segunda-feira, 21 de junho de 2010

Italiani - O projeto não executado do arquiteto Michele Caselli

"Em 1914, houve concorrência pública para construção da nova matriz da Paróquia de São Pedro (Salvador, Bahia). A Irmandade do Santíssimo Sacramento adquiriu o prédio de nº 59 à rua de São Pedro, vizinho a Escola Politécnica (hoje local do Edifício da Fundação Politécnica), do espólio do barão de São Francisco, para este fim, em 29 de novembro de 1913.

Em 24 de maio de 1914, foram abertas as propostas, que foram limitadas ao preço de 250 contos de réis. Venceu a de nº 3 projeto nº 1 e orçamento nº 4A do arquiteto italiano residente em Salvador, Michele Caselli, pelo valor de 248 contos de réis. (Rs. 248:000$000). Entretanto, antes que fosse assinado o contrato entre as partes, o arquiteto acrescentou uma cláusula na qual a Irmandade do Santíssimo Sacramento assumiria a diferença da alta dos preços dos materiais a serem importados da Europa, pois havia eclodido a Primeira Guerra Mundial chamada, naquela época, de Guerra Européia.

A Irmandade do Santíssimo Sacramento não aceitou essa cláusula, ficando suspenso o contrato. A diretoria do Gabinete Português de Leitura propôs a permuta de um terreno e edificação de sua propriedade sito à praça da Piedade pelo prédio de nº 59 sito à rua de São Pedro pertencente a Irmandade do Santíssimo Sacramento, porém não foi viável. A diretoria da Escola Politécnica também fez uma proposta de permuta do dito prédio à rua de São Pedro nº 59 por um terreno do que restou da demolição da casa nº 13 à praça da Piedade e casas nº 6 e 8 à antiga rua Cons. Pedro Luiz (hoje avenida Sete de Setembro) e os prédios e terrenos nº 15 e 17 sitos à praça da Piedade, perfazendo uma arca de 12,70m de frente com 31m de fundo. A permuta foi aceita e concretizada em 27 de março de 1916." (Fonte: Paróquia São Pedro)

domingo, 20 de junho de 2010

Italaini - Alberto Borelli e o Gabinete Português de Leitura em Salvador (2)

"Edificado em dois pavimentos, atualmente, encontramos à direita o salão da biblioteca e à esquerda, onde já foi a sede do Consulado Português, uma secretaria e um pequeno auditório com capacidade para cinqüenta pessoa, além de outra biblioteca, com acesso independente (feito pela esquina esquerda), com livros e jornais. É aberto ao público diariamente, em dois turnos, e sua biblioteca possui cerca de 17.000 títulos, sendo que seu primeiro catálogo é de 1902, tendo sido organizado pelo bibliotecário Zeferino Leal, e mantido junto às demais peças em exposição no local, como as Atas de Fundação, Medalhas Comemorativas, Quadros de Honra e Pratos Decorativos com motivos celebrativos.

A escadaria, construída em concreto armado, é revestida em mármore de Carrara, com um lance central, onde se vê um vitral executado em Paris por A. Dupleix, em 1921, e retrata a Primeira Missa realizada na Bahia, em 26 de abril de 1500. É ladeado por duas pinturas a óleo de De Serv, já repintadas (que, pela aparência grosseira não podemos inferir como resultado de restauro). Na parte externa [Figura 3], a fachada, decorada por cordões, escudos, esferas armilares, mede 94 metros de extensão e “compreende três faces livres com 26 janellas, uma porta principal ao centro e outra em cada ângulo”. Identificam-se duas esculturas, a do Infante D. Henrique, do lado esquerdo, que “atira seus compatriotas bem armados na rota dos descobrimentos e das conquistas”, e a de Luís de Camões, do lado direito, que “com seus Luzíadas magnifica e immortaliza a literatura portugueza” e, nos medalhões, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral". (Fonte: Da ideologia à arquitetura, um projeto além mar: os Gabinetes Portugueses de Leitura no Brasil por Maria de Fátima da Silva Costa Garcia de Mattos )

sábado, 19 de junho de 2010

Italaini - Alberto Borelli e o Gabinete Português de Leitura em Salvador (1)

"Os Gabinetes de Leitura, cuja inspiração nos remete à França revolucionária, às chamadas “boutiques a lire”, que apareceram após a revolução de 1789, eram uma casa onde se podiam alugar livros, mediante pagamento e prazo para a sua devolução. Desenvolveram-se na Europa, em especial na França, Inglaterra e Alemanha, dedicados, portanto, ao empréstimo de livros para leitura domiciliar, diferenciando-se das bibliotecas públicas, que permitiam a consulta, muito embora gratuita, somente dentro das suas dependências. O termo também suscita uma conotação moderna, atribuída a um espaço da moda, dada a referência de vanguarda que tanto a função quanto o espaço reservava e que, na literatura da época, aparece associada ao progresso e à civilização e, dessa forma, ao requinte que os novos centros de saber irradiavam.

(...) Os Gabinetes Portugueses de Leitura no Brasil apresentam-se como referenciais urbanos, conformados às aspirações sociais da época, expressos nos novos centros de convívio, cultura e lazer. A sociedade formava-se, os homens aproximavam-se para trocar idéias, e uma nova vida associativa se viu desabrochar, resgatando, por meio de seus edifícios, a memória e a formação da identidade nacional, preservando uma história cuja experiência vivida o tempo poderia pôr a perder. Dessa forma, tais edifícios, apropriando-se do espaço da cidade, interferiram em nível de representação, através de seus signos e imagens esculpidos num universo simbólico e não somente como edificação, uma vez que alguns deles já contemplavam inovações pertencentes às variáveis estilísticas européias, aqui introduzidas, como o uso do ferro e do vidro. O Gabinete Português de Leitura de Salvador foi criado em 02 de março de 1863, na sala de sessões da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro, por iniciativa de um grupo de portugueses, que tinha por finalidade a aquisição de um maior número de obras de "reconhecida utilidade", escritas em português e francês, para utilização de todos. Seu fundador e primeiro Presidente foi o português Comendador Manoel Joaquim Rodrigues, acompanhado de seu irmão, Francisco José Rodrigues Pedreira. Ambos portugueses, idealistas, nascidos em Soutelo, Município de Vila Pouca de Aguiar, Portugal. No mesmo ano, em 09 de junho, foi instalada a sua primeira sede, na Rua Direita do Comércio, n° 44, 2° andar, onde tiveram início as suas atividades. Devido à sua crescente procura, o Gabinete foi transferido três vezes, sendo a última instalação em 27 de junho de 1896, a da Rua do Palácio n° 40 (originalmente era chamada Rua Direita do Palácio e, depois, Rua Chile). Ficou pouco tempo na Rua Chile, pois a reestruturação urbana indicava vários edifícios para serem demolidos.

O edifício do Gabinete de Leitura encontrava-se nessa lista das demolições que permitiria a realização das obras de alargamento da Rua Chile. Para isso, o Presidente, Sr. Augusto Pinho, levou ao conhecimento da Diretoria a proposta do Intendente Municipal para a sua desapropriação, recebendo por indenização a quantia de oitenta contos de réis. O novo edifício do Gabinete Português de Leitura, construído na Praça 13 de Maio, atual Praça Piedade, foi inaugurado em 03 de fevereiro de 1918.( ...) Construído em pedra de granito, medindo 30 metros e 50 de frente, e na sua maior altura 16 metros, em estilo Neomanuelino, foi desenhado entre 1912 e 1915, pelo arquiteto italiano Alberto Borelli, que fiscalizou e acompanhou todo o serviço da obra".(Fonte: Maria de Fátima Costa  Garcia de Mattos em  "Da ideologia à arquitetura, um projeto além mar: os Gabinetes Portugueses de Leitura no Brasil") -

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Italiani - Palácio Rio Branco, obra do arquiteto Conti na Bahia

“Erguido no início do século XX e inaugurado em 1919, o edifício tem estilo eclético e representa a quarta versão arquitetônica do antigo Paço dos Governadores feito pelo fundador da cidade, Tomé de Souza. Obra do arquiteto italiano Júlio (Giulio) Conti, seu interior contém o Memorial dos Governadores do período republicano (de 1889 aos dias atuais) e muitas obras de arte.

A grande cúpula e o belvedere situado na ala com vista para o mar, são referenciais da cidade. No seu interior, merece destaque a escadaria em ferro e cristal e uma escultura representando o fundador da cidade, Tomé de Souza. Centro de vida política da cidade, nele ocorreram fatos de grande importância. Em 1818, a então casa dos governadores hospeda D. João, Príncipe Regente, e a Família Real. Em 1826, D. Pedro I e a Princesa Maria se hospedaram na casa. Em 1859, foi residência provisória de D. Pedro II e sua mulher, a Imperatriz Tereza Cristina". (Fonte: governo da Bahia)

Em 1949, sofreu nova reforma e ampliação em função do crescimento da máquina administrativa. O centro de decisões do Estado da Bahia permaneceu no palácio até o ano de 1979, quando foi transferido para o recém-construído Centro Administrativo da Bahia. Durante os quatro anos seguintes abrigou a Prefeitura de Salvador. Em 1986, após grande restauração, recebe a fundação Pedro Calmon – Centro de Memória da Bahia”.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Italiani - Na Bahia, a influência dos arquitetos vindos da Itália

"A década de 1910 coincide com a chegada, em Salvador, de diversos engenheiros, arquitetos e construtores estrangeiros, principalmente italianos, que vão se ocupar da construção dos novos edifícios institucionais e da renovação dos antigos palácios e sobrados coloniais, ao mesmo tempo em que erguem os palacetes da nova burguesia baiana, financiados com os recursos oriundos da atividade industrial e das plantações de fumo do Recôncavo e de cacau do sul da Bahia.

