terça-feira, 20 de abril de 2010

Italiani - A presença da Itália no TBC de Franco Zampari

"No livro especialmente escrito para a Coleção Aplauso, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, a atriz Nydia Licia afirma que foi no TBC, como ficou conhecido o Teatro Brasileiro de Comédia, que ganhou disciplina, respeito pelo trabalho, honestidade em cena e coleguismo; lições que lhe serviram de guia para o resto da vida.

Em uma época em que os palcos fervilham em São Paulo, é importante lembrar que a cidade deve a Franco Zampari, um engenheiro italiano que chegou ao Brasil em 1922, grande parte desta efervescência teatral. Foi este admirador da arte dramática quem fundou, em 1948, o Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, do qual também seria o diretor administrativo. No livro Eu Vivi o TBC, da Coleção Aplauso, editada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, a atriz Nydia Licia rememora a época em que a cidade só contava com três grupos amadores e o público só estava acostumado a dramalhões ou comédias leves. A inauguração do TBC trouxe para o palco textos clássicos e modernos, diferentes, de autores como Luigi Pirandello, Tennessee Williams, Oscar Wilde e Anton Tchekov, relata a atriz. Para ela, trabalhar no Teatro Brasileiro de Comédia era um privilégio; além do salário mensal Franco Zampari fornecia todo o guarda-roupa, algo incomum nas companhias da época. Com a experiência de quem viveu o TBC de corpo e alma, Nydia Licia traça a história da companhia desde que ela foi fundada até ser extinta, no início dos anos 1960.

A atriz refaz o percurso do cenógrafo italiano Aldo Calvo, que viria a se tornar diretor técnico do TBC, e dos diretores teatrais, também italianos, que trabalharam na companhia: Luciano Salce, Flaminio Bollini Cerri, Ruggero Jacobbi e o exigente Adolfo Celi, que imprimiu um ritmo intenso de trabalho e entusiasmou os atores. Em 1950, a companhia já se tornara 100% profissional. Escrito em primeira pessoa, Eu vivi o TBC é um tributo aos atores que se forjaram na grande escola que foi o Teatro Brasileiro de Comédia, como Rubens de Falco, Paulo Autran, Cacilda Becker, Sérgio Cardoso, Walmor Chagas, Cleyde Yaconis e a própria Nydia Licia, entre tantos outros".(Fonte: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)

Italiani - A dramarturgia de Adolfo Celi

“Adolfo Celi (Messina Itália 1922 - Roma Itália 1986). Diretor. Encenador italiano que chega ao Brasil nos anos 50 para tornar-se o primeiro e mais bem-sucedido diretor artístico do Teatro Brasileiro de Comédia. Permanece no Brasil até 1961, sendo um dos fundadores e mentores da Companhia Tônia-Celi-Autran. Volta para seu país de origem, desenvolvendo profícua carreira como ator de cinema.

Forma-se em 1945 na Academia Nacional de Arte Dramática de Silvio D'Amico, onde é colega de futuras celebridades como Luigi Squarzina e Vittorio Gassman, e de Luciano Salce, que mais tarde será um de seus parceiros de trabalho no TBC. Inicia sua carreira profissional como diretor, assistente de direção (de Luchino Visconti, entre outros), ator de teatro e de cinema. É participando de um filme com Aldo Fabrizzi, que viaja em 1948 para Buenos Aires e lá permanece após as filmagens, encenando uma versão de Antígone, de Sófocles, para o Teatro Experimental de Buenos Aires. Sendo indicado pelo cenógrafo Aldo Calvo a Franco Zampari, empresário que começa a implementar o TBC, é convidado a tornar-se diretor artístico da companhia, ainda em vias de profissionalização.

Aos 27 anos, em janeiro de 1949, Celi desembarca em São Paulo para assumir a responsabilidade pesada de gerir artisticamente aquela que se tornará a companhia estável de maior importância na década de 50 no teatro brasileiro. Sua primeira realização paulista, também a primeira do elenco profissional que Zampari acaba de contratar, estréia em junho de 1949: Nick Bar...Álcool, Brinquedos, Ambições, de William Saroyan, já encenada por Celi na Itália, projeto piloto de um padrão que o TBC seguirá nos próximos anos: um texto interessante, capaz de fornecer interpretações marcantes, reunindo num ambiente levemente exótico um punhado de figuras humanas marcadas por alguma característica diferenciada.

