domingo, 31 de janeiro de 2010

Italiniadade: a (re)descoberta das raízes italianas em Urussanga (SC)


Na Universidade Federal de Santa Catarina, uma recente tese do programa de pós-graduação (nível mestrado) mostra com muita clareza a origem e evolução da italianidade na cidade catarinense de Urussanga.

A autora da dissertação Construção da italianidade entre descendentes de imigrantes no município de Urussanga é Carla Nichele Serafim. A seguir, alguns trecho da sua pesquisa.



“A primeira sede do Sul de Santa Catarina habitada por colonos italianos, chegados da Itália no dia 26 de abril de 1877 foi Azambuja e, posteriormente, Urussanga. Famílias compostas e desmembradas, com homens, mulheres e crianças provindas da Região de Vêneto, em Belluno - incluindo da Feltre, da Cadore e Longarone - formaram a colônia de Urussanga”.

 A partir dessa consideração, a autora mergulha na historiografia da diáspora italiana em terras catarinense numa viagem cheia de descobertas percorrendo um alongo arco de tempo até chegar ao século XXI, onde ainda pulsa italinidade latente nas veias de muitos cidadãos e cidadã de Urussanga.

 "(...) O contato por cartas do prefeito de Urussanga com autoridades do município de Longarone, cidade de onde vieram alguns dos imigrantes italianos estabelecidos no início da colonização de Urussanga, facilitou a vinda dessas autoridades para a localidade em 1988, impulsionando um grupo de descendentes de imigrantes italianos a viajarem para a região Norte da Itália em 1989, com o intuito de conhecer e recuperar a história de seus antepassados.

Essa viagem gerou afinidades entre os descendentes daqui e os italianos de lá, mas também frustração por parte de algumas pessoas que não foram bem recebidas por seus parentes. No final de 1988, o prefeito de Erto-Casso e o secretário do prefeito de Longarone, foram para Urussanga conhecer o bairro de maior expressividade italiana do município, a localidade de Rio Maior.


Segundo relatos de informantes da pesquisa, os visitantes alongaram seu trajeto para a sede do mesmo e para as demais regiões de colonização italiana do Sul de Santa Catarina, dentre elas São Joaquim, Frei Rogério, Friburgo, Úbera, indo também à Argentina. Desta visita, surgiu o convite de criarem laços políticos, culturais e econômicos entre Urussanga e Longarone, laços esses denominados de Gemellaggio”. (...)No dia 26 de maio de 1992 foi concluído o Gemellaggio em Urussanga, projetando o Município nacional e internacionalmente, com a finalidade de enriquecer os valores da tradição italiana e consolidar a integração dos italianos.

Para a Itália, o interesse no Gemellaggio estava na oferta de mão-de-obra barata e qualificada para os descendentes de italianos trabalharem nas empresas italianas, além da divulgação da língua oficial, conjuntamente a uma afirmação da identidade italiana entre os descendentes. Do mesmo modo, alguns(mas) italianos(as) vêm para Urussanga e ficaram/ficam hospedados(as) nas casas de descendentes residentes em Urussanga, Criciúma e região”

História 51 - "Far l'America (19)": breve desrição sobre áreas de destino dos imigrantes italianos

No site dedicado à imigração italiana (por ocasião dos 500 anos do Descobrimento do Brasil), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aborda de maneira resumida a questão do destino dos imigrantes. Eis o texto:

"O destino dos imigrantes no período da imigração subvencionada foram as fazendas de café de São Paulo e os núcleos de colonização, principalmente os oficiais, localizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo.

Afora desses dois objetivos, uma terceira parte de imigrantes localizou-se nas cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, adensadas por indivíduos que abandonavam o campo, reemigravam de outros países ou mesmo burlavam a vigilância, não seguindo para o interior.

 Fazendas de café - relação de trabalho

A grande massa de italianos que se tornava colono ou empregado de uma fazenda de café trabalhava em condições muito duras, tendo pequenas oportunidades de acumular algum capital. Eram proporcionalmente poucos os que realizavam o sonho da compra de uma pequena propriedade e quando o faziam, não se tratava de propriedades de grande valor.

As famílias de imigrantes que chegavam nas fazendas de café se submetiam a um contrato de trabalho segundo o qual todos, inclusive mulheres e crianças, deviam trabalhar. O contrato determinava, ainda, que cada família cuidaria de um número determinado de pés de café, recebendo por cada mil pés uma certa quantia em dinheiro.

Além disso, o contrato lhes dava direito à casa e quintal, podendo criar animais, fazer horta e plantar milho e feijão entre as fileiras do cafezal que estivessem a seu cuidado. Raramente, no entando, podiam dispor de excedente dessa produção para comecializar. Núcleos de colonização As condições de vida enfrentadas pelos imigrantes que chegavam nos núcelos de colonização, ou colônias de povoamento, também não foram fáceis.

Os italianos chegaram ao sul do país após os alemães e, por esta razão, os núcleos coloniais para onde foram encaminhados estavam mais distantes das regiões já habitadas, situando-se em áreas pouco férteis, além de desprovidas de meios de comunicação, necessários para o escoamento de produtos ou para a maior integração com o resto do país. Além dessas dificuldades, não havia qualquer tipo de assistência médica ou religiosa. Nestas condições tão adversas, não eram incomuns os casos de abandono do lote por moradores que, após mais de dez anos, quase nada possuíam e, ainda, deviam ao governo e a comerciantes do local. Sucessos e fracassos dos núcleos italianos de povoamento

  Rio Grande do Sul

O sucesso das colônias aí criadas, foi desigual: houve casos de colônias bem sucedidas, como as que originaram as cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Caxias, e exemplos de fracasso, como o de Silveira Martins.

 Santa Catarina

Os colonos italianos tiveram que se dirigir para as colônias alemães estabelecidas anteriormente, onde foram discriminados e explorados.

Paraná

Aas colônias próximas a Curitiba foram bem sucedidas, quer porque ali houve como escoar uma produção de alimentos, quer porque foi possível trabalhar na construção de ferrovias (Paranaguá - Curitiba e Curitiba - Ponta Grossa). - Minas Gerais: prosperaram, principalmente, as colônias estabelecidas próximas a cidades e voltadas para fornecimento de trabalhadores para obras públicas. Este foi o caso de Barreiros, Carlos Prates e Américo Werneck, criadas em 1896 nos arrebaldes da nova capital (Belo Horizonte).

Espírito Santo

Hhouve forte presença do imigrante italiano de 1870 até 1920. Na colônia de Demétrio Ribeiro, os lotes foram demarcados em terra fértil e a iniciativa prosperou".

História 50 - "Far l'America (18)": imigração italiana no Brasil a partir das regiões de origens

O Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística  (IBGE) preparou em 2000, por conta da celebração dos 500 anos da Descoberta do Brasil, um breve site sobre a imigração italiana no país. Nele encontramos uma tabela referente ao números de italianos que entraram no Brasil de acordo com a região de proveniência.

"Os primeiros imigrantes a deixarem a Itália na época da "grande imigração" (1870-1920), foram sobretudo os vênetos, cerca de 30% do total, seguidos dos habitantes de Campânia, Calábria e Lombardia. Esse primeiro grupo foi sucedido por emigrantes da região sul. - Se os vênetos eram mais loiros do que a maioria dos italianos, eram pequenos proprietários, arrendatários ou meeiros, para quem a possibilidade do acesso à terra era um estímulo decisivo para o empreendimento da arriscada viagem; os imigrantes do sul eram morenos, mais pobres e rústicos, geralmente camponeses que não dispunham de nenhuma economia e eram chamados de braccianti".


Imigração italiana no Brasil 
Regiões de procedência  1876-1920 
(fonte IBGE)
 

História 49 - "Far l' America (17)": quantificação da diáspora em relação aos países receptores

o reelaborar os dados do Istituto Nazionale di Statistica, Gianfausto Rosoli, em seu livro "Un secolo di emigrazione italiana 1876-1976" (Roma, Cser, 1978) mostra os números da diáspora italianos levando em conta o destino de quem deixou o Reino da Itália e, posterioremnte a República italiana entre 1876 e 1976.

Destino Europa 





Destino Américas

História 48 - "Far l´America" (16):os números da diáspora 'oltreoceano'

No livro "Un secolo di emigrazione italiana 1876-1976" (Roma, Cser, 1978), Gianfausto Rosoli reelabora dados do Istat, que na Itália tem o mesmo papel e impotarância do IBGE no Brasil. Na quantificação daqueles que se lançaram na aventura do êxodo "oltreoceano", Rosoli apresenta uma levantamento por Regiões dividido em dois períodos: 1876-1900 e 1901-1915, ou seja um arco de tempo que vai da Itália pós-unificação até os primeiros momentos da Primeira Guerra Mundial. Eis os números apresentados por Gianfausto Rosoli.

A DIÁSPORA NO PERÍODO 1876 -1900



A DIÁSPORA NO PERÍODO 1901-1915

Oriundi: Valentin Tramontina, o ferreiro empreendedor e a formação de um grande grupo

Dentre tantas histórias da italianidade na serra gaúcha, uma que sem dúvida merece destaque é a trajetória da família Tramontina, hoje sinônimo de cutelaria de alta qualidade. A trajetória de sucesso dos Tramontina tem início em 1911.

Valentin Tramontina, filho de imigrantes italianos (região de Maniago, Friuli-Venezia Giulia, província de Pordenone - local de fabricação de facas e canivetes), morava em Santa Bárbara, região de Bento Gonçalves. Lá viviam da fabricação de ferramentas agrícolas.



Com a chegada da ferrovia, Valentim decide dar novo rumo á sua vida e migra para Carlos Barbosa, que à época não passava de uma vila. Ali monta uma pequena ferraria, esperando ser impulsionado pela dinâmica da ferrovia.



Em 1919, Valentim dá um passo adiante e compra um terreno de 300 m2 na Rua Amapá, construindo um prédio de madeira para abrigar o seu negócio . Trabalhava com ele o irmão Luiz .

Até 1930, a produção da ferraria era modesta. Valentin prestava serviços a empresas, entre elas, Arthur Renner, proprietário de uma refinaria de banha; fazia conserto em indústrias locais, ferrava cavalos e fabricava canivetes.

Em 1932, Valentin agrega os primeiros colaboradores. São pessoas que residem na vila, trabalham na agricultura em tempo parcial e começam a fazer facas e canivetes nos porões de suas casas. Valentin Tramontina, nascido em 1893, falece com 46 anos de idade, no ano de 1939.

A partir daí, assume a ferraria, dona Elisa Tramontina, esposa de Valentin, que desponta como uma empreendedora nata e arrojada. Ela é quem embarca no trem da estação da vila de Carlos Barbosa e vai vender a produção nos mercados regionais e na capital do Estado. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), caso não existisse a determinação e a coragem de Elisa, a ferraria teria sucumbido.

O ano de 1949 pode ser considerado um marco na história do Grupo. Trata-se da data em que Ruy José Scomazzon, barbosense de 20 anos, amigo de Ivo Tramontina, cursando a Faculdade de Ciências Econômicas da PUC – Porto Alegre, começa a prestar assessoria à Tramontina. Ruy, com espírito de liderança, implanta planos ambiciosos, enfatizando a organização em todos os setores. Inaugura-se uma nova etapa. O caráter artesanal dá lugar a uma produção manufatureira. Na década de 50, a empresa contava com 30 empregados e alguns representantes comissionados espalhados pelo Estado. Os canivetes representavam 90 por cento do faturamento.

Vem da Itália a tradição de ter no bolso um canivete, cuja denominação é "brítola". Trata-se de um canivete com formato de pequena foice utilizado principalmente na poda da parreira, para cortar vime. A Tramontina sempre se destacou na fabricação deste canivete. A empresa se capitaliza rapidamente, com inovações tecnológicas: laminadores, marteletes, máquinas de esmerilhar e forjar, que dinamizam a produção em série. Com a presença do governador Ildo Meneghetti, em dezembro de 1956, foi inaugurada a ampliação das instalações da empresa e o novo escritório. Intensifica-se a produção de facas e ferramentas agrícolas.

O ano de 1958 marca a fundação da Metalúrgica Forjasul, em Porto Alegre, e posteriormente transferida para Canoas. Em 1961 falece a grande baluarte Elisa Tramontina. As décadas de 60 e 70 são marcadas pela instalação de empresas do Grupo em Garibaldi, Farroupilha e na Bahia, e também pela admissão de novos empregados. Houve um salto gigantesco. Dos 30 empregados existentes em 1950, a empresa passou a ter em seu quadro 557 funcionários no final dos anos 60.

Hoje o Grupo emprega quase 6.000 pessoas, exporta para mais de 100 países e é uma marca conhecida no mundo inteiro. Nas suas diversas unidades produz mais de 17 mil itens. A década de 80 foi de um enorme crescimento para empresa, tanto no mercado interno como externo, onde em 1986 inaugurou uma subsidiária na cidade de Houston no Texas. Nos anos seguintes a  Tramontina tornou definitivamente um gigante em seu setor, ampliando ainda mais sua linha de produtos e ingressando em muitos mercados mundiais como a Alemanha (1993), Chile (2000), Dubai (2004) e Peru (2005).

Neste novo milênio a Tramontina também decidiu que tinha chegado a hora de ir além da cozinha. A ordem partiu de Clóvis Tramontina neto de Valentim e principal responsável pelas maiores mudanças da empresa nos últimos anos. A grande tacada do empresário foi aproveitar uma simples fábrica de cabos de madeira que revestem talheres para ingressar no mercado de móveis.

Exporta com marca própria para mais de 120 países. Atualmente o grupo é formado por 10 unidades industriais (sendo oito no Estado do Rio Grande do Sul, uma em Belém, no Estado do Pará, e outra em Recife, no Estado de Pernambuco) que produzem mensalmente quatro milhões de facas, 21.5 milhões de talheres para uso diário, quatro milhões de talheres finos e econômicos, 800 mil chaves de fenda, 260 mil martelos, 200 mil enxadas, 20 mil pias e 35 mil cubas, 300 mil cadeiras e mesas plásticas, 20 mil mesas e cadeiras de madeira, 66 mil prateleiras, 15 mil cortadores e aparadores de grama e 200 mil panelas de aço inox.

sábado, 30 de janeiro de 2010

História 47 – "Far l´America (15)": aspectos da colonização italiana no Rio Grande do Sul

Em 2005 um outro pesquisador brasileiro lançava novos olhares sobre a imigração italiana nas terras gaúchas. Trata-se de Mário Maestri, autor do livro "Os Senhores da Serra - A colonização italiana no Rio Grande do Sul (1875-1914)".

Mário Maestri estudou história no RS, na UFRGS, no Chile, como refugiado político, de 1971 a 1973, no Instituto Pedagogico da Universidade de Chile. Após o golpe de 11 de setembro de 1973, transferiu-se para a Bélgica, onde se graduou e pós-graduou em Ciências Históricas, no Centre de Histoire de l'Afrique da Université Catholique de Louvain, defendendo dissertação de mestrado sobre a África negra pré-colonial, e tese de doutoramento sobre a escravidão no Rio Grande do Sul. De volta ao Brasil lecionou, entre outras instituições, no programa de pós-graduação em História da UFRJ e da PUC-RS. É atualmente professor do programa de pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo, onde orienta trabalhos de pós-graduação em História, sobretudo sobre a história da escravidão colonial, da imigração colonial-camponesa, da economia pastoril e da arquitetura.


Pedro Paulo Funari, do Departamento de História da Unicamp comenta a obra no site  Espaço Acadêmico (na foto um casamento na colônia).

“Maestri explora os dois contextos que explicam o movimento migratório, no Brasil escravista e na Itália em mudança econômica e social, com a exploração dos camponeses. No Brasil, os imigrantes, à diferença da Itália, podiam ser senhores de si. A imigração foi ideada e implantada, a partir do êxito dos colonos germânicos, desde 1824, em um Estado escravista arcaico. A imigração, nos primeiros cinqüenta anos, deu-se por decisão imperial, com oposição dos escravistas nacionais e locais.

O projeto colonizador foi a única desconcentração efetiva da estrutura fundiária no Rio Grande do Sul. De 1875 a 1914, 80 mil imigrantes deixaram o Vêneto (54%), a Lombardia (33%) e outras áreas ao norte da península itálica, para instalar-se no Rio Grande do Sul. A travessia transatlântica deixara de ser incerta, ainda que as doenças infecciosas vitimassem muitos imigrantes no meio do caminho.

A grande maioria dos imigrantes era analfabeta, dominando apenas o dialeto local, com parcos conhecimentos, se tanto, do italiano. No ambiente colonial brasileiro, formaram-se koinés coloniais, organizando léxicos itálicos com a dominância de sintaxe portuguesa”.

“A viagem até a Serra Gaúcha era lenta e penosa, mas a abundância de carne chamava a atenção dos recém chegados. Ingressavam em um ambiente de infra-estrutura e recursos arcaicos, próprios do escravismo. Maestri mostra como as soluções arquitetônicas dos colonos diferenciavam-se das originárias na Itália, tanto no âmbito das casas, como das igrejas, e como o patriarcalismo predominava, com a submissão e super-exploração das mulheres e crianças. O patriarcado colonial predominava e marcava uma sociedade que favorecia o despotismo.

Ante a tecnologia escravista local, os italianos lembravam-se, com saudades da tecnologia medieval, muito mais moderna, de sua terra natal, a mostrar o caráter escravista e patriarcal da sociedade brasileira. Isso ficava claro na mortalidade infantil, aqui de 250 por mil, ante 150 por mil na pobre Itália de origem”.

“O livro de Maestri lança um olhar original sobre um tema de crescente interesse, ao mostrar que predominaram os conflitos e contradições, tanto no âmbito das classes sociais, como no interior desses segmentos, com destaque para as assimetrias nas relações de gênero. Ressalta como o contexto brasileiro, patriarcal e escravista, conformou uma sociabilidade própria, distante do verniz capitalista que, no Rio de Janeiro ou em Porto Alegre, poderia passar a falsa impressão de uma vida burguesa inexistente, em ambiente escravista e patriarcal. Maestri desmistifica as imagens que enfatizam a homogeneidade da sociedade colonial dos imigrantes, ao mostrar sua diversidade, de falares, de relações de gênero, de comportamentos quotidianos, na vida pública e privada, civil e religiosa”.

História 46 – "Far l´America (14)": o início da colonização italiana no Rio Grande do Sul




Além de Rovilio Costa, outros tantos acadêmicos, historiadores e pesquisadores brasileiros se preocuparam em estudar o fenômeno da imigração italiana no Rio Grande do Sul. É o caso de Maria Abel Machado (do Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul) e de Vania Beatriz Merlotti Herédia (Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul). Ambas assinam o texto A formação de núcleos urbanos na região de colonização italiana no Rio Grande do Sul . A seguir, trecho desse treabalho publicado também no site da Universidade de Barcelona.