  Segundo Godofredo Filho , essa renovação arquitetônica e artística se deve principalmente aos  'técnicos italianos aqui chegados a partir de 1912, no 1º Governo Seabra, quando o Secretário Geral Arlindo Fragoso e, sobretudo, o Intendente Júlio Viveiros Brandão, buscaram abastecer-se em São Paulo, de arquitetos, escultores, pintores, decoradores e artesãos especializados, com o fito de mudar, como pretenderam e em parte conseguiram, a grave e tranqüila fisionomia plástica de Salvador': Os Chirico, os Conti, os Santoro, os Rossi, os Sercelli e tantos outros, diferentes entre si nos misteres e nos méritos, trabalharam com afinco, brindando a cidade ora de bronzes e mármores duradouros, ora de pinturas de salão mundano em igrejas austeras e, ainda, em edifícios públicos e particulares, da glace caricatural dos estuques, as grinaldas, os festões, as águias de bico voraz e asas abertas, e, até, de mulheres aladas ou de corpo natural inteiro, todas elas de seios duros e pontudos ede Dânae de Corregio, por onde se pudessem modelar, acaso, as taças cônicas das festanças inaugurais.

Dentre os arquitetos, engenheiros e construtores ] italianos que atuaram, ainda que temporariamente, em Salvador entre as décadas de 1910 e 1920 podemos destacar: Júlio Conti, responsável pela versão original do projeto de reconstrução do Palácio Rio Branco, iniciada em 1912, pela nova Igreja da Ajuda, construída entre 1912 e 1923, e pela construção do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, também inaugurado em 1923 (PUPPI, 1998, p. 129); Alberto Borelli, que chegou a Salvador, procedente de São Paulo, em 1912 e que foi autor do projeto do Gabinete Português de Leitura, inaugurado em 1918 (ibid., p. 107); e Michele Caselli, autor do projeto original da nova Igreja de São Pedro da Piedade, datado de 1914 e não executado" (Fonte: A Influência Italiana na Modernidade Baiana: O caráter público, urbano e monumental da arquitetura de Filinto Santoro de autoria de Nivaldo Vieira de Andrade Junior)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Italiani - Padre Vicente Schiena e a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré (2)

"Os púlpitos foram acrescentados ao projeto da igreja por sugestão do padre Di Giorgio. As sugestões eram enviadas por carta à Itália, acatadas por Zoia e executadas para retornarem a Belém. O padre Di Giorgio teve o trabalho de guardar toda esta longa correspondência, onde surgem discussões sobre a ausência de certo material; ou o tamanho das peças que não conferiam com o espaço disponível.

Na Basílica, todos os pontos convergem para o altar, onde está a imagem de Nossa Senhora. E é de lá, iniciando pela direita, que os vitrais contam histórias da bíblia e os mosaicos rezam a Salve Rainha, através de anjos. Nas naves laterais encontram-se ainda, os mosaicos das mulheres que estão na Bíblia e guardam virtudes que serão encontradas na Virgem Maria. Suzana, Isabel, Ruth, Esther, Noêmia e tantas outras estão retratadas ali. Segundo o padre Vicente, a sugestão destas figuras femininas deve ter partido de padres franceses. Ele encontrou, no acervo da Basílica, um livro de 11 volumes com as pregações de santos sobre Nossa Senhora.

No final, vem a relação das mulheres bíblicas e as virtudes que elas trazem e que se vão refletir em Maria. Foram os padre franceses que definiram os temas dos vitais, assim como as imagens das estátuas que ornariam os altares laterais. Diz isto porque, entre as estátuas, duas são de santos franceses, Joana D'Arc e São Vicente de Paula. Mesmo os confessionários, feitos em acapu, madeira da terra, podem não ter sido feitos aqui. Padre Vicente levanta a hipótese de que a madeira teria sido enviada a Gênova e lá, onde morava Coppede, filho de uma tradicional família de entalhadores, preparadas em peças e devolvidas.

Ele se baseia em outro fato, que o fez supor que a madeira foi levada para a Itália. Durante uma visita à casa missionária de origem do padre Zoia, em conversa com seu superior, padre Clerit, padre Vicente ouviu-o falar que os bancos da capela eram de madeira brasileira.

Como Gênova tem porto de mar, raciocina o padre, seria fácil ter transportado a madeira, feito os confessionários e, com as sobras, construir os bancos. Segundo o padre, os bancos eram de madeira leve, talvez macacaúba, como a madeira utilizada no pequeno altar da sacristia, e, apesar de intensamente utilizados, 'estavam como se tivessem sido feitos no dia anterior'.

Padre Vicente reclama que a parte culta dos arquitetos não prestigie a Basílica, dando-lhe pouco valor. 'É uma obra de arte', afirma ele. 'Assim como não tive coragem de olhá-la, há gente que não quer admitir que ela é bela". Ele reclama também dos estaqueamentos que foram feitos próximos à igreja, produzindo rachaduras nas paredes e queda de parte do teto. 'Foi um sinal', garante ele. Depois que vários edifícios foram construídos pela vizinhança, diz ele, é impossível tirar fotografias da Basílica 'sem que apareça aquela sujeira'. (.(Fonte: TV Liberal)

Italiani - Padre Vicente Schiena e a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré

No site da TV Liberal, encontramos referências ao padre Vicente di Schiena que durante muitos anos trabalhou na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Padre Vicente nasce em 16 de novembro de 1929, em Andria, Itália, sendo ordenado sacerdote em 4 de abril de 1955, em Roma. Faleceu na Itália em 1991. No site da TV Liberal.

"Segundo o padre Vicente, a construção foi difícil. Durante a primeira guerra mundial, com as obras em pleno andamento, grande parte do mármore foi encomendado à Marmífera Lígure, italiana. A encomenda chegou, mas como houve o "crack" econômico, não foi possível enviar o valor do pagamento. Assim, quando a guerra terminou e a dívida pôde ser saldada, a Marmífera havia pedido falência. Uma das causas foi a falta de pagamento da encomenda da Basílica. 'São inconvenientes internacionais', explica o padre. Durante a segunda guerra, com o cruzeiro valorizado, foi possível adquirir os materiais necessários à construção. Naquela época, conta o padre, para se comprar um cruzeiro gastava-se 64 liras.

Mas, com o acirramento da luta, o comércio teve que ser interrompido. O atraso só não foi maior porque a maior parte das obras estava pronta. Todos os mosaicos e vitrais haviam chegado, e faltava pouco para completar o templo. Segundo o padre Vicente, o padre Luiz Zoia, que só esteve uma vez em Belém, acreditou que seria fácil construir a Basílica nova, porque nesta época vivia-se o fausto provocado pelo "boom" da borracha. Já então, em 1908, começava o declínio deste comércio, mas na época todos pensavam que a euforia iria continuar por muito mais tempo. Quando aqui esteve, o padre Zoia admirou-se do rico Teatro da Paz e dos gastos que a sociedade local tinha, importando "shows" de outros países. "Se havia dinheiro para isso, porque não haveria dinheiro para construir igreja?", perguntou-se ele.

A realidade provou que as facilidades não eram tantas. Graças ao vigário da igreja , padre Emilio Richert, que foi, segundo o padre Vicente, quem administrou a obra do ponto de vista financeiro, e ao padre Afonso Di Giorgio, que se mostraria incansável na coleta de doações, os trabalhos foram desenvolvidos progressivamente. Conta o padre Vicente que, ao findar a semana e ver que o dinheiro arrecadado não fora o suficiente para pagar os trabalhadores, padre Di Giorgio convocava um fiel e ia, de loja em loja, pedir colaborações.

Estas visitas às autoridades locais se faziam freqüentes, também, quando chegavam da Itália os carregamentos de mármore. Adquirido por um bom preço e transportado gratuitamente como lastro do navio, o mármore, ao chegar ao porto de Belém, era taxado pela alfândega. Para liberá-lo, o padre Di Giorgio percorria gabinetes e a Câmara, recorrendo a todos os meios até conseguir isenção parcial ou total do imposto”.(Fonte: TV Liberal)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Italiani - O trabalho de Gino Coppedè e outros na construção da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré em Belém (2)

Inspirada na Igreja de São Paulo, em Roma, a Basílica foi projetada pelos italianos Gino Coppedé (arquiteto) e Giusepe Pedrasso (engenheiro), que conceberam o que havia de mais suntuoso e de mais belo nas igrejas italianas para este templo. Com linhas arquitetônicas que tendem para o centro religioso e artístico da igreja, esta obra é uma exuberância de estilos conjugados, fortemente renascentista, gótico, bizantino e românico.

Decorada em estilo neoclássico e liberty, mesclando desde o romântico até o moderno, a Basílica compõe-se da elegância do mármore de carrara europeu, do requinte dos estuques espanhóis, da exuberância dos vitrais franceses, dos mosaicos e sinos italianos, dos candelabros milaneses, dos lampadários venezianos e das estátuas do escultor Antônio Bozzano.

