço, filho de dona Giusepina e do Sr. Antonio "verdureiro", meu amigo Valter Pugliese era um constante parceiro nas brincadeiras (futebol, jogo de bolinhas de vidro, bate bate de folhinhas, com estampas dos jogadores da época). Na mesma "mansão" morava um crioulo, cujo apelido era Nori, ótima pessoa e também falava um pouco de italiano. Onde você o encontrava estava sempre sorrindo.
Meu outro vizinho do lado esquerdo de minha casa, grande amigo também, o "Grute", seu apelido, cujo nome era Walter e sobrenome Saladino, e seus irmãos Paschoal e Bolonha.
Recordo-me da família Cimino, que morava em frente. Lá juntavam-se várias mulheres do bairro (pagas) para "catar" amendoim (separar as impurezas). Era uma verdadeira zorra. Nós crianças ficávamos vendo e rindo de suas palhaçadas. O divertimento era geral. Outro amigo que não esqueço é o Armando Albanese e seu irmão. Este foi o precursor da famosa até hoje Padaria São Domingos. Caso "chocante" para aquela época foi que a irmã deles casou já grávida. Que bobagem hoje.
O domingos Barinote, que se formou médico, os Carbone, o Antonio Bracco, seus irmãos Zé Molinho (José) e Paulo. Que penca de amigos, mas amigos verdadeiros.
O que não me sai da memória são as duas "vendas" (empórios) situadas na minha rua: a do Felício De Carli e a outra do Gino Vanucci e seu irmão Mário. Na do Felício fazíamos as compras dos mantimentos e outros gêneros na velha caderneta, com pagamento mensal. Na do Gino, além de várias compras para abastecer minha casa, eu adorava, não perdia por nada, o famoso sanduíche composto de duas fatias grossas de queijo parmesão e, como recheio, uma também grossa fatia de mortadela. Família excelente os Vanucci, os Lupo, cujo amigão Dino Vanucci Lupo era companheiro de saídas, de cinemas, de jogo de futebol. E o Roberto Muraco, filho do açougueiro, que tinha em sua casa dois verdadeiros guardiões, ninguém entrava em sua casa: eram os ferozes galos, muito pior que qualquer cachorro.
Outro grande colega (e era grande mesmo) foi o russo-chinês de nome Dimitri Mamonkin. Possuía uma força descomunal: levantava um motor de carro facilmente. Ninguém procurava brigar com ele, ninguém era bobo para tal. Outro de que me lembro era o André, filho do sr. José, dono do bar na esquina da Rua Major Diogo e Conselheiro Carrão. A gente comia petiscos, e de graça. O André que patrocinava.
Os domingos eram sempre esperados. Íamos nos cinemas, ora Espéria, ou o Cine Rex, assistir os seriados imperdíveis como o zorro, Tom mix, Tarzan e outros. Isto durante à tarde. Pela manhã acompanhava meu pai até a cantina mais famosa do bairro, a do Capuano. O vinho era italiano em toneis, a sardela com pão italiano, as azeitonas gregas enormes. Que delícia. Que tempos. Voltávamos e na grande mesa a família toda junta saboreava a famosa macarronada com brachola e o frango com batatas assado no forno.
Este é o velho bairro do Bixiga, que tinha os melhores pães da região. Quem não conheceu a padaria Basilicata, a Padaria do Paladino, a padaria São Domingos. E a famosa feira da Rua Maria José, que todas as sextas-feiras eu acompanhava meus pais nas compras e ajudava a carregar as cestas. Nunca faltava o velho café Tiradentes.
Todas as tardes (religiosamente) aguardávamos o querido amigo jornaleiro Mário, que vinha gritando pela rua: “olha a Gazeta, olha o Diário, olha a Gazeta Esportiva”. Não é que de tanto passar pela Rua Major Diogo, olhou, namorou e casou com a filha da dona de uma pequena venda (não me lembro o seu nome)? Que festança foi realizada!
Existia ainda, e não faltava nunca, o vendedor de pasteis, os mais gostosos que comi, um senhor de cor negra e muito gentil.
Na mesma Rua Major Diogo, esquina com a Rua Humaitá, num porão, foram feitos os melhores pirulitos por um senhor italiano (não recordo seu nome), onde a criançada fazia fila para comprar os estupendos pirulitos.
Outros vendedores, como os de cogumelos enormes, e o vendedor de queijo que dava nomes a eles como, por exemplo: "queijo Pina Fachioni". A Pina era uma artista italiana da época.
Lembro do Teleco, que fundou a escola Vai Vai. Sua mãe está viva e mora no mesmo endereço, na Rua Major Diogo. Ela deve ter mais de cem anos. Não lembro seu nome, só sei que ela era muito brincalhona.
