segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

História 19 - Italianos na Revolução Farroupilha: o contexto da guerra


Iniciada em 1835, a Revolução Farroupilha defendia o autonomismo do Rio Grande do Sul, uma região controlada por ricos estancieiros, proprietários de grandes faixas de terra e de gado. Além do poder econômico, essa classe dominante possuía também, o poder das armas:expostas aos constante conflitos na região fronteiriça, a elite gaúcha havia construído, ao longo de décadas, um considerável aparato militar.

A anexação do Uruguai ao Brasil, com o nome de Província Cisplatina, em 1821, seria saudada com muito entusiasmo pelos estancieiros gaúchos, que tinham, agora, a oportunidade de usufruir, sem maiores dificuldades, dos campos uruguaios, ampliando, assim, a área de pastagem. Depois de alimentado, o gado era trazido de volta ao Brasil, para ser abatido.


Porém, essa atividade sofreria um primeiro grande golpe quando, no reinado de Pedro I, os uruguaios conseguiram a independência (1827-1828) e passaram a cobrar altas taxas sobre o transporte dos animais pela fronteira. A taxação acabaria incentivando a passagem clandestina do gado gaúcho para as pastagens uruguaias, algo que contava com a colaboração dos comandantes brasileiros na região fronteiriça: Bento Gonçalves e Bento Manuel, ambos também proprietários de terra e de cabeças de gado.

O segundo golpe – e estopim da insurreição - recebido pela elite gaúcha foi a decisão do governo brasileiro de criar um imposto territorial, que atingiria em cheio os estanceiros do sul, já descontentes com a política tributária vigente, que lhes subtraíam divisas, sem o correspondente retorno em investimentos oficiais. Além disso, os dois comandantes da fronteira foram destituídos de seus postos, o que, evidentemente, levou a elite local à ira. Os primeiros combates aconteceriam em setembro de 1835, quando os revoltosos invadiram Porto Alegre, destituindo o presidente da Província do Rio Grande, Fernandes Braga.

Num primeiro momento, a liderança do movimento rebelde procurou, por meio de comunicados oficiais enviados o governo regencial do padre Feijó, firmar a seguinte posição: respeito à monarquia constitucional e nomeação, por parte do governo imperial, de um presidente provincial que merecesse a confiança dos gaúchos, não mais dispostos a submeterem-se a governantes considerados despóticos. Caso isso não fosse levado em consideração, a luta aramada prosseguiria, tendo como objetivo a formação de um Estado Republicano independente. Feijó, por sua vez, não se intimidaria e usaria da força para debelar a rebelião.

O resultado foi o acirramento do conflito, com vitórias e derrotas de ambos os lados. Em setembro de 1836, mesmo sem controlar Porto Alegre, recuperada pelas tropas legalistas, o comando farrapo acabaria decretando a independência do Rio Grande do Sul, que passava a ser considerada uma Nação independente, com o nome de República Rio-Grandense, o que nunca foi reconhecido pelo governo imperial. Quando em julho de 1840 era declarada a maioridade de Pedro II, (que então contava com apenas 14 anos), a Revolução Farroupilha caminha para o quinto ano de lutas e mortes.

Apesar das várias tentativas para a assinatura de um acordo que pusesse fim aos conflitos, a guerra civil prosseguia. O panorama, no entanto, começaria a mudar a partir de 1842, quando tropas comandadas por Luís Alves de Lima e Silva, o então Barão de Caxias, chegam ao Rio Grande do Sul, com o firme propósito de liquidar com o movimento rebelde. Várias outras batalhas aconteceriam até que se chegasse os termos da paz, algo que viria acontecer em fevereiro de 1845, com a Província do Rio Grande pacificada e reintegrada, plenamente, ao Império do Brasil.

História 18 - Italianos na Revolução Farroupilha: os fanáticos pelo cosmopolitismo


No sangrento cenário da mais longa revolta civil verificada no Brasil imperial, a Revolução Farroupilha (1835-1845), a presença italiana vai desde a propagação das idéias libertárias de Giuseppe Mazzini, um dos artífices do Risorgimento – o movimento que levou à Unificação da Itália – até a ação de valentes revolucionários, que lutaram lado a lado com os gaúchos pela independência do Rio Grande do Sul. A maioria desses combatentes italianos tem passado por nós praticamente anônima. Outros, no entanto, inseriram, definitivamente, seus nomes na historiografia brasileira e italiana: Giuseppe Garibaldi, Tito Livio Zambeccari, Luigi Rossetti, Giambattista Cuneo, entre outros. É deles, famosos e anônimos, que Assis Brasil, em sua História da República Riograndense (1882), assim falava. “...Levado por esse sentimento quase fanático de cosmopolitismo, que foi tão comum aos homens daquela época, e que também dominou Garibaldi, Rossetti, e tantos outros estrangeiros que serviram à República Riograndense, Zambeccari fez-se amar de todos os patriotas do Rio Grande, e pode ser considerado o seu verdadeiro real diretor mental”.

História 17 - Teresa Cristina, princesa em Nápoles e imperatriz no Brasil


No Brasil, a história da grande imigração italiana no século XIX, tem seu cordão umbilical preso ao Segundo Reinado. Em 1840, o período regencial – iniciado em abril de 1831 após a abdicação de D.Pedro I -, entrava em sua etapa final, com o crescimento da oposição liberal, favorável á coroação de Pedro II, mesmo antes que se completasse a maioridade (18 anos) do herdeiro dos Bragança.

Em novembro daquele ano, sem ter como conter o avanço liberal, os conservadores são, finalmente, derrotados quando a Assembléia Geral Legislativa do Brasil, declarava a maioridade de D. Pedro II. Depois da coroação do jovem monarca em 1841, a diplomacia brasileira redobrava os esforços na tentativa de encontrar uma esposa para o imperador, de preferência da família real austríaca, os Habsburgo. No livro As Barbas do Imperador, Lilia Moriztz Schwarcz, afirma que a missão “não era fácil, já que D.Pedro, imperador de um território distante e desconhecido, era considerado, além do mais, pobre.” A solução encontrada foi negociar com o rei de Nápoles, Fernando II, um Bourbon sem grandes fortunas, já que uma de suas filhas, Teresa Cristina Maria, tinha uma avó do ramo dos Habsburgo. Acertado o valor do dote, o casamento seria realizado na corte napolitana, por procuração, em julho de 1843.

Em seguida, a jovem imperatriz brasileira, de apenas 20 anos de idade, embarcaria rumo ao Rio de Janeiro, onde conheceria o seu marido em setembro daquele ano. Ainda segundo Lilia Moriztz Schwarcz, “malgrado as informações que lhe haviam chegado sobre as virtudes da imperatriz, d.Pedro só pôde notar-lhe os defeitos: Teresa Cristina era baixa, gorda, e além de tudo coxa e feia. A decepção estampou-se no rosto do jovem monarca, que, dizem, chorou nos braços da condessa de Belmonte".



O casal viria a ter quatro filhos, dois meninos que logo morreriam, e duas meninas, as princesas Isabel e Leopoldina. Teresa Cristina, ao longo de sua vida ao lado de D.Pedro II, sempre procurou ficar ao lado do marido, seja viajando com ele diversas vezes para a Europa, seja acompanhando e apoiando o mecenato do monarca em favor das artes, em particular a música.



Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a família real era expulsa do Brasil e voltava para Portugal. Teresa Cristina morreria pouco tempo depois, em 28 de dezembro daquele mesmo ano, vítima de problemas cardíacos. Tinha 67 anos, dos quais 47 foram vividos em solo brasileiro.