sábado, 6 de fevereiro de 2010

História 62 - "Far l´America (30 ): o que plantavam e colhiam os primeiros colonos italianos no Rio Grande do Sul




No artigo A imigração européia no século passado: o programa de colonização no Rio Grande do Sul  a professora Vania Herédia do Departamento de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul, fala do sistema agrícola nas colônias gaúchas nos primeiros tempos da imigração italiana no século XIX. 


“Os pequenos proprietários de terra tornaram-se pequenos produtores que através da mão-de-obra familiar, iniciaram a história da zona colonial com muito trabalho e esforço. Apesar da agricultura inicial ser marcada por culturas da sobrevivência, sem traços de cultura permanente, foi uma lavoura desenvolvida do tipo indígena. O sistema agrícola adotado nessa região foi o de rotação de terras, predominando inicialmente a cultura do milho e da capoeira. Esse sistema de lavoura, chamado de 'rotação de terras melhorada' , prosperou apesar da pobreza do solo enfraquecido com o tempo devido a essa prática de esgotamento”.

“Plantavam duas vezes ao ano e a colheita lhes trazia bons resultados. Pela descrição dos mais antigos, em confronto com o sistema europeu, a terra era fértil, a água era abundante e o resultado era frutífero ."Em outubro se plantava o milho que era colhido em maio. Logo depois, de maio a meados de julho, era plantado o trigo, que era colhido em dezembro”.

“Com o tempo, os imigrantes italianos alteraram o sistema de plantio, devido aos contatos com os alemães na parte Superior da Encosta da Serra. Entretanto, não ocorria preocupação nenhuma com a proteção da natureza nem defesa contra a erosão. Com a implantação das vinhas , o processo na viticultura caracterizou a economia local, como fonte de lucros, perpassando o consumo doméstico para se caracterizar como uma das principais culturas permanentes da região e como o principal produto comercial”

História 61 - "Far l'America" (29): a delimitação das colônias na serra gaúcha

A professora Vania Herédia do Departamento de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul, explica no texto intitulado A imigração européia no século passado: o programa de colonização no Rio Grande do Sul explica como foi a demarcação das colonias gaúchas que receberam os imigrantes europeus.



“A retomada da colonização pelo Governo Imperial foi provocada pelo fracasso da política colonizatória exercida pela Província.

 Desta forma, o Governo Imperial se empenhou em promover o povoamento das colônias Conde D’ Eu e D. Isabel, colônias já demarcadas, e também fundar uma terceira colônia chamada "Fundos de Nova Palmira", cujos limites eram os Campos de Cima da Serra, as colônias de Nova Petrópolis, Nova Palmira e Picada Feliz .

Essa colônia foi sugerida pelo engenheiro Augusto Napoleão de Saint Brison, medidor oficial dessas terras, ao prever problemas administrativos, caso essas terras fossem anexadas à Colônia Imperial de Santa Maria da Soledade. Essa nova colônia compreendia 17 léguas quadradas. Dois anos mais tarde, o Governo Imperial criava a quarta colônia para abrigar os novos imigrantes chegados à Província. Essa colônia chamou-se Colônia Silveira Martins, completando com sua criação o núcleo básico inicial da imigração italiana no Rio Grande do Sul” A colonização no Rio Grande do Sul foi fundada sob o regime da pequena propriedade. Os alemães em 1824 receberam lotes coloniais de 77 hectares. Em 1848, os lotes coloniais foram reduzidos para 48 hectares (28), parecendo ser um tamanho ideal para um lote a ser ocupado com agricultura intensiva.