Já mais na juventude, aos sábados à noite, os amigos íamos à Pizzaria do Giordano, onde tinha as melhores pizzas de São Paulo. Esta pizzaria ficava na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, do lado do não mais famoso cine Paramount, com seus famosos camarotes. Era muito chique.
E a famosa Igreja Nossa Senhora de Achiropita. Lá fiz minha primeira comunhão. Recordo-me do padre Dom Orione, um eterno filador de cigarros.
Quantas lembranças esquecidas ficaram para trás. O tempo não passa, voa. Já se passaram muitos anos dos acontecimentos narrados e recordados. Cada personagem seguiu seu caminho. Alguns moram ainda no bairro, penso eu. Outros seguiram estradas diferentes, lugares diferentes.
As crianças, os jovens, os lugares, ainda estão lá no Bexiga daquela bela época. Senão, pelo menos estão na memória.
Saí do meu Bexiga pelos idos de 1971 e casei com a dona Judite. Hoje moramos no Parque Continental, no bairro do Jaguaré, antes bairro do Butantã".
"Quem te viu, que te vê, meu saudoso Bexiga. Quem te viu como eu, vem a lembrança a amizade entre os vizinhos, a parceria sincera que norteava os amigos, sem falar da ajuda mútua sempre presente nas famílias "bexigentas". Bons tempos foram aqueles.
Nasci na Rua Major Diogo, no. 680 (esta rua começa na Rua Santo Antonio e termina na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio).
Minha avó paterna veio da Itália (palazzo San Gervásio, província de Potenza), viúva, com seus dois filhos: Domingos e Carlos. Este último, Carlos Belviso, veio a ser meu pai. Minha mãe chamava-se Adelina Rubano.
Chegada da Itália, foi morar na Rua Major Diogo, no. 735, onde casou-se novamente com Antonio Lancelotti (bastante conhecido no bairro, por sua honestidade e bondade com o próximo).
Minha infância foi alegre, saudável e muita amizade entre os coleguinhas, aliás, uma das muitas marcas do Bexiga.
Fiz o jardim da infância numa escola no Morro dos Ingleses. Lembro-me como se fosse hoje, o sabor ainda na boca, do meu preferido, o sanduíche de pão doce com bastante mortadela.
Em seguida ao jardim da infância estudei na escola italiana "Arnaldo Pratola", que ficava na mesma rua onde nasci, e seu proprietário e professor era o famoso educador Giuseppe Cardinale. Esta escola lançou as primeiras sementes para a formação futura de nosso caráter. A disciplina, a honestidade, a honradez, a verdade, sempre eram uns dos seus lemas. Ah!, se tivéssemos hoje escolas desse naipe... Que maravilha.
A conclusão do curso primário deu-se no Grupo Escolar Júlio Ribeiro, na Rua Major Diogo, no. 200. Escola muito boa em que seus professores realmente se dedicavam. Que boas lembranças tenho da professora dona Marina, que junto dos alunos, um a um, se preciso, nos ensinava com paciência.
Nesse grupo escolar, nós, brasileiros atuantes (olhe só, tínhamos pouca idade) fazíamos coleta de borracha para ser usada na 2a. Guerra Mundial, e depositávamos no pátio da escola. Conseguíamos verdadeira montanha de borracha. Época muito boa essa.
Já mocinho, passei a estudar no Colégio Santo Alberto, na Rua Martiniano de Carvalho, junto à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, dos padres carmelitas. Lembro-me, com saudades e admiração, dos professores: Benedito, na matemática, Mendes, em português, Mecozzi, no desenho, Oswaldo, na geografia, o diretor frei Romualdo, e outros que não me vêm à memória.
Nessa época os amigos eram muitos. O Massao (Mário), filho do seu José e da dona Maria, japoneses, proprietários da quitanda, era parceiro algumas vezes do jogo de cartas típico italiano chamado Tre sete. Falava também um pouco do italiano. A coisa mais gostosa na quitanda era o coco em pedaços e o caqui.
Bem em frente de minha casa, num humano cortiço, filho de dona Giusepina e do Sr. Antonio "verdureiro", meu amigo Valter Pugliese era um constante parceiro nas brincadeiras (futebol, jogo de bolinhas de vidro, bate bate de folhinhas, com estampas dos jogadores da época). Na mesma "mansão" morava um crioulo, cujo apelido era Nori, ótima pessoa e também falava um pouco de italiano. Onde você o encontrava estava sempre sorrindo.
Meu outro vizinho do lado esquerdo de minha casa, grande amigo também, o "Grute", seu apelido, cujo nome era Walter e sobrenome Saladino, e seus irmãos Paschoal e Bolonha.
Recordo-me da família Cimino, que morava em frente. Lá juntavam-se várias mulheres do bairro (pagas) para "catar" amendoim (separar as impurezas). Era uma verdadeira zorra. Nós crianças ficávamos vendo e rindo de suas palhaçadas. O divertimento era geral. Outro amigo que não esqueço é o Armando Albanese e seu irmão. Este foi o precursor da famosa até hoje Padaria São Domingos. Caso "chocante" para aquela época foi que a irmã deles casou já grávida. Que bobagem hoje.