Em números marcantes, a Basílica tem 5 naves, 62m de comprimento, 24m de largura, 20m de altura, 2 torres de 42m de altura, 32 colunas de granito maciço, 54 vitrais, 38 medalhões em mosaico de 1,5m de diâmetro, 19 estátuas do mais puro mármore de carrara, 9 sinos (o maior com 2,8 ton.), 1 órgão com 3 teclados e 1.100 tubos, além de incontáveis detalhes sacros reservados a um olhar atento. O Pantheon do Pará é uma grandiosidade de fé e arte, feito do fervor de um povo, do bom gosto dos seus idealizadores e da ousadia dos Padres Barnabitas. (Fonte:Basílica de Nazaré)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Italiani - O trabalho de Gino Coppedè e outros na construção da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré em Belém (1)

Desde o início da devoção, todas as ermidas eram simples e não correspondiam a grandiosidade do culto à Nossa Senhora de Nazaré e às exigências dos fiéis, que reclamavam uma obra à altura de sua fé. No início do século XX um majestoso templo começa a ser erguido pelo esforço dos Padres Barnabitas e pela fé do povo paraense. Em 1909, ano de lançamento da pedra fundamental, ficava pronto em Gênova, Itália, o projeto arquitetônico da Basílica.

A construção foi iniciada em 1910. Já em 1916 estavam concluídos a cripta, o telhado, as paredes e a torre. Os trabalhos foram conduzidos a distância, da Itália, pelo arquiteto Gino Coppedè e pelo idealizador da obra Padre Luis Zoia. Os mármores chegavam cortados sob medida, bem como os demais objetos de decoração, tudo transportado pelos navios que vinham buscar borracha no Pará. Neste período vários objetos de arte foram roubados, sendo necessário que os Padres limitassem o acesso das pessoas à obra. Cuidadoso e detalhado, o período da decoração foi longo, de 1923 - 1953.

O modelo seguido foi o da Basílica de São Paulo, em Roma, mas o motivo foi todo baseado na Virgem Maria. Atravessando todas as dificuldades de época, como duas guerras mundiais e a decadência do ciclo da borracha no Pará, este monumento levou 43 anos para ser concluído e já se impõe com quase um século de história, fé e arte.

domingo, 13 de junho de 2010

Italiani- A arquitetura de Santoro em Belém (3)

"Durante um longo período entre os anos 1990 e início dos anos 2000 o palacete sofreu inúmeras perdas em sua arquitetura por falta de recursos financeiros a sua manutenção. O museu neste período já se encontrava em péssimas condições de conservação.

Em 2003 o palacete Augusto Montenegro é tombado pelo Governo do Estado do Pará enquanto Patrimônio Histórico e, no mesmo ano, assume enquanto diretora do MUFPA a professora e arquiteta Jussara Derenji. O projeto das obras de restauração e revitalização do museu começou em julho de 2004, e tais serviços terminaram em junho de 2009, seguindo as normas internacionais de restauro e tendo como principais objetivos na restauração resgatar e preservar ao máximo as características originais artísticas e arquitetônicas do prédio, bem como adaptar suas instalações a formatos museológicos transformando o museu num campo de estudo e de aprendizado". (Fonte: Universidade Federal do Pará)

Durante esse processo as cores originais da fachada do prédio foram restabelecidas, e os restauradores encontraram até 12 camadas de tintas sobre a pintura parietal interna original A restauração do Palacete Augusto Montenegro foi baseada nas recomendações da Carta de Veneza proporcionando que a história do prédio fosse novamente relatada, bem como as intervenções sofridas pela casa pudessem manter essas referências. A Carta Patrimonial é um importante documento internacional sobre conservação e restauração de monumentos, prédios e sítios. Este documento defende que as intervenções realizadas procurem contribuir para os remanescentes históricos presentes nas edificações restauradas. Segundo a Carta de Veneza, 'Os acréscimos só poderão ser tolerados na medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas relações com meio ambiente'.

Baseado nesses pressupostos percebe que a fachada do palacete foi totalmente mantida restabelecendo através de prospecção a cores originais e pinturas do prédio. Portas e janelas foram abertas, esquadrias refeitas, forros restaurados e reintegrados, pinturas decorativas internas encontradas e revitalizadas. Todo esse processo foi realizado preocupando-se com o acesso e fruição do público durante os eventos museológicos no prédio.

Italiani- A arquitetura de Santoro em Belém (2)

"Projeto e construção encomendados pelo próprio Augusto Montenegro ao arquiteto Filinto
Santoro, este chefe do Executivo paraense também fazia do palacete seu gabinete de despachos, pois no período não existia residência oficial nem palácio dos despachos do Governador do Pará. Era considerada uma residência pequena para os padrões da época, sendo que o porão da casa, construído em pedra, abrigava a guarda oficial do Governador; no primeiro pavimento foi instalado o gabinete de Montenegro e gabinete de sua Assessoria, além de dois salões sociais para recepção de convidados, copa, cozinha e sala de jantar; o segundo e último pavimento era reservado somente as acomodações da família: Montenegro, a esposa e o filho, sendo que um quarto pequeno provavelmente era destinado a abrigar a ama, e um outro menor possivelmente destinado a orações. Montenegro morou no palacete até 1909 decidindo vender a residência e morar com a família na Europa.

Até o início dos anos 60 o palacete serviu de residência de algumas famílias de nomes tradicionais na cidade de Belém: Cardoso, Faciola e Chamié. Em 1962, na gestão do então Exmo. Reitor José Rodrigues da Silveira Netto, a Universidade Federal do Pará compra o palacete Augusto Montenegro e instala no prédio a reitoria dessa instituição de ensino. A casa passa por várias modificações internas quando deixa de ser moradia passando a ser um prédio de instituição pública.

Neste período, as pinturas originais começam a desaparecer, sendo cobertas com camadas de tinta branca. Em 1983, com a construção do Campus Universitário no bairro do Guamá, a sede da reitoria da UFPA muda-se e, neste mesmo ano, é instalado o Museu de Arte da UFPA - MUFPA – no palacete Augusto Montenegro". (Fonte: Universidade Federal do Pará)

sábado, 12 de junho de 2010

Italiani- A arquitetura de Santoro em Belém (1)

"O Museu da Universidade Federal do Pará, o único museu federal de artes visuais da Amazônia, vem desde 2003 se reestruturando para melhor guardar e avivar a memória de si e do outro. O prédio que abriga esse museu é uma construção do início do século XX, mas precisamente de 1903, conhecido como palacete Augusto Montenegro, foi projetado pelo arquiteto italiano Filinto Santoro para ser a residência particular do então Governador do Estado do Pará, Augusto Montenegro.

Este arquiteto que viveu no início do século XX em Belém, era formado pela Academia de Nápoles. Para o projeto, Santoro buscou informações no estilo arquitetônico renascentista italiano, bem como parte dos materiais utilizados na construção do prédio e sua mão de obra era oriunda da Itália. Lugui Bisi foi o mestre de obras e construtor do prédio. O Palacete é uma construção em alvenaria e ferro de estilo eclético que reflete em sua composição a riqueza e ostentação da Belle Époque paraense dos períodos áureos da extração da borracha na Amazônia.

Foi quase todo construído com materiais importados da Itália devido às relações comerciais que Santoro mantivera com seu país. Forros prensados e pintados possivelmente de origem Belga, mosaicos genoveses no piso de entrada, portas em madeira de lei, imitação de mármore nas colunas e presença da flor de lis nas pinturas decorativas internas e vidros da casa são umas das mais variadas marcas da arquitetura do palacete Augusto Montenegro"

Oriundi- O talento de Francisco Bolonha em Belém(2)

"O Palacete Bolonha possui elementos art nouveau, góticos e neoclássicos. O art nouveau se manifesta nos portões e na fachada, com detalhes que imitam folhas e flores. O gótico pode ser encontrado no formato das agulhas, que embelezam o alto do palácio. Nos quartos, há imagens de anjos dançando, alusivos à arte grega. Numa das áreas, aos fundos do prédio, as janelas de vidro permitiam que os donos da casa apreciassem a vista da Baía de Guajará, enquanto tomavam chá ou simplesmente conversavam. O palacete tem vista para os quatro cantos da cidade. Atrás dele também há uma vila com casas, que seguem a mesma linha arquitetônica e que abrigaram, entre outros moradores ilustres, o pintor Theodoro Braga".

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Oriundi- O talento de Francisco Bolonha em Belém(1)

"No século XIX, com o advento da Revolução Industrial, a borracha converteu-se em matéria-prima primordial para a indústria automobilística, na fabricação de pneus, luvas, mangueiras.Sendo beneficiada em países da Europa como Bélgica, Espanha, e principalmente a Inglaterra, por ser esta a precursora do automobilismo.

Com a entrada dos Estados Unidos no mercado do látex e a implantação do processo de vulcanização da borracha que tornava o produto mais resistente ao calor e ao frio. No ano de 1867 ocorreu a abertura para o tráfego de navios estrangeiros ao longo de toda a bacia amazônica. Era a época áurea, o fausto da borracha que incitava a uma série de lendas a respeito das fortunas dos Barões da Borracha, como por exemplo, de que estes acendiam seus longos charutos cubanos com notas de dinheiro incineradas. Porém, algo mais presente que simplesmente lendas restou daquela época.