“O Governo Imperial concedeu em 1848, como doação 36 léguas quadradas de terras para a colonização de emigrantes europeus que ocupariam a planície dos Vales do Rio Caí e do Rio dos Sinos. O Governo Provincial do Rio Grande do Sul pressupunha que essas terras estivessem preenchidas pelas colônias de Santa Cruz, Santo Ângelo, Nova Petrópolis e Monte Alverne e solicitava mais terras devolutas do planalto, cobertas de mata virgem, ou seja, dois territórios de quatro léguas em quadro, equivalentes a 32 léguas quadradas para continuar a obra de colonização. Essas terras situavam-se na região da Encosta Superior da Serra do Nordeste da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, localizada entre as bacias dos rios Caí, Antas e Taquari, com os limites geográficos em São João do Montenegro, São Sebastião do Caí, Taquara do Mundo Novo e São Francisco de Paula de Cima da Serra.

Essa concessão não era gratuita e o preço estabelecido da terra pelo Império equivalia a 1 real por braça quadrada medida. Devido ao custo elevado, a Província teve de devolver as terras e ao mesmo tempo romper contratos feitos. Isso representava que a Província não tinha condições de assumir os compromissos estabelecidos pela lei. O processo de colonização do Rio Grande do Sul visava a formação de colônias agrícolas, produtoras de gêneros necessários ao consumo interno implantadas longe da grande propriedade, para não criar problemas à hegemonia do latifúndio, como parte do projeto do Governo Imperial, de ocupar as regiões despovoadas do país na segunda metade do século XIX".

"Além de implantar novas colônias agrícolas, com mão-de-obra européia, tinha a pretensão de abrir estradas que permitissem a ligação do planalto com a Depressão Central, estimular a imigração, branquear a raça e formar um exército de defesa das fronteiras sulinas”. “Os núcleos de Conde D’Eu e de Dona Isabel foram as primeiras colônias provinciais a serem organizadas no ano de 1870, criadas pelo Ato de 24/05 daquele ano pelo presidente da Província João Sertório.

Essas colônias apresentaram uma série de dificuldades para serem povoadas. Em 1871, o fracasso dessa ocupação era visível, pois apenas 37 lotes haviam sido ocupados em Conde D’Eu e nenhum em Dona Isabel. Devido a essa situação, o Presidente da Província, Francisco Xavier Pinto, assinou um contrato em 29/04/1871, de acordo com a Lei n° 749, com a Companhia Caetano Pinto & Irmão e Holtzweissig & Cia.de introduzir “40.000 colonos industriosos, jornaleiros e principalmente agricultores, no prazo de dez anos”. Uma das condições desse contrato era a introdução anual de 2.000 colonos no mínimo e 6.000 no máximo, devendo a maioria desses serem agricultores. Essa Companhia receberia 60$000 por adulto e 25$000 por menores de dez anos, cabendo à Província hospedar e transportar os colonos até o local destinado. Em 1872, o número de colonos radicados nas colônias foi de 1.354; em 1873, 1.607; em 1874, 508 e, em 1875, foi de 315.

Esse contrato foi prejudicado pelo não cumprimento de suas principais cláusulas como também pela concorrência dos agentes do governo imperial, que pagavam por imigrante adulto 70$000, conforme contrato feito com a Mackai Son & Co. e Guilherme Hasfield, de Londres. O fracasso da iniciativa levou a Província a devolver o projeto ao Império, conforme aviso n° 56 de 27/10/1875, sendo que o débito do empreendimento da Província atingia, nesse período, 1/6 do seu orçamento, ou seja, 288:000$000.[13] Além de tudo, os novos colonos chegados às colônias recusavam radicar-se nelas por falta de condições apresentadas, no que incorria o não-cumprimento do estabelecido pelos agentes.

A intensificação da corrente imigratória italiana se deu à medida que o contrato com a Companhia Caetano Pinto & Irmãos e Holtzweissig & Cia. se rompeu, e o programa de colonização foi devolvido ao Império. O Governo Provincial, na vigência da lei 749, contratara os serviços de José Antônio Rodrigues Rasteiro para receber e destinar os colonos ao local prometido.À medida que aumentava o número de imigrantes, o Império suspendia os benefícios criados pela lei de 1867, conservando apenas a venda do lote a crédito e trabalho remunerado, ou seja, 15 dias por mês de trabalhos para a direção da Colônia na construção de estradas. Em 1884, a Província encaminha a emancipação dessas colônias, suspendendo ao mínimo suas responsabilidades. Acreditavam que o sucesso dessas colônias surgiria do trabalho humano e da expansão da agricultura”.

Oriundi: o legado de Rovilio Costa, o frei da italianidade (2)

A morte do frei Rovilio Costa em 13 de junho de 2009, ganhou amplo destaque na imprensa do Rio Grande do Sul e na internet (sites e glogs brasileiros e também italianos)
 
O tradicional jornal Zero Hora, de Porto Alegre, assim lembrava o ilustre relogioso.

“Caçula de sete irmãos, Rovílio contou a ZH que a opção pelo sacerdócio começou a germinar enquanto o ainda menino estava prostrado por uma meningite.

— Naquela época, diziam que quem tinha meningite e sobrevivia ficava meio tonto. Como se vê, eu fiquei completamente tonto — brincou o Frei das Letras.

Hospitalizado por quase três anos devido à doença, o garoto Rovílio começou a perceber o poder tranqüilizador que exercia sobre os doentes a chegada de um padre. A mãe trabalhava no hospital para ajudar a custear o tratamento do filho. Ativa na missão de acompanhar doentes e prestar assistência aos necessitados, levava vez por outra o garoto com ela.

Ingressou no seminário no dia 4 de fevereiro de 1946, aos 11 anos, meio às escondidas do pai, prático como a maioria dos imigrantes.

— Meu pai tinha a opinião de que só precisava sair de casa para trabalhar quem não tinha serviço em casa, e, numa família de agricultores, serviço em casa era o que não faltava. Ele também dizia que padre que usava batina mas não rezava missa não era padre de verdade.

Em 1969, tornou-se padre. Nessa mesma década, passou a pesquisar sobre a história da imigração.

Professor em Vila Ipê (na época distrito de Vacaria), Rovílio costumava frequentar uma bodega na qual era comum encontrar um grande número de velhos moradores da comunidade, jogando quatrilho e tomando cachaça ou vinho de garrafão. Os nonni contavam causos, falavam alto em dialeto, relembravam a história viva da colônia ali mesmo, na frente do sacerdote, que, preocupado em preservar toda aquela memória antes que os mais velhos morressem, começou a tomar notas obsessivamente e a organizar as narrativas que lhe eram contadas.

Escreveu uma série de histórias para o jornal Correio Rio-Grandense, de Caxias do Sul, material nunca publicado. Anos mais tarde, com base em suas notas, Frei Rovílio lançaria um dos livros clássicos sobre a colonização: Imigração Italiana: Vida, Costumes e Tradições.

— Documentos, registros, nomes e datas são o esqueleto da história. O que precisamos é preencher o máximo possível esse esqueleto com a carne do relato cotidiano — comentava o frade”.

Oriundi: o legado de Rovilio Costa, o frei da italianidade (1)

Nos estudos sobre a imigração italiana no Brasil, o nome do frei "cappuccino" Rovilio Costa (1934-2009) ganha particular destaque não só pelo conjunto da obra que o religioso nos legou, mas também pela forma apaixonada com que ele tratava o tema das raízes italianas no Rio Grande do Sul, estado onde nasceu (cidade de Veranópolis).

Descendente de pai cremonese e mãe nascida em Pádua, , frei Rovilio carregava no sangue e na alma uma italianidade que não cabia em si mesmo. O pulsar na veias desse sentimento o fez compartilhar,globalmente, histórias e segredos da grande imigração italiana nas serras gaúchas, reservando-nos um verdadeiro tesouro literário. Sendo assim, esse blog abre espaço especial para o Frei da Italianinade.

Rovilio Costa era licenciado em Filosofia e Pedagogia, Mestre em Educação e Livre Docente em Antropologia Cultural. Lecionou na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde fundou e dirigiu por 15 anos a revista Educação e Realidade; e na EST - Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, de Porto Alegre, da qual foi diretor. Como sacerdote, foi Vigário Paroquial em Ipê, Antônio Prado e em Porto Alegre - na paróquia Sagrada Família e da Igreja Maronita Nossa Senhora do Líbano.

Atuou na Penitenciária Estadual do Jacuí e no Presídio Central de Porto Alegre como coordenador de grupos, organizador de atividades sociais, religiosas e culturais. Colaborou com centenas de artigos para jornais de seu Estado: Correio Riograndense – de Caxias do Sul; Estafeta e Panorama Regional – de Veranópolis; e do Estado do Paraná: Jornal de Beltrão – de Francisco Beltrão, além das revistas Insieme – de Curitiba-PR, Teocomunicação – da PUC-RS, e Altreitalie – de Torino, Itália.

Responsável por boa parte do registro e do resgate da história da imigração no Rio Grande do Sul, fundou (1973) e dirigiu a EST Edições, pela qual foram se produziram 2.600 edições, com 2.400 títulos, envolvendo mais de três mil autores de textos e/ou livros versando sobre famílias, municípios, escravidão negra, e imigrações judaica, polonesa, italiana, alemã, açoriana e portuguesa, com destaque aos municípios originários de Santo Antônio da Patrulha

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Italiani - A chegada dos camilianos ao Brasil

O primeiro passo para a chegada da Ordem dos Camilianos no Brasil foi dado em Roma, na Itália, no fim de junho de 1922, quando os padres camilianos Inocente Radrizzani e Eugênio Dallagiacoma foram designados a cumprir a santa e nobre missão de fundar uma colônia dos filhos de São Camilo em Mariana, Minas Gerais, Brasil. “Se é vontade de Deus, estou às suas ordens” esta foi a resposta do Pe. Inocente que, juntamente com Pe. Eugênio iniciaram os preparativos para a partida, datada de 29 de agosto do mesmo ano.

