quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Italianitá– O jeito de ser italiano na literatura do modernismo brasileiro:as sátiras de Juó Bananére (3)


Os textos no dialeto macarrônico criado por Juó Bananére (pseudônimo de Alexandre Marcondes Machado) ganharam fama na revista O Pirralho, a partir de 1911. Posteriormente foram reunidos no livro La Divina Increnca, cuja primeira edição data de 1924  (Irmãos Marrano, Editores).

O poema Migna Terra, por exemplo, brinca,  no macarronês de Bananére, com o famoso poema Canção do Exíio do poeta romântico Gonçalves Dias.



MIGNA TERRA  
(Juó Bananére)
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá,
As aves che stó aqui,
Tambê tuttos sabi gorgeá.
A abobora celestia tambê,
Chi tê lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella
Chi non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi
Dus rio di tuttas naçó;
I os matto si perdi di vista,
Nu meio da imensidó.
Na migna terra tê parmeras,
Dove ganta a galligna dangolla;
Na migna terra tê o Vapr’elli,
Chi só anda di gartolla.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
 

Análise acadêmica
No site da Unicamp, uma das mais renomadas Universidades do Brasil, Cesar Augusto de Oliveira Casella analisa o poema Migna Terra no texto “La Divina Insgugliambaçó ou ‘como se lê um poema em português macarrônico

“Migna Terra’ não é apenas uma paródia cômica do poema de Gonçalves Dias, mas um canto paralelo, pois ao mesmo tempo em que ironiza seus aspectos ufanistas e patrioteiros, presentifica o tema, atualizando-o para uma nova situação. Através do conflito operativo de dois idiomas, o italiano e o português, e sua resultante na invenção de uma nova linguagem, traz à tona um momento histórico diverso daquele cantado pelo poema romântico”, analisa Cristiana Fonseca. Além deste aspecto histórico e social, e para além também do aspecto literário e estético, podemos trabalhar o imbróglio de idiomas de que se serve o autor. A oralidade subjacente à escrita de Juó é evidente. Pode-se ouvir um imigrante italiano que veio, ignorante e esperançoso, trabalhar braçalmente no Brasil, ou melhor, nas lavouras de café do interior paulista, território bem conhecido pelo engenheiro Alexandre Machado, e que por um motivo ou outro, acabou encravado em um bairro de imigração italiana na cidade de São Paulo.

Temos a mistura explicita e gráfica dos idiomas em galligna, em dove, em tuttas, em moltos. Temos índices da suposta ignorância, atribuída aos imigrantes ítalo-paulistanos, em abobora celestia substituindo abobada celestial, em maise grandi no lugar de maior. Temos aspectos ligados a sonoridade em abobora, que não possui o acento para que haja uma maior aproximação com o idioma italiano, em tê e em tambê, quando o final é alterado para se aproximar foneticamente do linguajar italianado”.  

Italaini - Ottone Zorlini: arte e polêmica


Autor do polêmico monumento Travessia do Atlântico, Ottone Zorlini (Treviso Itália 1891 - São Paulo SP 1967) é assim descrito no verbete da  Enciclopédia Itaú Cultural

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“Pintor, escultor, desenhista e ceramista. Inicia sua trajetória profissional, aos 13 anos de idade, quando começa a trabalhar em uma fábrica de cerâmica. Muda-se para Veneza, onde em 1906, cursa a Academia de Belas-Artes e freqüenta os ateliês do escultor Umberto Feltrin e do ceramista Cacciapuoti. Nessa cidade, executa retratos e monumentos funerários, por volta de 1919. Em 1927, vem para o Brasil, onde realiza o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico no ano seguinte. Passa a conviver com os pintores Mario Zanini, Francisco Rebolo e Alfredo Volpi, integrantes do Grupo Santa Helena, em São Paulo

Com esses artistas, viaja constantemente pelos arredores do litoral paulista, entre 1936 a 1943. Além dessas atividades, participa da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. De 1959 a 1963 dedica-se a escultura elaborando bustos e obras fúnebres”.