Nesse trabalho, dirige sua futura mulher, Cacilda Becker, primeira atriz profissional a ser contratada pela companhia. A repercussão serve de cartão de visitas ao evidente preparo técnico do jovem diretor, além de revelar sua tendência a um tratamento expansivo, teatral aos espetáculos que abraça. O grande trunfo da encenação, todavia, é a homogeneidade do elenco, hábil e correto nos desempenhos. Seguem-se, ainda em 1949, as direções de Arsênico e Alfazema, comédia americana de Joseph Kesselring, e Luz de Gás, um policial de Patrick Hamilton, última incursão da atriz Madalena Nicol no conjunto, cuja liderança fora abalada pela chegada de Celi. Outro diretor italiano é contratado por indicação de Celi, Ruggero Jacobbi, e todos os espetáculos da temporada de 1949 são bem recebidos pelo público, resultando em um sucesso de bilheteria para o empreendimento.

O início de 1950 traz a primeira realização mais ambiciosa de Celi, Entre Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre, que alcança grande repercussão e polêmica, provocando reações adversas do Partido Comunista e da Cúria Metropolitana. Acompanha a montagem a comédia curta de Anton Tchekhov, Um Pedido de Casamento. Intensamente envolvido na instalação da companhia cinematográfica Vera Cruz, em que dirige seu primeiro filme, Caiçara, roteiro de Alberto Cavalcanti, seu e de Ruggero Jacobbi, 1950 - só em 1951 Celi volta para o TBC, assinando um dos maiores êxitos da casa, Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Pirandello, encenação de uma frenética teatralidade. A crítica enaltece o espetáculo, apesar de fazer restrições, novamente, à liberdade do diretor em relação ao texto, modificando o final, em que Cacilda Becker encontra-se às gargalhadas num balanço, rompendo uma tela de papel. Em 1955, despede-se do TBC, salvando-o num momento de grave crise econômica, através do seu maior sucesso de bilheteria até então, Santa Marta Fabril S. A., o mais polêmico texto de Abílio Pereira de Almeida.

Ao lado de Franco Zampari e Cacilda Becker, Celi é uma das pessoas que mais contribuíram para fazer do TBC o que ele foi. Durante toda a primeira fase, é o principal responsável pela definição dos seus rumos artísticos, do seu repertório e estilo, pela formação dos seus atores e pelo aprimoramento do acabamento técnico das suas realizações.

Em 1955, o declínio econômico da companhia, os conflitos internos de ordem pessoal e a natural ambição de estar à frente de um conjunto próprio o levaram a dar por encerrado o seu ciclo na casa, mudar-se para o Rio de Janeiro e fundar, junto com dois dos seus mais íntimos colaboradores, a Companhia Tônia-Celi-Autran, CTCA. Em 1960, Dois na Gangorra, de William Gibson, se mantém em cartaz, resultando num sucesso razoável de público. Já em 1961, a companhia instaura um segundo concurso, cujo vencedor, Lisbela e o Prisioneiro, de Osman Lins, é dirigido por Celi e Carlos Kroeber. Efetiva uma remontagem de Arsênico e Alfazema, de Joseph Kesselring, e a sua despedida da companhia, que se desfará poucos meses depois, com Um Castelo na Suécia, de Françoise Sagan, na qual Celi está também em cena como ator.

A essa altura, porém, a sua participação na CTCA já é menos intensa, e ele exerce paralelamente as funções de diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A partir do ano seguinte, a CTCA começa a se dissolver, enfraquecida por dissidências internas, pelas remontagens que tentam preencher as lacunas de seu planejamento e pelo descompasso de seu projeto em relação ao gosto do novo público e dos ares que sopram no Brasil da década de 60.

Desiludido, em 1961 Celi dá por encerrado o seu trabalho no Brasil e volta à Itália, onde construirá uma próspera carreira como ator de cinema. Retornará ao Rio em 1978, a convite de Paulo Autran, para dirigir a comédia Pato com Laranja, inaugurando o Teatro Villa-Lobos, e ainda, para Tônia Carrero uma outra comédia, Teu Nome é Mulher, seu último trabalho no Brasil. Na Itália, retoma seu ofício de ator e diretor de teatro e inicia carreira cinematográfica, com participação em filmes nacionais e estrangeiros". (Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural)