quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cultura - A polêmica escultura da Travessia do Atlântico (3)


Após 25 anos, o  monumento Heróis da  Travessia do Atlântico, neste mês de dezembrro de 2010, voltou para seu lugar de origem: as margens da Represa de Guarapiranga (Zona Sul da Cidade de São Paulo) Obra do escultor ítalo-brasileiro Ottone Zorlini foi inaugurada em 1929, por iniciativa da Sociedade Dante Alighieri, como homenagem aos aviadores italianos Francesco De Pinedo e Carlo Del Prete, que dois anos antes (mas já cinco anos depois dos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral), a bordo do Savoia-Marchetti S.55, haviam feito uma das travessias aéreas pioneiras do Atlântico Sul, bem como ao brasileiro João Ribeiro de Barros, que, pouco tempo depois, ainda no ano de 1927, realizou a mesma façanha, a bordo do hidroavião Jahú.
Os mais jovens talvez não saibam que a obra de arte, que nos últimos 25 anos esteve na Avenida Brasil, foi durante muitos anos um marco do Distrito do Socorro e registra um dos fatos mais importantes da aviação brasileira, a travessia d Oceano Atlântico nos anos 20. Um verdadeiro feito para o início do século passado.
Em 1987, o então prefeito Jânio Quadros determinou que o monumento fosse movido para os Jardins, para ser protegido de uma série de depredações que vinha sofrendo, onde permaneceu até meados deste ano. Neste seu retorno ele ficará dentro do parque municipal da Barragem que é cercado e será iluminado, além de ficar exatamente em frente a um Distrito Policial, tudo isto para evitar que ele venha a sofrer qualquer dano no futuro.

Cultura - A polêmica escultura da Travessia do Atlântico (2)


“O monumento aos “Heróis da Travessia do Atlântico” (obra de Ottone Zorlini -Treviso, Itália, 1891 – São Paulo, 1967), sofreu vários danos exposto a céu aberto em São Paulo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os feixes de bronze foram retirados e recolocados tempos depois. Detalhes decorativos de bronze que adornavam a coluna foram furtados, assim como as placas de bronze, com inscrições em italiano, repostas em mais de uma ocasião.

Em 1985, o Instituto Cultural Umbro-Toscano de São Paulo solicitou a readequação do local de implantação do monumento à Prefeitura. A entidade temia pela integridade da obra, instalada num ponto em que a avenida De Pinedo forma um ângulo de 90 graus, com intenso tráfego de ônibus e caminhões. Julgando que o monumento estava “escondido” em Santo Amaro, o prefeito Jânio Quadros determinou sua transferência, em 1987, para a praça Nossa Senhora do Brasil.

O fato, abordado exaustivamente pela imprensa, causou muita polêmica. Na praça, a obra foi pichada várias vezes, em manifestações de repúdio ao regime fascista e a Benito Mussolini. Esquecia-se que o monumento presta justa homenagem a um feito louvável para a época e expressa as ideologias presentes no momento de sua concepção e implantação”. (Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo)

Cultura - A polêmica escultura da Travessia do Atlântico (1)


Mesmo antes de sua concepção, o monumento "Heróis da Travessia do Atlântico"- recolocado neste mês de dezembro de 2010 no seu lugar de origem, às margens da Represa de Guarapiranga,(zona Sul da cidade de São Paulo) - causou polêmica por estar associado à figura de Benito Mussolini. A Prefeitura de São Paulo, relembra como é que o monumento foi concebido. 
 


"Uma comissão de imigrantes italianos encaminhou à Câmara Municipal, em 1924, um pedido de licença para construir um monumento em homenagem a Benito Mussolini numa das praças de São Paulo. Mussolini, primeiro-ministro da Itália entre 1922 e 1943, era líder do movimento nacional-imperialista daquele país, conhecido como “fascista”. O pedido foi debatido pelos vereadores, mas logo ultrapassou o recinto da Câmara, provocando manifestações de vários segmentos da sociedade. Dada a reação, o projeto foi abandonado. Dois anos depois, no entanto, a idéia foi retomada, mas a oposição a ela continuava tão viva quanto sua defesa e, mais uma vez, o projeto ficou em suspenso.

Pouco tempo depois, o general Francesco De Pinedo, o piloto Carlo Del Prete e o mecânico Vitale Zachetti, todos italianos, atravessaram o Atlântico a bordo do hidroavião Savóia 55 “Santa Maria” e amerissaram na represa do Guarapiranga no dia 28 de fevereiro de 1927. Uma multidão os aguardava, composta, sobretudo, por italianos aqui radicados e seus descendentes. No dia 1º de agosto do mesmo ano, João Ribeiro de Barros realizou a mesma façanha, a bordo do hidroavião Jaú. A Light & Power Company teve de colocar bondes extras para atender aos populares que acorriam à represa saudar o aviador brasileiro. A Sociedade Dante Alighieri propôs a construção de um monumento “aos heróis da travessia do Atlântico”, junto à barragem do Guarapiranga e próximo ao local das amerissagens, no então município de Santo Amaro.

Para celebrar a aventura de seus compatriotas, Mussolini enviou a São Paulo uma coluna, com capitel em estilo jônico, retirada de uma construção milenar recém-descoberta no monte Capitólio, em Roma. A coluna foi incorporada ao monumento, inaugurado no dia 21 de agosto de 1929. Em declaração à imprensa, Ottone Zorlini (Treviso, Itália, 1891 – São Paulo, 1967), autor da obra, falou sobre o seu significado: “A junção ideal da época da Roma antiga às modernas conquistas que renovam e perpetuam a grandeza do passado, constitui a concepção geral da obra”.

No topo de um alto pedestal, uma escultura de bronze, chamada de “Vitória Alada”, lembra o sonho de Ícaro e aponta na direção do oceano. Na face frontal do pedestal, estrelas de bronze compõem a constelação do Cruzeiro do Sul. Nas laterais, encontram-se dois fascios. Um deles tem a esfera celeste e a inscrição “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira; o outro, o símbolo de Roma: uma loba alimentando os irmãos Rômulo e Remo. A coluna romana está engastada na parte inferior do pedestal. A altura total do monumento é de cerca de 9 metros.
Fascio e machadinha: simbologia fascista

O fascio – feixe de varas transportado por antigos oficiais romanos, junto com uma machadinha, quando acompanhavam os magistrados – era um símbolo utilizado na Antiga Roma para expressar a idéia de que, uma vez unidos, os homens não poderiam ser vencidos. O fascio foi resgatado por Mussolini e transformado em símbolo do fascismo.

Mussolini tinha interesses estratégicos nos vôos pioneiros dos aviadores italianos e estudava o estabelecimento de pontos de apoio para sua frota aérea. Chamava De Pinedo de “Senhor das distâncias” e o acompanhou na definição do itinerário da viagem pelo Atlântico e pelas Duas Américas. O hidroavião Savóia 55 foi batizado com o nome de uma das caravelas de Colombo, a “Santa Maria”, lembrando assim a descoberta da América pelo navegador genovês. A travessia do Atlântico, maior desafio da viagem, foi feita em linha reta entre Bolama, na Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), e Natal, no Rio Grande do Norte, seguindo depois pela costa brasileira até Buenos Aires. De Buenos Aires, os italianos cruzaram a América do Sul pelo interior do continente, seguindo os rios Paraná, Paraguai, passando por Manaus, Cuba, e alcançando a América do Norte. A travessia do Atlântico Norte foi feita em linha reta, de Terranova, no Canadá, à Ilha dos Açores".