quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Italianità - O significado das raízes italianas no sul do Brasil

Não faltam na internet artigos e teses a respeito do sentimento de italianidade. Um bom exemplo pode ser encontrado em  http://turismoehospitalidade.hpg.ig.com.br/revista_reconstrucao.htm
Trata-se de um artigo de 2002 da professora Alexandra Marcella Zottis intitulado "A Reconstrução da Italianidade no Sul de Santa Catarina". A autora faz referência ao legado da imigração italiana na cidade de Urussanga e traça paralelos com a italinidade na serras gaúchas. A seguir, trechos do trabalho da pesquisadora.


  • "As viagens de conhecimento motivaram a realização do gemellaggio, pacto entre cidades brasileiras e italianas para se tornarem irmãs. A semelhança física era destacada para intensificar os vínculos de uma cidade com outra. Nesse contexto, Urusssanga uniu-se em gemellagio com Longarone. Os incentivos do Ivral estimulam a italianidade para as gerações mais novas. Por outro lado, acabam propiciando confusões. A tarantela, por exemplo, é divulgada como uma manifestação cultural, embora a região do Vêneto, de onde veio maioria dos imigrantes de Urussanga, não a conhecesse. A própria dança era reprimida naquela região pela Igreja. A construção do cenário para a italianidade como espetáculo principal confunde atores e espectadores. Nas festas típicas italianas, bandeiras tricolores, objetos antigos e música italiana recriam o passado no presente. Os oriundi tornam-se espectadores de si mesmos".
  • "O processo de utilizar a italianidade como marketing turístico não se restringe ao sul de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, municípios principalmente da região nordeste têm investido nessa vertente. A comparação entre os dois estados permite uma análise mais alicerçada dos pontos que podem ser considerados positivos na reconstrução da italianidade, foco do artigo de Adiles Savoldi. Impossível não reconhecer inúmeros méritos no trabalho de valorização da italianidade. Já na década de 1980, historiadores e pesquisadores culturais no Rio Grande do Sul, como Rovílio Costa, Luiz de Boni e Tânia Tonet alertavam para o risco de uma série de manifestações culturais estarem se perdendo. O uso do dialeto vêneto; das canções; dos jogos de bodega e de festas, se restringiam a pessoas de idade mais avançada. O abismo entre as gerações se expandia. Os 'nonnos' ainda encontravam dificuldades para manter um diálogo em português. Os netos já não entendiam palavras em dialeto, que faziam parte da rotina das suas famílias, até pouco tempo".

História 5 - Cartógrafos italianos no Descobrimento

A primeira carta geográfica assinalando o recém-descoberto território brasileiro data de 1502. E mais uma vez se trata de um fato onde a presença italiana é fundamental. Naquele ano, um cartógrafo português (que a história não identifica) concluiria uma encomenda feita pelo veneziano Alberto Cantino, que agia a serviço do duque de Ferrara: a execução de um novo planisfério.Nele surgem os seguintes nomes: Brasil, apontando não uma extensão de terra, mas um rio; Porto Seguro e Abadia de Todos os Santos. 





Em 1504 surge outra importante referência cartográfica: o planisfério de Fano, elaborado pelo genovês Vesconte di Maggiolo, onde o Brasil aparece identificado como Terra de Santa Cruz.




O navegador veneziano Sebastião Caboto, depois de ter navegado pelo litoral brasileiro em 1525, elabora em 1554 o seu mapa-mundi.






               



Outro belo mapa  feito por Giovanni Batista Ramusio (1565), coloca o Brasil em destaque, com ilustrações da vegetação nativa e de algumas atividades indígenas. Na obra que acompanha as cartas geográficas, Ramusi descreve assim os habitantes da região. “Le genti d´essa sono di buona forma; vanno ignudi, senza coprire niente;le loro labbra sono piene di d’ossa di pesce; Le loro armi sono come dardi; fede nessuna non hanno; mangiano per comune carni umane”.









