sábado, 13 de fevereiro de 2010

Oriundi - Sangue italiano nas veias do Modernismo brasileiro: a obra de Anita Malfatti (1)

Nascida em São Paulo no dia 2 de dezembro de 1889,  Anita Catarina Malfatti era filha de pai italiano católico (Samuel Malfatti, natural de Lucca – Região Toscana) e mãe americana de origem alemã (Betty Krug).Um defeito congênito a tornou uma falsa canhota; trazia sempre um lenço colorido cobrindo a mão direita deformada. Essa limitação foi marcante para sua personalidade e características emocionais. Criança, uma vez se deitou numa vala por onde passou um trem só para perder o medo; de olhos fechados, tudo o que vê são cores. Acontece a revelação de seu destino: quer ser pintora. Mais tarde vai experimentar voluntariamente a fome, a cegueira e a sede, buscando na sensação física a "superação do eu".

Era expressionista antes de saber o que significava o termo. Em 1912 fixa-se em Berlim, onde estuda com Lovis Corinth, artista que trabalha com valores cromáticos do impressionismo, com pinceladas vibrantes que o aproximam dos expressionistas, apesar de discordar deles. De volta a São Paulo realiza sua primeira exposição individual em 1914, mas a crítica artística paulistana, orientada pelos cânones acadêmicos, vê na pintora apenas uma iniciante talentosa.

Em 1915/16 Anita está em Nova Iorque, inscrita na Art Students League, onde só mantém um interesse duradouro: aulas de gravura.

É quando ela acha a escola que tanto desejava encontrar na vida, a Independent School of Art, cujo professor, Homer Boss, é um pintor-filósofo de tendência realista. Absorve de cada pintor, de cada escola - fauvismo, sincronismo ou cubismo - só as características necessárias para montar sua própria linguagem. . Desta temporada são os seus retratos mais significativos como A Estudante Russa, O Japonês, A Mulher de Cabelos Verdes e O Homem Amarelo.




Depois de seu retorno e de um bom tempo de relutância para expor suas telas, DI CAVALCANTI convence Malfatti a organizar o que seria a sua segunda individual, a "Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti" em 1917. Esta mostra causa impacto e escândalo e, se por um lado atrai vários dos futuros modernistas, por outro convive com o repúdio estético de Monteiro Lobato que escreve o célebre artigo "A propósito da exposição Malfatti". Neste, o escritor explica os motivos que o fazem considerar os trabalhos da artista uma arte anormal ou teratológica (relativo à monstruosidade). Esta exposição é um ponto de inflexão na arte brasileira, novos rumos a partir dela são tomados e inaugura-se o Modernismo no Brasil. (Fonte: Museu de Arte Conteporânea - USP)

História (71 ) – “Far l´America (39 ): imigração italiana em Araraquara, origens do associativismo

A socióloga abordou, em 2009, a questão da imigração italiana na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. O trabalho “Associações italianas como canais de mobilidade social” da socióloga  Rosane Siqueira Teixeira (Universidade Federal de São Carlos) fala sobre associativismo comunitário no início do século XX..

"A vida associativa dos italianos teve início na década 1850 nos centros urbanos do Piemonte, da Ligúria e da Toscana. As associações criadas nesta época dedicavam-se principalmente ao socorro mútuo, à educação de trabalhadores e ao estudo de melhores condições de trabalho".

"Diferentemente das corporações do Antigo Regime, essas associações eram regidas por regras e estatutos definidos. Grande parte delas serviu como meio de integração das classes operárias. Posteriormente, o fenômeno associativo se estendeu para outras regiões italianas e para as áreas rurais  No Brasil, as experiências associativas entre os italianos tiveram início ainda antes da grande imigração em massa. A necessidade de reunir-se em sociedades com fins de mútuo socorro e beneficência era uma “exigência imprescindível dos primeiros imigrantes” (Trento, 1989, p, 171).

"Também no interior do Estado de São Paulo, as formas associativas foram precoces devido ao peso numérico de imigrantes italianos que neste Estado chegaram, permitindo, assim, uma multiplicação de entidades associativas.Por sua vez, em Araraquara, no início do século XX existiam três associações de socorro mútuo e beneficência, cujas diferenças estavam caracterizadas de acordo com a região de origem dos italianos".

