Um personagem marcante da história da cidade gaúcha de Erechim foi o padre Benjamin Busato, filho de italianos, que mereceu a atenção da pesquisadora Sonia Mári Cima. Na dissertação de mestrado Padre Busato: um protagonista na história de Erechim (1926 - 1950) pela Universidade de Passo Fundo ela relata influência política do religioso no cotidiano daquela cidade entre 1926-1950.
"No período referido (1926-1950), observa-se um envolvimento muito grande de
padre Benjamin com a sociedade local e regional, expresso nas eleições municipais ou de
outras esferas, nas atividades da Ação Católica e Liga Eleitoral Católica, na formação do
Círculo Operário Erechinense, nas atividades como presidente da Associação Rural, na
tentativa de criação de cooperativas, nas iniciativas de construção do Hospital de Caridade,
do Colégio São José e da Igreja São José e noutras influências sociais, como a busca de
produtos – o sal e o querosene –, quando da escassez provocada pela Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), e na defesa dos descendentes de italianos pelo nacionalismo do
Estado Novo (1937-1945)".
"O personagem deste estudo, padre Benjamin Busato, nasceu no dia 27 de junho de
1902 em Nova Palma,28 Rio Grande do Sul. Seus avós paternos foram Basílio e Julia
Busato, e avós maternos, Antônio e Maria Ruaro. Sobre seu avô Antônio Ruaro
encontramos este registro em Sponchiado
"O próprio padre Benjamin Busato, que utilizava o codinome “Chico Tasso” em
seus escritos, destaca nas crônicas sobre seu avô: (...) 'Recordo uma história de meu avô.
Meu avô vinha das montanhas dos Alpes, divisa entre Suíça e Itália, onde ao tempo êle
vingava um perigoso contrabando de fumo, visto como tudo que fosse tabaco ou tabacaria
era do Govêrno como o eram o fósforo, sal e selos de correio.' "
"Os ascendentes familiares do padre Benjamin eram italianos, desenvolviam
atividades ligadas à agricultura e tinham o sonho de adquirir propriedades e obter
autonomia. Ludibriados pela propaganda da América como uma terra de esperança e
farturas, informações nem sempre condizentes com a realidade de preencher espaços
demográficos ou mão-de-obra, eles vieram para o Brasil através da política oficial de
imigração. Vale Vêneto e Nova Palma foram os espaços onde cresceu o padre Benjamin"
“Os vinte e quatro anos de liderança do padre Benjamin Busato na igreja São José,
apesar dos cinqüenta anos que nos separam desde seu afastamento, são marcantes para os
habitantes de Erechim, sobretudo para os que o conheceram pessoalmente. Para entender
esta afirmação, destacamos, primeiramente, a participação política de padre Benjamin, com
grande evidência à sua função de vereador, desempenhada de 1946 a 1947 e como
presidente, na época denominado Conselho Administrativo, além de sua indicação, em
1945, como candidato à Assembléia Legislativa, pelo PSD".
"Ele assumiu a liderança como
vigário de uma paróquia com a função de transmitir as bases espirituais para o povo, porém
uma das suas principais preocupações foi o acompanhamento social e político do
desenvolvimento de Erechim.
Outra consideração, não menos importante, é a influência comprovada que o padre
Busato exerceu nas eleições quer locais, quer estaduais ou nacionais, confrontando-se com
autoridades locais, ou de partidos diferentes, como foi o caso criado com o prefeito
Amintas Maciel em 1933 e por ter assumido o papel de cabo eleitoral de alguns candidatos,
como do prefeito Attilano Machado, em 1928, e do deputado estadual Adroaldo Mesquita
da Costa, em 1933, 1934 e 1946".
"A atuação de nosso biografado baseava-se em sua função como religioso,
exercendo enorme controle sobre as comunidades rurais italianas, imbuído do espírito da
Liga Eleitoral Católica ou da Ação Católica, ou na organização de associações trabalhistas.
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No Rio Grande do Sul, sob a orientação de dom João Becker, arcebispo de Porto
Alegre, o padre Benjamin orientou seu trabalho para a organização popular em torno da
Igreja Católica, buscando a reestruturação da instituição no pós-30".
"Foi esse um período
em que a sociedade brasileira passava por mudanças estruturais, sociais, políticas e
econômicas e no qual a Igreja Católica passou a disputar espaço junto ao poder do Estado,
quase sempre assumindo a organização de instituições como o Círculo Operário
Erechinense, a Associação Rural, o Hospital de Caridade, o Colégio São José e a
construção da igreja São José.
A ação centralizadora do padre Benjamin refletiu-se na organização da sociedade
erechinense em meio à disputa entre Estado e Igreja por espaço político, destacando-se
sempre sua participação mais no plano político do que no religioso, o que nos leva a
deduzir do respeito que tinha na comunidade, pois o encaminhamento de todas as questões
referentes ao município se iniciava ou passava por sua orientação".
"Em meio à necessidade de organização social, à inexistência de elementos materiais
e estruturais em Erechim, o padre Busato exercia o papel de autoridades legais,
encaminhando as questões sociais e assumindo a função de mediador messiânico nos
conflitos entre pessoas e grupos. O personagem padre Busato apresenta-se não como um
padre burocrático, restrito às funções religiosas, a registros catequéticos, mas abrange um
universo de aspectos, remetendo a uma figura que se impunha e angariava o respeito e a
obediência da população erechinense. Era assim que via sua missão de padre.
O religioso marcou seu apostolado com seus escritos e com sua palavra".
"Teve
numerosos artigos publicados em jornais locais e seus sermões eram fluentes pela
profundidade de suas idéias e de seus conhecimentos, denotando domínio da escrita e da
palavra, que utilizava para participar social e politicamente nos assuntos de interesse dos
erechinenses. Em todo o período do exercício de suas funções na paróquia São José, seu
envolvimento social e político superou o religioso, até mesmo em seus escritos, nos quais
destacou muito mais temas políticos e sociais do que religiosos".
"Assim, também ficou
marcado na sociedade erechinense como um padre político, que se manifestava, que
assumia posições e era muito influente no meio rural, especialmente entre os descendentes
de imigrantes italianos.
Apesar de já se terem passados cinqüenta anos e se vivenciado inúmeras
transformações radicais, tanto política quanto religiosamente, comentar sobre um
afastamento ou licenciamento ainda causa certo receio às pessoas, as quais preferem, por
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isso, conduzir o assunto pelo viés político, evitando o religioso".
"Isso foi observado muitas
vezes no decorrer dos relatos, dando-nos a impressão de que se criou um “pacto de
silêncio” em torno do fato da saída de padre Busato em 1950, apesar de se observar uma
lacuna documental desde 1948 no Livro-Tombo da paróquia São José, ou seja, não há
registros a partir desta data, só retomados com a posse do padre Gregório Comassetto em
1950. Esse comportamento parece fazer sentido por se tratar de um religioso e, sobretudo,
uma autoridade local; portanto, misticismo, medo e controle pressionam a sociedade a não
expressar seu julgamento sobre o caso".
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