segunda-feira, 1 de março de 2010

Italianità: Comunidade organizada em Colombo, Estado do Paraná

O sentimento italiano fala forte em Colombo (Paraná), onde descendentes dos pioneiro imigrantes se organizam na  Associação Italiana Padre Alberto Casavecchia. Trata-se de uma “instituição sem fins lucrativos, que tem como missão mobilizar pessoas por meio de projetos culturais, a fim de resgatar, preservar, valorizar e difundir a cultura dos imigrantes italianos e seus descendentes em Colombo e região, para que as tradições herdadas desses antepassados se perpetuem pelas novas gerações”.

"São mais de cem voluntários que desenvolvem os projetos de canto, dança, aulas de italiano, pesquisas de língua vêneta, acervo de fotos, filmagens com descendentes de imigrantes, estudos de genealogia, jantares e semanas culturais"

"A Associação Italiana Padre Alberto Casavecchia tem sua origem ligada às iniciativas de um grupo de pessoas da comunidade colombense que, em 25 de setembro de 2000, reuniu-se para administrar a reforma da escadaria da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, conforme a idealizada pelo Padre Alberto Casavecchia. Inicialmente, foi constituída como Associação de Preservação do Patrimônio Histórico de Colombo. A adesão de várias pessoas motivou os membros da Associação a criar outra entidade com o objetivo de resgatar a cultura italiana no município".

"Assim nasceu a Fundação Padre Alberto Casavecchia, instituição sem fins lucrativos que levava em seu nome a figura do idealizador das duas primeiras escadarias da Igreja: o Padre Alberto - José Casavecchia, religioso passionista de origem italiana, muito querido e respeitado pelos colombenses. Aprovada pelo Ministério Público em 25 de setembro de 2003, a Fundação já possuía, a princípio, vários projetos: a 'Cena tra Amici' (Jantar entre Amigos), o grupo de dança Venuti dall’Italia, o Acervo Iconográfico, os estudos de genealogia e da história da imigração, o ensino da língua italiana e o projeto 'Colombo Memória'. Posteriormente, foram criados: em 2005, o grupo de canto Luce dell'Anima; em 2006, a 'Settimana Italiana di Colombo' (Semana Italiana de Colombo); e, em 2007, o grupo de estudos do dialeto Veneto.

Também nesse ano, foi apresentada a nova identidade visual da instituição e foram estabelecidas as parcerias com o Centro de Cultura Italiana Paraná Santa Catarina (CCI) e a Universidade Tuiuti do Paraná, propondo a realização das aulas de italiano e a formação do Centro de Estudos de Imigração do Paraná, respectivamente. Cabe ressaltar que, no ano de 2006, a Fundação teve a autorização para utilizar o espaço da antiga Sociedade Colombo, na Rua XV de Novembro, no centro da cidade, por meio de um termo de comodato. Esse local, então, passou a ser a sede social da instituição.

No entanto, a determinação de resgatar e promover a cultura italiana com mais vigor fez com que os membros discutissem um novo caminho para a Fundação. A decisão foi congregar as duas iniciativas (Associação e Fundação) em uma única pessoa jurídica e dar maior abertura à participação dos colombenses. Então, com esse intuito, no dia 24 de novembro de 2007, foi apresentada à comunidade a Associação Italiana Padre Alberto Casavecchia, instituição que traz consigo um contexto de tradição e respeito às raízes culturais dos antepassados que, em 1878, chegaram a essas terras e nelas construíram a nossa história.

GRUPOS FOLCLÓRICOS 

Gruppo Luce dell’Anima:  Formado em março de 2005,  tem como principal objetivo resgatar e preservar a cultura italiana por meio das canções folclóricas e músicas contemporâneas. Atualmente, possui cerca de 20 integrantes.





Gruppo Venuti dall’Italia:  Nasceu em 2001 e tem por finalidade divulgar a dança folclórica como um dos elementos da cultura e das tradições italianas. O grupo possui mais de 50 integrantes, divididos nas categorias infantil, juvenil e adulta.