Depois de atravessarem o Atlântico, desembarcaram em Niterói, no Rio de Janeiro, em 15 de setembro, considerado o primeiro ponto de apoio dos Camilianos no Brasil Como o destino final não era aquele, no mesmo dia partiram para Mariana e somaram mais três cansativos dias de viagem ao roteiro. Na chegada à cidade foram recebidos pelo bispo auxiliar, Vigário Capitular que os acolheu com fraternidade. Porém, cinco dias depois, Pe. Inocente embarcava, sozinho, de volta ao Rio de Janeiro, - deixando Pe. Dallagiacoma em Mariana, como medida de poupar dinheiro que era escasso -, para tratar da instalação da missão camiliana no Rio, já que o tempo vivenciado na cidade mineira foi o suficiente para compreender e ser convencido de que lá não era o lugar ideal para iniciar a fundação.

No Rio de Janeiro, muitos foram os desencontros e poucos os resultados. Com a ajuda do secretário do Arcebispo de São Paulo, Pe. Alfredo Mecca, Pe. Inocente continuou sua trajetória, dessa vez com destino a São Paulo para apresentar ao Arcebispo D. Duarte Leopoldo, que num primeiro encontro, ainda no Rio, foi pouco animador, um memorial sobre a Ordem e suas atividades. Em São Paulo, acolhido pelo Liceu Coração de Jesus, Pe. Inocente percebeu que aquela cidade era promissora e podia transformar-se num imenso campo de atividades camilianas, o que fez Pe. Dallagiacoma também deixar a pequena cidade de Mariana.

De hóspedes dos salesianos passaram para os capuchinhos, no convento da Imaculada Conceição, na Av. Brigadeiro Luís Antônio, onde permaneceram até 10 de fevereiro de 1923, época em que os frades cederam a capelania do Hospital Humberto I, da colônia italiana e que foi assumida pelo Pe. Eugênio Dallagiacoma, no dia 15 de novembro do mesmo ano, sendo considerada o início oficial das atividades camilianas no Brasil. Com as perspectivas positivas da implantação da ordem, os padres buscaram autonomia.

A primeira iniciativa foi alugar uma casa, onde Pe. Sílvio Silvestri, o terceiro a chegar ao Brasil, tornou-se hóspede. Foi nessa fase próspera que o Arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva cedeu um terreno de 8 mil m2 na região do Jaçanã, onde foi construída uma pequena igreja, transformada em Paróquia Hospitalar, no dia 25 de abril de 1930 e considerada a segunda comunidade camiliana de São Paulo. Com a seriedade e sucesso da atuação dos camilianos um novo terreno foi cedido pelo mesmo Arcebispo, D. Duarte. Dessa vez, eram 5mil m2 de terreno, na Vila Pompéia, com capela, pequenas dependências e uma escola primária. Surge, nesse momento, a casa-mãe da Província.

Mais tarde, nessa mesma Vila Pompéia, é inaugurado o primeiro centro camiliano de assistência médica aos doentes no Brasil, unindo de forma inseparável o ideal de S. Camilo: assistência espiritual e corporal. O pioneiro a dar assistência corporal foi o Ir. Antônio Guzzetti. Nascia, então, o modelo da fundação brasileira. Em 1935, o humilde ambulatório, deu espaço à Policlínica São Camilo, com edifício moderno e bem equipado, ampliando e melhorando a assistência à população. Em 1944, foi lançada a primeira pedra do Hospital São Camilo, um projeto grandioso, liderado, mais uma vez, pelo Pe. Inocente. A inauguração aconteceu 16 anos depois, em 23 de janeiro de 1960.

Nesse meio tempo muitas outras conquistas aconteceram como o seminário e o Hospital de Iomerê, a Igreja e o seminário de Jaçanã, a casa, o Ambulatório e o Santuário no Rio de Janeiro e parte do seminário, localizado na Granja Viana, região de Cotia, em São Paulo. Esses são alguns pontos marcantes da persistente trajetória dos camilianos desde quando partiram de Roma até chegarem e se instalarem no Brasil. Fatos regados de muito trabalho, sacrifício e ajuda mútua, porém, com um inconfundível sabor de vitória e de dever cumprido, onde quem ganha somos todos nós, devotos e seguidores do carisma de São Camilo de Lellis.

Hoje, as entidades camilianas atuam em todo território nacional e além de realizarem a vontade do Fundador em estar a serviço daqueles que, em seus desígnios e pensamentos, constituíram seu projeto de vida: os enfermos, também atuam em outras não menos importantes e necessitadas áreas como paroquial, formação de religiosos e atividades missionárias, comunitárias e educacional.

Italiani - Os camilianos e a construção do Hospital São Camilo

Uma missa realizada no dia 22 de janeiro deu início às comemorações dos 50 anos do Hospital e Maternidade São Camilo Pompeia, na zona Oeste da cidade de São Paulo. Cerca de 100 colaboradores assistiram à celebração dos padres José Maria (provincial da Sociedade Beneficente São Camilo), Antônio Mendes (superintendente da Rede São Camilo de São Paulo), José Carlos (capelão da Unidade Pompeia) e Genimar José Moretto (capelão do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – IBCC – entidade mantida pela Sociedade Beneficente São Camilo). A história da Unidade Pompeia do São Camilo começou com a chegada ao Brasil dos padres Inocente Radrizzani e Eugênio Dallagiacoma, da Província Camiliana da Itália, em 1922, que levaram o ideal de São Camilo de Léllis de “assistência espiritual e corporal”, nas localidades por onde passaram (como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).  

Origem

Com a seriedade do trabalho dos religiosos, o arcebispo D. Duarte cedeu um terreno de 5 mil metros quadrados na Vila Pompeia, com capela, pequenas dependências e uma escola primária. Mais tarde foi inaugurado o primeiro centro camiliano de assistência médica aos doentes no Brasil. Em 1935 o ambulatório deu origem a Policlínica São Camilo e em 1944 foi lançada a primeira pedra do hospital, projeto liderado pelo padre Inocente, inaugurado em 23 de janeiro de 1960.

A Unidade Pompeia é hoje um hospital com capacidade para atendimentos eletivos, emergenciais, transplantes, entre outras cirurgias de alta complexidade. Cerca de 20 mil consultas são realizadas por mês nas especialidades de clínica médica, cardiologia, neurologia, ortopedia, urologia, ginecologia e obstetrícia, pediatria, cirurgia geral, dentre outras. Referência no atendimento médico da região, o hospital oferece mais de 40 especialidades e uma moderna infraestrutura hospitalar. (Jornal da Gente - Maria Isabel Coelho)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

História 45 – "Far l´America (13)": canções da imigração 3

O site lembra uma outra comovente canção que fala sobre o naufrágio de um navio que trsnaportava imigrantes italianos. " "Em 4 de agosto de 1906, o navio italiano 'Sirio', em viagem de Gênova para o Brasil e Repúblicas do Prata, naufragou nas costas da Espanha, próximo das Ilhas Formiga junto ao Cabo Palos. Transportava 1700 passageiros, entre os quais 700 emigrantes italianos (sobretudo Venetos e Trentinos) que iam para o Brasil, Argentina e Uruguai. Deles, 300 morreram no ato e 200 ficaram desaparecidos. Os que conseguiram salvar-se, perdendo todos os seus míseros haveres, foram abrigados pelas populações de Cabo Palos, Cartagena e Alicante. Entre os passageiros morreram também Monsenhor José Camargo de Barros, Bispo de São Paulo, o Prior da Ordem dos Beneditinos de Londres, oito missionários diretos ao Brasil e o Cônsul da Áustria no Rio de Janeiro, Leopoldo Politzer. O comandante do 'Sirio' foi preso em Cartagena, culpado pelo sinistro, pois, para ganhar mais, embarcava emigrantes clandestinos nas costas da Espanha, aproximado-se demais dos arrecifes. De algum modo, todos nós somos filhos de uma epopéia e de uma tragédia que foi a imigração em massa iniciada por volta de 1875". E da Genova in Sirio partivano per l’America a varcare, varcare i confin. Ed a bordo cantar si sentivano, tutti allegri del suo, del suo destin. Urtò il Sirio un orribile scoglio. Di tanta gente la misera, la misera fin. Padri e madri bracciava i suoi figli che si sparivano tra le onde, tra le onde del mar. E fra loro un vescovo c’era, dando a tutti la sua benedizion. E fra loro (lerì) un vescovo c’era (lerà), dando a tutti (lerì) la sua benedizion!

História 44 – "Far l´America (12)": canções da imigração 2

O site lembra uma outra comovente canção que fala sobre o naufrágio de um navio que trsnaportava imigrantes italianos. " "Em 4 de agosto de 1906, o navio italiano 'Sirio', em viagem de Gênova para o Brasil e Repúblicas do Prata, naufragou nas costas da Espanha, próximo das Ilhas Formiga junto ao Cabo Palos. Transportava 1700 passageiros, entre os quais 700 emigrantes italianos (sobretudo Venetos e Trentinos) que iam para o Brasil, Argentina e Uruguai. Deles, 300 morreram no ato e 200 ficaram desaparecidos. Os que conseguiram salvar-se, perdendo todos os seus míseros haveres, foram abrigados pelas populações de Cabo Palos, Cartagena e Alicante. Entre os passageiros morreram também Monsenhor José Camargo de Barros, Bispo de São Paulo, o Prior da Ordem dos Beneditinos de Londres, oito missionários diretos ao Brasil e o Cônsul da Áustria no Rio de Janeiro, Leopoldo Politzer. O comandante do 'Sirio' foi preso em Cartagena, culpado pelo sinistro, pois, para ganhar mais, embarcava emigrantes clandestinos nas costas da Espanha, aproximado-se demais dos arrecifes. De algum modo, todos nós somos filhos de uma epopéia e de uma tragédia que foi a imigração em massa iniciada por volta de 1875". E da Genova in Sirio partivano per l’America a varcare, varcare i confin. Ed a bordo cantar si sentivano, tutti allegri del suo, del suo destin. Urtò il Sirio un orribile scoglio. Di tanta gente la misera, la misera fin. Padri e madri bracciava i suoi figli che si sparivano tra le onde, tra le onde del mar. E fra loro un vescovo c’era, dando a tutti la sua benedizion. E fra loro (lerì) un vescovo c’era (lerà), dando a tutti (lerì) la sua benedizion!

