sábado, 6 de março de 2010

Italianità: Caminhos de Pedra, roteiro das raízes italianas na serra gaúcha (1)

Idealizado pelo engenheiro Tarcísio Vasco Michelon e arquiteto Júlio Posenato o roteiro Caminhos de Pedra visa a resgatar a cultura que os imigrantes italianos trouxeram à serra gaúcha desde 1875. O site Caminhos de Pedra conta as origens desse projeto

“O projeto surgiu a partir de um levantamento do acervo arquitetônico de todo o interior do município de Bento Gonçalves, realizado no ano de 1987. Constatou-se então que o Distrito de São Pedro, composto por 7 comunidades, (São Pedro, São Miguel, Barracão, São José da Busa, Cruzeiro, Santo Antonio e Santo Antoninho) possuía o maior número de casas antigas, conservava sua cultura e história, tinha acesso fácil e, conseqüentemente, um grande potencial turístico, apesar da decadência e abandono por que passou na década de 1960-70 com a mudança de traçado da rodovia que ligava Porto Alegre ao norte do Estado”.

“Esse precioso acervo material, parcialmente abandonado e esquecido, exigia uma ação rápida para não ter a mesma sorte de tantas e tantas casas de pedra, madeira e alvenaria que acabaram ruindo ou sendo demolidas. Com recursos do Hotel Dall’Onder algumas casas foram restauradas e passaram a receber visitação. O primeiro grupo de turistas proveniente de São Paulo, pertencentes à Agência CVC foi recebido na Cantina Strapazzon em 30 de maio de 1992”.

“O sucesso do novo roteiro animou tanto os idealizadores quanto a comunidade. Em 10 de julho de 1997, com assessoria do SEBRAE foi fundada a Associação Caminhos de Pedra, congregando empreendedores e simpatizantes. Montou-se então um projeto abrangente que contemplava o resgate de todo o patrimônio cultural, não só o arquitetônico, envolvendo língua, folclore, arte, habilidades manuais, etc. Este ambicioso projeto foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura no ano 1998 passando a partir de então a captar recursos das empresas locais através do Sistema LIC (Lei de Incentivo à Cultura do Estado do RS)”.

“Considerado pioneiro no seu segmento o roteiro Caminhos de Pedra é referência nacional e internacional tendo sido tema de muitos estudos e teses em termos de turismo cultural e rural, arquitetura, patrimônio histórico, empreendedorismo e administração entre outros”.

“Atualmente a Associação Caminhos de Pedra conta com cerca de 60 associados e o projeto, considerado pioneiro no Brasil em termos de turismo rural e cultural, está recebendo uma visitação média anual de 50.000 turistas. O roteiro está em expansão e possui 13 pontos de Visitação e 53 pontos de Observação Externa (assinalados no mapa com letra verde). Considera-se como área de abrangência do Projeto a Linha Palmeiro, por enquanto a parte que pertence ao município de Bento Gonçalves, mas a idéia é expandir o projeto até à cidade de Caxias do Sul, passando por Caravaggio”.

Arquitetura e Construção: legado dos italianos no Rio Grande do Sul (2)

Carlos Alberto Avila Santos autor do trabalho Construtores italianos no ecletismo arquitetônico do Sul do Rio Grande do Sul  traça perfis dos arquitetos e construtores italianos que ajudaram a urbanizar cidades gaúchas, no final do século XIX.

"O italiano José Isella contribuiu para a introdução da estética eclética nas fachadas edificadas no espaço urbano de Pelotas. Aos vinte e um anos veio para a América do Sul com o pai e um irmão, no ano de 1864, como fizeram vários imigrantes que se dirigiram ao Novo Mundo em busca de trabalho. Depois de um período em Buenos Aires, o construtor italiano chegou a Pelotas juntamente com o irmão Bartolomeo, provavelmente em 1867. Os dois irmãos se engajaram nas obras de edifícios ecléticos erguidos na cidade. José executava os projetos e Bartolomeo trabalhava como construtor. Uma das primeiras obras realizadas foi a residência do charqueador Felisberto Gonçalves Braga, em 1871, mais tarde adquirida pelo Clube Comercial e transformada em sede social".

"O italiano Guilherme Marcucci nasceu em San Geminiano, na região da Toscana, no ano de 1838. Estabelecido em Pelotas, colaborou em reformas e acréscimos nos Hospitais da Santa Casa e da Beneficência Portuguesa.14 Na Santa Casa de Misericórdia, como já foi assinalado, entre os anos de 1877 e 1884, trabalhou juntamente com José Isella na edificação da capela de São João Batista, que apresenta cúpulas de características da Renascença e frontão ornamentado com o brasão imperial e esculturas alegóricas da Fé e da Caridade. Guilherme Marcucci faleceu em Pelotas em maio de 1901".