História (86 ) - "Far l'America (52 )": Veneti na construção de Colombo, Paraná

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No Estado do Paraná, a cidade de Colombo tem marcas italianas nas suas origens (Foto: Fábrica de Massas em 1906 - Fonte Associação Italiana Padre Alberto Casavecchia). Em novembro de 1877 um grupo de imigrantes italianos, chefiados pelo Padre Angelo Cavalli, vindos do Norte da Itália, região do Veneto, de cidades como Nove, Maróstica, Bassano del Grapa, Valstagna, etc, chega ao Paraná. Primeiramente, esses imigrantes se estabeleceram em Morretes na Colônia Nova Italia e mais tarde, abandonaram as terras e subiram a Serra do Mar, em direção a Curitiba.

Em setembro de 1878, esse grupo, composto por 162 italianos: 48 homens, 42 mulheres, 42 meninos e 30 meninas, recebeu do Governo Provincial terras demarcadas em 80 lotes, 40 urbanos e 40 rurais, localizados a 23 Km de Curitiba, sendo denominada de Colônia “Alfredo Chaves”.

Este nome se deu em homenagem ao então Inspetor Geral de Terras e Colonização, Dr. Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves. Em 1880 o imigrante italiano Francesco Busato, em conjunto com os demais colonos, construiu o primeiro moinho de cereais com roda d’água, represando o rio Tumiri. O mesmo teve a iniciativa de instalar a primeira fábrica de louças artísticas no país. Ainda no fim do século XIX, as terras que originariam o município de Colombo receberam novos contingentes de imigrantes.

No ano de 1886 foi criada a Colônia Antonio Prado, com imigrantes italianos e polacos, também no mesmo ano, criou-se a Colônia Presidente Faria somente com imigrantes italianos; um ano depois anexo a Colônia Presidente Faria, surgiu a Colônia Maria José (atualmente município de Quatro Barras); e finalmente em 1888 surgiu a Colônia Eufrazio Correia (atualmente Bairro do Capivari), sendo as duas últimas colônias somente de imigrantes italianos. Porém, a Colônia que mais se destacou foi a Colônia Alfredo Chaves que assumiu o papel de sede do futuro município.

A mudança oficial do nome Colônia Alfredo Chaves para Colombo, deve-se a uma medida do Governo Provisório Republicano, pelo Decreto n.º 11 de 8 de janeiro de 1890. Este nome foi dado em homenagem ao descobridor das Américas – Cristóvão Colombo. Em 5 de fevereiro de 1890 foi instalado o Município, sendo o seu primeiro Presidente de Intendência o Sr. Francisco de Camargo Pinto e em 1891 assumiu João Gualberto Bittencourt.




Uma época que se destaca pelo grande progresso de Colombo é a década de 1920, quando houve um surto industrial de grande importância. Nessa década Colombo já contava com duas fábricas de louças, uma delas considerada a melhor do país.

Na mesma época funcionava também uma grande fábrica de vidros. A partir de 14 de julho de 1932, através do Decreto Estadual n.º 1703, Colombo passa a se chamar Capivari, tendo o seu território anexado a Bocaiúva do Sul. Em 9 de agosto de 1933, por força do Decreto Estadual n.º 1831, volta a se chamar Colombo. Em 20 de outubro de 1938, os colombenses receberam uma triste notícia, através do Decreto Estadual n.º 7573 que extinguiu o Município, anexando-o à capital Curitiba. Somente em 30 de dezembro de 1943, pelo Decreto Estadual n.º 199, foi restaurado o poder político e administrativo de Colombo. Hoje a maioria da população mora em áreas loteadas, contínuas a Curitiba em bairros como Alto Maracanã, Guaraituba e Jardim Osasco, porém preserva uma grande característica agrícola herdada dos imigrantes italianos que aqui chegaram no final do século XIX. (Fonte: Prefeitura Municipal de Colombo)