Belém ainda abriga um riquíssimo patrimônio arquitetônico que remete ao requinte vivido. O palacete Bibi Costa, José Júlio de Andrade ou ainda O Castelinho, como é conhecido por alguns, é uma imponente construção que atualmente abriga a sede da AHIMOR a qual têm submetido o prédio a inúmeras reformas na tentativa de aproximar cada vez mais os detalhes degradados pelo tempo minuciosos e marcantes detalhes da construção original. Em 1904, por solicitação do major Carlos Brício Costa, o renomado engenheiro Francisco Bolonha iniciou a construção do palacete. A conclusão deu-se em 1905 conforme a placa de metal fixada na entrada da residência”.(Fonte: Governo do Pará)

Italiani - De Angelis e seus companheiros no Teatro de Manaus

"O artista italiano Domenico de Angelis teve como ajudante a outros compatriotas, na qualidade de ajudantes, Silvio Centofanti, pintor e decorador que ficou residindo em Manaus; Artur Lucciani, o pintor Francesco Alegiani. O pintor Adalberto Andreis ainda ficou  em Manaus durante muito tempo, pintando quadros, mas acabou regressando à Itália antes da primeira guerra mundial. Os demais adptaram-se à vida da região, constituíram família.

Antes da decoração do salão nobre, em 1896, o Teatro Amazonas estava avaliando na importância de cinco mil, setecentos e nove contos, setecentos quatorze mil e cento e vinte e hum réis (Rs$ 5.709.714,121). Após a decoração e s demais serviços que se arrastavam, calculou-se em mais de vinte contos de réis. (Fonte: Biblioteaca Virtual do Amazonas)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Italiani - O legado de Domenico De Angelis em Manaus (2)

"Não foi à toa que Crispim do Amaral, encarregado das obras decorativas do Teatro Amazonas, chamou De Angelis para executar as obras da Sala de Espetáculos e do Salão Nobre do Teatro Amazonas. Na Sala de Espetáculos o ateliê do iminente artista providenciou o teto, com um tema alegórico neoclássico típico, de alegoria às faculdades humanas, à mitologia clássica e ao ambiente campestre.

Dominada por uma pérgola que se dispõe na direção da cúpula do próprio teatro, toda a ação passa-se mais em dispersão do centro e apontando para a parte dianteira onde o busto de Carlos Gomes foi pintado como referência mais importante dentro de um ambiente parnasiano.

O Salão Nobre do Teatro Amazonas, por sua vez, foi totalmente elaborado por De Angelis e Capranesi (a Sala de Espetáculos tem muitos outros objetos pré-fabricados, típicos da estética Art-Nouveau e que foram trazidos da França). O teto do Salão Nobre tem como tema a Glorificação das Artes no Amazonas, com as musas no desenvolvimento de suas habilidades.

O piso foi construído segundo um dos ofícios artísticos mais em voga na época, a da montagem de desenhos alusivos à natureza e grafismos, numa técnica que reúne centenas ou mesmo milhares de peças de madeira recortadas para este fim, chamada de marchetaria. A utilização de madeiras diferentes permitiu o contraste desejado para realçar os desenhos. Um conjunto de telas, pintadas por Capranesi (embora não assinadas) no ateliê da dupla romana, que se localizava na Praça Vittorio Emanuele na capital italiana, compreende temas da paisagem amazônica e uma delas em especial, baseia-se em «O Guarany».

A maior das pinturas, na parede da sala que dá para o lado interno do teatro, retrata Peri salvando Ceci do incêndio, conforme o argumento da ópera de Carlos Gomes. As colunas e a balaustrada do mezanino são obra de estucaria refinada e só ao olhar mais treinado diferenciam-se dos autênticos mármores das portadas da sala.

Um outro detalhe que revela a procedência da obra artística é a profusão de anjinhos (putti, no italiano, meninos) que foram pintados nos vãos superiores de junção das colunas, característicos da pintura acadêmica italiana de tendência religiosa. E ainda que o mobiliário deste salão de honra do Teatro Amazonas possa ter sido escolhido por Crispim do Amaral, assim como pode ter sido deste a idéia dos bustos junto às cimalhas das portas, foi o escultor Enrico Quatrini, da equipe de De Angelis quem certamente preparou o espaço para uns e fez os outros. Quatrini também é relacionado ao monumento de abertura dos portos do Amazonas, localizado na Praça de São Sebastião.

A equipe de De Angelis e Capranesi contava ainda com Francesco Alegiani e o arquiteto Sílvio Centofanti, que chegou a estabelecer escritório em Manaus, lecionou na Academia Amazonense de Belas Artes e sobre quem recaem responsabilidades como a pavimentação da mencionada praça de São Sebastião. O trabalho de De Angelis no Teatro Amazonas foi quase, certamente, um dos últimos de sua vida. Doente, partiu de Manaus às vésperas de falecer, na Itália, em março de 1900, o que o fez ser pranteado por quantos admiradores e amigos aqui deixou". (Biblioteca Virtual do Amazonas)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Italiani - O legado de Domenico De Angelis em Manaus (3)

" No dia 21 de agosto de 1897, o pintos italiano Domenico de Angelis assinou o primeiro contrato com o governo amazonense para a decoração do salão nobre do Teatro Amazonas, na importância de cento e vinte e dois mil e duzentos francos (Ft. 122,200). Esse contrato foi substituído por outros dois, de 1897 e de 1899, com o sentido de ampliar as decorações e pinturas e ornamentos, respectivamente nas importâncias de cento e vinte e sete contos, trezentos trinta mil e quinhentos (Rs. 127:330$500) e vinte e nove contos, cento cinqüenta e oito mil, seiscentos e oitenta réis (Rs. 29:158$680).

Decorações e Pinturas. De 1897 a 1899 foram feitas no salão nobre do Teatro Amazonas as seguintes obras e instaladas decorações e pinturas. a) "Plafond", alegoria pintada por Domenico de Angelis, sob o título "A glorificação das Belas Artes na Amazônia". Custo: 28:000 francos. b) Falsos gobelins fixando aspectos naturais do Amazonas, usos, costumes, fauna, além de óleo sobre tela referindo o episódio do salvamento de Ceci pelo índio Peri, quando o solar do pai daquela é tomado pelo fogo. A cena do romance de josé de Alencar - O GUARANI, foi bem explorada. Custou 40:000 francos. c) Um óleo sobre tela representando a segunda ponte de Manaus no dia de sua inauguração a cinco de julho de 1896. d) Pinturas de circunstância representando a onça de malha grande cocando a embiara, uma capivara. e) Outros detalhes: as garças pescadoras; borboletas azuis, palmares ao vento; além dos florões, ornamentálias no estilo clássico, anjos e numes. f) Os bustos de gesso sobre portais custaram 16:000 francos. g) Dezesseis colunas sobre armação de pedra e base de mármore de Carrara: 4:800 francos.  h) Trinta e dois candelabros de crital (dezesseis de suspensão), custo: 15:360 francos. i) Soalho de "parquet", custo 30:000 francos pelo fornecimento do material e 12:101 francos pela mão de obra. Total: 42:101 francos. j) Dezesseis bases de mármore de Carrara para as colunas do salão nobre: 4:800 francos. k) Assentamento dos espelhos (fornecidos pelo governo) e candelabros de cristal por 780 francos". (Fonte: Biblioteca Virtual do Amazonas)


terça-feira, 8 de junho de 2010

Italiani - O legado de Domenico De Angelis em Manaus (1)

"Um dos nomes marcantes para as artes no Amazonas é do italiano Domenico De Angelis. Nascido em Roma em 1852 ou 1853, ele estudou na célebre Academia di San Luca, uma das mais antigas e renomadas escolas de arte, desde a sua fundação no Renascimento (século XVI).

Nesta escola, De Angelis teve como principais professores os Cavalieri Carta e Podesti, bem como Alessandro Marini, conhecido retratista daqueles dias.

O curso dos estudos numa Academia como a de San Luca incluíam concursos, provas de habilidade e um prestígio advindo de concorrências públicas, exames para obtenção de bolsas, etc. Caminhos semelhantes tomavam os formados na egrégia instituição, candidatando-se aos trabalhos mais cobiçados. De Angelis associou-se a Giovanni Capranesi, colega seu de academia e que mais tarde obteve o maior de todos os trunfos, sendo diretor em 1911 da Academia di San Luca. Com Capranesi, excelente pintor, De Angelis obteve triunfos de grande brilho.

Seu primeiro trabalho em conjunto foi em 1882, numa sala do Palácio Ferri, que rendeu-lhe os mais rasgados elogios de Luca Carimini, outro egresso da Academia di San Luca e que ostentava enorme prestígio naquele momento. Ao bem-sucedido início da dupla, seguiram-se mais trabalhos de importância igual como as decorações do Salão do Banco da Itália e do Salão de Bailes do Palácio Campanari, toda a idealização da câmara do Imperador da Germânia dentro do Quirinal e a pintura da Capela do Sagrado Coração na Igreja de São Inácio, para citar apenas alguns.

