quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Italianità: O jeito de ser italiano na literatura de Alcântara Machado (3)


Brás Bexiga e Barra Funda,  obra de Antonio de Alcântara Machado, deve ser lido, levando-se em conta alerta do próprio autor. ‘Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo’..

“O processo narrativo em Brás, Bexiga e Barra Funda está apoiado no diálogo, ou seja, no discurso direto, em que a fala das personagens é revelada ao leitor com o máximo de naturalidade, afastando a presença do narrador e aproximando-a dos personagens na busca de melhor caracterizá-los e também ao seu contexto, expondo a carga emotiva e os valores que permeiam as suas ações. Brás, Bexiga e Barra Funda busca, através da linguagem, marcar os registros de fala coloquial e mestiça que predominavam no início do século, principalmente nos bairros que dão nome à obra, além de romper com as formas expressivas e as estruturas já cristalizadas pelo uso generalizado.

Há uma fusão de gêneros literário, jornalístico e publicitário, que causa estranhamento ao leitor quando se depara, por exemplo, com um anúncio em letras maiúsculas, sem nenhum texto introdutório em “Amor e sangue”: Há uma crítica não-velada à discriminação social e de grupos estrangeiros que perpassa toda a obra, como se pode observar em ‘Lisetta’, no orgulho da mãe da menina rica e na provocação desta à italianinha pobre; no apontar para a falta de ética que vai se delineando no percurso da narrativa de “Nacionalidade e  ‘Armazém’; no mapeamento da busca do status econômico a qualquer preço quando a esposa do Conselheiro José Bonifácio, que não permitia o casamento de sua filha com o filho do carcamano, já não vê mais obstáculos após vislumbrar grande futuro em uma sociedade comercial entre o marido e o Cav.Uff.Salvatore Melli; na denúncia explícita em relação aos que têm poder em “O Monstro de Rodas”, com a afirmação: “Filho de rico manda nesta terra que nem a Light”, e no olhar poético para a infância interrompida de Gaetaninho, cujo sonho era andar de carro e morre atropelado por um bonde quando na partida e bola “o jogo na calçada parecia de vida e morte”. (Fonte: CPV EDUCACIONAL)