segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

História 53 - "Far l 'America (21 ): Hospedaria dos Imigrantes, o marco zero da grande epopéia dos italianos na cidade de São Paulo


"A Hospedaria de Imigrantes, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante (Rua Visconde de Paranaíba, 1316, bairro da Mooca - São Paulo), era um enorme conjunto de prédios destinado a abrigar os recém–chegados nos seus primeiros dias em São Paulo. Após a cansativa viagem, os imigrantes ficavam na Hospedaria por até oito dias. Em geral esse prazo era suficiente para que acertassem os seus contratos de trabalho.

Nesse período utilizavam gratuitamente todos os serviços disponíveis. Lá eles dormiam, faziam as suas refeições, recebiam atendimento médico e conseguiam seus empregos. Ao longo da sua existência, a Hospedaria passou por algumas reformas que desfiguraram seu o aspecto original. A principal delas ocorreu na década de 1930, quando a fachada do edifício principal assumiu feições neoclássicas. A princípio, as péssimas condições da hospedaria situada no bairro do Bom Retiro e o crescimento do fluxo imigratório, levaram a Assembléia Provincial, em 1885, a votar lei (n. 56, de 21 de março) autorizando o governo a construir um prédio para o alojamento de imigrantes. Assumindo o governo da então província de São Paulo, Antonio Queiroz Telles, na época Barão de Parnaíba, escolhe um terreno nas imediações das Estradas de Ferro do Norte e da São Paulo Railway. Em julho de 1886, deu-se início à construção da Hospedaria de Imigrantes do Brás (geogarficamente hoje posicionada no bairro da Mooca).

O prédio foi construído em forma de "E", com projeto arquitetônico de Antonio Martins Haussler, tendo capacidade para comportar mais de mil imigrantes. A fachada do prédio, de arquitetura eclética (construção que mistura estilos arquitetônicos e decorativos diversos), tem traços predominantes da arquitetura neoclássica (construções à moda das construções em estilo clássico romano e grego).

Os traços do estilo neoclássico aparecem no emprego dos seguintes elementos, os mais evidentes: - os arcos romanos - arcadas romanas - as colunas - frontão encimando a fachada - cornijas (molduras que formam saliências na parte superior de parede, porta) - parede com saliência com feitio de almofada - O uso do ferro fundido nos parapeitos do corredor no fundo do prédio central e em estrutura ornamentada, como na estação do - ramal ferroviário da Hospedaria, caracteriza esta mistura de estilos, própria do Ecletismo". (Fonte Memorial do Imigrante )

História 52 - "Far l'America (20)": a imigração nos centros urbanos

Outro destino dos imigrantes italianos foram as cidades. Esse trema foi, de forma resumida, abordado no site que o IBGE preparou em 2000 para comemorar os 500 anos do Descobrimento do Brasil. A partir dele, este blog entra também na urbanidade da imigração italiana em território brasileiro.

Dentre as cidades-destino, “destacam-se São Paulo, que recebeu o maior contingente desta nacionalidade, e o Rio de Janeiro com seus arredores, por ser a capital do país e um dos portos mais importantes de chegada de imigrantes. Em São Paulo, que chegou a ser identificada como uma "cidade italiana" no início do século XX, os italianos se ocuparam principalmente na indústria nascente e nas atividades de serviços urbanos. Chegaram a representar 90% dos 50.000 trabalhadores ocupados nas fábricas paulistas, em 1901. No Rio de Janeiro (imagem mostrando a chegada), rivalizaram com portugueses, espanhóis e brasileiros. Em ambas as cidades os imigrantes italianos experimentaram condições de vida e de trabalho tão árduas quanto as encontradas no campo".

Trabalho e inserção na vida urbana 
 
Como operário industrial, o imigrante recebia baixos salários, cumpria longas jornadas de trabalho e não possuía qualquer tipo de proteção contra acidentes e doenças. Assim como no campo, era muito comum que todos na família tivessem que trabalhar, inclusive mulheres - muito usadas nas fábricas de tecidos e indústrias de vestuário - e crianças, mesmo menores de 12 anos.

Na condição de operários, era muito difícil ao imigrante melhorar de vida, financeira e socialmente. Portanto, não era raro que italianos e estrangeiros em geral desejassem trabalhar por conta própria, realizando serviços e trabalhos típicamente urbanos nas maiores cidades brasileiras. Eram os mascates, artesãos e pequenos comerciantes; motorneiros de bonde e motoristas de taxi; vendedores de frutas e verduras, tanto como ambulantes, como em mercados; garçons em restaurantes, bares e cafés; engraxates, vendedores de bilhetes de loteria e jornaleiros. Entre os imigrantes bem sucedidos que começaram "do nada", o exemplo é o do Conde Matarazzo.

Participação política

Os imigrantes italianos se envolviam em movimentos grevistas e participavam de associações, ligas e sindicatos, geralmente de orientação socialista e anarquista. Mas é um equívoco considerar que eram os estrangeiros que inculcavam as idéias "exóticas" entre os trabalhadores nacionais, apregoados como "pacíficos" e "despolitizados". Na verdade, trabalhadores estrangeiros - dentre os quais italianos -, e trabalhadores brasileiros participaram da formação de associações operárias, compuseram suas lideranças, fizeram greves e se viram reprimidos e presos pela polícia

Moradia

Se as condições de trabalho eram insalubres, também o eram as de moradia, já que com frequência os imigrantes se instalavam em habitações coletivas - os cortiços nas "favelas", situadas nos morros. Por outro lado, em algumas cidades, podiam morar em determinados bairros étnicos - como o Brás e o Bexiga, em São Paulo - onde contavam com a cooperação e solidariedade dos vizinhos, o que em muito aliviam suas lides cotidianas".