Justamente pela mestria no trabalho com temas sacros é que De Angelis foi convidado para vir ao Brasil pela primeira vez. Dom Antonio de Macedo Costa, Bispo do Pará, planejava um remodelamento para a Catedral de Belém e, com o apoio direto do imperador brasileiro e do Vaticano, conseguiu trazer o ateliê De Angelis/Capranesi para a execução dos trabalhos (1882)". (Fonte Biblioteca Virtual do Amazonas)

Oriundi - O talento e o acervo do pintor Murilo La Grecca

"Filho de italianos, nascido em Palmares (Pernambuco), em 3 de agosto de 1899, Murilo La Grecca teve seu interesse artístico despertado no Recife, ainda criança, e sua formação construída entre o Rio de Janeiro – onde freqüentou o importante atelier Bernadelli – e Roma. De volta ao Recife, participa da fundação da Escola de Belas Artes, em 1939.

A anatomia humana é desenvolvida pelo artista ao longo da sua produção com forte influência da “Real Academia Del Nudo” onde estudou por 8 anos. Produziu intensamente por mais de 70 anos, deixando, por ocasião da sua morte, em julho de 1985, um acervo com 1.400 desenhos e 240 pinturas, cartas trocadas com Portinari e Giacometi, além de vários discos e mobiliários.

O Museu, instalado numa residência construída nos anos 60, de arquitetura modernista, foi inaugurado em 12 de dezembro de 1985, pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR) com o objetivo de abrigar a coleção de obras do pintor – composta por desenhos de técnicas variadas como fusain, crayon, sanguínea, pastel, aquarela, “esfumato”, afresco e pinturas, além de objetos pessoais e mobiliários – doado, na sua integridade, à (FCCR), processo acompanhado na época pelo próprio pintor. O acervo foi catalogado e inventariado para constituir o que seria a Casa/Atelier do pintor, que veio a falecer antes da sua conclusão. No Museu também se encontram estudos feitos sobre uma obra executada na Basílica de Nossa Senhora da Penha, Os três Evangelistas, exemplo único no Brasil de um verdadeiro afresco". (Fonte: Prefeitura do Recife)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Italiani - Giacomo Palumbo e o Palácio da Justica: monumento histórico do Recife

"O Palácio da Justiça é o edifício-sede do Poder Judiciário de Pernambuco e abriga em suas instalações o Tribunal de Justiça do Estado. Registra a história que o Tribunal de Justiça de Pernambuco passou a existir mediante o alvará de D. João VI, de 6 de fevereiro de 1821.

À época, foi denominado Tribunal da Relação de Pernambuco e instalou-se num espaço dentro do antigo Colégio dos Jesuítas do Recife, em 13 de agosto de 1822. A sede do Tribunal foi transferida algumas vezes: do Colégio dos Jesuítas passou para o imóvel do antigo Erário (demolido em 1840), depois para o Palácio do Governo, em 12 de julho de 1838. Voltou para o Colégio dos Jesuítas, funcionou na Cadeia Velha, na rua do Imperador, até a sua extinção em 8 de janeiro de 1892, data em que fora criado o Superior Tribunal de Justiça. A partir de então, funcionou num prédio que ficava entre o atual Arquivo Público e a Secretaria da Fazenda até ocupar o imponente Palácio da Justiça, localizado na esquina da rua do Imperador Pedro II, com frente para o jardim da Praça da República.

Foi no governo de Sérgio Loreto que a construção do Palácio da Justiça recebeu atenção especial, cuja pedra fundamental foi lançada no dia 2 de julho de 1924, em comemoração ao primeiro centenário da Confederação do Equador. Neste início de século, o Recife já passava por modificações urbanas de influências européias, principalmente de Paris, as quais orientavam os melhoramentos e embelezamentos da cidade. Foram obras do governo Loreto: “a conclusão do Quartel e da praça do Derby; a construção da Avenida Beira-Mar (atual Av. Boa Viagem); a dragagem do porto do Recife e ampliação de alguns cais e armazéns para permitir a entrada e acostamento de grande navios; a construção da segunda linha adutora do Gurjaú, e das estradas entre Floresta-Cabrobó-Boa Vista e entre Floresta-Salgueiro-Leopoldina-Ouricuri; restaurou prédios escolares e deu especial atenção à formação de professores”. O local escolhido para erguer o Palácio da Justiça (ilha de Antonio Vaz, bairro de Santo Antonio) fora ocupado por cinco edificações, na Rua João do Rego, e pelos prédios do Quartel da Força Pública e do convento dos frades de São Francisco (a antiga ala das enfermarias): o primeiro, voltado para a Praça da República; o segundo, se projetava em direção a mesma praça.

O projeto para a construção do Palácio da Justiça, em estilo eclético, aprovado em 1924 pelo engenheiro-chefe das Obras Complementares do Porto, é do arquiteto italiano, formado pela Escola de Belas Artes de Paris, Giácomo Palumbo (1891-1966), com a colaboração de Evaristo de Sá. Foi o quarto projeto apresentado. O primeiro, no ano de 1917, do arquiteto Heitor Mello, professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. O segundo, de Giácomo Palumbo, em estilo Luiz XVI, em dimensões menores que o projeto aprovado; e o terceiro, do arquiteto e pintor Henrique Moser.

A construção do edifício do Palácio da Justiça levou cerca de seis anos para ser concluída (foi inaugurado em 7 de setembro de 1930, no governo de Estácio Coimbra) e teve momentos de paralisação: em 29 de dezembro de 1926, com obras reiniciadas em 7 de março de 1928. Inclusive, quando do reinício dos trabalhos o projeto fora reelaborado pelo próprio arquiteto Palumbo, a pedido da Diretoria de Obras Públicas que assumira os trabalhos. Entretanto, no governo de Carlos de Lima Cavalcanti o Palácio da Justiça foi totalmente concluído: houve a aquisição do mobiliário e o acabamento final nos ambientes do edifício. O Palácio abrange uma superfície de 2.506m2 e tem cinco pavimentos. A cúpula é um pouco rebaixada do que deveria ser no projeto original. Os vitrais são do alemão Heinrich Moser e representam a 1ª Assembléia Legislativa do Estado. É também de sua autoria um quadro que representa a Justiça e que pode ser visto na atual sala das sessões do Tribunal Pleno.

Na fachada, em frente à cúpula, encontram-se dois grupos de esculturas alegóricas a justiça e à lei, intitulados 'A Justiça e a Família' e 'A Justiça e o Homem', do artista pernambucano Bibiano Silva. São também de sua autoria os bustos dos juristas pernambucanos [Francisco de] Paula Batista e Gervásio Pires, localizados na Sala dos Passos Perdidos. Da sua inauguração até os nossos dias, o interior do Palácio, no que se refere aos ambientes e seus usos, sofreu muitas modificações. A exemplo deste fato, a Sala de Casar, onde eram realizados casamentos civis, hoje é ocupada pelo imponente Salão Nobre. A cidade do Recife, desde o início da década de 1930, pode então contemplar quatro monumentos históricos na Praça da República: os Palácios do Governo e da Justiça, o Teatro Santa Isabel e o Liceu de Artes e Ofícios. É parada obrigatória como ponto turístico de Pernambuco.(Fonte:Virgínia Barbosa - Bibliotecária Fundação Joaquim Nabuco)

Italiani - A obra do escultor Giovanni Nicolini na capital pernambucana

"O cemitério de Santo Amaro, o maior cemitério público da cidade do Recife, fica localizado na rua do Pombal, sem número, no bairro de Santo Amaro. A sua construção foi iniciada no governo de Francisco do Rego Barros e a sua inauguração ocorreu no dia 1º de março de 1851, sob a denominação de Cemitério do Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas

. O cemitério possui uma capela em estilo gótico, com formato octogonal, obra de Mamede Ferreira, que foi erguida no centro do grande terreno. Internamente, observam-se pinturas de Rinaldo Lessa. Quatro lápides resumem a estória da referida capela: A Câmara Municipal do Recife a mandou fazer em 1853. ...1855, segundo o plano do engenheiro civil José Mamede Alves Ferreira. Reaberta e melhorada na administração do Exmo. Dr. Esmeraldino Olympio de Torres Bandeira, prefeito do Município do Recife. Em 16 de junho de 1899. Restaurada na administração do Exmo. Sr. Dr. Francisco da Costa Maia, prefeito do Município, 1930. Um dos túmulos mais visitados do cemitério de Santo Amaro, é o da Menina-sem-Nome. Está sempre coberto de flores, de ex-votos, de jarros, de velas. Nele, lê-se: Menina-sem-Nome. Sofrestes na terra, mas por prêmio ganhastes o céu.

