sábado, 5 de junho de 2010

História (221)-"Far l'America"(130):Imigração no Pará e Amazonas nos séculos XIX e XX (3)

"Entretanto, os italianos não se detiveram em Belém ou mesmo nas bordas da Amazônia. Não foram poucos aqueles que, no final do século XIX, penetraram ao longo dos rios atrás do comércio da borracha e identificam as rotas comerciais. Testemunho desta atividade é Gregorio Ronca, oficial da marinha militar italiana que, em 1905, com um navio oceânico de guerra de 2.200 toneladas, depois de haver percorrido as Antilhas e as Guianas, subiu o rio Amazonas até Iquitos e Santa Fé, no Perú, a 2.285 milhas, ou 4.232 km do mar, encarregado pelo governo italiano de procurar rotas comerciais e estreitar relações com imigrantes.

O capitão Ronca, no seu longo diário, descreve com pormenores a comunidade italiana encontrada. E, subindo o rio, entre Belém e Manaus, encontra as comunidades mais numerosas e florescentes em Santarém e Óbidos, encruzilhadas comerciais importantes, não só pela borracha, mas também graças ao cacau, à castanha- do-pará, ao pirarucu".((Fonte: Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’" tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006)

História (220) - "Far l'America"(129):Imigração no Pará e Amazonas nos séculos XIX e XX (2)

"Na virada para o século XIX, sabe-se que o aspecto peculiar de Belém revelara uma apaixonada imitação da cultura européia, sobretudo, da urbanística parisiense e dos códigos estéticos da capital francesa, traduzida em pronunciada urbanização feita de avenidas arborizadas, jardins e praças, assim como de bibliotecas, museus, escolas e estabelecimentos bancários. No centro deste processo, coloca-se emblematicamente o Teatro da Paz (1878) e, mais tarde, numerosos edifícios ecléticos e art nouveau, como os palacetes Pinho, Bologna, Bibi Costa, Facciola, Montenegro, entre outros, além do Mercado de São Brás, da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, etc.

Em resumo, um grande número de artefatos que originaram o mito de uma “Paris na América”, como proclama o nome de uma grande e suntuosa loja daquele tempo; isso para não mencionar o mais conhecido café de Belém, não por acaso denominado Moulin Rouge. Em suma, tomava forma uma verdadeira e peculiar embriaguez cultural, produzindo modalidades construtivas inadequadas ao clima, como também modelos de comportamento por vezes grotescos naquela latitude, utilizados pelos novos ricos da borracha; 41 La presenza italiana nella circoscrizione consolare di Recife.
Sobre este assunto, Marília Ferreira Emmi desenvolve uma pesquisa junto à Universidade Federal do Pará, em Belém.  (www.ufpa.br/beiradorio/arquivo/beira29/noticias/noticia3.htm).

A propósito de imigração e urbanização 23 23 é o caso de vestir camisas engomadas, pretensiosos ternos de lã, ou ainda de submeter-se à tortura do fraque e da cartola em ocasiões festivas, para exibir o status econômico alcançado.Não sabemos até que ponto e de que maneira os italianos imigrantes participaram deste tipo de delírio cultural. Porém é certo que o “francesismo” reinante em Belém, na maior parte das vezes, não chega da França, mas da Itália. A começar pelo lugarsímbolo da cidade moderna: o Teatro da Paz, cujo modelo arquitetônico neoclássico é na realidade aquele do Teatro La Scala de Milão.

A decoração do teatro esteve a cargo dos pintores italianos Domenico De Angelis e Giovanni Capranesi (1887); o mesmo De Angelis foi contratado para pintar também a Catedral de Belém. Mas, sobretudo nos anos sucessivos, a mais interessante arquitetura eclética e art nouveau são obra de italianos: o Palacete Bolonha (1905), o Palacete Bibi Costa (1905) e o “Café do Parque” do engenheiro de origem italiana Francisco Bologna; as múltiplas obras de Filinto Santoro, calabrês de Fuscaldo: o Palacete do governador de Pará, Augusto Montenegro (1904), o Mercado de São Brás (1911- 16), o Colégio Gentil Bittencourt (1895); enfim, a Basílica de Nazaré, projetada por Gino Coppedé, tendo como modelo a Basílica de São Paulo, em Roma. Mas, enquanto o projeto de Coppedé, protagonista de primeira ordem do ecletismo italiano, é uma obra totalmente extrínseca, concebida na Itália e enviada de Gênova em 1909, o arquiteto Filinto Santoro, ao invés, mergulha fundo durante quinze anos no ambiente de Belém e da Amazônia em geral. Todavia, pretende e consegue utilizar materiais, operários, técnicos e artistas italianos na realização dos seus projetos".
(Fonte: Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’" tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006)