quinta-feira, 3 de junho de 2010

História (217) - "Far l'America" ( 126): Imigração meridional em Sergipe

Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria no ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’ ”(tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006) discorre sobre a da presença italiana em Sergipe no séculos XIX e XX.

"Transferimo-nos agora da Bahia para o vizinho estado de Sergipe, na pequena Aracaju, onde o número de italianos é muito menor. Entretanto, nesta modesta presença, encontram-se múltiplos e justificados motivos de interesse. A proveniência geográfica é sempre a mesma: o território compreendido entre as províncias de Salerno e de Cosenza. A tipologia migratória é a mesmíssima, mas com traços sociais mais elevados: os italianos de Aracaju são comerciantes, empreendedores e artistas, que deram uma contribuição decisiva à renovação urbana da pequena capital de Sergipe na primeira metade do século XIX.

O mais conhecido pioneiro da pequena colônia italiana é o comerciante Nicolau Pungitori (1845-1909),31 que construiu o teatro “Carlos Gomes”, em 1903. Os expoentes mais lembrados da geração sucessiva italiana são Nicola Mandarino (1883), de Vibonati- Campania, e Federico Gentile (1888-1970), calabrês de Paola: o primeiro, proprietário de uma grande marcenaria, em Aracaju, de uma fábrica de sabão e de um depósito de tecidos; o segundo, ativo construtor civil, junto com o irmão Attilio. Mandarino conquista um posto de primeiro plano na elite sergipana e, por isso, será alvo fácil das manifestações antiitalianas no verão de 1942, depois do afundamento de um navio mercantil brasileiro por submarino alemão, no largo de Aracaju, provocando mais de duzentas mortes.

Gentile faz parte da dita “Missão artística italiana” que, a partir de 1918, renova visivelmente o equipamento urbano da cidade. Trabalham Bellando Bellandi (arquiteto), Oreste Gatti (pintor), Bruno Cercelli (escultor e decorador), Raffaele Alfano (cinzelador), Hugo Bozzi (construtor). Em particular, destaca-se o arquiteto Bellandi, restaurador da fachada do palácio do governo em estilo eclético, que se torna modelo imprescindível para as residências dos ricos de Aracaju; Gentile, que é o construtor mais importante da cidade, constrói muitas vilas para a oligarquia local e para os italianos enriquecidos, prédios em que insere elementos modernos, ecléticos e art nouveau, transformando a arquitetura local, segundo a moda européia. Pertencer à maçonaria torna-se comum e caracteriza a pequena comunidade italiana de Aracaju".

História (216)- "Far l'America" ( 125): Imigração meridional na Bahia

No ensaio  “A propósito de imigração e urbanização: correntes imigratórias da Itália meridional às ‘outras Américas’ ”Vittorio Capelli, professor-associado de História Contemporânea na Universidade da Calábria (tradução da Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino,docente do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.-2006) revela traços da presença italiana na Bahia no séculos XIX e XX.

"Poderá surpreender que se fale de imigração italiana na cidade mais africana do Brasil, habitada por larga maioria de negros e mulatos, uma ex-capital em declínio nos anos sessenta do século XIX.

Contudo, Thales de Azevedo, há muito tempo já assinalava 16 uma presença dos italianos bem mais significativa do que se pensa comumente. Ele recorda que, em 1861, existia em Salvador uma “Sociedade Italiana de Recreio e Beneficência”. E pouquíssimos anos depois, teriam chegado de Trecchina, um pequeno paese da Basilicata no limite com a Calábria, os primeiros imigrantes espontâneos que deram vida, a partir de 1878, à uma ativa e interessante colônia italiana em Jequié, promovendo com originalidade o comércio e a agricultura.23 Tanto que, dos 200.000 habitantes atuais de Jequié, pelo menos 2.000 são de origem italiana.

Essa corrente migratória de Trecchina encontra ampla repercussão no vizinho município calabrês de Laino Borgo, a julgar pela informação do cônsul italiano L. S. Rocca. Segundo ele, deste pequeno paese provêm quase todos os 500 italianos presentes na Bahia no início do século XX século.24 Muitos eram sapateiros e concentraram- se, na virada para o século XX, na Baixa dos Sapateiros, no Maciel e nas ruas vizinhas de Salvador, onde são numerosas as lojas de calçados e de tecidos, os empórios e as oficinas mecânicas dirigidas por italianos, que têm todos a mesma proveniência geográfica e que trabalham há muito tempo ao lado de comerciantes árabes e judeus".