Em 1875, os lotes foram alternados para 25 hectares, medindo 200 a 250m de frente e 1.000 a 1.250 de profundidade, conforme descreve Jean Roche em seu estudo sobre a colonização alemã no Rio Grande do Sul (29). As colônias agrícolas do Nordeste do Rio Grande do Sul foram no início divididas em léguas quadradas, linhas e travessões. Nem todas as léguas possuíam o mesmo número de travessões, dependendo dos acidentes do terreno, visto que as divisões eram feitas de forma geral sobre os mapas, não respeitando os acidentes geográficos de grande relevo . Esse sistema foi parcialmente alterado sendo os travessões substituídos por linhas numeradas, e as léguas, substituídas por secções. O número médio de lotes em cada légua era de 132, enquanto o de travessões era de 32 .Desta maneira, os limites de cada colônia eram demarcados pelos travessões que significavam a divisão territorial entre as diversas localidades. Os colonos, quando chegavam à colônia, podiam escolher livremente o lote de sua preferência, pagando à vista o preço fixado segundo o regulamento da colônia"

"Os colonos que compravam terras a prazo recebiam títulos provisórios ou de designação de lotes e o título fosse quitado com a Fazenda Nacional e assinado pelo Presidente da Província (39). Os imigrantes no início da Colônia prestavam serviços na abertura de estradas, na construção de barracões, na abertura de picadas, em troca de somas que eram investidas em terras. Era uma forma de trabalho assalariado que lhes permitia ganhar em dinheiro para pagar as dívidas existentes".

História 60 - "Far l´' América" (28 ): como os gaúchos prepararam as bases da colonização

A professora Vania Herédia, Doutora em História das Américas - Universidade de Genova, Itália e com atuação no Departamento de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul, assim explica no texto intitulado A imigração européia no século passado: o programa de colonização no Rio Grande do Sul assim explica a evolução da colonização das terras gaúchas.


"O Governo Geral havia concedido em 1848 (10), como doação 36 léguas quadradas de terras para a colonização de emigrantes europeus que ocuparam a planície dos Vales do Rio Caí e do Rio dos Sinos.
O Governo Provincial do Rio Grande do Sul solicitava mais terras devolutas do planalto, cobertas de mata virgem, ou seja, dois territórios de quatro léguas em quadro, equivalentes a 32 léguas quadradas para continuar a obra de colonização. Essas terras situavam-se na região da Encosta Superior da Serra do Nordeste da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, localizada entre as bacias dos rios Caí, Antas e Taquari, com os limites geográficos em São João do Montenegro, São Sebastião do Caí, Taquara do Mundo Novo e São Francisco de Paula de Cima da Serra.

O Governo Provincial tinha a pretensão de, além de implantar novas colônias agrícolas, com mão-de-obra européia, abrir estradas que permitissem a ligação do planalto com a Depressão Central. Essa concessão feita no ato de 9/02/1870 pelo Ministério da Agricultura  não fora gratuita, e, era necessário pagar ao Governo Geral o preço de um real por braça quadrada medida.

O núcleo de Conde D’ Eu e de Dona Isabel foram as primeiras colônias provinciais a serem organizadas no ano de 1870, criadas pelo Ato de 24/05 daquele ano pelo presidente da Província João Sertório (12).Essas colônias apresentaram uma série de dificuldades para serem povoadas. Em 1871, os sintomas do fracasso da ocupação dessas terras era visível, pois apenas 37 lotes haviam sido ocupados em Conde D’ Eu e nenhum em Dona Isabel.

Devido a essa situação, o Presidente da Província, Francisco Xavier Pinto, assinou um contrato em 29/04/1871, pela Lei n° 749 com a Companhia Caetano Pinto & Irmãos e Holtzweissig & Cia.de introduzir 40.000 colonos. Em 1872, o número de colonos radicados nas colônias foi de 1.354; em 1873, 1.607; em 1874, 508 e, em 1875, foi de 315" .

História 59 – "Far l´’ América" (27): a lei que favoreceu a formação das colônias no Rio Grande do Sul

Para entender como ocorreu o processo de colonização das terras públicas no Rio Grande do Sul, um texto bastante sintético, porém muito elucidativo, é, de autoria de Vania Herédia, Doutora em História das Américas - Universidade de Genova, Itália e com atuação no Departamento de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul. Segundo a professora Vânia Herédia, em 1854 vigorava a “Lei 504, pela qual a colonização se faria à base de venda da terra e da indenização das despesas nos cinco anos subsequentes ao estabelecimento nas colônias, cabendo à Repartição Geral das Terras Públicas a delimitação das mesmas" Essa Lei Providencial n° 301 constitui-se na Carta de Colonização da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a qual estabelecia os princípios básicos da colonização.