Relação das famílias italianas de Colombo 

Alberti, Andreatta, Antonelli, Antoniacomi, Arsie, Baldan, Battiston, Benvenutti, Berlese, Bernardi, Berro, Berton, Bobbato, Bonato, Bontorin, Borato, Brotto, Busato, Capellari, Caron, Cavalli, Cavassin, Ceccon, Cechetti, Chemin, Collere, Comin, Comis, Coradin, Corletto, Corradazzi, Costa, Dal Prà, Dalla Gaza, Dalla Vecchia, Dallazuana, Del Santa, Fabris, Fantinato, Ferrarini, Fiorese, Fracaro, Frazon, Furlan, Gasparin, Giacometti, Gioppa, Giuliani, Guarise, Gueno,Lazzarini, Lazzarotto, Marangoni, Maschio, Migliolaro, Milani, Mocelin, Mottin, Nodari, Ongaro, Pavoni, Perissuti, Polli, Pontarolo, Rasoto, Riva, Ruzenente, Santi, Scandolari, Schena, Scremin, Scuccato, Sforza, Simioni, Speranzeta, Strapasson, Taverna, Tonin, Toniolo, Tosin, Trevisan, Turcato, Vaneli, Vidolin, Visentin, Zaniolo e Zanon

Italiani – Sangue marchigiano no Modernismo brasileiro: o legado do escultor Galileo Emendabili(1)




Uma das esculturas mais emblemáticas da grande galeria a céu aberto espelhada por ruas, praças e avenidas de São Paulo tem a marca de um italianos nascido em Ancona (1898) e falecido em São paulo (1974).Estamos falando do Mausoléu do Soldado Constitucionalista (região do Parque Ibirapuera (São paulo) obra de , de Galileo Ugo Emendabili, que entrou para história da cultura brasileira apenas como Galielo Emendabile.

Seu pai, Ludovico, era proprietário de um serraria, onde Emendabili aprendeu e apaixonou-se pela arte do entalhe em madeira. Em sua cidade natal, trabalhou no ateliê do surdo-mudo Clementi, um exímio ebanista. Em 1915 matriculou-se no curso especial de escultura da Academia Real de Belas Artes de Urbino (Italia). Foi aluno do escultor Domenico Jollo e estudou desenho com Ludovico Spagnolini. Freqüentou o ateliê do escultor Arturo Dazzi e entrou em contato com a obra dos escultores Ivan Mestrovic, Adolf Wildt e Arturo Martini, entre outros.

Em 1921, executou o monumento tumular do republicano Giuseppe Meloni. Autor de diversas obras, algumas com motivos republicanos, Emendabili tornou-se célebre, mas começou a enfrentar dificuldades em concursos públicos de arte, visto que a Itália era uma monarquia à época. Querendo continuar a exercer livremente seu trabalho, Emendabili decidiu então deixar a Itália. Já casado com sua patrícia Malvina Manfrini, partiu dia 16 de junho de 1923 com um bilhete de terceira classe, de Gênova, num navio cujo destino final era Buenos Aires. Emendabili desembarcou em Santos no dia 3 de julho, estabelecendo-se na cidade de São Paulo, onde trabalha como entalhador no Liceu de Artes e Ofícios. Contando com o auxílio da numerosíssima coletividade italiana - tornou-se rapidamente num dos artistas mais conhecidos, tendo vencido diversos concursos.

Em 1925, ganha o primeiro prêmio no Concurso Internacional para o Monumento a Pereira Barreto, inaugurado em 1928, na Praça Marechal Deodoro. No ano seguinte, vence o concurso para o Monumento a Ramos de Azevedo, inaugurado em 1934, e que atualmente encontra-se na Cidade Universitária. Nesse mesmo ano, ganha o primeiro e o segundo prêmio no concurso para o Monumento aos Heróis Constitucionalistas de 1932.

A partir de 1933, trabalha com a colaboração de Fulvio Pennacchi, que elabora desenhos para alguns de seus projetos. Diversas de suas obras podem ser apreciadas em mausoléus dos Cemitérios da Consolação e do Araçá ou na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Inicia, a partir de 1969, trabalhos em desenho e pintura. Em 1982 a Rádio Televisão Italiana realiza o vídeo "Ancona - San Paolo solo andata" (Ancona " São Paulo somente ida). Em 1997 a Pinacoteca do Estado de São Paulo organiza a exposição Monumento a Ramos de Azevedo: do concurso ao exílio, na qual é publicado um livro organizado pela historiadora e crítica de arte Annateresa Fabris.

