segunda-feira, 10 de maio de 2010

História (186): Imigração italiana no Pará (2)

A socióloga Marília Emmi na Universidade Federal do Pará- tese de doutorado- faz um relato da imigração italiana no Estado do Pará.

"Entre as décadas de 1920 e 1930, os imigrantes italianos eram bastante representativos em Belém. As famílias se reuniam em duas entidades, conforme o respectivo poder aquisitivo. Havia a elitista Sociedade Italiana e a popular União Italiana. Entre as duas, uma enorme rivalidade.

Na rua Manoel Barata, em frente à antiga confeitaria Palmeira, funcionava a União Italiana.No mesmo prédio, hoje está instalada a Associação Ítalo-brasileira, entidade promotora da Festa de São Genaro, na avenida Serzedelo Correa.

Ainda na Manoel Barata, na esquina com a avenida Presidente Vargas, havia a Casa dos Italianos. Os filhos de italianos estudavam em escolas especialmente voltadas para eles. Uma delas, era a escola Dante Alighieri.

Em 1932, havia no Pará duas facções do Partido Fascista. A de Belém tinha 68 inscritos. A de Óbidos, 41. Além dos conservadores, havia os anarquistas ligados, principalmente, ao setor gráfico.

Eles se dedicaram ao comércio de gêneros alimentícios, de tecidos, de ferramentas e produtos regionais, mas também havia os que se tornaram representantes de bancos, como do Banco do Brasil e da Casa Moreira Gomes.

Os italianos que chegavam a São Paulo encontravam abrigo na Casa dos Imigrantes. Em Belém não havia uma casa similar. Os recém-chegados se hospedavam em pensões de famílias italianas. Na avenida Padre Eutíquio, a pensão da Dona Genoveva era uma das mais concorridas. Elas são as precursoras das cantinas italianas de hoje.

O primeiro grande impacto dos italianos no Pará era de ordem gastronômica, relata seus descendentes. A comida extremamente diferente era uma barreira. A maioria produzia as suas próprias massas.

Das 400 famílias do Norte da Itália programadas para as colônias Anita Garibaldi e Ianetama, em 1898, somente oitenta chegaram. Pertenciam às regiôes da Lombardia e do Veno, Norte da Itália.

Os imigrantes não tinham a preocupação de enviar dinheiro para a Itália, salvo para buscar o restante da família. Os mais abastados, no entanto, visitavam a Itália todos os anos.

Entre os comerciantes italianos, a maioria era originária da cidade de São Constantino di Rivello, na região da Basilicata. A pesquisadora do NAEA entrevistou um descendente que conheceu a cidade. Segundo ele, São Constantino é muito pequena e com poucas oportunidades de trabalho. Ainda hoje os jovens são obrigados a sair de lá quando chegam à idade escolar.

Os imigrantes que chegaram entre 1940 e 1950 saíram da Itália por causa da Guerra. Muitos já tinham parentes no Estado. Depois desse período, a imigração chegou ao fim". (Fonte Universidade Federal do Pará)

História (185 ): Imigração italiana no Pará (1)

Pesquisa na Universidade Federal do Pará- tese de doutorado da socióloga Marília Emmi - revela mais um capítulo da imigração italiana no Brasil, desta vez no Norte do país.

"Na segunda metade do século XIX, pequenos agricultores das regiões mais pobres da Itália deixaram suas províncias em busca de emprego em países da América do Norte e do Sul. Com a Europa em crise, a oferta de trabalho nas grandes plantações de café, logo após a abolição da escravatura, atraiu enorme contingente de imigrantes para o Brasil. A maioria concentrou-se no Sul e Sudeste, mas muitos vieram para a Amazônia, que começava a viver o período áureo da borracha.

A presença italiana no Sul e Sudeste do Brasil vem sendo estudada há bastante tempo nos meios acadêmicos, ao contrário do que ocorre em relação ao Norte. A história da imigração no Estado do Pará, por exemplo, ainda está para ser contada. A socióloga Marília Ferreira Emmi, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, está empenhada em fazer esse resgate por meio da pesquisa "Raízes Italianas no Pará", sua tese de doutorado, em elaboração.