"Os irmãos Davi e Carlos Zanotta migraram da Itália para o Brasil em 1870, aportaram em Montevidéu e dirigiram-se em seguida para Pelotas, onde firmaram contrato com a Intendência Municipal no mês de maio de 1871. O mais velho, Davi, era engenheiro hidráulico. Carlos era especialista em cantaria. Logo em seguida se somou aos primeiros o irmão caçula, Luis. Os Zanotta participaram da implantação de parte das canalizações das redes de água da Hidráulica Pelotense, das colocações de penas nas casas e da instalação dos chafarizes no espaço urbano da cidade".

Arquitetura e Construção: legado dos italianos no Rio Grande do Sul (1)

Na pesquisa sobre o legado da imigração italiana na história do Brasil, há quem se ocupe do campo da arquitetura. É o caso de Carlos Alberto Avila Santos autor do trabalho Construtores italianos no ecletismo arquitetônico do Sul Do Rio Grande do Sul .

“Em Rio Grande, Pelotas e Bagé, o estilo de origem européia foi introduzido por construtores italianos. Nas três últimas décadas do século XIX, os projetos arquitetônicos realizados se caracterizaram por edificações assobradadas com composições tripartidas, de influência italiana. No sentido vertical são compostas pelo porão alto, pela fachada propriamente dita e pelo coroamento feito pelas platibandas e frontões, enriquecidas com elementos funcionais e ornamentais de estuque, de ferro fundido ou forjado e de estátuas de louça. No sentido horizontal são divididas em três módulos, onde o central é destacado dos laterais através de reentrâncias ou saliências, destaque reforçado pelas pilastras e pelos frontões que o arrematam.

"Nas três primeiras décadas do século XX, se somaram às características italianas as influências francesa, germânica e inglesa, introduzidas por novos construtores. Entre os imigrantes atuantes nas obras de engenharia e arquitetura, destacamos nas cidades de Rio Grande, Pelotas e Bagé os italianos Bartolomeu Isella, José Isella, Guilherme Marcucci, Davi Zanotta, Carlos Zanotta, Luis Zanotta, Jerônimo Casaretto, José Obino, Pedro Obino, Sebastião Obino5 e Domingos Rocco” foto: (Biblioteca Pública em Pelotas - projeto de José Isella - fonte Prefeitura Municipal)

História (98 ) - "Far l´America (57)" : Igreja e a inserção do imigrante italiano na colonização de Limeira, interior de São Paulo

No trabalho desenvolvido por Marcel Camargo Silveira na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Imigração Italiana em Limeira-SP: Terra, Política e Instrução Escolar (1880-1900)  fica evidente a importância do clero na organização social do núcleo colonial de Cascalho.

"A descrição do local se descortina por meio das descrições feitas por sacerdotes que prestavam o serviço religioso na localidade, como, por exemplo, o padre Pedro Dotto, que descreve o lugarejo em relatório de 1 de março de 1904125, registrando que '(...) esta população não é grande, nem rica, mas de muito bom coração. Na maioria, são italianos vênetos'."

"A 31 de julho de 1904, a colônia seria visitada pelo próprio fundador do Instituto dos Missionários de São Carlos, o Monsenhor Scalabrini, bispo de Placência, que ficou deveras impressionado com a vida da colônia e com a notável adaptação de seus patrícios ao Brasil.126 A descrição do local se descortina por meio das descrições feitas por sacerdotes que prestavam o serviço religioso na localidade, como, por exemplo, o padre Pedro Dotto, que descreve o lugarejo em relatório de 1 de março de 1904125, registrando que '(...) esta população não é grande, nem rica, mas de muito bom coração. Na maioria, são italianos vênetos'.

