O site da Fundação Desenvolvimento Administrativo (governo do Estado de São Paulo) traz a seção Memória Paulista, na qual é possível a localização, por assunto, de diversos documentos (sobretudo livros e jornais) disponíveis em órgãos públicos como acervos do governo estadual, bibliotecas de Faculdades, entre outros.
Um dos temas que podem ser consultados (com resumo do que traz a fonte citada) é justamente a Greve Geral de 1917, iniciada no cotonifício do empresário italiano Rodolfo Crespi.
A seguir, algumas indicações sobre jornais da época noticiando os desdobramentos do movimento grevista.
A simples leitura desses fragmentos já nos dá a dimensão do que foram aqueles dramáticos e tensos dias de julho de 1917.
Carestia de vida
- Este artigo relata como o custo de vida no Brasil sempre foi alto. De acordo com o Year Book de 1912, o país aparece no topo dos países mais caros do mundo, onde os gêneros de primeira necessidade sofrem reajustes constantes, enquanto os salários não conseguem acompanhar. Entre 1915 e 1917, os preços do pão, do açúcar, do feijão e do arroz cresceram entre 60 e 150%. O fim da carestia de vida foi uma dos reivindicações feitas pelos trabalhadores paulistas participantes da Greve Geral de 1917. (A Gazeta, São Paulo, 7 jul 1917, capa.)
Na Antarctica Paulista -
Operários grevistas da Companhia Antarctica, sem conseguirem êxito nas reivindicações por melhores condições de trabalho, agrediram um reduzido pessoal que trabalhava; por isso, foi ordenado reforço policial nas fábricas da Móoca e da Água Branca. (A Capital, São Paulo, 9 jul 1917, capa).
As Arruaças de Ontem
O artigo informa que os operários da fábrica de Tecidos Crespi, localizada no bairro do Alto da Móoca, continuam em greve. No dia anterior estes operários se reuniram em frente à fábrica, em manifestação hostil contra seus patrões, além de tentarem apedrejar a polícia pela prisão de dois menores. A resposta veio através do revide da cavalaria, que atirou nos manifestantes para dispersarem rapidamente. Dois policiais foram atingidos por pedras e sofreram ferimentos leves, mas passam bem. ( A Nação, São Paulo, 9 jul 1917, capa).
Agitações proletárias -
No dia anterior à publicação do artigo, alguns operários foram feridos e, em consequência, o policiamento foi reforçado com 80 praças, sendo 50 deles da infantaria armados de fuzis. Neste mesmo dia, outra companhia de infantaria invadiu a Liga Operária da Móoca, retirando dali placas, livros, manifestos e qualquer papel suspeito de anarquismo.
Na sequência, o jornal publicou um manifesto de um grupo de mulheres grevistas e o manifesto do Comitê de Defesa Proletária.
Noticiou, ainda, a morte do sapateiro espanhol José Iguenez, empregado de uma sapataria na rua Caetano Pinto. (A Capital, São Paulo, 10 jul 1917, capa).
O movimento grevista continua
- O artigo mostra reivindicações de operários e a situação deles nas diversas fábricas de São Paulo, durante a Greve Geral de 1917. Os operários da fábrica Mariangela, pertencente às Indústrias Reunidas Matarazzo, embora ainda não tivessem aderido ao movimento, pediam aumento salarial. No Cotonifício Crespi, centro do movimento grevista, o gerente não sabia quando os operários voltariam ao trabalho. A fábrica já havia anunciado aumento de 10% aos trabalhadores diurnos e 15% para os da noite. Já os operários da Antarctica aguardavam os resultados da reunião dos diretores da companhia, marcada para às 11 horas desta data.
O artigo relata, ainda, os incidentes ocorridos no dia anterior, na rua Monsenhor Andrade, de que vários operários saíram feridos: José Ignez Martinez foi baleado no peito e não resistiu aos ferimentos; os demais tiveram ferimentos leves. ( A Gazeta, São Paulo, 10 jul 1917, p. 3).
