sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Arquitetura – Italianos na construção da cidade planejada de Belo Horizonte (2)


Na cidade de Belo Horizonte ainda persistem marcas da influência de arquitetos italianos que participaram ativamente da urbanização local. É o que relata Marcel de Almeida Freitas, antropólogo (UFMG), mestre em Psicologia Social (UFMG), professor da Faculdade da Cidade de Santa Luzia (disciplinas História da Arte, Psicologia e Antropologia), autor do trabalho A influência Italiana na arquitetura de Belo Horizonte (Foto: Minas Tênis Clube) .

"Embora os modelos arquitetônicos fossem europeus, a arquitetura de Belo Horizonte teve a influência da mão-de-obra de imigrantes pobres que chegavam ao Brasil aos milhares, especialmente italianos, espanhóis e portugueses. Destarte, desde arquitetos e engenheiros até mestres-de-obras e 'pedreiros', a influência italiana na arquitetura de Belo Horizonte, entre 1900 e 1940, é indelével. Um dos estilos vindos com os estrangeiros é aqui abordado, o art déco". (Foto: Hospital Felicio Rocho)

"Em linhas gerais, o art déco caracteriza-se pela simétrica/axial com acesso centralizado ou valorizando a esquina (no plano horizontal), articulação de volumes geometrizados e simplificados (varandas semi-embutidas) ou sucessão de superfícies curvas (aerodinamismo), linguagem formal tendente à abstração (contenção expressiva dos ornamentos decorativos, quase sempre em alto e baixo relevo)"


"Em Belo Horizonte os edifícios mais significativos dessa fase são, entre outros, a Prefeitura Municipal, os colégios Marconi, Pio XII e Izabela Hendrix, o Minas Tênis Clube, os hospitais Felício Rocho (Felicio Rosso), Odilon Behrens, Santa Casa de Misericórdia e a Igreja São Francisco das Chagas. Entre os arquitetos e/ou engenheiros italianos mais atuantes nos primórdios de Belo Horizonte (1920- 1940) e responsáveis pela introdução do estilo, cabe sublinhar Luis Olivieri, Luis Signorelli, Raffaello Berti (projetou o Minas Tênis Clube - foto), Américo Gianetti e Romeo di Paoli. Esse último foi quem projetou o Hotel Imperial Palace"

Arquitetura – Italianos na construção da cidade planejada de Belo Horizonte (1)

Marcel de Almeida Freitas, antropólogo (UFMG), mestre em Psicologia Social (UFMG), professor da Faculdade da Cidade de Santa Luzia (disciplinas História da Arte, Psicologia e Antropologia), é autor do trabalho  A influência Italiana na arquitetura de Belo Horizonte . O texto apresenta notas sobre a interferência da imigração italiana na urbanização de Belo Horizonte e a influência de trabalhadores italianos na construção da capital.  Na foto, o postal do Palacete Dantas - obra de Luis (Luigi) Olivieri

“Sob o ponto de vista da arquitetura e do urbanismo, a história de Belo Horizonte é idiossincrática, já que foi planejada segundo os modelos de modernização que transformaram urbes como Paris, por exemplo, e fizeram surgir outras, planejadas, como La Plata e Canberra, respectivamente na Argentina e na Austrália. Assim nascia Belo Horizonte em 1897, embalada pelos valores de 'progresso e ordem', caros ao positivismo, paradigma filosófico-científico que ditava mentalidades e práticas sociais em diferentes campos. Sob a égide do ethos evolucionista, os republicanos de Minas Gerais queriam construir uma cidade diversa do passado barroco, colonial e escravocrata que até então marcara o Estado e o país”.

"Quando a cidade começou a ser efetivamente construída, os trabalhos requisitavam um batalhão. (....) Na construção de Belo Horizonte alguns engenheiros de origem italiana já se destacavam entre os muitos europeus, como o Dr. Burlamaqui, Gustavo Farnese e Adolfo Radice. Os empreiteiros Afonso Massini e Carlos Antonini destacaram-se na construção do ramal ferroviário que ligava as estações Minas e General Carneiro, o que facilitou a vinda de pessoas do Rio de Janeiro para Belo Horizonte".

"No ramo da exploração calcária, sobressaiu o descendente de italianos J. Orlandini, proprietário da pedreira Acaba Mundo a partir de 1895. Segundo informações colhidas por Barreto (1996), Carlos Antonini nasceu na Itália em 1839 e faleceu em Belo Horizonte em 1913. Antes de emigrar, foi oficial do exército italiano. Atuou nos ramos de engenharia, como arquiteto, projetista, industrial e construtor. Dentre suas obras destaca- se a parte posterior do Palácio da Liberdade. Projetou e construiu sua própria residência, localizada nas esquinas das ruas Bahia e Bernardo Guimarães, prédio que abrigou por muito tempo a Escola Ordem e Progresso, hoje tombado pelo Iepha".

"Outro italiano que despontou nas artes e arquitetura da nova capital foi Luis Olivieri. Formado em Florença, integrou a comissão construtora como desenhista e, em 1897, criou o primeiro escritório particular desse ofício na cidade. Em 1911 realizou a primeira exposição de arquitetura da capital (BARRETO, 1996). Projetou, dentre muitas obras, o Palacete Dantas (atual Secretaria de Cultura, de 1916) e o atual Psiu (antigo Bemge, na Praça Sete)".

"No suprimento de materiais para a construção civil, a todo vapor naquela época, foram importantes os Papini, que introduziram as telhas francesas, instalando cerâmicas na região do atual Bairro Saudade, e os Antonini, que produziam tijolos na estrada antiga entre Sabará e Belo Horizonte, hoje Bairro Cardoso. Nos primeiros anos de Belo Horizonte, o Sr. Alberto Bressane Lopes ergueu uma vila de casas para aluguel nas ruas Grão Mogol e Alfenas, com o intuito de atender à grande demanda de habitações da capital. Outra vila foi por ele construída na Rua Rio Grande do Norte, chamando-se Villa Bressane.

"Em julho de 1896, Belo Horizonte recebia a visita do Sr. Alessandro D’Atri, figura importante na Itália. Em palestra aos que trabalhavam nas obras da cidade, elogiou a maneira como eram tratados seus conterrâneos e a operosidade da comissão. 'O que mais o admirou foi que (...) em cima dos altos andaimes, em torno das construções e embaixo de cobertas de zinco, cantavam e assobiavam alegremente os operários, italianos em sua maioria, assentando pedras, tijolos, amassando argamassas' (BARRETO, 1996, p. 643)".

A empreitada (“tarefa”) da nova Igreja Nossa Senhora do Rosário, situada na esquina da Rua Tamoios com Avenida Amazonas, ficou a cargo de um descendente de italianos, o Sr. Afonso Massini. A Secretaria das Finanças, atual Secretaria de Estado da Fazenda, foi edificada pelos tarefeiros José e Caetano Tricolli. João Morandi, por sua vez, foi um arquiteto e escultor bastante ativo na comissão construtora. Era nascido na parte italiana da Suíça, na cidade de Lugano. Antes de chegar a Belo Horizonte atuou na construção da cidade de La Plata, na Argentina, até 1896. Trabalhou na ornamentação interna de diversos logradouros: Palácio da Liberdade, antigo Museu de Mineralogia, Instituto de Educação, Igreja São José, Igreja Nossa Senhora do Rosário”.