História 43 –"Far l´America (11)": canções da imigração 1




Deixar a terra natal rumo a um país distante. Tempo de sonhos, medos, alegrias, tristezas e depois saudades. Tempo de expressar esse sentimento em cânticos como estes:

 “America America
 si campa a meraviglia,
 andiamo nel Brasile
 cin tutta la famiglia.
 America America si sente a cantare,
 andiamo nel Brasile,
 Brasile a popolare”. (imigrantes vênetos)

“Iu mi nni vaju a' America, Rusina,
unni si vannu a buscanu li grana. Si mi vo' beni veni appressu a mia,
a' me fortuna vogghiu dari a ttia.
Si me vo' beni fatti a truscitedda,
salutati l'amici da vanedda.
Iu vasu a me matruzza criatura
e sugnu prontu pi' chist'avventura.
'A Matri Santa n'avissi a' aiutari,
ca a' America furtuna avemo a fari.
Io me ne vado in America, Rosina,
dove si va a guadagnare danaro.
Se mi vuoi bene vieni insieme a me
la mia fortuna voglio darla a te.
Se mi vuoi bene fai il fagotto,
saluta gli amici del vicolo.
Io bacio mia madre creatura
e sono pronto per quest'avventura.
La Madre Santa ci deve aiutare
perché in America dobbiamo fare fortuna”. (imigrantes sicilianos)

“Prendi quel sasso
butta quel pan
paga la macina,
porco villan.
Su bravi, o signorini,
buttate gli ombrellini,
gettate i vostri guanti
lavoratevi i campi,
noi andiamo in America!” (imigrantes mantovanos – 1877)


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Italianità - Memórias da família Rivetti

No resgate da Lapa de outrora, não faltam exemplos de imigrantes italianos que, fugindo da grave crise econômica do país de origem na segunda metade do século XIX, cruzaram o Atlântico dispostos a “Far l´America” .
Uma dessas história tem a ver com os Rivetti, tradicional família do bairro da Lapa, em São Paulo. Quem conta algumas passagens guardadas na memória e em documentos pessoais é Walter Rivetti, bisneto do imigrante Ângelo Rivetti, um napolitano nascido em 1851 e que desembarcou em São Paulo em 1871. “Meu bisavô chegou junto com os Martinelli, com quem foi trabalhar. Naquela época, a família Martinelli começava a mexer com vários negócios, entre eles a carne”, afirma Rivetti.
A primeira residência da família italiana em São Paulo foi um sítio na Romana (Scipião com Faustolo). Foi lá que Ângelo criou seus 13 filhos. O caçula, Giuseppe (avó de Walter) veio da pequena cidade de Mondragone ainda criança. Anos mais tarde, no começo do século passado, os Rivetti iniciavam uma próspera história no comércio paulistano. “O bisavô Ângelo montou um pequeno centro comercial na rua Tito. Em 1915 já administrava açougue, leiteria, armazém e padaria”, conta o bisneto do imigrante napolitano.
Os Rivetti também entraram para o ramo da construção civil e participaram de obras importantes, como o famoso prédio Martinelli, no centro de São Paulo, e também do Tendal da Lapa (hoje centro cultural e sede da Subprefeitura), na Rua Guaicurus, em 1938. “Foi um edifício projetado para servir de entreposto de carne. Lá chegavam os caminhões que descarregavam os produtos para fiscalização e distribuição”, lembra Walter. “Meu pai (Rinaldo) nasceu em 1918 e seguiu os passos do meu avô Giuseppe e do bisavô Ângelo”.
Lapeano atuante, Rinaldo (também conhecido como Renato) sempre lutou pela melhoria do bairro. Por essa dedicação às causas lapeanas, o Decreto Municipal nº 17.807, assinado pelo então prefeito de São Paulo, Reynaldo de Barros, determinava que o mercado Municipal da Lapa, recebesse o nome de Rinaldo Rivetti.

Cultura - Arquitetura/Sociologia, uma ponte entre Brasil e Itália


O jornalista Mario Ciccone, italiano da região Lazio, reside e trabalha em São Paulo, onde atua como editor executivo da revista Wish. Apaixonado pelas coisas da Itália e pelas temáticas da italianidade e do "Made in Italy", Ciccone entrevistou recentemente, em Roma, o sociólogo italiano Domenico De Masi, que contou sobre o projeto em parceria com  o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. A seguir um trecho da entevista publica na Wish.


- Vejo aqui em seu escritório o desenho do Museu de Arte Contemporânea, de Niterói, projeto de Oscar Niemeyer. Vocês são muito amigos, não?


É verdade. Nós nos conhecemos há tanto tempo que nem me lembro mais o ano. Hoje, essa amizade está mais do que consolidada com o projeto do Auditorium em Ravello.

- Fale desse projeto.


Posso dizer que este é o meu filho amado. Eu intermediei esse projeto com Niemeyer, que o dedicou a mim em 2000. A construção começou em 2006 e finalizamos em outubro último. A grande inauguração será em 30 de janeiro do ano que vem. Teremos a Orquestra Sinfônica de São Paulo e o Coral Santa Cecília, o mais importante da Itália. A abertura terá a Nona Sinfonia de Beethoven. Ravello, na Costa Amalfitana, é um dos lugares mais lindos do país. Vive da música. Tem um festival de música lá muito importante e que nunca para, não importa se chove ou faz calor. O Auditorium terá três blocos magistralmente projetados por Niemeyer. O primeiro terá bar, livraria e uma praça . No segundo, a sala de concertos para 600 pessoas. No terceiro, estacionamento, camarins e sala de imprensa. Tudo voltado para o mar. Este projeto teve investimento de 18,5 milhões de euros por parte da prefeitura local e gerenciado pela Fundação Ravello, da qual sou presidente. Trata-se, efetivamente, de uma ponte entre Itália e Brasil. 

- Essa ponte é uma constante na sua vida. 

A embaixada brasileira é bem perto daqui. Sem dúvida. A embaixada está a poucos passos. Da minha casa (um andar acima do escritório), pode-se ver a embaixada.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

História 42 – "Far l’ América ( 10 )": diáspora além do Mezzogiorno

Em “Emigrazione e Storia d´Italia", uma coletânea de textos de diversos autores coordenada por Matteo Sanfilippo, o capítulo “L´Emiggrazione Piemontese: um modello regionale?”, escrito por Paola Corti, traça um perfil da diáspora italiana a partir do século XIX no contexto da região Piemonte. Nota-se claramente que existem certas peculiaridades no grande êxodo piemontese que não aparecem na histogriografia da diáspora italiana do Mezzogiorno. Ao analisar a imigração na região alpina, Paola Corti lembra que os habitantes das áreas montanhosas não dependiam da agricultura pois exerciam atividades artesanais e comerciais ancorados na migração. "Não fugiam de um ambiente pobre e hostil pobreza, mas saiam em busca de recursos que surgiam num amplo horizonte territorial. Tratava-se de um modelo de resolver problemas e superar crises conhecido como "cultura da mobilidade".

História 41 – “Far l´America (9)": a raiz da diáspora no Mezzogiorno


Durante décadas a fio as pesquisas e estudos acadêmicos sobre a grande imigração colocaram o Mezzogiorno (sul da Itália) no centro do êxodo em massa. Creditou-se, basicamente, à chamada “Questione Meridionale” (Questão Meridional) o grande fluxo da saída em massa de italianos rumo ao exterior. Hoje a historiografia italiana já reescreve esse cenário dando destaque ao êxodo sob outros olhares, pontuando a diáspora no contexto também do Norte e Centro da Itália.(Obs: foto acima retrata camponeses em Siracusa - Sicilia em 1850)

Mas afinal, qual era o quadro que no Mezzogiorno favoreceu a diáspora naquela região? Um ótimo texto que faz compreender o complexo cenário do sul da Itália pré e pós Unificação Francesco Barbagallo autor do livro e está disponível na internet.

Para Barbagallo,  Unificação, longe de resolver a Questão Meridional, acabou por agravá-la. Barbagallo relata a dicotomia Norte-Sul, nos anos precedentes à Unificação, de maneira clara e objetiva: “A planície Padana (Norte) já era, há mais de dois século, caracterizada por um cenário agrícola plenamente capitalista: ou seja, pleno de miséria camponesa mas também rico em culturas intensivas, produção elevada e uso de tecnologia. (...) A sociedade meridional, no entanto, vivia numa fase intermediária feudalismo e capitalismo”.

O autor lembra que 90% da população meridional vivia miseravelmente e sofreria ainda mais com o fim dessa estrutura praticamente feudal. O contexto sócio-econômico meridional na visão de Barbagallo seria agravado pelo quadro de escolhas políticas nos primeiros anos de vida do reino da Itália, sempre centrada na questão da propriedade das terras e deixando de lado o lado social do campesinato.

