sábado, 10 de abril de 2010

História (151) - "Far l´America ( 77): Imigrantes na Colônia Nova Itália, no Paraná


 A mal sucedida experiência da Colônia Alexandra no Paraná acabaria dando origem a um novo núcleo colonial assim descrito por Luiz Carlos B. Piazzetta, tomando por base os arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta e publicado no blog Imigração Vêneta)



"Após o fracasso da Colônia Alexandra, ainda o número de imigrantes italianos, e vênetos em particular, continuava a aumentar nas terras do Paraná. Os recém-chegados eram recebidos em Paranaguá e depois levados para os barracões para imigrantes em Morretes, amontoados em grande promiscuidade, sem conforto e em precárias condições higiênicas.Ali foi criada a Colônia Nova Itália, inaugurada em 22 de Abril de 1877, a qual também teve uma vida curta e muito atribulada, com revoltas e desmandos administrativos que muito caracterizaram a história desta colônia, e também de outras iniciativas colonizadoras similares do período.O rítmo dos trabalhos, para a colocação definitiva dessa grande massa de imigrantes que chegava, era muito lento e a organização administrativa deixava muito a desejar. Em Janeiro de 1878 ainda se encontravam nos barracões mais de 800 famílias, portanto há aproximadamente 9 meses, na espera do seu lote de terra para trabalhar".

No mês de Março do mesmo ano viviam 3000 pessoas nos barracões esperando a sua colocação.Em um artigo surgido no mês de Março de 1878, no jornal Dezenove de Dezembro se relatava que: "existem mais de trezentos lotes já demarcados, cento e poucos estão ocupados e os restantes tem casas construídas já há seis meses mas, ainda sem teto, quase todas danificadas por estarem expostas ao tempo, por terem sido construídas com péssimo material adquirido a preço esorbitante".

"Não existe uma estrada para os lotes e os colonos os recusam pois são invadidos pelas águas durante as cheias dos rios ou localizados em terreno muito montanhoso. Os colonos estão quase na miséria, sem roupas, sem casas habitáveis, sem sementes para as suas primeiras plantações. Estão completamente desencorajados, ainda mais que muitos terrenos distribuídos são ruins e pantanosos". Ainda em Fevereiro as condições sanitárias continuavam muito precárias. Assim, em comunicado ao Ministério a presidência advertia que: 'Situada em uma localidade pouco salubre, circundada por terrenos pantanosos e baixos, sujeitos à inundações do Rio Nhundiaquara, muito freqüentes naquela zona, acarretando, como está acontecendo atualmente, febre tifóide, malária e outras enfermidades graves'.

"Em Março do mesmo ano, proveniente do Rio de Janeiro, chegaram alguns navios e com eles doentes com febre amarela. Já no dia 20 de Março a cidade de Antonina foi atingida por uma epidemia desta terrível doença, que apesar dos esforços para contê-la rapidamente atingiu Morretes e Paranaguá, e a notícia das primeiras mortes.A Colônia Nova Itália foi bastante atingida pela epidemia de febre amarela e as mortes foram muitas".

"Porém, outras doenças graves ceifavam a vida dos primeiros imigrantes: anemia por verminoses que atingiam especialmente as crinças, as doenças transmitidas por mosquitos que infestavam aquela zona e por outros parasitos, menos conhecidos, como o bicho-de-pé, que tornavam um inferno a vida daqueles pioneiros. O descontentamento era geral entre os colonos. Alguns procuravam meios para retornarem a seus países, sem encontrarem muita ajuda. Finalmente no mês de Julho o governo do Paraná resolveu transportar parte dos habitantes da Colônia Nova Itália, para colônias localizadas ao redor de Curitiba, a capital do Estado".

História (150) - "Far l´America ( 76) - O início da imigração italiana no Estado do Paraná

O grande êxodo dos italianos nas décadas finais do século XIX teve como um de seus destinos no Brasil o Estado do Paraná. Eliane Mimesse e Elaine Maschio ( Universidade de Tuiuti e Faculdade Internacional de Curitiba) num trabalho comparando a imigração italiana em São Paulo e no Paraná abordam a a inserção dos pioneiros nas terras paranaenses.

“No Paraná, a introdução de imigrantes italianos deu-se, primeiramente, por um contrato firmado entre o presidente da província, Venâncio José Lisboa, e o empresário Sabino Tripoti, no ano de 1871 (Balhana,1958:28). Muitos dos imigrantes foram instalados, inicialmente, na Colônia Alexandra no litoral, criada no ano de 1875. Embora a proposta política de distribuição de terras - dinamizada pela província para os imigrantes que desejassem a posse da terra e buscassem o desenvolvimento agrícola e, econômico - fosse aparentemente vantajosa, os imigrantes que pensavam encontrar condições propícias no Paraná, acabaram sofrendo as conseqüências da falta de interesse e de responsabilidade dos agentes da imigração quando de
seu ingresso e instalação no país”.

“O empresário Tripoti, exemplo de falta de responsabilidade, fundou a Colônia Alexandra na região litorânea movido por interesses pessoais. Localizada próxima ao Porto de Paranaguá, despenderia poucos recursos para o transporte dos colonos, Dessa forma, poderia o empresário trazer um número muito maior de imigrantes com a metade dos recursos que o governo lhe pagaria. Segundo Balhana (1958:29), Tripoti não estava interessado nem nos colonos nem na colonização da Província. Seu objetivo era atrair um número maior de imigrantes, uma vez que recebia 500 liras e não despendia mais de 100 por imigrante que trouxesse. Para convencer o maior número deles na Itália, o empresário confeccionou folhetos denominados Carta ao Amico Colono, que traziam informações contrárias e enganosas sobre a realidade daquela colônia”.

“No demorou muito para que aparecessem as conseqüências dessa prática e dessa política. O mau planejamento colocava em evidência a situação lastimável da colônia, tornando quase impossível à sobrevivência dos imigrantes. A localidade tornou-se pequena para o grande número de imigrantes que ali aportava. Os poucos colonos que conseguiram terras não tiveram êxito com a produção devido ao clima, que não era propício para o tipo de cultivo trazido do norte da Itália. A maior parte deles era composta por camponeses contadini, que procediam do Vêneto, região de clima muito frio. (Maschio, 2005)”.

Inúmeras reclamações chegavam a Curitiba da Colônia Alexandra. Muitos imigrantes desejavam até mesmo retornar à Itália, pois julgavam terem sido enganados pelas falsas promessas das propagandas. A melhor solução aos imigrantes seria a assistência e sua remoção para outro lugar. Assim, o governo rescindiu o contrato com o empresário e promoveu diretamente a imigração e a reimigração de colonos”.