terça-feira, 26 de janeiro de 2010

História 42 – "Far l’ América ( 10 )": diáspora além do Mezzogiorno

Em “Emigrazione e Storia d´Italia", uma coletânea de textos de diversos autores coordenada por Matteo Sanfilippo, o capítulo “L´Emiggrazione Piemontese: um modello regionale?”, escrito por Paola Corti, traça um perfil da diáspora italiana a partir do século XIX no contexto da região Piemonte. Nota-se claramente que existem certas peculiaridades no grande êxodo piemontese que não aparecem na histogriografia da diáspora italiana do Mezzogiorno. Ao analisar a imigração na região alpina, Paola Corti lembra que os habitantes das áreas montanhosas não dependiam da agricultura pois exerciam atividades artesanais e comerciais ancorados na migração. "Não fugiam de um ambiente pobre e hostil pobreza, mas saiam em busca de recursos que surgiam num amplo horizonte territorial. Tratava-se de um modelo de resolver problemas e superar crises conhecido como "cultura da mobilidade".

História 41 – “Far l´America (9)": a raiz da diáspora no Mezzogiorno


Durante décadas a fio as pesquisas e estudos acadêmicos sobre a grande imigração colocaram o Mezzogiorno (sul da Itália) no centro do êxodo em massa. Creditou-se, basicamente, à chamada “Questione Meridionale” (Questão Meridional) o grande fluxo da saída em massa de italianos rumo ao exterior. Hoje a historiografia italiana já reescreve esse cenário dando destaque ao êxodo sob outros olhares, pontuando a diáspora no contexto também do Norte e Centro da Itália.(Obs: foto acima retrata camponeses em Siracusa - Sicilia em 1850)

Mas afinal, qual era o quadro que no Mezzogiorno favoreceu a diáspora naquela região? Um ótimo texto que faz compreender o complexo cenário do sul da Itália pré e pós Unificação Francesco Barbagallo autor do livro e está disponível na internet.

Para Barbagallo,  Unificação, longe de resolver a Questão Meridional, acabou por agravá-la. Barbagallo relata a dicotomia Norte-Sul, nos anos precedentes à Unificação, de maneira clara e objetiva: “A planície Padana (Norte) já era, há mais de dois século, caracterizada por um cenário agrícola plenamente capitalista: ou seja, pleno de miséria camponesa mas também rico em culturas intensivas, produção elevada e uso de tecnologia. (...) A sociedade meridional, no entanto, vivia numa fase intermediária feudalismo e capitalismo”.

O autor lembra que 90% da população meridional vivia miseravelmente e sofreria ainda mais com o fim dessa estrutura praticamente feudal. O contexto sócio-econômico meridional na visão de Barbagallo seria agravado pelo quadro de escolhas políticas nos primeiros anos de vida do reino da Itália, sempre centrada na questão da propriedade das terras e deixando de lado o lado social do campesinato.

A já difícil situação dessa população se agravaria ainda mais com a crise agrícola européia, um dos aspectos da grande depressão vivida entre 1873 e 1896. Barbagallo explica que os preços dos produtos na Itália em 1877 tiveram acentuada queda. “Esta foi para a Itália, a conseqüência retarda da então unificação do mercado mundial que se tornou possível graças à redução dos cutos com o transporte a partir do desenvolvimento das ferrovias e da navegação a vapor. Assim, os grãos que nos Estados Unidos passavam a ser cultivados com aporte mínimos de capitais e de mão de obra inundaram os mercados europeus, determinando a queda do preço dos cereais”.

Esses e ouros elementos detalhados por texto de Barbagallo mostram que, de fato, existia um clima favorável ao grande êxodo.