A já difícil situação dessa população se agravaria ainda mais com a crise agrícola européia, um dos aspectos da grande depressão vivida entre 1873 e 1896. Barbagallo explica que os preços dos produtos na Itália em 1877 tiveram acentuada queda. “Esta foi para a Itália, a conseqüência retarda da então unificação do mercado mundial que se tornou possível graças à redução dos cutos com o transporte a partir do desenvolvimento das ferrovias e da navegação a vapor. Assim, os grãos que nos Estados Unidos passavam a ser cultivados com aporte mínimos de capitais e de mão de obra inundaram os mercados europeus, determinando a queda do preço dos cereais”.

Esses e ouros elementos detalhados por texto de Barbagallo mostram que, de fato, existia um clima favorável ao grande êxodo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Gastronomia – São Paulo, capital brasileira da pizza


A italianidade gastronômica na cidade de São Paulo, que neste 25 de janeiro completa 456 de fundação, tem na pizza o seu principal símbolo. São mais de 6 mil pizzarias, que tiram de seus fornos cerca de 43 milhões de redondas por mês, aproximadamente 700 por minuto, de acordo com o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo.

Segundo dados da Associação das Pizzarias Unidas (Apuesp), atualmente mais de 100 mil pessoas trabalham em atividades relacionadas diretamente ao prato e o setor movimenta cerca de R$ 4 milhões por ano. Mas não foram apenas as pizzarias. As padarias, até pouco tempo reduto de pãezinhos e cafés da manhã, chegam a assar quase 700 unidades em um final de semana.

Origens
 
A palavra pizza pode ser uma derivação da palavra em latim “picea”, uma palavra que os Romanos utilizavam para descrever o pão assado no forno. Nápoles foi a primeira cidade do mundo a produzir as pizzas como conhecemos hoje. Naquela cidade foi aberta em 1830 a primeira pizzaria do mundo, a Pizzaria Antica Port´Alba que está funcionando no mesmo endereço até hoje, à Via Port´Alba, 18.

Nessa época, tanto a primeira pizzaria do mundo quanto as outras que se seguiram eram muito parecidas, possuíam um forno de tijolo, balcão de mármore para trabalhar a massa, prateleira para acomodar os ingredientes do recheio. Como se pode notar, além de alguns novos ingredientes pouco mudou na fabricação da redonda desde o século XVIII.

Em 1889, Rafaele Esposito trabalhava na Pizzaria di Pietro e Basta Cosi (hoje Pizzaria Brandi) quando o Rei Umberto e a rainha Margherita estiveram em Nápoles. Espósito queria agradar com umas cores mais patrióticas e utilizou molho de tomate vermelho, queijo do mussarela branco e folhas verdes de manjericão. A Rainha Margherita adorou a pizza, que levou o seu nome.

A mais famosa das pizzas, justamente a Margherita, é a mais apreciada na dieta Mediterrânea. A receita é simples: farinha de trigo, azeite de oliva, tomate e mussarela. Estes ingredientes podem aumentar ou variar de acordo com a pizza, mas são sinônimo de saúde, se apreciados com moderação.

Italianidade – Assis Ângelo e a valorização do bairro do Bixiga


Procurava algum tema ou personagem para abrir as postagens deste 25 de janeiro, dia em que a cosmopolita São Paulo, que carrega consigo uma envolvente alma italiana, comemora 456 anos. Pensei em falar sobre Armando Puglisi, o Armandinho do Bixiga, oriundo que marcou época na cidade.

Uma das referências a esse neto de italianos me levou ao Blog do Assis Ângelo, um paraibano de 57 anos, há décadas radicado em São Paulo, assim como tantos e tantos conterrâneos nordestinos, que impregnaram a alma paulistana com suor, trabalho, cultura erudita e sabedoria popular.

Conheci Assis na década de 80. Naquela época eu trabalhava no jornal “Il Corriere”, periódico da comunidade italiana. Assis, chefe de reportagem na editoria de política do jornal O Estado de S.Paulo, dedicava seu tempo livre numa interessante pesquisa: a troca de correspondências entre os maestros e compositores de ópera Giuseppe Verdi e Carlos Gomes.

Procurei no blog do Assis referências a esse trabalho, mas não encontrei. Porém dei de cara com um texto que se cobre perferitamente o objetivo desta postagem: falar de São Paulo, exaltando a sua italianidade. De quebra, na figura de Assis Ângelo, fica aqui o reconhecimento do trabalho de todos os migrantes brasileiros que ajudaram a construir essa grande cidade.  Eis o que ele diz  a respeito de Armandinho e de outros símbolos da italianidade do Bixiga . Grazie, Assis.


"Acabo de ler Memórias de Armandinho do Bixiga, ditadas ao jornalista Júlio Moreno. O livro, excepcional e esgotado, saiu pela editora SENAC de São Paulo em 1996, dois anos após o desaparecimento de Armando Puglisi, o Armandinho, que conheci de perto pouco antes de nascer o Museu do Bixiga, com “i”, por ele mesmo criado. A cada virada de página, nomes de amigos e lembranças iam surgindo.

Uns ainda por cá, como o querido José Sebastião Witter. Outros já no chamado andar de cima, como Roberto Fioravanti, Antônio Rago, Francisco Petrônio, Geraldo Filme, Adoniran Barbosa. O professor Witter, da USP, experiente e sério na prática de revirar a história à procura de verdades, eu conheci nos anos de 1980. À época, eu trabalhava como repórter para o grupo Folha, do Frias pai; hoje, do Frias filho. Ao lado de Witter, um cidadão incrível como Armandinho, eu tomei prazerosamente muitos dedos de cana, ao tempo em que ele comandava o Arquivo Público do Estado, ali na Rua Marquês der Paranaguá, próximo à 4ª DP. Eu costumava ir ao arquivo em busca de informações para meus artigos e reportagens.

Ler o livro é o mesmo que ouvir Armandinho em conversa com amigos. Fala fácil, alegre, fluente. Nesse ritmo, as informações vão surgindo da memória privilegiada do bom Armando que, como Adoniran, não aceitava que chamassem o Bixiga de Bela Vista. “Na verdade, eu faço uma distinção”, ele diz à pág. 117: “O Bixiga é o centro da Bela Vista, embora o Bixiga não exista oficialmente”. Uma máxima que repetia sempre: “O Bixiga é um estado de espírito”. E exemplificava: “Você sente quando está no Bixiga, você cheira a Bixiga”. Duas páginas adiante, ele nos dá o mapeamento que fez da região: “Sempre a divisão do Bixiga foi (avenida) 9 de Julho, (avenida) Brigadeiro e uma linha imaginária, a (rua) Ribeirão Preto. É um triângulo. Do lado de lá da Brigadeiro sempre foi (avenida) Liberdade. Até o Paramount (antes teatro, hoje cinema) é Liberdade. Mas quando construíram a (avenida) 23 de Maio, o pessoal da Liberdade começou a achar que a divisa da Liberdade era a 23.

Nós continuamos com a onda e aquele pedaço ficou órfão. É onde estão os Arcos do Bixiga, a Vila Itororó, um dos monumentos fantásticos. É onde você cheira a Bixiga. Fizemos um movimento e adotamos aquela parte. Agora o Bixiga pega também a (rua) Asdrúbal do Nascimento, a 23, tudo do lado de cá, sobe a (rua) Pedroso e pega a Brigadeiro, Ribeirão Preto e 9 de Julho...”. Depois de falar da morte de Pato n´Água, que virou tema de música de Geraldo Filme (Silêncio no Bixiga), Armandinho conta que foi ele quem sugeriu ao prefeito Faria Lima que homenageasse o violinista e compositor Alberto Marino, autor da valsa Rapaziada do Brás, com seu nome num viaduto. Sugestão aceita. O viaduto é o que passa sobre a extinta porteira do Brás, também tema de várias músicas, uma delas cantada por Nélson Gonçalves. Acho que todos os bairros de São Paulo deveriam ter sua história contada da forma como Armandinho contou o Bixiga". ( Blog do Assis Ângelo -12/08/09). ....................

domingo, 24 de janeiro de 2010

História 40 - "Far l'America ( 8)": Alguns números sobre a imigração italiana "oltre oceano"


Estudos sobre o fenômeno da imigração italiana são a razão de ser do site Altre Italie, iniciativa da Edizioni della Fondazione Giovanni Agnelli.Gianfausto Rosoli do "Centro Studi Emigrazione Roma" é autor do artigo " Un quadro globale della diaspora italiana nelle Americhe". Em sua explanação, Rosli lembra que:  

"(...)L'emigrazione italiana nell'economia atlantica Il XIX secolo è il periodo classico della migrazione atlantica di lavoratori. Nonostante la persistenza di migrazioni stagionali dei contadini in ogni paese europeo, all'interno e all'esterno dei sistemi regionali, l'emigrazione locale e regionale divenne sempre di più internazionale. Mentre si manteneva l'emigrazione verso l'Est, europeo e asiatico, si accelerò il movimento verso Ovest e il Nord America.

Più di 50 milioni di europei lasciarono il continente tra il 1800 e la prima guerra mondiale. La gran parte si riversò nel Nord America, in parte in cerca di terre da coltivare (emigrazione stanziale), la maggioranza in cerca di lavoro salariato (labor migration), permanente o temporaneo (i sojourners). In quel periodo 11 milioni andarono in America Latina (il 38 per cento del totale era costituito dall'emigrazione italiana, il 28 per cento dalla Spagna, l'11 per cento dal Portogallo, il 3 per cento da Francia e Germania).