O mausoléu de Joaquim Nabuco é o mais valioso de todos. O mausoléu de Joaquim Nabuco é uma obra artística do escultor Giovanni Nicolini, professor em Roma, e feita em mármore de Carrara. A obra retrata o fato mais importante na vida do famoso abolicionista: a libertação dos escravos no Brasil. Ela apresenta alguns ex-escravos que levam, sobre suas cabeças, o sarcófago simbólico de Joaquim Nabuco. Na frente do monumento, vê-se o busto do abolicionista (Fonte da Foto: Blog do Washington Luiz Peixoto Vieira)
 
A seu lado, a escultura de uma mulher, simbolizando a História, que enfeita de rosas o pedestal do seu busto, onde é possível se ler: A Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo. Nasceu a 19 de agosto de 1849. Faleceu a 17 de janeiro de 1910. Na base do pedestal de Nabuco, onde está presente uma coroa de flores, está escrito: A Joaquim Nabuco, o comandante, officiais e guarnição do 'Minas Gerais'. Washington, 14-3-1916. E, na parte posterior do mausoléu do abolicionista, lê-se ainda: Homenagem do Estado de Pernambuco ao seu dileto filho, o Redentor da raça escrava no Brasil".(Fonte: Fundação Joaquim Nabuco)

domingo, 6 de junho de 2010

Italiani - Federico Gentile, 'imprenditore" no Nordeste

"O construtor Frederico Gentil, nascido em Paola, Itália, em 7 de fevereiro de 1888, estava no grupo ou na denominada Missão Artística Italiana (em Sergipe). Aqui fixou residência, entrou para a Maçonaria em 27 de julho de 1929 e aqui casou-se duas vezes, a primeira com Maria Santos Francisca Gentil, a segunda, em 18 de abril de 1964, com Jair Dantas de Brito Gentil. Frederico Gentil morreu em Aracaju, em 22 de julho de 1970, deixando família. Gentil era construtor licenciado, com escritório na rua de Geru, 163, vizinho da Fábrica Aliança, de Atíllio Gentil, que fabricava ladrilhos e artefatos de cimento em geral e vendia material de construção. Outra firma – A Construtora, de Gentil, Irmãos & Cia Ltda, na rua José do Prado Franco, 463, vendia material de construção, mosaicos, azulejos, material sanitário, cimento, canos de ferro e de chumbo". (Fonte: Fraternidade Maçônica)

Italiani - Gentile, Gatti e “amici” na reforma do Palácio Olimpio Campos em Sergipe

O Palácio Olimpio Campos "teve a sua construção iniciada, provavelmente, no final de 1859, como relata Urbano Neto (NETO, O Palácio Olimpio Campos, Revista IHGS, n. 26, p. 85), e as obras foram visitadas pelo Imperador D. Pedro II, no dia 10 de janeiro de 1860.

Três anos depois o Palácio estava concluído, assumindo uma postura monumental na incipiente capital, com a sua soberba fachada frontal, voltada para o Leste, medindo 29 metros e as fachadas laterais medindo 35 metros, que se mantiveram até os dias atuais.

Na sua concepção inicial, era um formoso sobrado ao estilo português, encimado com um frontão triangular, onde se via o brasão imperial em baixo relevo, característico dessas construções, muito em voga na época. No pavimento térreo, bem na parte central, existiam três largas portas que davam acesso ao hall do edifício. De cada lado do conjunto formado por estas três portas ficavam três janelas que, como todas as portas e janelas existentes na construção, tinham a parte superior em arco pleno.

No pavimento superior, nove janelas com sacadas providas de grades em ferro forjado, coincidindo os eixos destas janelas com os das janelas e portas do pavimento térreo.

 (...)

O certo é que em 1863 as obras do Palácio do Governo estavam concluídas. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, Presidente da Província, que assumira em 31 de julho de 1863, “apontava como obra terminada o Palácio do Governo, espaçoso, mas, no seu entender, sem estética”, como anota J. Pires Wynne (WYNNE, História de Sergipe: 1575-190, vol. I, Editora Pongetti, p. 213). Sede do governo provincial e depois do republicano, o Palácio foi palco de vários acontecimentos políticos no decorrer do século XX. Golpes e contragolpes se sucederam até a implantação do regime constitucional.

Nas primeiras décadas do século, fortes eram as disputas das oligarquias pelo poder, chegando a causar a Tragédia de Sergipe, como foi denominada a execução do deputado, filósofo, poeta e orador Fausto Cardoso, no dia 28 de agosto de 1906, quando liderava um movimento sedicioso que depôs o Presidente Guilherme de Campos e invadiu o Palácio do Governo. Com a morte do seu líder, o movimento revolucionário foi abafado. Fausto Cardoso morreu como herói glorificado, fazendo a exortação “a liberdade é uma coisa que só se prepara na história, com o cimento do tempo e o sangue dos homens”.

Minimizadas essas contendas políticas, o governo começou a preocupar-se com as instalações do Palácio para abrigar os serviços administrativos. Com isso, procederam-se reformas e “A primeira reforma do Palácio aconteceu a partir de 1915”, como registrei no livro Sergipe e seus monumentos (NASCIMENTO, Sergipe e seus monumentos, J. Andrade, 1981, p. 89). Depois, em 8 de maio de 1916, o Presidente do Estado, General Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão, assinava o Ato n. 102, incorporando ao patrimônio estadual, o Palácio do Governo e, na gestão do Coronel José Joaquim Pereira Lobo, iniciada a 24 de outubro de 1918, foram promovidas obras de reparos e de reforma do antigo Palácio, com vista às comemorações do Centenário da Independência de Sergipe, que seriam realizadas no ano de 1920.

A partir daí, artistas italianos contratados em Salvador tiveram uma atuação destacada na reformulação do monumento, valendo anotar que a reforma externa foi trabalho de Orestes Cercelli, pintor e decorador florentino, especialista em decoração a cola, que se inspirou em um palácio de Florença, na Itália. As estátuas da platibanda foram modeladas aqui em Aracaju pelo escultor Pascoal Del Chirico que, à época, era o diretor da Escola de Belas Artes da Bahia. Frederico Genti (federico Gentile)l encarregou-se das obras de assentamento e as grinaldas, capitéis, balaustres e demais elementos decorativos, tanto do exterior como do interior, tiveram sua execução a cargo de Belando Bellandi e Orestes Gatti. Bruno Cercelli, pintor. As pinturas dos tetos e das paredes do Salão de Recepção e do Salão Nobre são, praticamente, dessa época.

A escadaria de 1863, que leva ao piso superior, foi revestida de mármore e recebeu uma grade de ferro e bronze fundidos por Fiori. As estátuas que ficam na base dessa escadaria representam os rios São Francisco e Real, cujo trabalho é atribuído a Orestes Gatti.

Essa reforma modificou totalmente o monumento, que passou a ter aspecto de um palacete florentino, reunindo elementos decorativos dos estilos clássico, medieval, renascentista e barroco, que configuram o estilo eclético, desenvolvido no Brasil ao longo do século XIX até o início do século XX”. (Fonte: José Anderson Nascimento (Mestre em Educação/UFS e presidente da Academia Sergipana de Letras em Jornal da Cidade )

sábado, 5 de junho de 2010

História (221)-"Far l'America"(130):Imigração no Pará e Amazonas nos séculos XIX e XX (3)

"Entretanto, os italianos não se detiveram em Belém ou mesmo nas bordas da Amazônia. Não foram poucos aqueles que, no final do século XIX, penetraram ao longo dos rios atrás do comércio da borracha e identificam as rotas comerciais. Testemunho desta atividade é Gregorio Ronca, oficial da marinha militar italiana que, em 1905, com um navio oceânico de guerra de 2.200 toneladas, depois de haver percorrido as Antilhas e as Guianas, subiu o rio Amazonas até Iquitos e Santa Fé, no Perú, a 2.285 milhas, ou 4.232 km do mar, encarregado pelo governo italiano de procurar rotas comerciais e estreitar relações com imigrantes.

O capitão Ronca, no seu longo diário, descreve com pormenores a comunidade italiana encontrada. E, subindo o rio, entre Belém e Manaus, encontra as comunidades mais numerosas e florescentes em Santarém e Óbidos, encruzilhadas comerciais importantes, não só pela borracha, mas também graças ao cacau, à castanha- do-pará, ao pirarucu".((Fonte: Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’" tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006)

História (220) - "Far l'America"(129):Imigração no Pará e Amazonas nos séculos XIX e XX (2)

"Na virada para o século XIX, sabe-se que o aspecto peculiar de Belém revelara uma apaixonada imitação da cultura européia, sobretudo, da urbanística parisiense e dos códigos estéticos da capital francesa, traduzida em pronunciada urbanização feita de avenidas arborizadas, jardins e praças, assim como de bibliotecas, museus, escolas e estabelecimentos bancários. No centro deste processo, coloca-se emblematicamente o Teatro da Paz (1878) e, mais tarde, numerosos edifícios ecléticos e art nouveau, como os palacetes Pinho, Bologna, Bibi Costa, Facciola, Montenegro, entre outros, além do Mercado de São Brás, da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, etc.

Em resumo, um grande número de artefatos que originaram o mito de uma “Paris na América”, como proclama o nome de uma grande e suntuosa loja daquele tempo; isso para não mencionar o mais conhecido café de Belém, não por acaso denominado Moulin Rouge. Em suma, tomava forma uma verdadeira e peculiar embriaguez cultural, produzindo modalidades construtivas inadequadas ao clima, como também modelos de comportamento por vezes grotescos naquela latitude, utilizados pelos novos ricos da borracha; 41 La presenza italiana nella circoscrizione consolare di Recife.
Sobre este assunto, Marília Ferreira Emmi desenvolve uma pesquisa junto à Universidade Federal do Pará, em Belém.  (www.ufpa.br/beiradorio/arquivo/beira29/noticias/noticia3.htm).

