domingo, 3 de janeiro de 2010

História 10 - Presença italiana no Brasil Colonial II

No Brasil colonial, vale destacar a importância do clero italiano, sobretudo nas missões evangelizadoras promovidas pela influente Companhia de Jesus. A partir de 1570 jesuítas italianos embrenharam-se nas matas virgens e ajudaram a formar os primeiros núcleos urbanos, empenhando-se na defesa dos índios, que eram aprisionados e feitos escravos por colonizadores portugueses. 

Exemplos dessa ação missionária não faltam. Adriano Formoso, Giuseppe Cataldino, Policarpo Duro, Giuseppe Brazanelli, entre outros tantos padres, trabalharam nas Missões no Rio Grande do Sul. A postura anti-escravocarta dos religiosos que atuavam no Brasil, fez com que o padre Giorgio Benci concluísse, em 1700 , o livro “Economia Critsã dos Senhores no Governo dos Escravos", considerado um clássico da economia.
No Nordeste, os padres italiano, que ali se estabeleceram, acabaram por exercer ofícios diversos. Giambattista Giacopuzzi, por exemplo, atuaria como médico; Giuseppe Salimbene, como carpinteiro; Giuseppe Oliva dedicou-se à agricultura. A ação missionária continuaria forte no século XVIII, onde aparecem os nomes de vários outros padres italianos, como é o caso do jesuíta Giovani Antonio Andreoni, que em publicaria, em 1711 , “ Cultura e Opulência no Brasil”. A obra chegou a ser aprendida e queimada por ordem do governo de Portgual, pois revelava detalhes sobre a exploração das minas de ouros e prata. Uma reedição do livro ocorreria em 1837, dedicada ao jesuíta José de Anchieta, o “Apóstolo do Brasil”, beatificado no pontificado de João Paulo II.

História 9 - Presença italiana no Brasil colonial I


A presença italiana no Brasil, nos século XVII é marcada pela ação militar , sobretudo no período das invasões holandesas. Quando estes ocuparam a Bahia, em 1624, o Brasil estava sob o controle da Coroa Espanhola, que havia submetido os portugueses em 1580, após uma invasão ordenada pelo rei Felipe II. A primeira reação espanhola contra os holandeses contou com o apoio logístico e prático dos italianos de vice-reino de Napoli, de onde partiriam quatro navios e homens, que se juntariam à tropas oficiais.

Nas lutas que levaram à retomada da Bahia um nome começava a impor-se: o nobre príncipe napolitano Giovan Vincenzo Sanfelice (conde de Bagnoli). Mais tarde, na invasão holandesa em Pernambuco, ele receberia do rei espanhol o comando das tropas terrestres, que lutariam em Olinda e Recife, ao lado dos homens de Matias de Albuquerque, famoso por resistir usando a tática das guerrilhas. Em 1637, já com a presença do príncipe de Orange, Maurício de Nassau, em terras brasileiras, os holandeses reorganizariam suas forças para a reconquista da Bahia. Lá encontrariam, mais uma vez, resistência das tropas de Sanfelice, sendo derrotados. A definitiva expulsão dos holandeses só ocorreria em 1681, quando o Brasil já se encontrava, novamente, sob domínio de Portugal.