História (85)- Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (2)

Em sua tese de doutorado (Pensiero e Dinamite Anarquismo e Repressão em São Paulo nos anos 1890 )  junto ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Claudia Feierabend Baeta aborda a presença, atividades e repressão dos militantes anarquistas residentes ou atuantes em São Paulo nos anos 1890, contextualizando, inclusive, o cenário da chegada dos atividas italianos no final do século XIX.

“Já nos primeiros anos da década de 1890, havia comentários de que era uma estratégia geral dos países europeus, 'onde só se [falava] de greves ou de manifestações de operários e desempregados, com as ameaças de dinamite e o espantalho do 1º de Maio’ conceder passaportes àqueles cuja presença não era desejada e que mostravam interesse em deixar o país".

"Havia, no entanto, suspeitas de que, mais do que facilitar o embarque dos anarquistas, o governo italiano incentivava sua partida: já em 1893, chegaram às autoridades brasileiras denúncias de que aquele governo fazia embarcar, ‘com destino ao Brasil, agregados às famílias no caráter de primos, a indivíduos a quem quer expulsar da Itália por serem anarquistas e socialistas conhecidos.’ ".

"O cônsul italiano, conde Edoardo Compans de Brichanteau, em correspondência com o Ministero degli Affari Esteri em 1894, chegou mesmo a sugerir que os indivíduos que compunham ‘o primeiro núcleo de anarquistas (...) no Brasil’ eram italianos e, aparentemente, haviam sido enviados 'pelo próprio Governo Régio após os dolorosos fatos do 1º de Maio em Roma' "

"As autoridades brasileiras procuravam tomar tais sugestões com cuidado, relativizando a responsabilidade do governo italiano na migração de tais indivíduos, mas as denúncias persistiam. Entre os indivíduos suspeitos de anarquistas, eram os italianos especialmente temidos no Brasil, tanto por suas idéias anarquistas e práticas subversivas, personificadas nas figuras dos magnicidas – todos italianos – que atentaram contra os chefes de Estado e realeza na Europa, como pela grande afluência de imigrantes dessa nacionalidade que por aqui aportavam".

"Não é por acaso que a Itália vai aparecer como procedência mais recorrente de anarquistas que se instalaram em São Paulo nos primeiros anos da década de 1890, nem que aos comissários responsáveis pela migração para o Brasil fosse cobrada grande vigilância em relação àqueles que deixavam os portos italianos. Daí as preocupações quando chegavam às autoridades brasileiras”. Daí as preocupações quando chegavam às autoridades brasileiras notícias como a seguinte:

"'Partida – Por volta das 17 horas de ontem o vapor Matteo Bruso, da [companhia de navegação] Velloce partiu para o Rio de Janeiro e Santos com 1150 emigrantes dos quais (....) 737 para Santos diretamente para São Paulo. Entre estes últimos, havia o anarquista Fumelli Monti Nivardo, de Lucca, que, com sua mulher e filhos, conduz-se ao Brasil onde será introduzido no estado de São Paulo. Ele segue espontaneamente, talvez para escapar de possíveis perseguições, e o próprio governo facilitou-lhe o embarque. Isso não impediu que durante a sua breve parada de dois ou três dias em Gênova ele fosse continuamente escoltado por dois vigias, que não o deixaram por um só momento, nem de dia, nem à noite, acompanhando-o em todos os lugares, mesmo a bordo, (...) nunca o perdendo de vista, até que o Matteo Bruso levantasse âncora' .”

"O recorte da notícia publicada pelo periódico de Gênova acompanhou o ofício do Cônsul Geral do Brasil na Itália ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores. A intenção do cônsul era alertar as autoridades brasileiras para que pudessem tomar as medidas cabíveis na chegada do 'anarquista italiano' ".