Crise operária -
O periódico opina que é preciso organizar uma legislação operária capaz de efetivar direitos e conter as divergências entre operários e patrões, porque a classe dos trabalhadores luta muito por sua subsistência nestes tempos difíceis. Também pede que os operários mantenham-se calmos, não criem confusões em decorrência da greve geral que estava em curso, mas que continuem a defender sua causa (melhores salários, melhores condições de trabalho e que os preços dos alimentos sejam contidos). (A Platéia, São Paulo, 11 julho 1917, capa e p. 4).
O movimento grevista alastra-se -
Informa a adesão à greve dos operários da Fiat-Lux, Fiação e Tecelagem São Simão, Fábrica de Tecidos Penteado, Estamparia Matarazzo, Moinho Gamba, Dante Ramenzoni, Vianna, dentre outros. Os operários da Light também deverão aderir em breve.
Noticia, ainda, o enterro do operário José Martinez que foi acompanhado por cerca de 20 mil pessoas. E apresenta uma foto do aspecto do cortejo fúnebre. ( A Capital, São Paulo, 11 jul 1917, capa e p. 4).
O enterro realizado hoje
O artigo informa que o enterro do sapateiro José I. de Martinez foi acompanhado por um número extraordinário de pessoas. E que alguns operários conseguiram alterar o percurso do féretro e passar em frente ao prédio da Polícia Central, quando exigiram a soltura de um anarquista. ( Nação, São Paulo, 11 jul 1917, p. 4)
A agitação proletária estende-se por todas as fábricas -
Este artigo define como gravíssima a situação originada pela resistência que os industriais paulistas oferecem diante das reivindicações dos trabalhadores. O movimento vinha recebendo muitas adesões, podendo se transformar em greve geral, o que seria, segundo o jornal, uma grande calamidade, mesmo sabendo que a classe operária não poderia permanecer na situação em que se encontrava - ganhando baixos salários, trabalhando muitas horas por dia e tendo dificuldades para adquirir os gêneros de primeira necessidade devido aos altos preços. (A Gazeta, São Paulo, 11 jul 1917, capa).
O movimento operário -
Informa que o movimento de greve ganhou a adesão de mais operários e que alguns deles, mais exaltados, provocaram depredações. Diz que as negociações entre o Secretário de Justiça e os industriais parecem ir bem, uma vez que os patrões prometeram estudar as reivindicações dos trabalhadores. (Diário Popular. O Movimento Operário. São Paulo, 12 jul 1917, capa).
A crise operária -
O periódico afirma que, neste início da greve geral de 1917, houve um aumento da crise e das agitações operárias. Os trabalhadores pedem melhores salários e a regulamentação da tarefa dos menores nas fábricas.
Um dos principais problemas, segundo a análise de A Platéia, é que os operários não dispõem de crédito para suas compras e por isso pagam tudo à vista. Seus aluguéis podem subir, assim como o preço dos alimentos, mas seus salários permanecem iguais. O jornal faz um apelo para que as autoridades ponderem este complexo problema e achem uma solução. (A Platéia, São Paulo, 12 jul 1917, capa).
A greve do operariado- A Greve do Operariado.
O artigo relata os acontecimentos do dia anterior, quando grevistas percorreram em massa todas as fábricas do bairro do Brás, obrigando-as que fechassem. Os manifestantes apedrejaram as fábricas Trapani e Moinho Santista. A polícia foi chamada para manter a ordem. Houve troca de tiros e os soldados José Liborio e Luiz dos Santos ficaram levemente feridos. Por isso, um reforço policial foi designado e o 2o. Batalhão recebeu a responsabilidade de manter a ordem na cidade de São Paulo.
O bairro do Brás era o centro do movimento grevista. Logo pela manhã cerca de 100 operários nos bairros do Brás, São Caetano, Lavapés e Ipiranga promoveram a desordem e foram presos.
Na Companhia de Tecidos de Juta Sant´Anna a direção concordou com o aumento de 20% nos salários dos operários. (A Platéia, São Paulo, 12 jul 1917, p.4.)
A situação se agrava de momento a momento
O artigo prevê a falta de pão e carne na cidade de São Paulo devido à adesão dos padeiros à greve geral, juntamente com os empregados do Frigorífico.
