terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Italiani: Nicola Festa, patrono de tradições musicais

Na recém criada República dos Estados Unidos do Brasil, o ano de 1890 marcava os primeiros momentos do governo provisório do presidente Deodoro da Fonseca. Naquela época, ainda reflexo da política do imperador deposto, Pedro II, o porto de Santos continuava recebendo imigrantes europeus como mão-de-obra ,que vinha substituir o trabalho escravo, abolido no 13 de maio de 1888, justamente por força da ação de republicamos históricos.

Do convés de um dos navios ancorados no cais santista desembarcavam o casal Nicola e Maria Antonia Festa e os filhos Concheta e Estanislau. Começava, naquele momento, uma rica história dos Festa no Brasil. “Meu avô acabou se estabelecendo aqui na Lapa (bairro da Zona Oeste de São Paulo)”, conta o neto Edson Festa.

“Ele adquiriu lotes de terra na região da Rua Guaicurus na direção da Trajano. Nessas chácaras ele e minha avó cultivavam frutas e verduras. A vovó saia pela vizinhança para vender esses produtos”. A Lapa é conhecida, hoje, como um bairro festeiro, mas já naquela época, os moradores da região faziam questão de se confraternizar, invariavelmente em eventos organizadas por Nicola. Numa devoção de origem italiana, ele organizou a irmandade de São Vitalino e Nossa Senhora do Carmo.

Assim, a Igreja acabaria se tornando promotora de grandes festejos com muita diversão para o público: gincanas, fogos de artifício, pau de sebo... “Nesse movimento todo, o vovô era conhecido como o ‘festeiro’. Em todos esses eventos estava presente a Corporação Musical da Lapa (Banda Operária)”, revela Edson Festa. Com os negócios indo de vento em popa, Nicola adquiriu outros terrenos na região da Lapa. Dada a amizade com os músicos da banda, o imigrante italiano acabaria doando um desses lotes (Rua Joaquim Machado esquina com Trajano) para a construção da sede da Corporação Musical, edifício que existe até hoje.

Além de festeiro e amante da boa música, Nicola Festa não negava ajuda aos mais necessitados, auxiliando famílias desabrigadas, dando-lhes moradia gratuita e ainda dinheiro para as despesas do mês. Hoje, o ítalo-lapeano empresta seu nome à praça na Roma com Trajano, num terreno que era de propriedade da sua família.( (Fonte: Jornal da Gente - Texto: Eduardo Fiora)

Italiani: Sbrighi, família de talentos

Conversar com a sanfonista Renata Sbrighi sobre seu passado familiar é viajar no tempo e descobrir uma história que nos legou talentos, não só na música como também na medicina e no esporte. Tudo começou em 1891, quando Cláudio e Augusta Sbrighi desembarcaram no Porto de Santos, após uma longa travessia marítima, que teve como marco zero a cidade de Veneza, na Itália. No navio, o casal Sbrighi e o filho Renato, de 5 anos, conheceram a família Toninato. "Renato passou a viagem toda brincando com a Teresa Toninato, uma bela menina de 4 anos. E foi cruzando o Atlântico que as duas famílias combinaram o casamento de seus filhos", conta Renata, ao lembrar de seus bisavôs, que moraram e trabalharam no bairro da Lapa em São Paulo.

Treze anos depois, o combinado foi cumprido. Numa festa tipicamente italiana, Renato e Teresa subiam ao altar. O jovem lapeano trabalhou como carvoeiro na rede ferroviária e depois fez sucesso como dono de posto de gasolina e de um bar-pizzaria (o Lapa Progride), na região da Cincinato Pomponet com Doze de Outubro, nos anos 20, além de abrir o cine São Carlos na Rua Guaicurus. "Meus avós tiveram 6 filhos. Aquele que ficou mais famoso foi o tio Cenno Sbrighi (*1911;+ 1975). Ele se formou em Medicina e é lembrado até hoje como o primeiro médico da Lapa. Cresci ouvindo que naquele tempo não existiam ambulâncias. Era o carro do meu tio que transportava os doentes", recorda Renata.

Hoje, Cenno Sbrighi empresta seu nome a uma rua na Lapa de Baixo, onde está localizada a TV Cultura. Música e Futebol Aristóteles, irmão mais velho de Cenno, nascido em 1905, viria a conhecer Elvira Naccarato, uma jovem filha de imigrantes calabreses. Dessa união nasceria Renata Sbrighi, que herdou da mãe a paixão pela música. "Comecei a estudar música com ela. Minha mãe tocava sanfona e sempre reunia um grupo de sanfoneiros. Ficava admirada aos vê-los tocar. Decidi seguir carreira na música. Fui para o Conservatório. Estudei piano e sanfona. Um dia pensei comigo mesmo: por que não lutar para formar uma orquestra de sanfoneiros? Foi assim que fundei a Orquestra Sanfônica, em 1988.

O grupo existe até hoje com sede aqui na Lapa". Ao falar do seu pai, Renata lembra com orgulho que ele foi jogador do Palestra Itália (hoje Palmeiras) nos anos 20. Mais tarde ele seria homenageado com a carteirinha de sócio nº 1 do clube da Rua Turiaçu.