domingo, 11 de abril de 2010

História ( 154) - Imigração italiana em Rio Claro

Rio Claro, cidade do interior paulista, também recebeu imigrantes italianos na segunda metade do século XIX. Um breve relato dessa história foi publicado no  Diário do Rio Claro de  24 de junho de 2007.

 "A formação econômica, histórica e cultural da cidade foi beneficiada pela grande concentração de Italianos na região Castellano, Giorgi, Bortolotti, Mazziotti, Bertolo, Rodini, Pezzotti, entre tantos outros sobrenomes de famílias que contribuíram com a história da Cidade Azul ao longo das décadas, confirmam a presença marcante de descendentes de Italianos na região. O sonho de conquistar o novo mundo levou milhares de Italianos a deixarem o local de origem. Estimativa do consolado Italiano, em Rio Claro, aponta que 70% da população do município é de descendente de Italianos. Este variou com o passar dos tempos.

Até 1900, 50% da população de Rio Claro era de Italianos natos. A imigração Italiana para o Brasil começou impulsionada com a grave drise econômica, enfrentada pela Itália na segunda metade do século XIX.Os Italianos vieram para as regiões Sul e Sudeste do Pais. A substituição da mão-de-obra escrava por imigrantes europeus chamou a atenção dos Italianos, que desejavam naquela época começar uma nova vida. O Senador Nicolau Campos Vergueiro foi o primeiro fazendeiro a receber os colonos em suas terras localizadas em Rio Claro e Limeira. A imigração Italiana para o estado de São Paulo teve início oficialmente em 1874, quando chegaram os cincos primeiros Italianos.

Os núcleos agrícolas pioneiros foram estabelecidos em Cananéia e Iguape, em 1877. Mais de 900 mil Italianos se estabeleceram no estado. Os municípios paulistas mais procurados foram São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Lençóis Paulista, Jundiaí, Vinhedo, Campinas, Mogi-Mirim, Mogi Guaçu, Pinhal, Águas da Prata, Lindóia, Serra Negra, Amparo, São Roque, São Manuel, Piracicaba, limeira, Rio Claro, São Carlos, Leme, Pirassununga, Descalvado, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Rita do Passa Quatro, Santa Rosa do Viterbo, Tambaú, São José do Rio Pardo, Sertãozinho Ribeirão Preto, Cravinhos, Guariba, Altinópolis, Jaboticabal, Matão, Catanduva, Taquaritinga, Iguape, Cananéia, Pindamonhangaba e outros. A história dos Italianos em Rio Claro teve inicio a partir de 1880. A maior parte era ciente de seus direitos.

Até a abolição dos escravos, em 1888, o registro era de mais de 1.300 Italianos no município, sendo que o auge da imigração aconteceu de 1891 a 1900, atingindo cerca de 113 mil Italianos. Até o ano de 1910, mais de 20 mil Italianos residiam em Tio Claro. Dentre os que vieram, um grupo numeroso atuou no comércio, pois esta população não tinha conhecimentos agrícolas.

Os Italianos não se limitaram a trazer apenas mão-se-obra para o Brasil. Com elas também vieram as idéias trabalhistas, sindicais e políticas, dando inicio ao movimento socialista e, depois, fascista. Diante dos maus-tratos dos patrões, os colonos Italianos recorriam à Justiça, sob a proteção de seus consulados.

Para os patrões , a posição tomada pelos colonos era totalmente nova, já que eles estavam acostumados ao regime escravocata. A influência Italiana na tradição Rio-Clarense tem vários exemplos, como a liderança do Movimento Constitucionalista de 1932 por um Cartolano, a primeira maior industria de propriedade de um Scarpa e a industria de tecidos Matarazzo".

História (153 ) - A experiência anarquista da Colônia Cecilia, no Paraná

José Antonio Vasconcelos, doutor em História Social pela Unicamp, professor na Universidade Tuiuti do Paraná e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. é autor do seguinte texto sobre a primeira experiência anarquista no Brasil: a Colônia Cecília.