História 8 - Os irmãos Adorno e os primeiros anos da colonização do Brasil


A partir de 1530, Portugal mudaria sua política em relação às terras no Novo Mundo,passando a incentivar expedições colonizadoras,destinadas a fixar o homem português de modo a estabelecer a plena soberania da Coroa. A primeira expedição neste sentido foi comandada por Martim Afonso de Sousa. Dela, ao lado de militares, religiosos, cientistas e comerciantes, faziam parte três italianos: os irmãos genoveses Guiseppe, Francesco e Paolo Adorno.
No livro Italianos no Brasil,  Franco Cenni, conta que os Adorno desembarcaram no Brasil a serviço da família Marchioni, interessada não apenas na construção de naus, mas também na possibilidade de desfrutar vantagens comerciais na exploração de produtos nativos.
Francesco, de fato, participaria da construção do engenho Madre de Deus, regressando para a Europa apenas em 1572. Paolo, depois de envolver-se nas lutas contra os índios hostis em São Vicente, partiria em 1534 para a Bahia. Lá conheceria o governador geral, Mem de Sá, com o qual passaria a colaborar. Por fim, segundo Cenni, Giuseppe ajudaria os portugueses na fundação de Santos, explorando, posteriormente, a cultura canavieira. Seu sucesso como empreendedor, levou-o a estender seus negócios para outras áreas, como Santo André da Borda do Campo, próximo à então aldeia de São Paulo de Piratininga, e até mesmo o Rio de Janeiro, onde teve importante participação na luta contra os huguenotes (protestantes) franceses, que expulsos do seu país, planejaram, em 1555, a fundação de uma colônia na baía da Guanabara.
Comandados pelo Almirante Villegaignon, os invasores apoderaram-se de vastos domínios de terra, iniciando a catequese calvinista dos índios tamoios e tupinambás. Adorno colaborou com os portugueses, armando boa parte das tropas que acabariam expulsando os franceses. Existe na internet um blog dos Adorno no Brasil (http://whertadorno.blogspot.com) onde é possível ler relatos das aventuras dos três irmãos no século XVI.

Italianità - A festa da família Avi em Santa Catarina


Uma bom exemplo que dá respaldo à pesquisa da professora Adiles Savoldi (ver postagem anterior) é a confraternização da  familia Avi , residente no município de Laurentino (Santa Catarina). Os Avi preparam para este ano seu sexto encontro familiar. No blog da família  existe o relato dos acontecimentos da festa de 2007. "O 5º encontro da familia Avi ocorreu nos dias 13 e 14 de outubro desta ano, com a presença de aproximadamente 650 descendentes. A Familia Avi tem descendentes em varias cidades de Santa Catarina, São Paulo, tendo ainda descendentes na Argentina e Italia. O Encontro que foi iniciado no dia 13 com uma missa solene celebrada pelo Padre Ismael Vanderlei Avi de Limeira SP e teve seu encerramento no Domingo. Durante o evento foram apresentadas musicas tipicas italianas e realizadas competições esportivas, o corte do bolo, que este ano tinha 5 metros, no sábado à noite houve o lançamento do livro 'Caminhos e Atalhos da Familia Avi', de autoria de Valdemiro Avi.

A Familia Avi imigrou para o Brasil em 1875, quando Giácomo Aví, Catherina Valentini e seus quatro filhos além do irmão Abrão Avi e mais tarde Ângelo Avi Benedicto Avi Angelino Avi saíram da terra natal Lona-Lases Trento no Vale do Cembra Norte da Itália em busca de novas oportunidades. No Brasil parte da familia fixou moradia em Santa Catarina, São Paulo e Paraná onde hoje seus descendentes são professores, comerciantes, agricultores etc".

Italianità - Pesquisa analisa valorização das raízes


Uma análise do sentimento de italianidade a partir de encontros de famílias. É isso o que encontramos no artigo de Adiles Savoldi publicado em 2008 na Revista Brasileira de Pesquisa de Turismo. O texto, intitulado Culto aos ancestrais: encontro de famílias,resume uma pesquisa, cuja proposta é “refletir sobre as experiências que vêm acontecendo a partir de meados da década de noventa no estado de Santa Catarina em torno dos encontros de famílias italianas. Os encontros de famílias vêm se constituindo em uma nova modalidade de viagem; essa viagem pode ser no mesmo Estado ou em estados vizinhos, ou ainda para outros países, no caso, especialmente a Itália. Na festa há uma reconfiguração do parentesco tanto no sentido de reforçar os laços já existentes como também na descoberta dos ‘novos parentes’.
As diferentes dinâmicas prestam homenagens aos ancestrais que deram origem ao tronco do qual descendem os participantes. A cidade anfitriã se prepara para receber os visitantes. Os encontros acontecem em salões paroquiais, clubes recreativos e contam também com a visitação do túmulo do pioneiro imigrante italiano”. A seguir um trecho do texto da pesquisadora e professora Adiles Savoldi.


