domingo, 28 de março de 2010

História (135 ) - Imigração em Brusque no contexto da saúde mental (2)

No trabalho "A imigração italiana e saúde mental: Mais um (louco) para Brusque?" , Cluadia Delfini, professora da Universidade do Vale do Itajaí - Univali - relata a criação do Asilo Azambuja.
 

"Inaugurado oficialmente em 29 de junho de 1902, a Santa Casa de Misericórdia de Azambuja englobava um hospital, asilo, orfanato e hospício. Porém, em 1901 já havia uma antiga casa de madeira para os doentes que eram separados de acordo com o seu grau de “normalidade”, sendo metade destinada aos doentes 'normais' e a outra para os 'anormais'.

O relatório do padre Gabriel Lux, em 18 de outubro de 1908, narra a história do Asilo a partir da história do santuário de Azambuja, que foi construído pelos imigrantes italianos da província de Milão que trouxeram uma cópia do quadro milagroso de Nossa Senhora do Caravagio, 'querendo transplantar para aqui as tradições religiosas da velha pátria.' Provavelmente seu relato foi tirado das atas escritas pelas irmãs da Divina Providência que se referiam a este episódio da seguinte forma: 'Uns pobres colonos italianos vindo-lhes em 1884, trouxeram um antigo quadro de Nossa Senhora de Caravagio muito venerada nas proximidades de Milão. Estabelecendo no seu aprazível recanto de Azambuja, levantaram uma modesta capela em honra de Maria Santíssima, e depois do trabalho os obscuros camponeses visitavam a querida mãe de Deus e ela retribuía o amor e a confiança daquela boa gente com numerosos e manifestos favores'


"Em 1876 os colonos iniciaram a construção de uma pequena capela em um terreno pertencendo a Pietro Colzani, pronta 09 anos depois, em 1885. Em 1892 o padre Antonio Eising assumiu a paróquia e construiu o hospital e “asylo de desvalidos, velhos e cegos”, sendo inaugurado em 29 de junho de 1902, com 03 irmãs da Ordem Divina Providência responsáveis pela assistência as doentes. 'A caridade não tem pátria', era o grande lema da Ordem Divina Providência, que reunia, 'como uma grande família, alemães, italianos, polacos, poloneses, austríacos. Recebe a subvenção anual do governo do Estado (paga o número de 5 dementes no valor de 1$500 réis), da municipalidade e da ajuda dos bravos colonos e de esmolas.” 2 De acordo com o relatório do padre Lux, percebe-se a presença dos 'bravos colonos' de Brusque/Azambuja na manutenção e nos cuidados com o asilo, porém, há uma carta datada de 1903, escrita pelo padre Antonio Eising ao bispo diocesano de Curitiba, que mostra que a cidade não se preocupava muito com os 'bravos/pobres colonos' ".

"Nesta carta, Eising pede a construção de um cemitério no hospital pois 'o hospital não tem pessoas para acompanhar e levar os cadáveres até Brusque, como também estão fracos. Em Brusque, a gente não se importa com os fallecidos de Azambuja porque regularmente são pobres colonos'.   De acordo com o inspetor de saúde do estado, Dr Joaquim David F. Lima, em sua visita ao Hospital de Azambuja, junto ao chefe de polícia, o asilo representava uma verdadeira: “casa de misericórdia, preenche ao mesmo tempo os fins de hospital, asylo de inválidos e desamparados, e hospício de alienados. A direção médica do hospício será confiada a um médico, de nacionalidade alemã, especialista, em que o padre Lux já se entendeu por carta. Acredito que uma vez que esteja funcionando regularmente aquelle hospício e sob a direção technica de um médico alienista, ficará em Santa Catharina perfeitamente satisfeita esta grande necessidade actual de assistência aos alienados.'(apud FONTOURA,1997, p. 28) (...)Confiando no auxilio da divina providencia e na proteção da querida mãe do céu começamos o ano de 1942 mesmo trouxe para nós uma grande mudança pelo de já a tempo planejado o transporte dos alienados ao novo hospital ereto pelo governo do estado no município de São José. As irmãs Fernandina e Custodia já tinham algumas semanas antes providenciando todo o necessário ao nosso instituto.

Em 4 de janeiro o governo mandou um caminhão e em 6 do mencionado mês levava dois outros caminhões os últimos alienados das colônia Santana. Assim nos deixavam nesse dia também irmãs Telefora e a irmã Francelina as quais conforme os desejos do governo partiram com os doentes, desse modo estava fechado o hospício de Azambuja fundado em 1902. "

História (134 ) - Imigração em Brusque no contexto da saúde mental (1)

Ana Cláudia Delfini, na qualidade de professora da Universidade do Vale de Itajaí – Univali - elaborou o trabalho "A imigração italiana e saúde mental: Mais um (louco) para Brusque?" . Trata-se do resultado de um pesquisa sobre saúde mental e imigração italiana em Santa Catarina, buscando “discutir os modelos institucionais de tratamento da loucura presentes no Brasil a partir do séc. XIX, avaliando seus reflexos e desdobramentos em Santa Catarina, analisando especificamente o tratamento dispensado aos doentes mentais, (dentre eles alguns descendentes de colonos italianos) pelas duas instituições que marcaram modelos e concepções diferenciadas sobre a loucura: o Asilo de Azambuja, em Brusque, e o Hospital Colônia Santana, em São José”.

(...) “Na segunda metade do século XIX, começou-se a pensar e a praticar uma assistência psiquiátrica no Brasil mediante a implantação da instituição asilar com a construção de hospitais de alienados nos principais centros nacionais, configurando-se uma assistência psiquiátrica cujo perfil estava adequado às propostas e necessidades políticas e sociais de modernização do país, conferindo antes uma assistência do que um tratamento curativo. O assistencialismo e a filantropia são característicos das instituições de misericórdia do sistema asilar, instalados no Brasil pelos colonizadores portugueses”.

“Com o fim da escravatura (oficial) e a vinda dos imigrantes, os centros urbanos aumentaram. Com a necessidade de mão-de-obra, a recuperação dos “excluídos” torna-se foco principal dos discursos psiquiátricos. O conhecimento psiquiátrico é ampliado através das universidades e hospícios no que diz respeito à loucura”.

“A construção dos hospícios-colônias teve como finalidade tanto o afastamento dos “loucos” do convívio social nos grandes centros, já que tais instituições eram afastadas, como o de fazer com que os doentes trabalhassem no auto-sustento do hospital, através das atividades na lavoura, diminuindo os gastos do Estado”.