"Em fins do século XIX, era bastante comum no sul do Brasil o sistema de colônias formadas por imigrantes europeus, dedicadas a atividades de ordem predominantemente agrícola. Dentre estas colônias, uma em especial, de nome 'Cecília', goza atualmente de relativa notoriedade. Embora de duração efêmera - foi fundada em 1890 e dissolvida em 1894 - ela tem sido objeto de inúmeras pesquisas acadêmicas no Brasil e exterior. Idealizada por um militante anarquista italiano de nome Giovanni Rossi, a colônia Cecília constituiu-se na vivência prática de um ideal de liberdade.

Como projeto, sua proposta era a de oferecer ao mundo uma prova da possibilidade de uma organização social onde a autoridade fosse inexistente. Desta forma, segundo Rossi, o discurso do movimento anarquista europeu se fortaleceria, pois o operariado seria seduzido pelo exemplo da colônia Cecília. Rossi sempre se manifestou desejoso de criar uma pequena comunidade onde os ideais anarquistas fossem plenamente vividos. Enquanto membro da Associação Internacional dos Trabalhadores, propunha a fundação de uma colônia socialista na Polinésia. Tendo sido convidado a dirigir Citadella, um projeto cooperativista na Itália, Rossi viu-se frustrado em seus objetivos, pois os camponeses italianos com os quais trabalhou revelaram-se extremamente reacionários no que concernia à propriedade da terra.

Convencido de que o fracasso de Citadella deveu-se, principalmente, à ausência de um ideal socialista entre os integrantes do projeto, Rossi moveu, então, uma campanha para a fundação de uma experiência anárquica na América. Motivado pela propaganda brasileira ao mercado de trabalho europeu, Rossi optou por fundar uma colônia no Brasil, e, em função das circunstâncias então encontradas, ele e um pequeno grupo de companheiros acabou se instalando no Paraná, no município de Palmeira. De fato, o século XIX foi palco de uma imensa série de experimentos socialistas - comunidades utópicas -, que guardavam clara semelhança com os projetos comunitários de Rossi. Todas estas iniciativas tinham como marca a tentativa de auto-suficiência e a freqüente concentração de esforços na atividade agrícola.

A colônia Cecília, nesse sentido, não foi exceção à regra. Os anos vividos na colônia, de acordo com os registros de Rossi, foram muito difíceis. O fracasso das colheitas, a precariedade das condições de moradia, o isolamento em que viviam os habitantes da colônia, a dificuldade de muitos com relação à adaptação ao trabalho agrícola, tudo isto era motivo de desilusão para aqueles que haviam abandonado a Itália em favor de seus ideais. Ao descontentamento causado pela ausência do conforto material, acrescentavam-se ainda os conflitos surgidos entre os próprios membros da colônia. Rossi tinha uma confiança muito grande na infinita capacidade de transformação do ser humano e por isso não havia uma seleção rigorosa dos elementos que integrariam a colônia Cecília.

Ali se reuniram indistintamente pessoas de procedências diversas. Muitos vieram à colônia imbuídos de sinceros ideais anarquistas, mas outros viam na Cecília somente uma colônia de imigrantes italianos, igual a tantas outras que havia no Brasil. Para estes o projeto de Rossi não representava senão a oportunidade para fugir da crise que assolava a Itália na época. Os desentendimentos resultantes dessa situação, o choque de idéias e valores, constituíram um fator importante para o fim da colônia. Após a dissolução da colônia Cecília, Rossi permaneceu no Brasil por ainda mais alguns anos, sem, entretanto, desempenhar atividades de militância anarquista. Ao deixar a colônia, em março de 1894, Rossi dirigiu-se a Taquari, no Rio Grande do Sul, onde passou a exercer a função de agrônomo.