O domingos Barinote, que se formou médico, os Carbone, o Antonio Bracco, seus irmãos Zé Molinho (José) e Paulo. Que penca de amigos, mas amigos verdadeiros.
O que não me sai da memória são as duas "vendas" (empórios) situadas na minha rua: a do Felício De Carli e a outra do Gino Vanucci e seu irmão Mário. Na do Felício fazíamos as compras dos mantimentos e outros gêneros na velha caderneta, com pagamento mensal. Na do Gino, além de várias compras para abastecer minha casa, eu adorava, não perdia por nada, o famoso sanduíche composto de duas fatias grossas de queijo parmesão e, como recheio, uma também grossa fatia de mortadela. Família excelente os Vanucci, os Lupo, cujo amigão Dino Vanucci Lupo era companheiro de saídas, de cinemas, de jogo de futebol. E o Roberto Muraco, filho do açougueiro, que tinha em sua casa dois verdadeiros guardiões, ninguém entrava em sua casa: eram os ferozes galos, muito pior que qualquer cachorro.
Outro grande colega (e era grande mesmo) foi o russo-chinês de nome Dimitri Mamonkin. Possuía uma força descomunal: levantava um motor de carro facilmente. Ninguém procurava brigar com ele, ninguém era bobo para tal. Outro de que me lembro era o André, filho do sr. José, dono do bar na esquina da Rua Major Diogo e Conselheiro Carrão. A gente comia petiscos, e de graça. O André que patrocinava.
Os domingos eram sempre esperados. Íamos nos cinemas, ora Espéria, ou o Cine Rex, assistir os seriados imperdíveis como o zorro, Tom mix, Tarzan e outros. Isto durante à tarde. Pela manhã acompanhava meu pai até a cantina mais famosa do bairro, a do Capuano. O vinho era italiano em toneis, a sardela com pão italiano, as azeitonas gregas enormes. Que delícia. Que tempos. Voltávamos e na grande mesa a família toda junta saboreava a famosa macarronada com brachola e o frango com batatas assado no forno.
Este é o velho bairro do Bixiga, que tinha os melhores pães da região. Quem não conheceu a padaria Basilicata, a Padaria do Paladino, a padaria São Domingos. E a famosa feira da Rua Maria José, que todas as sextas-feiras eu acompanhava meus pais nas compras e ajudava a carregar as cestas. Nunca faltava o velho café Tiradentes.
Todas as tardes (religiosamente) aguardávamos o querido amigo jornaleiro Mário, que vinha gritando pela rua: “olha a Gazeta, olha o Diário, olha a Gazeta Esportiva”. Não é que de tanto passar pela Rua Major Diogo, olhou, namorou e casou com a filha da dona de uma pequena venda (não me lembro o seu nome)? Que festança foi realizada!
Existia ainda, e não faltava nunca, o vendedor de pasteis, os mais gostosos que comi, um senhor de cor negra e muito gentil.
Na mesma Rua Major Diogo, esquina com a Rua Humaitá, num porão, foram feitos os melhores pirulitos por um senhor italiano (não recordo seu nome), onde a criançada fazia fila para comprar os estupendos pirulitos.
Outros vendedores, como os de cogumelos enormes, e o vendedor de queijo que dava nomes a eles como, por exemplo: "queijo Pina Fachioni". A Pina era uma artista italiana da época.
Lembro do Teleco, que fundou a escola Vai Vai. Sua mãe está viva e mora no mesmo endereço, na Rua Major Diogo. Ela deve ter mais de cem anos. Não lembro seu nome, só sei que ela era muito brincalhona.
Já mais na juventude, aos sábados à noite, os amigos íamos à Pizzaria do Giordano, onde tinha as melhores pizzas de São Paulo. Esta pizzaria ficava na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, do lado do não mais famoso cine Paramount, com seus famosos camarotes. Era muito chique.
E a famosa Igreja Nossa Senhora de Achiropita. Lá fiz minha primeira comunhão. Recordo-me do padre Dom Orione, um eterno filador de cigarros.
Quantas lembranças esquecidas ficaram para trás. O tempo não passa, voa. Já se passaram muitos anos dos acontecimentos narrados e recordados. Cada personagem seguiu seu caminho. Alguns moram ainda no bairro, penso eu. Outros seguiram estradas diferentes, lugares diferentes.
As crianças, os jovens, os lugares, ainda estão lá no Bexiga daquela bela época. Senão, pelo menos estão na memória.
Saí do meu Bexiga pelos idos de 1971 e casei com a dona Judite. Hoje moramos no Parque Continental, no bairro do Jaguaré, antes bairro do Butantã".
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