Eis alguns artigos da lei.

Art. 1° - A Colonização da Província será feita sobre a base de terras; para este fim fica o respectivo presidente autorizado a comprá-las nos lugares mais próprios quando neles não haja terras devolutas compreendidas na disposição do art. 16 da Lei Geral n° 514, de 28 de outubro de 1848; esta venda será feita pela forma e sob as condições seguintes:

Art. 2° - O Presidente da Província empregará as quantias anualmente consignadas pela Assembléia Provincial na compra de terras usadas para a lavoura, as quais mandará medir, dividir e demarcar os lotes em cem mil braças quadradas para serem expostas à venda aos colonos, sendo o preço mínimo de cada lote 300$000.

Art. 3° - Na mediação e demarcação das colônias o Presidente da Província fará reservar as terras precisas para estradas, porto, igrejas, cemitérios e outras servidões públicas, cuja necessidade se reconhecer.

Art. 4° - A venda das colônias poderá ser feita a prazos, que excedam a 5 anos, e pelo excesso pagarão os colonos o prêmio de 1% ao mês, ficando as terras hipotecadas até o completo pagamento, não só estas, como também das quantias que lhes tiverem sido adiantadas.

Art. 5° - Fica o Presidente da Província autorizado a adiantar para auxílio da passagem dos colonos, que espontaneamente se apresentarem na Província, até a quantia de 50$000, por cada um qualquer que seja a sua idade ou sexo, com obrigação de reembolso no prazo e com as condições do artigo antecedente.

Art. 6° - Fica também autorizado a fazer as despesas indispensáveis com as acomodações dos colonos enquanto não chegarem ao lugar de seu destino, se não estabelecerem em casas próprias, sem que eles fiquem na obrigação do reembolso dessas quantias.

Arquitetura - : perfil de uma obra de porte: o Cotonifício Rodolfo Crespi

Na virada do século XIX para o XX, São Paulo contava no bairro da Mooca com um edifício industrial de grande porte: o Cotonifício Rodolfo Crespi. Um relato interessante dessa construção está disponível na Internet, num trabalho de Marcos José Carrilho. A seguir trechos desse documento que descreve detalhes de como era o edifício, originalmente.

“Dados da história da empresa são bastante escassos. Porém, o desenvolvimento da indústria pode ser avaliado pelo sucessivo aumento de capitais no transcurso dos primeiros anos de suas atividades. Em 1909 contava com um capital de cerca de Rs 3.000:000$000, tendo sido ampliado para Rs. 4.000.000$000 em 1911 e Rs. 6.000.000$000 no ano seguinte. (Bertarelli, 1922: 227).

O estabelecimento era atendido à época por rede elétrica, consumindo 3.000 HP de energia, complementados pelo consumo de 200 toneladas mensais de óleo em suas caldeiras, para atender as suas seções de tinturaria, preparação e acabamento” “Da mesma forma, não é fácil traçar a evolução física do Cotonifício Crespi com base nas informações disponíveis. A documentação existente no Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo não é muito expressiva.

Há, porém, requerimentos à municipalidade desde o ano de 1904, relativas a sucessivos pedidos de construção, reformas e ampliações de suas instalações” “O edifício principal é uma construção de excepcional interesse quer sob o aspecto industrial, quer sob o aspecto arquitetônico. Destaca-se como unidade fabril peculiar, com desenvolvimento em altura, constituindo um raro exemplar deste tipo de construção no Brasil. Corresponde, além disso, à tipologia das warehouses inglesas ou norte-americanas, que podem ser encontradas em várias de suas cidades industriais.

Marcos CarilhoA estrutura do edifício foi inteiramente importada do Reino Unido, constituída de perfis usinados de aço procedentes tanto da Escócia, como da Inglaterra, como poder ser verificado pela marcas dos fabricantes – Glengarnock Steel – impressas nas peças. Assim, colunas, vigas principais e perfis de sustentação das lajes são todos pré-fabricados segundo um projeto geral, compondo um conjunto de peças a serem montadas no local”.