Mais tarde mudou-se para Santa Catarina, morando primeiramente perto de Blumenau, e dirigindo a estação agronômica de Rio dos Cedros. Em 1907 Giovanni Rossi decidiu retornar à Itália, onde permaneceu até sua morte, em 1942. O fim da colônia Cecília, no entanto, não significou o fim do sonho de Rossi, que ainda mantinha vivo o desejo de criar núcleos experimentais de vida socialista. Sua ambição não era a de apontar o caminho, mas abrir perspectivas.

Rossi afirmava que seu propósito não era incutir o seu desejo nas massas incultas, mas sim de fazê-las desejar, e a partir disso iniciar a construção da sociedade futura. Isto talvez explique porque a colônia Cecília, apesar de sua breve duração, ainda hoje exerce um imenso fascínio sobre os pesquisadores que sobre ela se debruçam.

História (152) - "Far l´America ( 78): Imigrantes na Colônia Nova Itália, no Paraná

Para os imigrantes italianos o sonho de "Fazer a América" em terra brasileiras no final do século XIX esbarrava em inúmeras dificuldades. Nas colônias do Paraná esse cenário não foi diferente conforme relatam Eliane Mimesse e Elaine Maschio ( Universidade de Tuiuti e Faculdade Internacional de Curitiba) num trabalho comparando a imigração italiana em São Paulo e no Paraná .


"De acordo com Azzi (1987:213), em 1877, desembarcaram no Porto de Paranaguá cerca de 2000 colonos vênetos, estimulados por um sacerdote do Canal de Brenta. A Colônia Nova Itália, também na região litorânea, não prosperou devido aos mesmos problemas que afetaram a Colônia Alexandra. Vechia (1998) aponta como um dos principais problemas a localização dessas colônias, que dificultava a comercialização dos produtos. Além disso, muitas outras razões levaram ao fracasso daquelas colônias. Ferrarini (1973:42) afirma que outros fatores foram mais relevantes do que a distância.

Segundo ele, o presidente da província, em visita à Colônia Nova Itália, em 1878, relatou a precariedade das condições de sobrevivência e a insatisfação dos colonos ali estabelecidos: estavam sem alimentação nem vestuário e acometidos de muitas doenças decorrentes do clima do litoral. Havia mais de 800 famílias ocupando 610 lotes, dentre os quais, alguns eram impróprios para o plantio. Tudo isso dificultava a permanência desses colonos nessas localidades. O padre Pietro Colbacchini, em relatório datado de 13 de outubro de 1892, endereçado a Volpi Landi, presidente da Società Italiana de San Rafael e responsável pela assistência aos imigrantes, informou as condições dos colonos que viviam no litoral paranaense, nos anos de 1875 e 1877.

Entre tantos problemas, Colbacchini destacou as doenças mais graves, principalmente aquelas causadas por insetos. Azzi (1987:213) e Balhana (1958), também se referem às doenças causadas por insetos e pelo clima tropical. Mas o que gostaríamos de destacar no apontamento desses autores, é a transferência gradativa dos colonos do litoral em direção a Curitiba. Como nos informa Balhana (1958), a maior parte do contingente de imigrantes estabelecidos no litoral dirigiu-se a Curitiba e sua acomodação no planalto curitibano deu-se de modo diversificado. Muitos imigrantes que deixaram o litoral por conta própria e acabaram se instalando em colônias já existentes.

A maior parte se fixou em novas colônias formadas nos arredores de Curitiba devido à compra de terras feita pelo governo. Embora criadas no mesmo momento, as colônias dinamizaram formas de organização social, condizentes com cada grupo de imigrantes que nelas se estabeleceu e com a interação que esses diferentes grupos fizeram com a população brasileira. Assim, enquanto umas mantiveram por mais tempo uma cultura ligada a seu país de origem, outras sofreram mais rapidamente um processo de integração com a população paranaense, como foi o caso da Colônia Alfredo Chaves”.