"A primeira associação a ser fundada foi a Società Meridionali Uniti.O pouco que se sabe é que ela também era chamada de Clube dos Meridionais e que seus sócios cultivavam a memória do rei Humberto, da Itália, cujo falecimento ocorreu no dia 29 de junho de 1900".

É claro, ela era uma associação constituída pela maioria (senão pela totalidade) dos italianos oriundos do Sul da Itália. Segundo Biondi (2002), essas associações eram geralmente de tendência monarquista e conservadora".

"A outra associação que existiu em Araraquara foi a Società Italiana di Mutuo Soccorso, fundada em 1901. Assim como a SMU, poucas informações foram deixadas sobre ela. Sabemos que ela era composta pela maioria dos italianos oriundos da Itália Central. Parece que a SIMS mantinha boas relações com a SIB, pois em setembro de 1908, ela a convidou para participar das comemorações do XX de Setembro11 e, nesta ocasião, a maioria do Conselho aceitou e compareceu (SIB, Livro de Atas, p. 31).

"Contudo, em novembro de 1909, um membro do seu Conselho fez uma proposta à SIB, que foi recusada. Tal proposta tinha como objetivo a união entre as duas associações (SIB, Livro de Atas, p. 56). Ao pesquisarmos o fundo particular de “José Ferrari Secondo”12, depositado no APHRT, encontramos um documento, registrado por ele, cujo conteúdo atesta que a SIMS se uniu com a SMU"

. Provavelmente, essa união ocorreu no ano de 1912. A terceira associação, fundada no início do século XX, recebeu o nome de Società Italiana di Beneficenza. As Atas de suas Assembléias ainda existem, mas elas não estão completas, pois o livro inicia com as reuniões do ano de 1908, sendo que a associação foi fundada em 5 de outubro de 1901. Ela era uma associação que congregava a maioria dos italianos precedentes do Norte da Itália. Nela também encontramos alguns sócios oriundos do Centro e do Sul, o que sugere uma homogeneidade. Mas era só na aparência, pois isso não minimizava a auto- 11 Esta data é considerada a “páscoa dos italianos”.

"Foi nesta data, no ano de 1870, que as tropas de Vitório Emanuel entraram em Roma. 12 Ele foi membro da SIU. 16 segregação no seio da associação, especialmente quando se tratavam das eleições para cargos na diretoria. A saber, durante a sua existência os representantes da diretoria se originavam, exclusivamente, do Norte da Itália".

"A SIB funcionou durante o período de 1901 a 1919. Além de socorrer seus próprios sócios em momentos de necessidades - doença, invalidez, funerais, auxílio aos familiares dos sócios após a sua morte etc. -, ela atuava também com o fim de prestar socorro aos italianos, independente de sua procedência, que se encontravam em estado de indigência. Ela também fazia ações de caridade em prol de instituições carentes (Cf. Teixeira, 2007). A diretoria que representou a SIB durante a sua existência era composta por uma maioria de trabalhadores semi-qualificados e do comércio".

"O recurso financeiro da SIB advinha das jóias pagas por ocasião das matrículas, das mensalidades no valor de dois mil réis, que permaneceram sem alteração até 1918, eventuais doações e lucros advindos da promoção de jogos nos períodos de maiores necessidades. As questões financeiras expressam as dificuldades do grupo em gerir seus objetivos sociais e, por isso, constantemente, seus membros usavam de artifícios, como o jogo de tômbola, para refazer o caixa".

"O abalo no fluxo de caixa era causado, sobretudo, pelo não recebimento das mensalidades. Contudo, mesmo com as dificuldades financeiras que freqüentemente passava, quando ocorreu a fusão com a SIMS, em 1920, seu patrimônio consistia em: um imóvel onde funcionava a sede social, um terreno com uma pequena casa, depósitos no Banco de Araraquara, dinheiro em caixa referente às mensalidades e mobília da sede".

História (70 ) – “Far l´America (38 ): imigração italiana em Araraquara no início do século XX

A socióloga Rosane Siqueira Teixeira (Universidade Federal de São Carlos) abordou, em 2009, a questão da imigração italiana na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. O trabalho “Associações italianas como canais de mobilidade social” revela dados numéricos da presença italiana n cidade no início do século e traça um interessante quadro sobre o associativismo comunitário.

