"Entretanto, os italianos não se detiveram em Belém ou mesmo
nas bordas da Amazônia. Não foram poucos aqueles que, no final do século XIX, penetraram ao longo dos rios atrás do comércio
da borracha e identificam as rotas comerciais. Testemunho
desta atividade é Gregorio Ronca, oficial da marinha militar italiana
que, em 1905, com um navio oceânico de guerra de 2.200
toneladas, depois de haver percorrido as Antilhas e as Guianas,
subiu o rio Amazonas até Iquitos e Santa Fé, no Perú, a 2.285 milhas,
ou 4.232 km do mar, encarregado pelo governo italiano de
procurar rotas comerciais e estreitar relações com imigrantes.
O capitão Ronca, no seu longo diário, descreve com pormenores
a comunidade italiana encontrada. E, subindo o rio, entre
Belém e Manaus, encontra as comunidades mais numerosas e florescentes
em Santarém e Óbidos, encruzilhadas comerciais importantes,
não só pela borracha, mas também graças ao cacau, à castanha-
do-pará, ao pirarucu".((Fonte: Vittorio Capelli,
professor-associado de História
Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio “A
propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália
meridional às ‘outras Américas’" tradução da
Profa. Dra. Núncia Santoro de
Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da
PUCRS.-2006)
Um blog para difundir e aprofundar temas da presença italiana no Brasil, bem como valorizar o Made in Italy. Um espaço para troca de informações e conhecimento, compartilhando raízes comuns da italianidade que carregamos no sangue e na alma. A italianidade engloba a questão das nossas raízes italianas e também reserva um olhar para a linha do tempo, nela buscando e resgatando uma galeria de personagens famosos ou anônimos que, de alguma forma, inseriram seus nomes na História do Brasil.
sábado, 5 de junho de 2010
História (220) - "Far l'America"(129):Imigração no Pará e Amazonas nos séculos XIX e XX (2)
"Na virada para o século XIX, sabe-se que o aspecto peculiar
de Belém revelara uma apaixonada imitação da cultura européia,
sobretudo, da urbanística parisiense e dos códigos estéticos da
capital francesa, traduzida em pronunciada urbanização feita de
avenidas arborizadas, jardins e praças, assim como de bibliotecas,
museus, escolas e estabelecimentos bancários. No centro deste
processo, coloca-se emblematicamente o Teatro da Paz (1878) e,
mais tarde, numerosos edifícios ecléticos e art nouveau, como os
palacetes Pinho, Bologna, Bibi Costa, Facciola, Montenegro, entre
outros, além do Mercado de São Brás, da Basílica de Nossa Senhora
de Nazaré, etc.
Em resumo, um grande número de artefatos que
originaram o mito de uma “Paris na América”, como proclama o
nome de uma grande e suntuosa loja daquele tempo; isso para não
mencionar o mais conhecido café de Belém, não por acaso denominado
Moulin Rouge.
Em suma, tomava forma uma verdadeira e peculiar embriaguez
cultural, produzindo modalidades construtivas inadequadas
ao clima, como também modelos de comportamento por vezes
grotescos naquela latitude, utilizados pelos novos ricos da borracha;
41 La presenza italiana nella circoscrizione consolare di Recife.
Sobre este assunto, Marília Ferreira Emmi desenvolve uma pesquisa junto à Universidade
Federal do Pará, em Belém.
(www.ufpa.br/beiradorio/arquivo/beira29/noticias/noticia3.htm).
A propósito de imigração e urbanização 23
23
é o caso de vestir camisas engomadas, pretensiosos ternos de lã, ou
ainda de submeter-se à tortura do fraque e da cartola em ocasiões
festivas, para exibir o status econômico alcançado.Não sabemos até que ponto e de que maneira os italianos
imigrantes participaram deste tipo de delírio cultural. Porém é
certo que o “francesismo” reinante em Belém, na maior parte das
vezes, não chega da França, mas da Itália. A começar pelo lugarsímbolo
da cidade moderna: o Teatro da Paz, cujo modelo arquitetônico
neoclássico é na realidade aquele do Teatro La Scala de Milão.
A decoração do teatro esteve a cargo dos pintores italianos
Domenico De Angelis e Giovanni Capranesi (1887); o mesmo De
Angelis foi contratado para pintar também a Catedral de Belém.
Mas, sobretudo nos anos sucessivos, a mais interessante arquitetura
eclética e art nouveau são obra de italianos: o Palacete Bolonha
(1905), o Palacete Bibi Costa (1905) e o “Café do Parque” do engenheiro
de origem italiana Francisco Bologna; as múltiplas obras de
Filinto Santoro, calabrês de Fuscaldo: o Palacete do governador de
Pará, Augusto Montenegro (1904), o Mercado de São Brás (1911-
16), o Colégio Gentil Bittencourt (1895); enfim, a Basílica de Nazaré,
projetada por Gino Coppedé, tendo como modelo a Basílica de
São Paulo, em Roma. Mas, enquanto o projeto de Coppedé, protagonista
de primeira ordem do ecletismo italiano, é uma obra totalmente
extrínseca, concebida na Itália e enviada de Gênova em
1909, o arquiteto Filinto Santoro, ao invés, mergulha fundo durante
quinze anos no ambiente de Belém e da Amazônia em geral.
Todavia, pretende e consegue utilizar materiais, operários, técnicos
e artistas italianos na realização dos seus projetos".
(Fonte: Vittorio Capelli, professor-associado de História
Contemporânea na Universidade da Calábria, no ensaio “A
propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália
meridional às ‘outras Américas’" tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de
Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006)
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