Oltre ai gruppi, anche le destinazioni erano ora diverse, se paragonate ai secoli precedenti, in particolare in America Latina (degli 11 milioni di europei che andarono in America Latina il 46 per cento si recò in Argentina, il 33 per cento in Brasile, il 14 per cento a Cuba, il 4 per cento in Uruguay, il 3 per cento in Messico, la grande meta per secoli, il 2 per cento in Cile) (Mörner, 1985).


Gli italiani erano in testa al movimento migratorio in America Latina. L'Italia, assieme ad altri paesi esportatori (Irlanda, Spagna, Polonia, paesi slavi), era divenuta la periferia che forniva il grosso dell'emigrazione europea (Gould, 1979-80). In generale, l'emigrazione di lavoro era principalmente rappresentata da piccoli proprietari terrieri, che emigravano verso i centri industriali per pochi anni, progettando di tornare e di investire i propri risparmi nell'acquisto di terra.

L'entrata nell'industria era temporanea, si trattava di una proletarizzazione volontaria allo scopo di evitarne una permanente. Artigiani specializzati e lavoratori, la cui esistenza era minacciata dalla meccanizzazione, si spostarono in aree in cui si aveva ancora richiesta di specializzazione per evitare di scendere nella classe dei lavoratori senza qualifica. Infine la grande emigrazione di lavoratori non specializzati, sia da aree rurali che urbane, conferì nuove imponenti dimensioni al fenomeno. I flussi migratori italiani costituiscono un buon esempio per analizzare l'impatto dei mercati mondiali e i rapporti di potere verso le popolazioni locali.

L'agricoltura italiana era minacciata dall'importazione di cereali e da mezzi di trasporto più rapidi e a minor costo. Gli altri paesi mediterranei erano in competizione con il commercio italiano per l'olio, e prodotti tipici similari. Il surplus di popolazione agricola - circa 18 milioni dal 1870 al 1930 - cercò 8 luglio-dicembre 1992 i lavoro nelle aree atlantiche dell'Europa occidentale che si stavano industrializzando, nel Nord America e nelle zone agricole dell'America Latina, in particolare in Argentina e in Brasile. Secondo il censimento del 1871 sugli italiani all'estero, 450.000 persone si trovavano già in diversi paesi stranieri. In un decennio (censimento del 1881) il numero raddoppiò (1.032.000 unità); di questi il 56 per cento era nelle Americhe".

História 39 - "Far l'America ( 7)": Por uma nova historiografia da diáspora italiana


O fenômeno da imigração italiana no Brasil a partir da década de 70 do século XIX é explicado não apenas pela necessidade de nova força de trabalho na agricultura brasileira, mas também pelas condições sócios- econômicas do então Reino da Itália. O debate historiográfico sobre a imigração italiana rumo a países europeus, EUA e América do Sul, entre outros destinos, rendeu e ainda rende inúmeros estudos e controversas.

Há quem defenda como, Donna Rae Gabaccia (Universidade da Carolina do Norte) que a historiografia italiana passe a reconsiderar certos aspectos desse fenômeno. Para Donna Gabaccia historiadores e pesquisadores italianos têm pela frente o desafio de nacionalizar uma historiografia internacional sobre “os italianos no mundo” e, assim, torná-la parte da Itália.

Segundo ela, é preciso superar olhares equivocados como aquela que tendem a enxergar a grande diáspora como uma questão meridional (êxodo no Mezzogiorno após a Unificação da Itália). Também, segundo Donna é preciso levar em conta a importância do fluxo de italianos que reentram no país depois de passarem um período de suas vidas “all´estero, incluindo aqui a imigração no período fascista e nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial.”.


História 38 – "Far l’America (6)": E arrivano le famiglie...."

No Brasil de Dom Pedro II, o gabinete conservador presidido pelo visconde do Rio Branco proporia em 27 de maio de 1871 um projeto que, timidamente, sinalizava com mudanças no sistema escravocrata no Brasil. A proposta era simples: declarar livres todos os filhos nascidos de mulher escrava a partir da promulgação de lei específica. Em setembro daquele mesmo ano o Câmara e Senado aprovariam ao Lei do Ventre Livre.

Logo após a promulgação da Lei, ganharia impulso a imigração subvencionada que nada mais era que a “facilitação ou concessão de auxílio em dinheiro para a compra de passagens de imigrantes e para sua instalação inicial no país. Aprovada em 1871, logo após a Lei do Ventre Livre, foi, inicialmente, uma iniciativa de fazendeiros".

"No decorrer do tempo, entretanto, a participação destes foi sendo transferida cada vez mais para os governos, provinciais e imperial, até 1889, e posteriormente estaduais e federal (fonte IBGE). A imigração subvencionada se estendeu de 1870 a 1930 e visava a estimular a vinda de imigrantes: as passagens eram financiadas, bem como alojamento e o trabalho inicial no campo ou na lavoura.

"Os imigrantes se comprometiam com contratos que estabeleciam não só o local para onde se dirigiriam, como igualmente as condições de trabalho a que se submeteriam. Como a imigração subvencionada estimulava a vinda de famílias, e não de indivíduos isolados, nesse período chegavam famílias numerosas, de cerca de uma dúzia de pessoas, e integradas por homens, mulheres e crianças de mais de uma geração".

“Os italianos, como todos os demais imigrantes, deixaram seu país basicamente por motivos econômicos e sócio-culturais. A emigração, que era muito praticada na Europa, aliviava os países de pressões sócio-econômicas, além de alimentá-los com um fluxo de renda vindo do exterior, em nada desprezível, pois era comum que imigrantes enviassem economias para os parentes que haviam ficado".

"No caso específico da Itália, depois de um longo período de mais de 20 anos de lutas para a unificação do país, sua população, particularmente a rural e mais pobre, tinha dificuldade de sobreviver seja nas pequenas propriedades que possuía ou onde simplesmente trabalhava, seja nas cidades, para onde se deslocava em busca de trabalho. Nessas condições, portanto, a emigração era não só estimulada pelo governo, como era, também, uma solução de sobrevivência para as famílias. Assim, é possível entender a saída de cerca de 7 milhões de italianos no período compreendido entre 1860 e 1920”. (Fonte:IBGE)

Gastronomia – O pão italiano nosso de cada dia (2)


O site do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo traz um breve relato do nascimento das quarteto mágico das padarias italianas do bairro do Bixiga

"A história de todo pão de fermentação natural começa com um "pé". É assim que se chama o fermento natural, ou levain, como se diz em francês. O fermento é vivo, quer dizer, precisa ser alimentado, cultivado, e, dessa forma, sobrevive e vai sendo transmitido de pão em pão, fornada em fornada, por dias, meses, décadas, séculos a fio. Em São Paulo, existem três fermentos centenários, todos eles cultivados por imigrantes italianos. Os Franciullis, das padarias Italianinha e 14 de Julho, cultivam seu fermento há 115 anos. Os Albaneses, da São Domingos, alimentam o deles há 96 anos. E os Laurentis, da Basilicata, fazem seus pães a partir do mesmo fermento há 95 anos.

Mas, afinal, que fermento é esse? Muito simples. Mistura-se farinha e água e espera-se alguns dias. Microrganismos - fungos e bactérias - vão fazer com que essa massa comece a fermentar. Esse processo não controlado produz gás carbônico e ácidos (lácteos e acéticos). Quando essa massa primordial é misturada à massa do pão, que é feita de farinha, água e sal, faz com que ela cresça e ganhe uma agradável acidez. Por muitos anos, o fermento das padarias descansava em caixas. Mas atualmente a legislação baniu a madeira das cozinhas por razões sanitárias.


Ninguém sabe dizer ao certo como nasceu o pé de fermento da família Franciulli. "É coisa dos antigos", diz Vivian Franciulli, uma das guardiãs do fermento. Seu bisavô, um padeiro italiano chamado Antonio, desembarcou no Bexiga no século 19. Em setembro de 1896, abriu a padaria Lucânia, hoje chamada Italianinha. Antes de a loja ficar pronta, o tal pezinho já existia, pois, a grosso modo, não há pão sem fermento.

Alguns meses mais tarde, a família abriu outra porta, também no Bexiga. A nova padaria foi inaugurada no dia 14 de julho de 1897, na rua 14 de julho - e seu nome não poderia ter sido outro: 14 de Julho. Alexandre Franciulli reivindica o título de padaria mais antiga da cidade para a 14 de julho. Não é, mas isso é compensado porque os pães das duas casas nasceram do mesmo pé, que, este sim, é o mais antigo da cidade.

Como o Bexiga era a terra prometida dos italianos na capital, outras famílias foram chegando e trazendo seus pés de fermento para a cidade. Quantos pés vieram não se sabe, mas dois deles sobreviveram até os dias de hoje - o da São Domingos e o da Basilicata. Em 1913, um casarão foi erguido na Rua São Domingos para abrigar a família de Domenico Albanese. Anos mais tarde, os Albaneses se mudam, mas a padaria continuou ali. O pé idem. Há quatro gerações, 96 anos, ele vem sendo refrescado duas vezes por dia, originando cerca de 20 mil pães por mês, vendidos em quase todo o País. Se o pé dos Albaneses falasse... Ele foi testemunha ocular da história. Sobreviveu ao saque histórico da padaria, em 1932; serviu ao samba paulistano (alimentando Adoniran Barbosa); acompanhou a "diáspora" do Bexiga, promovida pelo corte do bairro na construção da Av. Radial Leste; e, recentemente, quase foi assassinado por uma briga de amor, quando um casal que morava no vão do Viaduto do Café (vizinho de muro) ateou fogo no próprio barraco depois de uma discussão.

