sábado, 20 de março de 2010

Italiani – A grande aventura de Pietro Maria Bardi no mundo das Artes (1)

O legado do jornalista e museólogo Pietro Maria Bardi (21/02/1900,  La Spezia; 01/10/1999, São Paulo) na história das Artes no Brasil rendeu e ainda rende uma infinidade de textos e estudos dentro e fora do mundo acadêmico.O conjunto de seu trabalho, coroado com a criação do Museu de Arte de São Paulo pode ser lido e interpretado em múltiplos trabalhos disponívéis na internet, a começar pelo site Instituto Bardi


" Segundo de quatro irmãos, Pietro Maria Bardi nasceu a 21 de fevereiro de 1900 em La Spezia, pequena cidade italiana no Golfo de Gênova. Diziam que era de poucos amigos e que sua vida escolar foi bastante acidentada. O próprio Bardi declarou, em inúmeras entrevistas, ter sido reprovado quatro vezes na terceira série do ensino fundamental. Abandonou a escola, desanimado pelo insucesso, e atribuía sua inteligência a um acidente doméstico: após uma queda em que feriu a cabeça, tomou gosto pela leitura. Lia absolutamente tudo que podia durante sua adolescência, hábito que o acompanhou por toda a vida. Ainda rapaz, Bardi trabalha como operário assistente no Arsenale Marittimo e, em seguida, torna-se aprendiz em um escritório de advocacia. Em 1917 é convocado para integrar o exército italiano e parte de La Spezia para não mais retornar. É nessa fase que ele inicia de fato sua carreira jornalística, antes já esboçada em alguns artigos e colaborações a jornais como Gazzetta di Genova e o Indipendente e com a publicação, aos 16 anos, de seu primeiro livro, um ensaio sobre colonialismo.

Instalado em Bérgamo desde a baixa na carreira militar, Bardi encontra trabalho no Giornale di Bergamo. Mais tarde, integra a equipe do Popolo di Bergamo, Secolo, Corriere della Sera, Quadrante, Stile e muitos outros. Escrever foi sua principal atividade profissional até a morte, a maneira encontrada para manifestar seu estilo polêmico e a crítica baseada no conhecimento profundo e na vivência cotidiana da arte, da política e principalmente da arquitetura. Em 1924, Bardi transfere-se para Milão e casa-se com Gemma Tortarolo, com quem tem duas filhas, Elisa e Fiorella. É em Milão que ele começa uma aventura como marchand e crítico de arte, com a aquisição da Galleria dell'Esame.

Em 1929 torna-se diretor da Galleria d'Arte di Roma e muda-se para a capital. Trazendo uma exposição a Buenos Aires, passa pelo Brasil pela primeira vez em 1933. É nessa ocasião que vê a Avenida Paulista, futuro endereço do MASP. Após a II Guerra Mundial, Bardi conhece a arquiteta Lina Bo no Studio d'Arte Palma, em Roma, onde ambos trabalham. Ele divorcia-se e casa-se com Lina em 1946. No mesmo ano, atiram-se à aventura da vinda para o Brasil, país com a perspectiva de prosperidade e cenário de uma arquitetura talentosa e promissora, situação oposta à da Europa, que amarga a reconstrução nos anos pós-guerra. O casal aluga o porão de um navio cargueiro, o Almirante Jaceguay. Partem de Gênova trazendo uma significativa coleção de obras de arte e peças de artesanato que deverão ser organizadas numa série de mostras. Transportam também a enorme biblioteca do marchand.

Chegam ao Rio de Janeiro em 17 de outubro do mesmo ano. Com as obras trazidas da Itália, Bardi organiza a "Exposição de pintura italiana moderna", em cujos salões conhece o empresário Assis Chateaubriand, que o convida para montarem juntos um museu há muito tempo idealizado. De 1947 a 1996 Bardi cria e comanda o Museu de Arte de São Paulo, MASP. Paralelamente, mantém sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador, galerista e marchand. Publica, em 1992, seu 50º e último livro, "História do MASP".

Em 1996, já adoecido, afasta-se do comando do museu. Abatido e com sua saúde debilitada desde a morte de Lina, em 1992, falece em 10 de outubro de 1999, tendo cumprido quase um século de vida a provar sua definição de si próprio, em resposta ao parceiro Chateaubriand: 'Sim, sou um aventureiro' ".

Italiani- Sangue romano no Modernismo Brasileiro: pintura e escultura de Ernesto De Fiori

Nos círculos artísticos paulistanos o italiano Ernesto De Fiori faria amigos e deixaria importante legado. Nascido em Roma em 1884, passou boa parte de sua vida em Berilm e Munique. Naturalizado alemão, participou da Primeira Guerra Mundial. Nos anos 30, com o endurecimento do nazi-fascismo na Europa deixa a Alemanha, escolhendo como destino o Brasil onde chega em 1936.Faleceu em São Paulo em 1945.
O site do Museu de Arte Contemporânea da USP assim descreve o perfil do artista

"Ao chegar aqui De Fiori retoma a pintura e o desenho, ao mesmo tempo em que continua sua obra escultórica. Em 38, por intermédio de Mário de Andrade, é apresentado ao ministro Gustavo Capanema e ao grupo de arquitetos do edifício do MEC no Rio de Janeiro, que o convida a fazer maquetes de esculturas para integrarem-se ao novo prédio. Apesar de De Fiori ter desenhado uma série para este fim, nenhuma das obras foi aproveitada por terem os responsáveis pelo prédio considerado o resultado insatisfatório para os seus objetivos.
Sua retomada da pintura tem claramente a intenção de combater os abstracionistas, que culpava pela alienação do público ante a arte. Seus temas são a figura humana, cenas de batalha e as cenas de regatas - ele era um exímio iatista - interessando-se também pela paisagem urbana de São Paulo.

Sua abordagem remete aos pós-impressionistas, mas é na verdade de forte tendência expressionista em especial na relação cromática e no traço solto. Apesar de sua fama na Europa, pode-se dizer que aqui no Brasil De Fiori não foi recebido com a consideração que era de se esperar por parte dos intelectuais e artistas paulistas, apesar de ter tido contato direto com alguns deles, como Menotti del Picchia e Paulo Rossi Osir, e de ter participado das principais mostras dos anos 30 e 40, como os três Salões de Maio ( 37 a 39 em São Paulo ), do II e III Salões da Família Artística Paulista ( 39 em São Paulo e 40 no Rio ) e do VII Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, em São Paulo.

A influência de sua obra pode ser sentida, no entanto, em muitos artistas brasileiros, seja direta ou indiretamente. Alfredo Volpi, Bruno Giorgi e Joaquim Figueira, que desenhavam com modelo vivo junto com De Fiori, no ateliê de Giorgi, por volta de 42, são alguns exemplos, além de Gerda Brentani, que foi sua aluna por três anos; no entanto, quem mais sentiu a influência de sua obra foi Mário Zanini.( Cassandra de Castro Assis Gonçalves, bolsista] profa. Daisy Peccinini , orientadora)