domingo, 21 de março de 2010

Italiani: O legado da arquiteta Lina Bo Bardi

 A arquitetura brasileira ainda hoje reverencia a obra e o talento da romana Lina Bo Bardi, expresso em importantes construções como Museu de Arte de São Paulo (MASP) e o Sesc Pompeia (também na capital paulista). Uma breve biografia da arquiteta está disponível no site Instituto Bardi .
 
"Achillina Bo nasce em Roma a 5 de dezembro de 1914. Forma-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma e, já tendo iniciado sua vida profissional, muda-se para Milão, onde começa a trabalhar no escritório do arquiteto Giò Ponti, diretor da Triennale di Milano e da Revista "Domus". Durante a II Guerra Mundial, já em seu escritório próprio, a escassez de trabalho leva Lina a atuar como ilustradora e colaboradora de jornais e revistas como "Stile", "Tempo", "Grazia", "Vetrina" e "l'Illustrazione Italiana", além de editar a coleção "Quaderni di Domus". No dia 13 de agosto de 1943 um grande bombardeio é lançado sobre Milão e destrói o escritório de Lina.

Ela então entra para o Partido Comunista clandestino e o apartamento de sua família torna-se um ponto de encontro de artistas e intelectuais italianos. Com o fim da guerra, Lina viaja pela Itália para fazer uma reportagem sobre as áreas atingidas pelo conflito. Em Roma, funda a revista semanal "A - Cultura della Vita", com Bruno Zevi, e participa do Congresso Nacional pela Reconstrução. Em 1946, Lina casa-se com Pietro Maria Bardi, cujo sobrenome adota. Em seguida, o casal viaja para o Brasil. Em recepções, no Rio de Janeiro, conhecem personalidades como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Rocha Miranda, Burle Marx e Assis Chateaubriand de quem Pietro recebe o convite para fundar e dirigir um museu de arte no país.

Um projeto arquitetônico de Lina abrigará meses mais tarde o MASP, o museu mais importante da América Latina. A arquiteta naturaliza-se brasileira em 1951, oficializando a paixão pelo país que a acolhera anos antes. A esse respeito, declara: "Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha 'Pátria de Escolha', e eu me sinto cidadã de todas as cidades". Também em 1951 foi concluída a construção da Casa de Vidro.

Erguida em um terreno de 7000 metros quadrados, foi a primeira residência do bairro do Morumbi e, aos poucos, foi sendo cercada por mata brasileira. Hoje é uma reserva tombada com espécies vegetais raras, uma amostra do que foi a antiga mata atlântica brasileira. Até a década de 90, Lina manteve intensa atividade em todas as áreas da cultura, tendo participado de inúmeros projetos em teatro, arquitetura, cinema e artes plásticas no Brasil e no exterior. Além de seu trabalho como arquiteta, merece destaque sua talentosa atuação como designer de móveis, objetos e jóias, artista plástica, cenógrafa, curadora e organizadora de diversas exposições e seu olhar sempre sensível à arte popular brasileira. Lina morre na Casa de Vidro em dia 20 de março de 1992, realizando o sonho declarado muitas vezes de trabalhar até o fim: deixa em andamento os majestosos projetos para a Nova Sede da Prefeitura de São Paulo e para o Centro de Convivência Vera Cruz".

História (124 ) - Fascismo e Legislação Trabalhista no Brasil (2)

Ao comparar a influência do regime fascista de Benito Mussolini nas leis trabalhistas brasileiras surgidas no governo brasileiro de Getúlio Vargas, o advogado Cássio Mesquista Barros lembra que:

"Embora a Declaração III da Carta del Lavoro garantisse a liberdade de organização sindical ou profissional, essa liberdade se restringia à liberdade de cada trabalhador de não se filiar a um sindicato único reconhecido. Na verdade, até essa possibilidade de não-filiação era quase que fictícia, na medida em que a colocação de mão-de-obra dependia tanto da inscrição no partido fascista quanto no sindicato único reconhecido.