"A vida das famílias no núcleo de Cascalho seria também marcada por várias adversidades. Muitos problemas se apresentavam, tais como: a inadaptação, os relacionamentos com os grandes proprietários de terra, as doenças tropicais e a pequena  propriedade, que muitas vezes era insuficiente para o sustento dos filhos e que se tornou um dos principais motivos da saída de pessoas de Cascalho para buscar outras oportunidades de trabalho nas fazendas, ou em cidades da região onde a industrialização tivesse começado. (FERNANDES, 2001, p. 48)

"A vida religiosa dessa comunidade, segundo o autor, teria sido, desde o início, continuamente cultivada. Com a chegada do padre Luis Stefanello ao núcleo de Cascalho, em 1 de outubro de 1911, e com a criação da paróquia, em 1914, o trabalho junto às famílias seria intensificado. O pároco conduziria efetiva rotina religiosa junto aos colonos, de maneira que a religião e a comunidade se identificassem em aparente harmonia contínua, uma tornando-se a própria extensão da outra. Para tanto, estaria disposto a sempre manter ativos o coral, a banda de música e a escola".

História (97 ) - "Far l´America (56)" : A inserção do imigrante italiano na colonização de Limeira, interior de São Paulo

O desenvolvimento da cultura cafeeira em São Pauloo braço do imigrante italiano foi fator fundamental para a expansão da atividade econômica num país basicamente agrário. São muitos os relatos sobre essa epopeia disponíveis na internet. Um deles é o trabalho desenvolvido por Marcel Camargo Silveira na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que em 2007 apresentou a dissertação de mestrado Imigração Italiana em Limeira-SP: Terra, Política e Instrução Escolar (1880-1900)  Entre outros cenários descritos, o autor relata criação núcleo colonial de Cascalhos (1885).

 "Os primeiros colonos que adquiririam lotes no núcleo colonial de Cascalho, segundo Stahlberg (2002, p. 23), não se adaptariam ao sistema de colonato local, tampouco ao clima da região, evadindo-se, a pouco e pouco, da colônia, dando assim lugar aos imigrantes predominantemente italianos que ali se fixariam e se adaptariam com facilidade a partir de 1893, exatamente no ano em que, por Decreto de 30 de dezembro, efetivar-se-ia a emancipação do núcleo, o que implicaria sua desvinculação da autoridade governamental estadual e conseqüente inserção nos domínios jurídicos e territoriais circunscritos à Câmara Municipal de Limeira".

"Os imigrantes italianos de Cascalho provinham, em sua maioria, do Vêneto, onde, segundo Alvim (1985, p. 36), a divisão das propriedades agrícolas obedecia aos seguintes critérios: as pequenas e médias propriedades concentravam-se nas montanhas, enquanto que as grandes propriedades instalavam-se nas planícies. Quanto à mão-de-obra, a autora categoriza da seguinte maneira: os que trabalhavam por conta própria e os que trabalhavam como assalariados, junto aos grandes proprietários, além de trabalhadores ditos braçais, que eram ligados à propriedade mediante contrato e os que trabalhavam somente em momentos de grande necessidade, recebendo por cotas diárias. No caso de Cascalho, o que se vê, sobretudo, é o trabalhador dono de pedaço de terra ser arregimentado para ajudar na colheita do café nas fazendas mais próximas, tal como os braçais na Itália".


História (96) - Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (9)

Na luta do movimento operário por melhores condições de trabalho, o papel das chamadas mulheres anarquistas não foi apenas aquele de dar apoio a seus maridos e filhos. Muitas se engajaram como militantes e, na linha de frente, inscreveram seu nome na história. Matilde Magrassi é uma delas. Uma breve biografia dessa libertária é apresentada no livro Mulheres Anarquistas  com texto disponível na Internet.

“Matilde veio da Itália junto com seu companheiro Luigi Magrassi, para continuar no Brasil as atividades anarquistas que já realizava em sua terra. Junto com o companheiro, integrou os primeiros grupos libertários e de teatro social, fundados pelas anarquistas no Rio de Janeiro. Morou no Rio de Janeiro e São Paulo na última década do século XIX e na primeira do século XX. Ajudou a fazer o jornal Novos Rumos, lançado em maio de 1905 e colaborou, entre outros, com o Amigo do Povo e O Chapeleiro, publicados em São Paulo em idiomas italiano e português; o primeiro sob a responsabilidade de Neno Vasco, e o segundo de José Sarmento Marques.

Matilde fez intensa propaganda anticlerical e participou de algumas assembléias. Para o 1o. de Maio de 1904, ela escreveu o texto "Emancipatevi!", que o jornal O Chapeleiro inseriu em idioma italiano na sua terceira página. Neste texto, Matilde lança um grito de alerta às mulheres trabalhadoras para que se libertem do estigma de serem apenas donas de casa. Ela destacava a importância do papel da mãe junto aos/as filhos, concluindo que não basta que só algumas pessoas conquistem direitos iguais, mas que todas consigam, existindo então a libertação do gênero humano”.