A propósito de imigração e urbanização 23 23 é o caso de vestir camisas engomadas, pretensiosos ternos de lã, ou ainda de submeter-se à tortura do fraque e da cartola em ocasiões festivas, para exibir o status econômico alcançado.Não sabemos até que ponto e de que maneira os italianos imigrantes participaram deste tipo de delírio cultural. Porém é certo que o “francesismo” reinante em Belém, na maior parte das vezes, não chega da França, mas da Itália. A começar pelo lugarsímbolo da cidade moderna: o Teatro da Paz, cujo modelo arquitetônico neoclássico é na realidade aquele do Teatro La Scala de Milão.

A decoração do teatro esteve a cargo dos pintores italianos Domenico De Angelis e Giovanni Capranesi (1887); o mesmo De Angelis foi contratado para pintar também a Catedral de Belém. Mas, sobretudo nos anos sucessivos, a mais interessante arquitetura eclética e art nouveau são obra de italianos: o Palacete Bolonha (1905), o Palacete Bibi Costa (1905) e o “Café do Parque” do engenheiro de origem italiana Francisco Bologna; as múltiplas obras de Filinto Santoro, calabrês de Fuscaldo: o Palacete do governador de Pará, Augusto Montenegro (1904), o Mercado de São Brás (1911- 16), o Colégio Gentil Bittencourt (1895); enfim, a Basílica de Nazaré, projetada por Gino Coppedé, tendo como modelo a Basílica de São Paulo, em Roma. Mas, enquanto o projeto de Coppedé, protagonista de primeira ordem do ecletismo italiano, é uma obra totalmente extrínseca, concebida na Itália e enviada de Gênova em 1909, o arquiteto Filinto Santoro, ao invés, mergulha fundo durante quinze anos no ambiente de Belém e da Amazônia em geral. Todavia, pretende e consegue utilizar materiais, operários, técnicos e artistas italianos na realização dos seus projetos".
(Fonte: Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’" tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

História (219) - "Far l'America"(128):Imigração no Pará e Amazonas nos séculos XIX e XX (1)

"Posteriores elementos de interesse apresenta a surpreendente imigração italiana nos estados do norte, principalmente em Belém, Santarém e Óbidos, no Pará, e em Manaus, no Amazonas. Também desta vez trata-se de uma imigração proveniente do mesmo território no Apenino meridional, atraída pelo mítico boom da “borracha”, cujo ciclo se estendeu entre 1870 e 1920, e no qual esses italianos procuram inserir-se de qualquer maneira.

É conhecido o vibrante desenvolvimento urbano de Belém que, em 1904, tem 125.000 habitantes, o triplo de trinta anos antes, graças ao boom do comércio internacional da borracha. No final do século XIX, na cidade também se iniciava um processo de industrialização, com o surgimento de oficinas mecânicas e pequenas fábricas de sabão, cera, biscoitos, licores, etc. Seja no comércio citadino, seja na pequena indústria, encontramos uma centena de italianos também em Belém. Muitos são sapateiros, operários, vendedores de fruta. Por iniciativa dos italianos Conte e Libonati, surgem as primeiras fábricas de sapatos. Mais uma vez, esses sobrenomes remetem à mesma zona do Apenino lucano, entre a Calábria e a Campania. No final do século XIX, quando vivem em Belém cerca de quinhentos italianos, é movimentada a linha de navegação Genova-Manaus, empreendimento da Società di Navigazione Ligure-Brasiliana. A colônia cria raízes rapidamente; tanto é que, em 1912, constitui-se uma Associazione Culturale Italo-Brasiliana, contando com algumas centenas de sócios fundadores.

No censo de 1920, registram-se cerca de mil italianos que, nos anos sucessivos, fundam mais duas associações, uma de caráter elitista, outra de caráter mais popular, ambas em permanente competição. Neste momento, quando encerrava o ciclo da borracha, os italianos eram numerosos no comércio de gêneros alimentícios, tecidos, ferragens e no comércio de produtos regionais, mas também desempenhavam atividades bancárias e ocupavam- se de tipografias" .(Fonte: Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’ tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006)
 

História (218) - "Far l'America" ( 127): Imigração italiana em Pernambuco nos séculos XIX e XX

 O professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria, Vittorio Capelli, no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’ ”(tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006) aborda a  italiana em Recife (séculos XIX e XX).

“Os imigrantes de Recife têm a mesma origem geográfica dos italianos de Salvador e de Aracaju. Muitos desses imigrantes chegam da pequena Trecchina e de outros 'paesi' da Basilicata. Também a composição social e os percursos de integração são semelhantes: 20 trata-se de artesãos e de pequenos comerciantes que, com freqüência, começaram como empregados em oficinas e pequenas lojas, ou como mascates na zona rural. Foram inicialmente financiados pelos conterrâneos que lhes precederam e que os convidaram a emigrar.
Numerosos eram os artesãos especializados no trabalho com metais, como caldeireiros, funileiros, fundidores, chamados a partir da multiplicação das usinas de açúcar; muitos também eram alfaiates e sapateiros; e não poucos foram aqueles que se tornaram industriais: no início da década de 1930 encontra-se uma fábrica di licores e de gasosas, uma indústria de tecidos, a fundição ‘Vesúvio’, outras indústrias metalúrgicas e de calçados.

Mais do que em outras cidades, parece que no Recife houve uma relação estreita entre ofícios artesanais e atividades industriais, sendo freqüente a passagem de uns às outras. Em suma, a capital pernambucana confirma as características fundamentais da presença italiana em todo o nordeste. Entretanto, talvez fosse mais acentuada a presença em indústrias e menor a participação na expansão e nas reformas urbanas, a exemplo de Aracaju; exceções foram o mausoléu a Joaquim Nabuco, executado por Giovanni Nicolini (1910), e o Palácio de Justiça, em estilo renascentista, de Giacomo Palumbo (1930). No plano artístico, também é preciso destacar a presença do pintor Murillo La Greca, nascido em 1899, caçula dos doze filhos do casal de imigrantes Vincenzo La Greca e Teresa Carlomagno, provenientes de diferentes lugares dos confins calabro-lucanos.

Tendo herdado juntamente com os irmãos a usina açucareira de Palmares, perto de Recife, o jovem La Greca realizará sua formação artística baseada nos indiscutíveis cânones clássicos, inicialmente no Rio de Janeiro e depois em Roma, onde aprendeu a técnica do afresco. Retornando para sempre ao Brasil às vésperas da Segunda Guerra Mundial, é contratado para pintar os afrescos da  Basílica de Nossa Senhora da Penha, em Recife, construída em 1870 nos moldes arquitetônicos de Palladio. Enfim, do ponto de vista quantitativo, a presença italiana em Recife é a mais consistente de todo o nordeste. Tanto é que, ainda hoje, ali residem cerca de dois mil cidadãos italianos, além de dezenas de milhares de descendentes. Ao contrário, no estado limítrofe da Paraíba, encontram-se arquitetos e construtores italianos que permitem imaginar uma situação semelhante àquela encontrada em Aracaju, onde se destaca o aspecto qualitativo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

História (217) - "Far l'America" ( 126): Imigração meridional em Sergipe

Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’ ”(tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006) discorre sobre a da presença italiana em Sergipe no séculos XIX e XX.

"Transferimo-nos agora da Bahia para o vizinho estado de Sergipe, na pequena Aracaju, onde o número de italianos é muito menor. Entretanto, nesta modesta presença, encontram-se múltiplos e justificados motivos de interesse. A proveniência geográfica é sempre a mesma: o território compreendido entre as províncias de Salerno e de Cosenza. A tipologia migratória é a mesmíssima, mas com traços sociais mais elevados: os italianos de Aracaju são comerciantes, empreendedores e artistas, que deram uma contribuição decisiva à renovação urbana da pequena capital de Sergipe na primeira metade do século XIX.

O mais conhecido pioneiro da pequena colônia italiana é o comerciante Nicolau Pungitori (1845-1909),31 que construiu o teatro “Carlos Gomes”, em 1903. Os expoentes mais lembrados da geração sucessiva italiana são Nicola Mandarino (1883), de Vibonati- Campania, e Federico Gentile (1888-1970), calabrês de Paola: o primeiro, proprietário de uma grande marcenaria, em Aracaju, de uma fábrica de sabão e de um depósito de tecidos; o segundo, ativo construtor civil, junto com o irmão Attilio. Mandarino conquista um posto de primeiro plano na elite sergipana e, por isso, será alvo fácil das manifestações antiitalianas no verão de 1942, depois do afundamento de um navio mercantil brasileiro por submarino alemão, no largo de Aracaju, provocando mais de duzentas mortes.

Gentile faz parte da dita “Missão artística italiana” que, a partir de 1918, renova visivelmente o equipamento urbano da cidade. Trabalham Bellando Bellandi (arquiteto), Oreste Gatti (pintor), Bruno Cercelli (escultor e decorador), Raffaele Alfano (cinzelador), Hugo Bozzi (construtor). Em particular, destaca-se o arquiteto Bellandi, restaurador da fachada do palácio do governo em estilo eclético, que se torna modelo imprescindível para as residências dos ricos de Aracaju; Gentile, que é o construtor mais importante da cidade, constrói muitas vilas para a oligarquia local e para os italianos enriquecidos, prédios em que insere elementos modernos, ecléticos e art nouveau, transformando a arquitetura local, segundo a moda européia. Pertencer à maçonaria torna-se comum e caracteriza a pequena comunidade italiana de Aracaju".