História 4 - Italianos no Descobrimento do Brasil

Elos entre Brasil e Itália datam da época do Descobrimento. E a figura de Amerigo Vespucci (ver postagens a respeito neste blog), embora seja a principal, não é a única na história da aventura italiana "in Terra Brasilis". 
Das 13 embarcações que integraram a  esquadra de Cabral, uma pertencia a empreendedores italianos. Nomes como Marchioni, Gualterotti, Svalgo, Morelli, entre outros, passaram a fazer parte das expedições de reconhecimento das novas terras portuguesas no Atlântico. 
Tais expedições eram, na verdade, uma concessão do governo de Portugal. Com base nela, frotas financiadas por italianos percorreriam o litoral brasileiro durante vários anos, identificando pontos geográficos e transportando para a Europa grandes quantidades de pau-brasil e até mesmo índios, como foi o caso da nau Bretoa, de propriedade  pela família Marchioni.   
Do ponto de vista comercial, Italianos e portugueses seguiram juntos  nas primeiras décadas após o descobrimento. Em seu livro O Brasil de Américo Vespúcio, o pesquisador Riccardo Fontana usa um termo da economia moderna para definir a parceria entre eles: “joint venture ítalo-portguesa”.

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Italianità - Raízes no agroturismo



Não é só na Itália que as cidades do campo investem numa atividade bastante lucrativa: o agroturismo. No principal estado brasileiro, São Paulo, um grupo de fruticultores, grande parte oriundos, aposta nesse tipo de atividade como meio de valorização da produção de frutas como uvas, morangos, goiabas, figos, ameixas e  pêssegos. Para tanto, fundaram, no final de 2000, a  Associação de Turismo Rural do Circuito das Frutas com o objetivo de estimular as atividades turística numa região formada pelas cidades de  região Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu , Jundiaí,  Louveira, Valinhos e Vinhedo. Um dos produtores associados, é a Famiglia Brugnolli, que colhe anualmente 400 toneladas de uvas, em férteis terrenos em Jundiaí. Além das plantações e da cantina, os Brugnolli comandam um restaurante com comidas típicas do Veneto, de onde partiu em 1889 o jovem Antonio Brugnolli decidido a “far l´america”. As tradições familiares também estão conservadas no belo  Museu do Vinho. As propriedades do Brugnolli fazem parte dos roteiros organizados pela  a  Associação de Turismo Rural do Circuito das Frutas. Dessa forma, os visitantes podem conhecer a força e tradição da imigração italiana em São Paulo. 


Mais informações sobre o circuito das frutas - www.circuitodasfrutas.com.br.

Cultura- Arte italiana nos palácios paulistas


No rico acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo (Capital e Campos do Jordão) existe a marca da italianidade com quadros de expoentes da pintura modernista no Brasil como as bandeirinhas do lucchese Alfredo Volpi (1896 -1988) e  dos brasileiros descendentes de italianos, Cândido  Portinari (1903-1962) e Anita Malfatti (1896 – 1964). Em 2004, a professora Nereide Schilaro Santa Rosa reuniu imagens desses acervos no livro Arte nos Palácios. "Conhecendo essas obras – afirma a professora - é possível aprender mais sobre a história do Brasil. A Arte é um meio de expressão do homem que sempre se renova. Por meio das cores, formas, massas e volumes os artistas expressam seus pensamentos e suas idéias". Nas livrarias virtuais como FNAC é possível comprar o livro da professora  Nereide por preços entre R$ 15 e R$ 20,00.     

História 3 - Vespúcio e Mundus Novus

Outro texto de grande importância atribuído a Amerigo Vespucci é "Mundus Novus" editado entre 1503 e 1504. É um sumário sobre duas expedições ao Brasil endereçado a Piero Soderini, senhor em Firenze.O autor descreve (em latim) uma terra cheia de surpresa: homens e mulheres nus, cultura antropofágica, animais selvagens, natureza exuberante. Em seu livro, "o Brasil de Américo Vespucio" (1996), o italiano radicado no Brasil, Riccardo Fontana, traz uma tradução desse texto. Abaixo, fragmentos de "Mundus Novus".


"(...) Este país é mais habitado do que qualquer outro que tenha visto e as pessoas são muito dóceis e mansas. Não ofendem ninguém, andam totalmente nuas como a natureza as criou, nuas nascem e nuas depois morrem; têm corpos muito bem modelados e bem proporcionados; a cor puxa para o avermelhado e isso acontece porque, estando nuas, são facilmente queimadas pelo calor do sol. Têm cabelos negros, mas longos e corridos. Têm, a face de belo e gentil, nas fazem-na virar feia de maneira incrível, porque a trazem toda furada, isto é as maças do rosto, as maxilas, o nariz. os lábios e as orelhas; não de um só pequeno furo, mas de muitos e grossos furos.(...) Extraída a carne, enchiam a cavidade de certas pedrinhas esbranquiçadas, marmóreas e cristalinas ou de lindíssimo alabastro"




 "(...)Se quisesse lembrar quanto ali existe e descrever todas as espécies de animais, nunca terminaria. (...) Todas as árvores são odíferas e todas produzem goma, óleo ou algum líquido, que trariam saúde aos nossos corpos, se porventura as conhecêssemos. Considero que se o paraíso terrestre fosse neste mundo, não ficaria longe destas regiões"  











História 2 - A carta de Vespúcio III



Quem tiver curiosidade de ler a carta de Vespucci a Soderini encontrará a integra do documento (no original em latim e tradução para o italiano) no site da Università di Firenze (eprints.unifi.it/archive/00000533/02/Lettera_al_Soderini.pdf  ).
O pesquisador italiano radicado no Brasil, Riccardo Fontana, é autor livro "O Brasil de Américo Vespúcio" (1996). Na obra, a  referida carta foi traduzida para o português. Um trecho narrativo da viagem que trouxe Vespucci ao Brasil dá conta da epoeia do navegante fiorentino. "Zarpamos do porto de Cadiz com três naus de reconhecimento em 18 de maio de 1449 e começamos nosso percurso direto às ilhas de Cabo Verde, passando pela Ilha Canária), e navegamos tanto que tocamos uma ilha que se chama Ilha do fogo; e feito alí nosso aprovisionamento de água e de lenha, retomamos nossa navegação com vento sudoeste, chegamos em 44 dias a uma nova terra que julgamos ser terra firme e continua àquela da qual se faz menção na (viagem) precedente., que fica situada dentro de uma zona tórrida e fora da linha equinocial em direção austral; sobre ela o Pólo Sul se eleva a 5 graus fora de todo o clima e dista das supracitadas 500 léguas com vento de sudoeste; e descobrimos que os dias eram iguais às noites porque alcançamos aquela terra em 27 de junho, quando o sol está próximo do Trópico de Câncer.; e observarmos que esta terra era alagada e cheia de grandíssimos rios".     

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

História 2 - A carta de Vespúcio - II


Por ocasião do V centenário da Descoberta da América, um dos vários documentos produzidos pela Universitá di Firenze é um estudo de Ilaria Luzzana Carici,disponível na internet (http://eprints.unifi.it/archive/00000557/01/CARACI_I_navigatori_fiorentini.pdf). A autora destaca que existem duas hipóteses em estudo a respeito da segunda expedição de Vespucci, aquela que segundo o biógrafo Alberto Magnaghi o trouxe para o litoral brasileiro pela primeira vez. Uma dessas hipóteses diz que Vespucci teria alcançado a costa da Guiana (rio Demerara), atingindo depois a foz do rio Berbice,de lá partindo em direção à Venezuela.Ilaria salienta o fato de não exitirem cartas a comprovar tal rota. A segunda hipótese mencionada pela pesquisadora dá conta da carta de Vespucci a Piero Soderini.
"La seconda ipotesi, che segue più fedelmente il racconto della lettera, ammette invece che la spedizione sia scesa fino a 6° lat. S,esplorando anche un tratto del Rio delle Amazzoni, prima di raggiungereTrinidad e le coste venezuelane".


 

História 2 - A carta de Vespúcio I

Dizer que Amerigo Vespucci foi a primeira presença italiana no Brasil é dar crédito a uma corrente de historiadores e biógrafos, que amparados em estudos sustentam  a tese, segundo a qual, em segunda viagem ao Novo Mundo (a serviço da Espanha, entre maio de 1499 e setembro de 1500) o navegante fiorentino percorreu a foz do Rio Amazonas. O principal biógrafo de Vespucci, o italiano Alberto Magnaghi é um dos que sustentam a primazia vespucciana "in Terra Brasilis".
O grande documento que ampara essa teoria é o conjunto de cartas, dadas como sendo de autoria de Vespucci, endereçadas a Piero Soderini, e  publicadas entre 1503 e 1506. Solderini era gonfaloneiro da República de Firenze, ou seja, um dos nove cidadãos eleitos em cada bimestre de forma rotativa, para formar o governo.Era ele que tinha o privilégio de guardar a bandeira da República.
A missiva conta detalhes das quatro  expedições vespuccianas, duas a serviço da Coroa Espanhola (1497-1498 e 1499-1500) e duas a serviço da Coroa Portguesa (1501-1502 e 1503-1504). Continua....

História 1 - Vespúcio, o primeiro visitante


Quarta-feira, 22 de abril de 1500. A data marca oficialmente a descoberta de um vasto pedaço de terra pela esquadra portuguesa, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. Um das naus da exposição portuguesa era de propriedade do mercador italiano Bartolomeo di Domenico Marchioni. Porém, três meses antes, Vespucci, segundo o relato de confiáveis fontes da historiografia mundial, desembarcava num ponto ao norte do Barsil, junto à foz do rio Amazonas, no comando de uma expedição financiada pela Coroa Espanhola. E assim, aonde desmbocava um dos maiores cursos de água doce do mundo, nascia, concretamente, a aventura italiana na Terra Brasilis.

Países irmãos

Um gemmellagio (referência a acordos que criam a figura de cidades irmãs) de 500 anos. Essa frase bem que poderia ser o tema de tantos e tantos debates envolvendo o relacionamento ítalo-brasileiro. A bem da verdade, seria um longo debate, pelo qual desfilariam uma ampla galeria de ilustres personagens - encabeçada pelo fiorentino Amerigo Vespucci (Amércio Vespúcio)-, que ao lado de figuras menos conhecidas e de uma infinidade de homens, mulheres e crianças anônimos compõem um rico capítulo da história de dois países: Brasil e Itália. Da então revolucionária indústria naval do século XVI - que seduzia navegadores italianos a aventurarem-se em longas e arriscadas viagens - até a as modernas plataformas dos carros mundiais da Fiat montados em território brasileiro, é plenamente possível teorizar-se sobre um tema atual: a globalização.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Italianità

Um blog para difundir, discutir e aprofundar assuntos relacionados à presença italiana no Brasil (história e modernidade), bem como valorizar o Made in Italy. Um espaço para troca de informações e conhecimento, compartilhando raízes comuns de uma italianidade que carregamos no sangue e na alma.
Italianità aqui, não significa apenas um laço sanguíneo a nos identificar com Itália de nossos antepassados ou parentes ainda vivos. A italianità que pulsa neste blog engloba, é claro, a questão das nossas raízes italianas ( histórias das nossas famílias na saga da imigração) , mas também reserva um olhar para a linha do tempo  nela buscando e resgatando uma galeria de  personagens italianos que, de alguma forma, inseriram, desde 1500, seus nomes na História do Brasil em tantos e tantos campos da atividade humana.
Italianità neste blog é também valorizar nossa nossa identificação com o Made in Italy: gastronomia, design, moda, entre outras áreas.
São esses os objetivos desse blog, uma ferramenta midiática capaz de unir oriundos e amigos.