"Araraquara está localizada no centro-norte do Estado de São Paulo, com uma distância de 280 km da capital. Ela foi fundada pelo mineiro Pedro José Neto, por volta do ano de 1790-1795, e elevada à categoria de cidade no dia 6 de fevereiro de 1889 (Cf. Souza, 2003). Com o desenvolvimento da economia cafeeira, sobretudo após a instalação da Estrada de Ferro em 1885, os fazendeiros araraquarenses contavam com a vinda de famílias imigrantes para substituir a mão-de-obra do negro liberto, pois mesmo arregimentando trabalhadores nacionais livres, especialmente nordestinos e baianos, não era suficiente para suprir a demanda na lavoura".

"Desse modo, o município recebeu um número expressivo de estrangeiros. Para se dar uma idéia, no ano de 1897 o município de Araraquara tinha, ao todo, 21.140 empregados em atividades agrícolas, dos quais 19.000 eram estrangeiros. Mas aqui pretendemos focalizar os imigrantes italianos que optaram por morar na cidade, cuja significativa presença pode ser visualizada por meio do Recenseamento de Araraquara, 1902 (Arquivo Público Histórico Rodolpho Telarolli de Araraquara)".

"Esse Recenseamento foi realizado entre meados de abril e 15 de agosto de 1902, pelo médico brasileiro Aduacto Chastinet, que na época tinha 26 anos e era casado. Ele percorreu ruas e avenidas, casa por casa, e anotou de punho próprio, em um livro, a relação de todos os moradores da cidade. Nesta relação, constam os nomes de todos da família, dos agregados, a nacionalidade, a idade e a ocupação profissional. Chastinet visitou cerca de 910 casas (Cf.Telarolli, 2003). Desse montante de casas visitadas, podemos observar que moravam 1.859 brasileiros e 2.187 estrangeiros, sendo 1.507 italianos, 282 portugueses, 131 espanhóis e distribuídos entre outras nacionalidades apenas 67. Vê-se que os italianos representam quase a totalidade dos estrangeiros na cidade de Araraquara".

Cultura - Sangue italiano nas veias do Modernismo brasileiro: a Semana de 22

Um dos principais eventos da história da arte no Brasil, a Semana de 22 foi o ponto alto da insatisfação com a cultura vigente, submetida a modelos importados, e a reafirmação de busca de uma arte verdadeiramente brasileira, marcando a emergência do Modernismo Brasileiro. Desta semana tomam parte pintores, escultores, literatos, arquitetos e intelectuais. Durante três dias - entre 13 e 17 de fevereiro - o Teatro Municipal de São Paulo foi tomado por sessões literárias e musicais no auditório, além da exposição de artes plásticas no saguão, com obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Ferrignac, John Graz, Martins Ribeiro, Paim Vieira , Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida Prado e Zina Aíta ( pintura e desenho ), Hildegardo Leão Velloso e Wilhem Haarberg ( escultura ). As manifestações causaram impacto e foram muito mal recebidas pela platéia formada pela elite paulista, o que na verdade contribuiria para abrir o debate e a difusão das novas idéias em âmbito nacional. Na noite de 17 de fevereiro, no Teatro Municipal, o poeta brasileiro Menotti Del Picchia, (filho de Corina e Luigi Del Picchia, imigrantes vindos da região Toscana) entraria para história da Semana de 22 ao falar sobre romancistas contemporâneos, acompanhado por leitura de poesias e números de dança.
Na foto, Del Picchia parece ao centro, acompanhado de Brecheret, DiCavalcante (a partiir da esquerda) e, na sequência,  por Oswald de Andrade e Helios Seelinger. (Fonte: Museu de Arte Contemporânea USP)

Cultura - Sangue italiano nas veias do Modernismo brasileiro: o fermento da Semana de 22

Para entender o processo do movimento modernista brasileiro é necessário olhar para o contexto das duas primeiras décadas do século XX: ainda muito presos ao academicismo e às influências francesas da belle époque, alguns jovens de São Paulo, intelectuais e artistas começam a sentir a necessidade de uma atualização das artes, ao mesmo tempo que uma busca de identidade nacional, através do retorno às raízes culturais do país.

Estes anseios de modernização e de nacionalismo são desencadeados pela Primeira Guerra e pela proximidade dos festejos do primeiro centenário da Independência. As informações fragmentadas sobre as vanguardas vindas da Europa vão confluir com esta necessidade de renovação. Alguns eventos e exposições marcam este período e antecedem a eclosão do Modernismo Brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922. A exposição de Lasar Segall, em 1913, apesar de não causar muita repercussão, vai sinalizar contatos com as vanguardas alemãs.