História (216)- "Far l'America" ( 125): Imigração meridional na Bahia

No ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’ ”Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria (tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006) revela traços da presença italiana na Bahia no séculos XIX e XX.

"Poderá surpreender que se fale de imigração italiana na cidade mais africana do Brasil, habitada por larga maioria de negros e mulatos, uma ex-capital em declínio nos anos sessenta do século XIX.

Contudo, Thales de Azevedo, há muito tempo já assinalava 16 uma presença dos italianos bem mais significativa do que se pensa comumente. Ele recorda que, em 1861, existia em Salvador uma “Sociedade Italiana de Recreio e Beneficência”. E pouquíssimos anos depois, teriam chegado de Trecchina, um pequeno paese da Basilicata no limite com a Calábria, os primeiros imigrantes espontâneos que deram vida, a partir de 1878, à uma ativa e interessante colônia italiana em Jequié, promovendo com originalidade o comércio e a agricultura.23 Tanto que, dos 200.000 habitantes atuais de Jequié, pelo menos 2.000 são de origem italiana.

Essa corrente migratória de Trecchina encontra ampla repercussão no vizinho município calabrês de Laino Borgo, a julgar pela informação do cônsul italiano L. S. Rocca. Segundo ele, deste pequeno paese provêm quase todos os 500 italianos presentes na Bahia no início do século XX século.24 Muitos eram sapateiros e concentraram- se, na virada para o século XX, na Baixa dos Sapateiros, no Maciel e nas ruas vizinhas de Salvador, onde são numerosas as lojas de calçados e de tecidos, os empórios e as oficinas mecânicas dirigidas por italianos, que têm todos a mesma proveniência geográfica e que trabalham há muito tempo ao lado de comerciantes árabes e judeus".

quarta-feira, 2 de junho de 2010

História (215) - Imigração Italiana após a Segunda Guerra (6)

Na dissertação de mestrado (Unicamp 2003)  “A Imigração italiana no Segundo Pós Guerra e a indústria brasileira nos anos 50, Luciana Facchinetti  revela a origem dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil após a Segunda Mundial ter chegado ao fim. "

A busca pela mão-de-obra qualificada, foi tônica constante nos discursos de muitos Constituintes, e, principalmente, dos Conselheiros do C.I.C(2). Apesar do interesse pelos técnicos especializados da região norte, a maior parte dos imigrantes do segundo pós-guerra foi proveniente da região sul da Itália. Como pudemos apurar pelas fichas que se encontram arquivadas no Memorial do Imigrante de São Paulo, das 24.000 fichas pesquisadas, cerca de 60% delas apontam como proveniência as regiões da Campania, Calabria, Basilicata, Molise , Puglia e Sicilia. Os outros 40% são das demais regiões e da Colônia Italiana no Egito. A urgência de trabalhadores qualificados esteve atrelada as políticas econômicas dos governos Dutra, Vargas e Kubistchek"

História (214) - Imigração Italiana após a Segunda Guerra (5)

Autora da dissertação de mestrado (Unicamp 2003)  “A Imigração italiana no Segundo Pós Guerra e a indústria brasileira nos anos 50, Luciana Facchinetti revela como o governo do presidente Dutra encarou o problema da falta de mão-de-obra nacional qualificada para tocar adiante a industrialização do Brasil.

“A alternativa mais imediata para suprir a indústria nacional com mão-de-obra qualificada e para ocupação do território, foi o caminho anteriormente percorrido: a imigração européia - principalmente.

O documento pesquisado no Arquivo do Itamaraty, do Conselho Imigração e Colonização, emitido pelo Presidente do Conselho, Sr. João Alberto, ao Ministro das Relações Exteriores, João Neves Fontoura, datado de 16 de maio de 1946, intitulado'Política Imigratória', revela o interesse das autoridades brasileiras pela questão imigratória:

‘Senhor Ministro: Tem este por fim apresentar a V. Exª., o Sr. Nino Galo, colaborador de muitos anos, profundo conhecedor de problemas ligados às imigrações, especialmente italianas. Dentro em breve, o Sr. Nino Galo, deverá iniciar uma viagem pelos países europeus, e atendendo meu pedido vai examinar em toda a Itália, que vai percorrer por ser de origem italiana, as possibilidades de imigração daquela procedência para o Brasil.

Nessas observações e estudos visará o Sr. Nino Galo, principalmente obtenção de mão-de-obra qualificada de que a indústria parece extraordinariamente, constituída pelos técnicos especializados e se encontram, principalmente, na região do norte da Itália. Esse trabalho vai ser realizado pelo Sr. Nino Galo, sem qualquer ônus para o C.I.C., e dada a complexidade da própria natureza das circunstâncias não será somente de grande alcance para o país, como ainda bastante penoso, razão pela qual venho solicitar para V. Exª., a concessão de passaporte especial, para o Sr. Nino Galo, que viaja acompanhado de sua esposa, atendendo os motivos acima apontados, em virtude de tal documento que lhe assegura maiores facilidades no cumprimento da missão que lhe confiei.

Devo ainda esclarecer a V. Exª. Que a concessão de tal passaporte, não representará sequer compensação adequada, aos trabalhos que o Sr. Nino Galo executará, o que vem tornar ainda mais justo o atendimento da presente solicitação’ "

terça-feira, 1 de junho de 2010

História ( 213) - "Far l'America (124)": O valor da narrativa testemunhal dos primeiros imigrantes

"As sagas migrantistas, embora possam ter um valor histórico questionável, são inestimáveis, do ponto de vista antropológico, pois alertam o pesquisador acerca das categorias que, no presente, merecem ser acionadas sobre o passado.


Entre tradições inventadas ou ressignificadas (ou não), a história se refaz. Para o antropólogo, a riqueza dos escritos históricos consiste em poder neles observar, mesmo que de uma forma limitada (como foi o meu exercício neste artigo), o modo como se posicionavam, em termos sociais (espaciais e temporais também), aqueles homens e aquelas mulheres e crianças — observar não só a maneira como viviam mas, acima de tudo, o que permitiu historicamente que eles se reproduzissem culturalmente, considerando-se que a cultura é sempre um campo aberto, dinâmico, vivido por personagens reais que sentem, pensam, agem e procuram sobreviver, física ou psicologicamente.

Esses sujeitos são negociadores que aprenderam a se referenciar conforme as interações sociais advindas de suas demandas. As ítalo-brasilianidades são negociações, seja em termos individuais ou coletivos. Embora se baseie num passado tido como fonte, trata-se de uma construção do presente sobre o passado, clivada por situações de classe, gênero, idade, entre outras". (Fonte: Maria Catarina Chitolina Zanini, professora da Universidade Federal de Santa Maria, (autora do trabalho "Um olhar antropológico sobre fatos e memórias da imigração italiana" )

História ( 212) - "Far l'America (123)" - Imigração no Rio Grande do Sul nas memórias de Julio Lorenzoni (2)

Ao analisar as Memórias de Julio Lorenzoni, imigrante vêneto que chegou ao Rio Grande do Sul no final do século XIX, Maria Catarina Chitolina Zanini, professora da Universidade Federal de Santa Maria (autora do trabalho "Um olhar antropológico sobre fatos e memórias da imigração italiana" ) faz as seguintes observações:

"Conforme Lorenzoni, os colonos, ao receberem seus lotes, começavam a limpeza do terreno e tratavam de armar uma cabana de pau-a-pique, 'coberta de folhas de palmeira, que havia de servir de primeiro abrigo para sua família'. Para dormir, faziam camas com quatro paus fincados no chão batido, a meio metro de altura, com tábuas atravessadas por cima, cobertas com ervas secas.

Este foi o modo de vida dos primeiros colonizadores, 'feito de privações', como bem ressalta o autor. Como alimento, naqueles primeiros tempos, diz ele que o café da manhã era composto de mate com algumas bolachas secas e duras, e o almoço, de sopa de arroz com feijão, o que era repetido no jantar.

Observa-se que a simbologia do imigrante italiano como ostentador de uma mesa farta, como se verá no ano de 1925, quando das comemorações do Cinquentenário, não era algo que estivesse na simbologia do pioneiro. A sua imagem é a do homem sob privação. Viviam com poucos recursos na Itália e aqui também na condição de imigrantes recém-chegados.

Será por meio do processo colonizador que a comida farta se transformará num símbolo da ítalo-brasilianidade. A primeira casa, construída após alguns meses de trabalho, segundo Lorenzoni, era de madeira, com cozinha ao lado, na qual se instalava o focolare (fogareiro artesanal, feito de forma rudimentar), 'sua pia para lavar a louça, também de madeira, e uma prateleira com grandes ganchos para pendurar o balde d'água, as panelas e outros utensílios'

Enfim, aos poucos, reproduziam em termos espaciais as categorias culturais européias. O processo de enraizamento no Brasil será uma mescla da cultura de origem com as novas formas ecológicas, geográficas e sociais encontradas. Battistel , ao se referir aos imigrantes italianos de um modo geral, salienta que as capelas eram muito mais bonitas do que suas próprias casas. Isto acontecia porque investiam seus recursos na sua construção e na das igrejas, possibilitando dessa forma estabelecer estruturas de significado em torno de tais instituições e do poder simbólico delas emanado. Enfim, quanto mais belas as edificações religiosas, melhor seria idealmente aquele povo, mais abençoada e melhor situada economicamente estaria aquela população".