A Carta Constitucional de 1937, nos moldes da Carta del Lavoro, também garantia a liberdade de associação: 'Art. 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: ............................................................ 9. a liberdade de associação, desde que os seus fins não sejam contrários à lei penal e aos bons costumes; 10. todos têm direito de reunir-se pacificamente e sem armas. As reuniões a céu aberto podem ser submetidas à formalidade de declaração, podendo ser interditas em caso de perigo imediato para a segurança pública.' No entanto, a Carta de 1937 também dispunha: "'Art. 16. Compete privativamente à União o poder de legislar sobre as seguintes matérias: ................................................ XX. (...) direito de associação, de reunião (...)”

A Declaração III da Carta del Lavoro está, praticamente, quase que transcrita no art. 138 da Carta de 1937: 'Art. 138. A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para a qual foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de poder público.' " '

História (123 ) - Fascismo e Legislação Trabalhista no Brasil (1)

O regime fascista implantado na Itália por Benito Mussolini repercutiria no Brasil sobretudo no tocante ao Direito Trabalhista institucionalizado durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas, seja no próprio texto da Constituição de 1937 ou mesmo nos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No site Mesquita Barros Advogados, o advogado Cassio Barros faz comparações entre as a Carta Del Lavoro com artigos da Constituição de 37 e da CLT.

“A Declaração II (O valor do trabalho e da produção) da Carta del Lavoro tem o seguinte teor: ‘O trabalho, sob todas as suas formas de organização ou de execução, intelectuais, técnicas ou manuais, é um dever social. A esse título, e somente a esse título, é tutelado pelo Estado. O conjunto da produção é unitário do ponto de vista nacional; seus objetivos são unitários e consistem no bem-estar dos indivíduos e no desenvolvimento da potência nacional. Esse dispositivo foi praticamente transcrito no art. 136 da Carta Constitucional de 1937, elevando o trabalho à condição de dever jurídico: ‘O trabalho é um dever social. O trabalho intelectual, técnico e manual tem direito à proteção e solicitude especiais do Estado. A todos é garantido o direito de subsistir mediante o seu trabalho honesto e este, como meio de subsistência do indivíduo, constitui um bem que é dever do Estado proteger, assegurando-lhe condições favoráveis e meios de defesa.’ ”.

“No tocante à vida sindical, a Carta del Lavoro consagrava na Declaração III: ‘A organização sindical ou profissional é livre. Mas só o sindicato legalmente reconhecido submetido ao controle do Estado tem o direito de representar legalmente toda a categoria de empregadores ou de trabalhadores para a qual é constituído; de defender os interesses dessa categoria perante o Estado e as outras associações profissionais; de celebrar contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os integrantes da categoria, impor-lhes contribuições e exercer, relativamente a eles, funções delegadas de interesse público.’
A Carta Constitucional de 1937, nos moldes da Carta del Lavoro, também garantia a liberdade de associação: ‘Art. 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: ............................................................ 9. a liberdade de associação, desde que os seus fins não sejam contrários à lei penal e aos bons costumes; 10. todos têm direito de reunir-se pacificamente e sem armas. As reuniões a céu aberto podem ser submetidas à formalidade de declaração, podendo ser interditas em caso de perigo imediato para a segurança pública’ ".

Italiani – A grande aventura de Pietro Maria Bardi no mundo das Artes (2)

O site Instituto Bardi resume como Pietro Maria Bradi e o empresário Assis Chateaubriand decidiram levar adiante um projeto que resultou na criação do Museu de Arte de São Paulo - MASP.

"A história do surgimento do museu de arte mais importante da América Latina poderia ser o roteiro de um filme cujos temas fossem idealismo e sucesso. Tudo começou quando Assis Chateaubriand, advogado, jornalista e empresário dono de uma rede de jornais, revistas e rádio, conheceu Pietro Maria Bardi, um marchand italiano recém chegado ao Rio de Janeiro. Corria ainda o ano de 1946. Bardi organizara uma mostra de pintura italiana que recebia a visita de Chateaubriand. Foram apresentados e, na mesma noite, o empresário, então conhecido como "rei da comunicação", comentou o desejo de criar um museu de arte no Brasil. Pouco tempo depois, num jantar oferecido por Chateubriand, este fez a Bardi o convite para que dirigisse o empreendimento. Tinha início uma parceria com pouquíssimas divergências. Uma das únicas foi a respeito do nome do museu: Museu de Arte Antiga e Moderna para Chateaubriand, e Museu de Arte para Bardi. Argumentando que "arte é uma só", o marchand vence a discussão.

Está criado o MASP. Decide-se que o museu será em São Paulo - cidade que vivia na época a prosperidade trazida pela cafeicultura. O prédio que abrigaria a sede dos Diários Associados, principal jornal de Chateaubriand, está em construção e surge a idéia de ocupar um de seus andares com o museu. Numa visita à obra, Chateaubriand apresenta Bardi ao seu pessoal: "Aqui, neste espaço, será inaugurado um museu.

Este é o professor Bardi, seu diretor". Bardi carregará para o resto de seus dias o título ganho nessa tarde. Inaugura-se, a 2 de outubro de 1947, o Museu de Arte de São Paulo - MASP. Lina Bo Bardi é, desde o primeiro momento, responsável pelo projeto arquitetônico do museu que, a princípio, ocupa a área de 1000 metros quadrados no segundo andar do edifício dos Diários Associados, na 7 de Abril, centro de São Paulo. O acervo contava ainda com poucas peças e havia duas exposições temporárias: uma Série Bíblica de Cândido Portinari e outra com telas do pintor italiano Ernesto De Fiori. A proposta era realizar exposições periódicas, promover os aspectos didáticos da arte com cursos e conferências e também abrir escolas sobre assuntos pouco difundidos. Bardi queria criar um "museu vivo" e encontrou no Brasil o cenário perfeito para seu objetivo:

"Eu venho da Europa. Lá, os museus são instalados em edifícios históricos e quando são construídos novos, a tarefa é confiada a ruminadores de velhos estilos arquitetônicos, com a intenção sádica de fazer nascer morto um edifício que deve conservar coisas mortas. Assim, na minha opinião, os americanos serão verdadeiramente os primeiros a compreender a função educativa dos novos museus. O Museu de Arte de São Paulo também será um deles. Parece-me que no Brasil nos damos conta de que as idéias audazes não são utopias, enquanto, ao contrário, as utopias não são nunca audazes". Um exemplo de que Bardi conseguiu cumprir seu ousado projeto foi o sucesso de todas as escolas que integraram o MASP: a de gravura, pintura, desenho industrial, escultura, ecologia, fotografia, cinema, jardinagem, teatro, dança e até moda.

Para formar a histórica pinacoteca, Bardi, já naturalizado brasileiro, voltou a uma Europa arrasada no pós-guerra para garimpar obras, respaldado pelo prestígio financeiro de Chateaubriand e pelo seu próprio e apuradíssimo faro de expert em arte. De 1947 a 1953, comprou preciosidades a preços baixíssimos, como todos os 73 bronzes de uma série do escultor francês Degas, arrematados por US$ 45 mil - hoje, apenas uma das peças, a Bailarina, vale US$ 400 mil -, além das telas O Escolar, de Van Gogh, e O Conde-Duque de Olivares, de Velázquez, adquiridas por US$ 40 mil cada uma e atualmente avaliadas em US$ 30 milhões. Dentre as cerca de 4 mil obras que compõem o acervo, estão também telas de Renoir, Rafael, Goya, Gauguin, Ticiano, Picasso, Modigliani, Lucas Cranach e Cézanne, entre outros".