“Sob o aspecto arquitetônico trata-se de uma edificação moderna, que antecipa em vários anos alguns dos preceitos, que viriam a se tornar correntes, apenas a partir dos anos 30. Ali podemos constatar, além dos procedimentos industriais de construção acima referidos, o princípio da estrutura independente, isto é, os elementos de sustentação do edifício não se confundem com os demais componentes da construção e as paredes não atuam apenas como elementos de vedação.

Tal condição estrutural permite a adoção da chamada planta livre, proporcionando ampla flexibilidade na organização dos pavimentos. As fachadas, embora aparentem tratamento formal convencional, são dotadas de amplas aberturas, prenúncio do que mais tarde viria a ser adotado, as vedações contínuas de vidro. Finalmente, destaca-se o uso da cobertura plana com laje impermeabilizada. Em outras palavras, esta edificação, no anonimato de uma construção utilitária, antecipa de vários anos alguns dos princípios preconizados pela Arquitetura Moderna”

Italiani: Rodolfo Crespi, um imigrante na industrialização de São Paulo

A cidade de Busto Arsizio, na Lombardia, orgulha-se de sua antiga tradição têxtil. E foi de lá que em no final do século XIX, um jovem que em 1893, aos 19 anos, decidia partir para o Brasil em busca de um futuro que sonhava promissor. 
Desembarcando em São Paulo, Crespi foi trabalhar como operário na fábrica de um italiano já estabelecido na cidade.
Pouco tempo depois, 1897, o jovem Crespi daria o primeiro grande salto em sua vida, fundando com apoio de seu sogro uma tecelagem destinada a se tornar uma das grandes indústrias paulistanas: o Cotonifício Rodolfo Crespi. Em 1898 sua a empresa instalada no bairro da Mooca ocupava um enorme prédio de três andares na esquina da rua dos Trilhos com a rua Taquari (com fundos para a rua Visconde de Laguna), onde hoje está instalado uma unidade dos Hipermercados Extra. O Cotonifício Crespi operou até 1963.

Italiani: Giacomo Crespi e arte dos sinos

Apresentar a genealogia completa da família Crespi, seria complicado. O ramo da família que hoje vive no Brasil tem, em seus registros, em dois livros escritos e editados na Itália, pelo Exmo. e Revmo. Dom Gino Cavaletti, no ano de 1985. Os livros mostram a caminhada dos "CRESPI", suas realizações e documentos autênticos que comprovam a existência desde 1498, em Crema - Itália. Existe ainda o ramo de Rodolfo Crespi, imigrante italiano e fundador do famoso Cotonifício Rodolfo Crespi.

Roberto Crespi Marenco, neto e sucessor do grande mestre e artífice de sinos, Giácomo Crespi, acredita que, os "CRESPI" tenham mais de 1000 anos, devido às histórias que seus antepassados contavam. Roberto não consegue mais definir quantos sinos foram fabricados pela Fundição Crespi, pois desde a época das grandes navegações, já se ouviam o som dos sinos por eles fabricados.

Pelo mundo afora, ouvem-se os sinos fabricados pelos "CRESPI", principalmente, na Europa, Estados Unidos, África, Iugoslávia, Egito (no Cairo) e América do Sul. Um fato curioso está registrado em crônicas do século XVIII. Conta-se que Napoleão Bonaparte ao passar pela Praça II Duomo, na cidade italiana de Crema, mandou parar sua carruagem somente para ouvir o som melodioso dos sinos, de fabricação Crespi, que tocavam.

Naquele tempo Domenico Crespi foi considerado um gênio por ter inventado o Relógio Monástico, que possuia no disco central, aspectos astrológicos e as fases lunares, em 1750 e, também por ter criado no mesmo ano, as escalas musicais para os sinos. Giácomo Crespi, que nasceu em 21 de Maio de 1887 em Milão - Itália, veio para o Brasil em 1959, e só parou de fabricar sinos quando faleceu no dia 26 de Julho de 1980. O grande mestre dos sinos, recebeu como homenagem e reconhecimento à sua nobre arte, uma Rua na Vila Mirante - Bairro Pirituba/SP.