segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Italianità-Especial: De Palestra Italia a Palmeiras(3)

Vários textos disponíveis na internet narram a cronologia e as glórias dessa trajetória responsável por importantes páginas há história do futebol brasileiro. Um deles é Iimigracao e futebol: O caso Palestra Italia.pdf de autoria de José Renato de Campos Araújo, (doutor em Ciências Sociais pelo IFCH/UNICAMP, pesquisador do IDESP (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo), pesquisador e membro do CEMI (Centro de Estudos de Migrações Internacionais). Abaixo, trechos desse trabalho.

"Após a publicação de uma carta, em 14 de agosto, seguida de uma convocação no dia 19, no Fanfulla (jornal de maior circulação em São Paulo na década de 1920, em língua italiana, dirigido aos imigrantes italianos), o Palestra Itália foi fundado em 26 de agosto de 1914. Todos os integrantes da comunidade italiana da cidade de São Paulo interessados na fundação de um quadro ítalo de futebol foram convocados a participarem de um evento a fim de decidirem pela fundação, definirem seu nome e marcarem a data da sua oficialização".

"Em 26 de agosto, o Palestra Itália é fundado na presença de 46 pessoas, reunidas com o objetivo de estruturar um time de futebol representativo da comunidade italiana fixada na cidade" "Estas pessoas têm por objetivo a reunião de simpatizantes e jogadores de origem italiana, espalhados nos inúmeros clubes e times de futebol de São Paulo".

"Luigi Cervo, Vicenzo Ragognetti, Luigi Emanuele Marzo e Ezequiel Simone, formuladores e difusores da idéia, avaliavam ser possível a formação de um time de futebol constituído por imigrantes italianos, representativo de todo o grupo da cidade de São Paulo".

"Isto se faria aproveitando o estado de espírito do grupo após uma excursão vitoriosa de dois clubes italianos de futebol pelos gramados paulistanos, o Pro-Vercelli e o Torino, nos anos de 1913 e 1914. A preocupação dos fundadores do Palestra Itália era perfeitamente justificável; o esporte bretão permitia a estruturação de um time em bases étnicas2, ainda mais se levarmos em conta a maioritariedade de imigrantes3 em São Paulo, aliada à popularização do futebol nos centros urbanos do país nesse período (MAZZONI, 1950)".

"Com isso, pretendiam criar uma associação desportiva que enfrentaria os tradicionais “teams” paulistanos” “O objetivo dos fundadores do Palestra Itália era a participação no campeonato oficial e de maior prestígio dentro da meio futebolístico paulistano e, portanto, o convívio e o confronto direto com times representativos da elite paulistana. Para isto, o pedido de filiação nos quadros da APSA ocorreu logo no primeiro semestre de funcionamento da entidade".

"No início de 1915, em 6 de janeiro, é noticiado a filiação e o pedido de inscrição para o campeonato daquele ano. O pedido de filiação foi aceito com ressalvas pela APSA, junto com a intenção de participação no campeonato da cidade. O Palestra Itália só se tornou membro efetivo da entidade um ano mais tarde, em 1916, quando disputou pela primeira vez o campeonato".

"Um bom indício dessas ressalvas aparece num artigo publicado em 27/2/16 no OESP (jornal O Estado de S.Paulo), criticando a maneira como o Palestra Itália foi aceito no campeonato. Texto publicado uma semana após a aceitação e a filiação da associação no quadro efetivo da APSA, que excluía o Wenderers - por não ter condições financeiras e estruturais para a disputa do campeonato - e optava pelo Palestra Itália para substituilo, levantando dúvidas se seria o clube mais indicado".

"Esta recusa à filiação e participação imediata no campeonato levanta uma hipótese: o Palestra Itália não seria um participante natural de uma associação que organizava um esporte praticado pelos filhos da elite paulistana; por ser formado por imigrantes e seus descendentes, era encarado com ressalvas por dirigentes e clubes filiados”

“Não nos esqueçamos que neste período os nomes encontrados nas equipes do futebol “oficial” estavam ligados à elite paulistana ou eram de origem inglesa e alemã (ARAÚJO, 1996), portanto, um time composto de italianos e seus descendentes não freqüentaria os jogos do Velódromo; com certeza, encontraríamos dezenas comeste perfil espalhados pela Paulicéia, mas disputavam partidas nos finais de semana nos bairros da cidade, no já citado futebol varzeano. Assim, o Palestra Itália não representava somente uma invasão de imigrantes italianos, na sua maioria originários das classes menos abastadas, mas, também, uma invasão nas arquibancadas de ‘torcedores italianos’, estes se deslocariam de bairros periféricos e operários, como a Moóca, o Brás, a Barra Funda e o Bexiga para acompanharem os feitos de ‘italianos’ como eles contra a elite local”.

Arquitetura – Villa Matarazzo, memória desaparecida e ainda polêmica (2)

Para o pesquisador Marcos Tognon  não há dúvidas: quem projetou a Villa Matrazzoo, célebre casarão que por décadas reinou na Avenida Paulista, em São Paulo, foi mesmo Marcello Piacentini, arquiteto preferido do ditador italiano Benito Mussolini que governou a Itália de 1922 até o período final da Segunda Guerra Mundial. A polêmica autoria da obra rendeu dissertação de mestrado na Unicamp, apresentada por Tognon em 1993. A seguir, alguns trechos desse  trabalho( Uma obra brasileira do circolo de Marcello Piacentini: Villa Matarazzo)