Quando o assunto é movimento operário no Brasil e a participação do imigrante nitaliano, a primeira coisa que vem à baila é o ativismo anarco-sindicalista. No artigo Desenraizados e integrados Luigi Biondi mostra uma outra face da luta operária e imigração italiana: a forte presença de grupos socialistas.
“O mundo associativo dos trabalhadores ítalo-paulistanos era muito mais articulado do que foi evidenciado pelos estudos que focalizaram a atuação dos anarquistas (..)Os socialistas italianos desempenharam um papel tão importante (muitas vezes mais intenso e ramificado) que o dos anarquistas, exatamente pela maior capacidade de circular entre diferentes tipos de associações étnicas e de classe. Sua atuação previa justamente a participação nos mais variados processos de organização, desde o grupo político até o sindicato, o círculo recreativo, a cooperativa de consumo e de produção, e obviamente, as associações étnicas e as importantes sociedades de socorro mútuo que surgiram entre os trabalhadores italianos de São Paulo da mesma forma que nos outros países onde os socialistas italianos estiveram presentes em todos os processos organizativos dos trabalhadores em São Paulo e, em alguns momentos, os lideraram efetivamente, enquanto em outros períodos compartilharam este papel de direção e organização com militantes anarquistas ou sindicalistas revolucionários”.
“(...)Em relação ao sindicalismo, às ligas de ofício, o papel dos socialistas italianos de São Paulo foi de extraordinária importância. A partir da década de 1890 foram os primeiros fundadores de ligas sindicais na cidade de São Paulo. Mas foi sobretudo entre 1898 e 1903 que eles lideraram o surgimento e a organização das ligas de resistência e todo tipo de ação sindical, desde as greves, as arbitragens nos conflitos de trabalho, até a elaboração dos estatutos e a vida associativa geral dos sindicatos”.
“(...)É necessário dizer também que não se trata de um movimento organizativo sindical exclusivamente dominado por trabalhadores especializados, homens e adultos. Pelo contrário, uma análise mais aprofundada deste período e da atividade dos socialistas italianos, mostrou que a presença de trabalhadores não (ou pouco) especializados e de mulheres não era nada desprezível, tanto que um dos sindicatos que teve maior sucesso em termos de números de filiados proporcionalmente ao número de empregados, em termos de atividade sindical e associativa, foi o dos tecelões e tecelãs (com diversas mulheres em sua direção). Esta atividade organizativa proporcionou um aumento considerável dos trabalhadores sindicalizados neste período, que não eram tão poucos como podia parecer : eles ultrapassavam a proporção que foi encontrada na Argentina de 1904 (modelo usual de comparação na historiografia sobre o movimento operário brasileiro)”.
“Os novos militantes que chegaram a partir de 1911-12, trouxeram consigo novas experiências organizativas. Foi o período do triunfo da corrente socialista revolucionária na Itália, e muitos destes militantes já na Itália tinham sido líderes locais de bolsas do trabalho, o que significava uma prática sindical experiente e que, de qualquer forma, tinha muitos pontos de contato com o sindicalismo revolucionário e a ênfase que este punha no papel do sindicato[6]. Os efeitos foram visíveis na greve geral de 1917, na qual o papel de liderança desempenhado pelos militantes socialistas italianos mais importantes de São Paulo foi evidente e não pode ser ofuscado pela idéia que tivemos até agora de uma greve geral gerada espontaneamente, dominada por anarquistas. Ao contrário, parece-me que ela se desenvolveu num contexto em que ainda havia uma rede de diferentes tipos de organizações políticas, sindicais e mutualistas (mesmo se um pouco enfraquecidas), e onde a falta de organização foi mais aparente do que real”.
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