Devido às agitações pela cidade, o tráfico de bondes está em grande parte paralisado.
Observação: Esta matéria traz duas fotos com os operários nas ruas acompanhando o funeral do sapateiro José Martinez. (A Gazeta, São Paulo, 12 jul 1917, capa).
As agitações proletárias alastram-se, dia a dia
O Cotonifício Crespi anuncia o aumento salarial aos seus funcionários. Porém, a greve deverá generalizar-se em todo o Estado, atingindo as cidades de Santos, Campinas, São Carlos, Rio Claro, Ribeirão Preto, Sorocaba e outros centros.(A Capital, São Paulo, 13 jul 1917, capa e p. 3).
A situação continua a ser muito grave
Relata as desordens ocorridas no dia anterior, quando houve novamente confronto entre polícia e manifestantes. Tanto na Praça da Sé como na rua Monsenhor Andrade aconteceram tiroteios e uma mulher teria sido morta. Observação: A matéria traz três fotos: 1) no Largo da estação do norte um popular fala, do alto de uma escada, para a multidão; 2) na Sorocabana, alguns vagões de carga estão sendo guardados pela polícia depois do assalto dos grevistas; 3) na Avenida Rangel Pestana populares tomam de assalto um bonde que não consegue ir adiante.
Os sucessos de ontem e a nova atitude da polícia
Representantes de jornais da Capital do Estado se reuniram com o Secretário de Justiça, convidados a explicar sua atuação, com o objetivo exclusivo de conter os grevistas naquele momento. O encontro foi uma ação de conciliação e apaziguamento. A medida visou evitar a publicação de notícias errôneas sobre a Greve Geral. (A Nação, São Paulo, 13 jul 1917, p. 4.)
O movimento operário -
Informa que o movimento de greve está crescendo e atinge quase todas as classes, paralisando indústrias dos mais diversos ramos. Diz que as propostas dos grevistas têm sido atendidas, restando, agora, resolver o problema da carestia de vida, ou seja, conter os altos custos dos alimentos. ( Diário Popular, São Paulo, 13 jul 1917, capa).
A caminho de um acordo?
- Os representantes da imprensa publicam um abaixo-assinado, manifestando-se simpáticos à causa do operariado e convocando os industriais para uma reunião conciliatória no salão do jornal O Estado de São Paulo. Publicam, ainda, o abaixo-assinado dos trabalhadores gráficos, pedindo aumento salarial e o fim do trabalho de menores de 14 anos, jornada de 8 horas e adoção da semana inglesa. Traz uma foto de Nicolau Salermo, antes de ser morto pela polícia. (A Capital, São Paulo, 14 jul 1917, capa).
Operários em greve -
Informa que os tecelões do cotonifício Crespi pediam aumento salarial há algum tempo devido ao aumento do preço dos gêneros de primeira necessidade. A princípio pensava-se que a reivindicação seria acatada, porém, como nada foi feito, os funcionários declararam a greve. Os funcionários da estamparia Alberti, que também pediam aumento salarial, insultados pelo mestre e sem conseguirem os resultados esperados, declararam-se igualmente em greve.(A Capital, São Paulo, 15 jun 1917, capa).
O movimento operário -
O artigo informa que a Comissão de Imprensa, em defesa dos operários, é quem vem intemediando as negociações entre o Comitê de Defesa Proletária e os industriais patrões pelo fim da greve geral e conquista das reivindicações dos operários. E a próxima reunião aconteceu nesta data, às 14horas, na sede do jornal O Estado de São Paulo. (Diário Popular, São Paulo, 15 jul 1917, capa).
A crise operária -
Anuncia o início da greve na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, onde os telegrafistas pedem aumento de 20% e a diminuição das horas de trabalho. Cinco mil operários também estão em greve na cidade de Jundiaí. São trabalhadores das fábricas São Bento, F. Bulcão e Cia, Fábrica Japy, Jundiahy Agrícola, Cia Paulista, Armazéns da Estrada de Ferro Ingleza, Fábrica de Conservas e Vinhos, Serraria J. Cambraia, dentre outras.
Últimas - A Crise Operária. A Platéia, São Paulo, 16 jul 1917, p. 3).
O movimento operário -
O artigo torna públicos os esforços e seus respectivos resultados obtidos pela Comissão de Imprensa Diária, organizada para intermediar o conflito entre as partes na greve geral de 1917. Os resultados, por enquanto, foram: aumento de 20% dos salários, promessa de que nenhum operário será demitido, salários pagos na primeira quinzena imediatamente após o mês vencido, melhora das condições morais, materiais e econômicas dos operários de São Paulo, dentre outras medidas. ( Diário Popular, São Paulo, 16 jul 1917, capa).
O movimento grevista -
Noticia o acordo com o Comitê de Defesa Proletária, que aceitou as concessões dos industriais e as promessas dos representantes do poder público em benefício dos operários. (A Capital, São Paulo, 16 jul 1917, capa).
Agitações operárias
Anuncia o fim da greve e a volta ao trabalho em muitas fábricas da capital. Ainda declaram-se em greve os operários da Ingleza, da Sorocabana e da Mogyana. Observação: A matéria traz duas fotos. 1) os manifestantes em frente ao coreto do Largo da Concórdia; 2) Aspecto do grande comício realizado no dia anterior no Largo da Concórdia pelas classes operárias.( A Gazeta, São Paulo, 17 jul 1917, capa).
Ainda o movimento grevista -
Segundo o artigo, a vida na capital paulista foi normalizada e a greve subsiste em apenas alguns estabelecimentos que não quiseram assinar as bases do acordo liderado pela Comissão de Imprensa. A maior parte dos policiais já voltou aos quartéis e os bondes trafegam normalmente sem precisar da proteção da polícia. (A Gazeta, São Paulo, 18 jul 1917, capa).
A carestia da vida
- O artigo sugere medida a ser adotada pelo governo no combate à carestia de vida.
Combater a carestia foi uma das principais reivindicações dos operários participantes da Greve Geral de 1917. De acordo com o texto, o próprio governo deveria ser o único comprador de todos os gêneros alimentícios transportados pela estrada de ferro para, desta forma, conter os abusos e, consequentemente, manter os preços estáveis. (A Platéia, São Paulo, 18 jul 1917, capa).
O movimento grevista-
Noticia a diminuição gradativa do movimento grevista com a previsão de completa normalização da situação para breve. Publica o Manifesto ao operariado, redigido pelo Comitê de Defesa Proletária.(A Capital, São Paulo, 18 jul 1917, capa).
O movimento grevista - a situação geral
Publica um apelo do Comitê de Defesa Proletária aos industriais que ainda não aderiram ao acordo em prol dos trabalhadores. (A Situação Geral. São Paulo, 17 jul 1917), capa.
Notícias - Informa sobre reunião realizada no Palácio do Governo, de que tomaram parte Altino Arantes (presidente do Estado), Washington Luis (prefeito) e uma comissão de vereadores, com o propósito de investigar as queixas divulgadas na imprensa sobre os preços abusivos dos gêneros de primeira necessidade, praticados pelos armazéns. As autoridades estavam empenhadas em cumprir sua parte no acordo que pôs fim à Greve Geral para combater a carestia de vida. ( A Platéia, São Paulo, 19 jul 1917, capa).
O movimento operário -
O artigo aborda o problema da carestia de vida, que foi um dos motivos para o início da Greve de 1917 e que, após seu fim, continua sendo motivo de preocupação no mundo e no Brasil - mesmo sem estarmos na guerra. Pede para que o governo imponha limites à exploração, baixando os preços de certos gêneros de primeira necessidade. ( Diário Popular, São Paulo, 19 jul 1917, capa).
O movimento grevista -
Com a normalização e o fim das greves, o problema mais preocupante passou a ser a alimentação da população. Assim, este artigo pede que os prefeitos das cidades negociem o pronto abastecimento, diretamente com os produtores, como forma de garantir que atravessadores ou intermediários não elevem os preços. (A Capital, São Paulo, 19 jul 1917, capa).
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