Em 1914, Filippo Ponzio abriu a Basilicata. Ele já havia formado seu pé, que hoje é mantido pelo sobrinho-bisneto Vittorio Lorenti. De fala mansa, baixa e rouca, à la Marlon Brando, Vittorio, que nasceu, de fato, dentro da paradia ensina que o pé não é somente pé. O fermento natural tem um ciclo próprio, que o preserva de fornada em fornada. Parte dele é usada na massa do pão e a outra descansa por quatro ou cinco horas, quando recebe comida - água e farinha - e vira a "planta"; outro descanso, e ele volta a ser "pé", ou fermento natural. O ciclo se repete várias vezes por dia - na Basilicata, são seis vezes, todos os dias, há 95 anos. Como todo o processo é artesanal e o fermento é sensível a muita coisa - tipo de farinha, água, golpes de vento, temperatura e umidade -, o padeiro chefe Vittorio está sempre por perto, corrigindo as proporções e os tempos. "De vez em quando temos de fazer manobras para reativá-lo, mas dá tempo, o fermento avisa. Na década de 70 houve uma sabotagem e quase perdemos o pé, mas em três semanas recuperamos nossa tradição", sussurra Vittorio.(Fonte: Estadão)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Gastronomia – O pão italiano nosso de cada dia (1)


Em São Paulo, um “tour” gastronômico pelo bairro do Bixiga (cuja origem está ligada à imigração italiana na cidade) nos remete ao irresistível sabor das padarias fundadas por imigrantes: Italianinha, São Domingos, Basilicata e 14 de Julho.

Cada uma delas é guardiã de uma italianidade que ajudou a transformar uma cidade provinciana em metrópole cosmopolita. O pão caseiro - à base de farinha de sêmola e batizado de “pão italiano” - que acaba de sair do forno é a marca registrada das padarias do bairro, onde também é possível encontrar outros produtos característicos da cozinha italiana: “aceto balsâmico di Modena” "ólio extravergine", "grana padano", "pastiera di grano", "panforte di Siena", entre outras delícias.

Na próxima postagem contaremos um pouco da história dessas padarias com sabor e alma italianos. 


História 37 - "Far l'America (5)": A decisão da elite rural no Congresso Agrícola de 1878





Um relato bem detalhado da Lei da Terra de 1850 e o contexto da substituição de mão-de-obra escrava pela força do trabalho do imigrante pode ser conferido na  dissertação de mestrado de André Luciano Simão.O trabalho avança em detalhes sobre a decisão de parte da elite rural brasileira apoiar a vinda de imigrantes europeus e asiáticos para substituir o regime escravocrata pelo do livre trabalho remunerado.

Em artigo publicado na Internet sob o título Agricultura e Mercado de Trabalho: Trabalhadores Brasileiros Livres nas Fazendas de Café e na Construção de Ferrovias em São Paulo, 1850-1890, a professora da Universidade de São Paulo) Maria Lúcia LaMounier (Departamento de Economia, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto -FEA-RP/USP) analisa o emprego de trabalhadores brasileiros livres em diversas atividades nas fazendas de café e na construção de ferrovias em São Paulo na segunda metade do século XI. Vale aqui destacar trecho do trabalho que faz referência à decisão da elite cafeeira em adotar a mão-de-obra européia, dada a inviabilidade de se manter o sistema escravocrata.


“Durante o Congresso Agrícola, realizado no Rio de Janeiro em 1878, os fazendeiros de café debateram várias propostas sobre o modo de encaminhar o problema da mão-de-obra. As sugestões abrangiam o uso de imigrantes europeus e asiáticos, a criação de milícias rurais e a coerção de brasileiros por meio de contratos draconianos reforçados por legislações repressivas. A proposta de uma ‘Comissão nomeada pelos lavradores de São Paulo’ favorecia claramente a promoção da imigração de europeus. A proposta aceitava também o engajamento de asiáticos como um meio de transição. Na opinião da Comissão, os trabalhadores brasileiros eram “indolentes” e resistentes ao “trabalho regular”. (Congresso Agrícola, 1878, p. 75-77). Mas durante os debates, vários outros fazendeiros paulistas sugeriram e defenderam mecanismos que incentivassem os nacionais a fornecer trabalho mais regular e estável”.

História 36 - "Far l'America (4)": avanços e recuos no sistema de implantação de colônias


Como docente da Universidade da Caxias do Sul, Luiza Horn Iotti é autora do artigoA Política Imigratória Brasileira e a sua Legislação – 1822-1914O texto passa em revista as medidas adotadas pelos governos brasileiros nesse amplo período, marcado por avanços e recuos.

A professora mostra que se com Dom Pedro I há a tentativa inicial do estabelecimento de colônias oficias com a fixação de imigrantes não lusos (em particular os alemães), o período regencial (1831-1840) marca uma inflexão no incentivo à imigração “. Os latinfudiários contrários a essa política viram com bons olhos a posição da Regência que “pôs fim à política imigratória subvencionada pelos cofres públicos, baseada na implantação de núcleos coloniais, foi abandonada, assim como as colônias fundadas durante o Primeiro Reinado”.

A questão da imigração ganharia novo fôlego a partir de 1848. Naquele ano o governo imperial publicava um decreto concedendo terras devolutas aos governos das Províncias, incentivando a criação de colônias provinciais, atraindo o interesse da iniciativa privada. Em 1850 o fim do tráfico de escravos (Lei Eusébio de Queiroz) e a promulgação da Lei da Terra mexeriam substancialmente com questão da imigração. "Regulamentada em 1854 através do Decreto n.º. 1318 de 30 de janeiro, a Lei de Terras também definiu a significação de terras devolutas, aboliu a gratuidade de lotes aos colonos, estabelecendo como único título de posse a compra”.

Começava,então, um novo ciclo no tocante à criação e desenvolvimentos de núcleos coloniais, abrindo, assim, o Brasil aos imigrantes europeus.

Italiani - Padre Sorio: religião, maçonaria e sangue

Na história da colonização italiana no rio Grande do Sul, no final do século XIX, não faltam episódios do envolvimento de padres italianos com as comunidades locais. A relação dos religiosos com o seus fiéis nem sempre foi amistoso.


É o caso do padre Antonio Sorio que em 1899 morerria de forma trágica quando voltava de uma capela, a cavalo. Sua história no Brasil tem relatos breves como o de frei Rovilio Costa (um dos maiores pesquisadores e editores de livros sobre a imigração no Rio Grande do Sul, falecido em 2009, aos 74 anos) e uma literatura mais aprofundada como livro O Crime Do Padre Sorio: Maçonaria E Igreja Católica escrito por Luiz Eugenio Vescio.

“Frei Rovilio faz as seguintes observações sobre o padre Sorio.

“O Pe. Vittorio Arnoffi, ex-franciscano, nomeado capelão de Silveira Martins em 3.11.1881, teve morte provocada violentamente, em 25.4.1884, segundo uns por trama da maçonaria (Rubert, 1977), segundo outros, em represália a seu procedimento. Com a morte do Pe. Vittorio Arnoffi, foi nomeado primeiro pároco de Silveira Martins o Pe. Antônio Sorio que em 31.12.1899 teve morte trágica, quando voltava de uma capela, a cavalo. Também esta morte é enigmática, estando em jogo a maçonaria (Rubert, 1977, p. 68) e acusações desabonadoras ao padre”.

“A interrogação sobre as acusações se deve sobretudo ao fato de o Pe. Antônio Sorio ter sido nomeado pároco de Silveira Martins com jurisdição sobre Vale Vêneto, que perdia, assim, a residência do sacerdote. Interpretação nesta linha se confirma pelas correspondências de 10.11.1884, de José Júlio de Albuquerque Barros, do palácio do Governo em Porto Alegre, recomendando ao chefe de polícia providências com relação ao fechamento da igreja de Vale Vêneto por moradores; carta de 5.9.1884, assinada pelos fabriqueiros e moradores de Vale Vêneto, declarando inicialmente: ‘I sottoscritti appartenenti a questa cappella dichiarano di non voler fare alcuno pagamento obbligatorio a qualsiasi sacerdote qualora non abbia la sua stabile dimora in questa località’.

Pela carta do Pe. Antônio Sorio, de 15.9.1884, ao bispo da diocese, bem se percebe que interesses escusos estavam presentes nas hostilidades à sua ação pastoral, como afirma, a certa altura: ‘Ontem, depois de celebrar a missa na matriz desta freguesia, dirigi-me para aquele referido lugar, Vale Vêneto, a fim de ali dizer missa hoje. Ali chegando, encontrei a capela cheia de gente e o negociante Paolo Bortoluzzi (o mesmo que motivara o abaixo-assinado dos colonos, na carta anterior) junto ao altar fazendo uma prédica. Exortando ele ao povo para que de nenhum modo me reconhecessem como vigário daquele lugar, não devendo ninguém, em caso nenhum, reclamar os meus serviços, pois só por esse modo se poderia obter um padre para residir aqui’ "

" Estranho zelo do Sr. Bortoluzzi, fechar a igreja e impedir a ação do padre! Não será que com a ausência do padre residente, sem a missa diária, não estaria em jogo o desfalque do comércio pela não aglomeração de fiéis? (Cartas que se encontram no Arquivo da Cúria, em Porto Alegre). Percorrendo a documentação existente no Arquivo da Cúria Metropolitana de Porto Alegre, não se encontra uma insinuação sequer contra os procedimentos morais dos padres Vittorio Arnoffi e Antônio Sorio, que segundo alguns teriam provocado suas mortes. Seguramente, a reação contra o comportamento moral dos mesmos seria maior do que a provocada pela mudança de residência deste último. Acusar-se-á, então, a maçonaria? Por que não considerar a reação de comerciantes que queriam sacerdotes e igreja a serviço de seus interesses?