Entretanto, será a exposição de Anita Malfatti (filha do imigrante Samuel Malfatti, nascido em Lucca), em 1917, que instiga os artistas e jovens intelectuais a se organizar como grupo e promover a arte moderna nacional, que terá lugar em São Paulo, embalado pelo progresso e industrialização acelerada, contando ainda com a presença maciça de imigrantes italianos- o que acaba facilitando a ausência de uma tradição burguesa e conservadora como a existente no Rio de Janeiro.




Em 1920, o grupo de jovens paulistas, já denominados futuristas descobre Victor Brecheret (filho do italiano Augusto Brecheret), recém chegado de Roma. Sua escultura pós-Rodin, as estilizações das figuras monumentais e o vigor e expressividade das tensões musculares, alongamentos e torções das esculturas causam grande impacto e, de imediato, o grupo polariza-se em torno do escultor.A partir daí sentiu-se a necessidade de um evento de magnitude e acompanhado de escândalo que marcasse estas novas direções da arte, trazidas pelos incidentes com Anita e pelo ingresso de Brecheret ao grupo - este evento será a Semana de Arte Moderna de 22. (Fonte: Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Cultura – Sangue italiano nas veias do Modernismo brasileiro

Há exatos 88 anos tinha início um evento cultural que marcaria o advento do modernismo no Brasil. Realizada no Teatro Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna organizada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral, Villa-Lobos e outros, foi o ponto de encontro das várias tendências modernas que vinham, desde a Primeira Guerra Mundial (1914-18), se firmando em São Paulo e no Rio de Janeiro.Também foi um acontecimento que acabou, com o passar do tempo, consolidando certos grupos e suas idéias, os quais passaram a possuir um espaço cativo em livros, revistas e manifestos.

Há muito sangue italiano percorrendo as criativas veias modernistas no Brasil. Além de Del Picchia (nascido em Lucca) fazem parte dessa galeria nomes importantes com Anita Malfatti, Candido Portinari, Victor Brecheret, entre outros. Todos entraram para a história da arte brasielira

O Modernismo Brasileiro é um movimento de amplo espectro cultural, desencadeado tardiamente nos anos 20, nele convergindo elementos das vanguardas acontecidas na Europa antes da Primeira Guerra Mundial - Expressionismo, Cubismo e Futurismo - assimiladas antropofagicamente em fragmentos justapostos e misturados. São Paulo se caracteriza como o centro das idéias modernistas, onde se encontra o fermento do novo.
Do encontro de jovens intelectuais com artistas plásticos eclodirá a vanguarda modernista.
Diferentemente do Rio de Janeiro, reduto da burguesia tradicionalista e conservadora, São Paulo, incentivado pelo progresso e pelo afluxo de imigrantes italianos, será o cenário propício para o desenvolvimento do processo do Modernismo. Este processo teve eventos como a primeira exposição de arte moderna com obras expressionistas de Lasar Segall em 1913, o escândalo provocado pela exposição de Anita Malfatti entre dezembro de 1917 e janeiro de 1918 e a ‘descoberta’ do escultor Victor Brecheret em 1920.

Com maior ou menor peso, estes três artistas constituem, no período heróico do Modernismo Brasileiro, os antecedentes da Semana de 22. A Semana de Arte Moderna de 22 é o ápice deste processo que visava atualização das artes, e a sua identidade nacional. Pensada por Di Cavalcanti como um evento que causasse impacto e escândalo, esta Semana proporcionaria as bases teóricas que contribuirão muito para o desenvolvimento artístico e intelectual da Primeira Geração Modernista e o seu encaminhamento, nos anos 30 e 40, na fase da Modernidade Brasileira. (Fonte: Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Italianità: a construção de um santuário para a "Vergine di Caravaggio" em Farroupilha (Rio Grande do Sul)





”A construção do atual Santuário de Caravaggio durou exatamente 18 anos (1945 - 1963). Imponente, com seu estilo romano e capacidade para 2 mil pessoas, uma das características mais marcantes da construção está nos grandes ambientes e na iluminação que preenche as salas do santuário.

.

"O povo manifesta o seu carinho e devoção a Nossa Senhora em pequenos gestos, pequenas homenagens". A grande quantidade de flores que constantemente são encontradas circundando o altar, são provas das afirmações. A administração do Santuário Diocesano mantém diariamente um sacerdote no atendimento dos fiéis e missas diárias. Na estrutura, seis salas de confissão e uma para orientação. E mais, posto de informações e de intenções de missas. Dentro, existe uma fonte de água (lembrando a Aparição de Nossa Senhora), benta em 26 de setembro de 1985”.