  • “As festas acontecem em espaços como salões paroquiais, parques que abrigam as festas dos municípios, pois recebem em torno de mil pessoas, esse número pode dobrar. As autoridades locais se fazem presente e entendem esse evento como uma forma de divulgar o município. A cidade se prepara para recepcionar os visitantes decorando as principais vias de acesso ao evento com bandeiras do Brasil e Itália. O culto aos ancestrais que imigraram é ritualizado em todos os eventos, prestam-se homenagens, é narrada a história destes ancestrais para todos os participantes. Destacado o apreço destes ao trabalho, família e religião. A italianidade merece destaque especial nestes eventos, o culto aos ancestrais está associado ao culto à italianidade. Outro aspecto importante é a religiosidade, em todas as festas a missa é celebrada, constituindo-se como uma referência da fé deste grupo. A culinária é outro traço distintivo, que após as avaliações constatou-se que a comida típica é mais convincente que o Churrasco. Durante a festa também são feitas apresentações públicas dos membros da ‘família’ que se destacaram socialmente, os que ocupam as profissões consideradas mais nobres”.

Oriundi (Jornalismo)- Crítica com humor nas tiras de Iotti

Da crítica política à sátira dos costumes familiares. Assim é a charge de Carlos Henrique Iotti, desenhista, neto de emilianos, nascido na cidade de Caxias do Sul (1964), na verdejante e italianíssima região da serra gaúcha, Estado do Rio Grande do Sul.
O trabalho de Iotti ganha as páginas de um dos mais importantes jornais do Sul do Brasil, o “Zero Hora”, editado na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.


O artista é pai de uma série de personagens que retratam o estereótipo do imigrante italiano. Radicci, sua principal criação, é uma espécie de anti-herói da colonização italiana no Rio Grande do Sul (para ver site do Radicci clique aqui). É baixinho, grosso, preguiçoso, machista e gritão. Amante do vinho e da farra, inimigo mortal do trabalho. Ele, na verdade, era a antítese do italiano que chegou ao Brasil com uma predestinação para o trabalho. Genoveva é a sua mulher, um obstáculo entre ele e o garrafão de vinho. Guilhermino é o filho. Ecologista, surfista, naturalista, eterno universitário e canguru (vive na bolsa da mãe). Contraponto ao pai caçador, fascista, e com hábitos alimentares exagerados.
 Ainda tem o Nono, o velho esperto. Ninguém sabe se é o avô da Genoveva ou do Radicci. Nem ele. Tem uma moto e foi piloto de caça na Segunda Grande Guerra.



Iotti é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas nunca exerceu a profissão. Além do Zero Hora, publica suas charges nos jornais Pioneiro, de Caxias do Sul; Diário de Santa Catarina; Diário do Povo, de Pato Branco (Paraná); e Estado do Paraná. Nos 80, Iotti fez trabalhos especiais para o “Il Corriere”, um jornal semanal de 40 mil cópias dirigido para a comunidade ítalo-brasileira. É neto de italiano. A família, na verdade, veio da cidade de Coreggio em Reggio-Emilia. No entanto, o avô veio criança da França, pois o pai havia se mudado para lá para trabalhar na construção de um hospital. Casando-se com uma francesa, teve o filho e veio para o Brasil. O modo de falar do Radicci e dos outros personagens criados pelo desenhista itálico é na forma de sotaque. Não se trata de português, italiano ou dialeto. É um jeito irreverente e despojado, chamado “sotacón”, que nada mais do que uma transposição fonética do jeito de falar das pessoas da Serra Gaúcha para a linguagem escrita. (Mario Ciccone)