Italianità: as origens do culto à "Vergine di Caravaggio", na cidade de Farroupilha (rio Grande do Sul)

Na cidade de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, está cravada uma das mais significativas representações da religiosidade do imigrante italiano: o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio. O site desse maravilhoso monumento resume a origem do culto à Virgem de  Caravaggio nas terras gaúchas.

“Os imigrantes eram pessoas de fé e acostumados a uma vida cristã intensa. Já nos primeiros momentos em terras brasileiras, a necessidade de uma orientação espiritual tornou-se viva entre as famílias, o que só veio a acontecer cerca de um ano depois. O atendimento era feito pelo Padre João Menegotto, que pertencia à Paróquia de Dona Isabel (hoje, Bento Gonçalves/RS). A primeira missa foi celebrada na casa de Bernardo Sbardeloto, no morro de Todos os Santos no ano de 1878. A segunda na casa da família Biason e a terceira na casa de Antônio Franceschet, no dia 23 de janeiro de 1879. Nesta data, Franceschet teve a idéia de levantar um oratório com a ajuda do vizinho Pasqual Pasa.”.

“Eles nunca viram na Itália um padre celebrar uma missa fora da matriz. Ver a casa transformada em igreja não parecia certo para a maioria dos moradores. Os dois chefes de família iniciaram a construção de uma igreja em segredo. Derrubaram um pinheiro, prepararam o material e construíram um capitel de 12 metros quadrados com alpendre na entrada, que localizava-se em frente ao atual cemitério de Caravaggio. A notícia se espalhou rapidamente e ganhou doações em dinheiro e mão-de-obra, transformando o oratório em capela, que comportava cerca de 100 pessoas”.

“Como era comum naquela época, a escolha do padroeiro gerou certo conflito entre os moradores. Todos queriam o santo de seus próprios nomes para governar espiritualmente a comunidade. Alguns sugeriram o nome de Santo Antônio, mas a idéia foi logo descartada porque o padre não poderia vir rezar a missa no dia do santo. O motivo? Santo Antônio era o padroeiro da comunidade de Dona Isabel. Outros sugeriram Nossa Senhora, entretanto, não se sabia qual”. ”A princípio foi escolhido o título de Nossa Senhora de Loreto, mas, não havia imagem da santa. Foi nessa época que Natal Faoro ofereceu como empréstimo um pequeno quadro com a imagem de Nossa Senhora de Caravaggio, que trouxera entre os seus pertences da Itália. O empréstimo duraria até a aquisição de uma imagem”.

“A proposta foi aceita e o pequeno quadro passou a fazer parte do lugar de honra da capela, sobre um altarzinho. Esta capela foi inaugurada em 1879, ano I do início da devoção a Nossa Senhora de Caravaggio e ano primeiro das romarias que seriam futuramente concorridas e numerosas. Estava lançado o alicerce de uma comunidade eclesial”.

“Na década seguinte, em mutirão, os imigrantes iniciaram a construção de um templo de alvenaria. Numa época em que as casas eram fabricadas em madeira ou pedra, os imigrantes improvisaram uma olaria parta fazer os tijolos. Pedras só no campanário. A comunidade passou a ser chamada de Nossa Senhora de Caravaggio, bem como o lugar onde foi erguida a capela, até 26 de maio de 1921 quando foi elevada pelo bispo de sede paroquial para Santuário Diocesano. Hoje, a comunidade é composta por cerca de 140 famílias e mais de 650 habitantes. A paróquia de Caravaggio atende a sete capelas. Em 1959, Nossa Senhora de Caravaggio foi declarada pela Santa Sé, Padroeira da Diocese de Caxias do Sul”.

”A estátua de Nossa Senhora de Caravaggio que encontra-se no altar do Santuário Diocesano, foi fabricada em Caxias do Sul/RS no ano de 1885, pelo artista plástico conhecido como Stangherlin. O modelo foi o quadro em preto e branco, datado de 1724, com a imagem da santa que ocupava o altar da primeira capela. A imagem foi trazida a pé pelos imigrantes de Caxias do Sul e colocada no altar da nova igreja, construída em alvenaria”.