O objetivo central da pesquisa é levantar qual a contribuição dos imigrantes italianos ao desenvolvimento do Estado Abarcando oitenta anos de história, a pesquisa vai se concentrar no período de 1870 a 1950, época em que a imigração italiana ocorreu no Pará. Três segmentos distintos se destacam nesse período: os que vieram por iniciativa individual, concentrando-se, principalmente, em Belém e no Baixo Amazonas; os que vieram para as colônias agrícolas Anita Garibaldi e Ianetama, localizadas entre Castanhal e Curuçá; e o segmento religioso, formado, entre outros, por padres capuchinhos e salesianos.

Vale ressaltar que durante o século XIX um importante segmento, formado por artistas, músicos, pintores e arquitetos italianos, teve presença importante na Amazônia, conforme pesquisa desenvolvida pela professora Jussara Derenji. Marília Emmi, porém, vai centrar seus estudos sobre os italianos que se dedicaram ao comércio, pertencentes ao primeiro segmento. Os imigrantes que vieram para o Pará são predominantemente da região Sul da Itália, originários, sobretudo, da Calábria, Campania e Basilicata. Eram todos colonos, mas aqui se dedicaram ao comércio. O primeiro comércio italiano de que se tem notícia é de 1888. Ficava em Santarém e pertenceu a Miléo e Calderaro. Eles fincaram raízes familiares em Belém, Abaetetuba, Óbidos, Oriximiná, Santarém e Alenquer.

Uma resenha escrita por dois viajantes italianos informa que, em 1932, havia no Pará 54 estabelecimentos comerciais de propriedade de imigrantes italianos, dos quais 70% estavam localizados no Baixo Amazonas. A presença na região oeste do Pará era tão acentuada, que havia uma representação do consulado da Itália em Óbidos, considerada a cidade mais italiana do Estado.

O consulado ficava em Recife, Pernambuco. Investigando o fato de os colonos terem mudado radicalmente para a atividade comercial, Emmi trabalha com a hipótese da inadequação do solo amazônico, embora entre os que se estabeleceram como comerciantes existissem criadores de carneiros e de suínos, atividade tradicional no meio rural italiano. Sobre a concentração no Baixo Amazonas, a pesquisadora acredita que o comércio da borracha exerceu forte poder de atração. Eles ganharam bastante dinheiro abastecendo os regatões, mas ao contrário dos imigrantes do sul, como Matarazzo e Pinotti, não ficaram ricos. Em Belém, os italianos se dividiram entre a atividade comercial e os pequenos serviços.

Ao mesmo tempo em que trabalharam como sapateiros, ferreiros, jornaleiros e verdureiros, foram importantes no início do processo de industrialização da capital (1895). As primeiras fábricas de calçados, por exemplo, foram fundadas por Conte e Libonatti. Segundo o censo de 1920, existia no Pará cerca de mil italianos, número que a pesquisadora considera expressivo. Ao final da Segunda Guerra, registrou-se um refluxo causado pela perseguição a alemães, japoneses e italianos. Emmi coletou depoimentos de descendentes sobre aqueles momentos de dolorosa memória.

Grisólia e Oliva contam que perderam tudo no saque generalizado às lojas das famílias. Em Santa Isabel, na estrada de Bragança, um hotel de propriedade de italianos foi totalmente saqueado. Muitos voltaram para a Itália. A maioria, contudo, ficou. Ainda há descendentes dos pioneiros em atividades comerciais no Baixo Amazonas. Dados da Associação Comercial de Oriximiná de 2002 mostram que famílias como os Florenzano, os Miléo, os Paternostro e os Savino mantêm seus comércios, embora as últimas gerações tenham se transferido para Belém para a realização dos estudos. Hoje, grande parte dos descendentes são profissionais liberais, médicos, dentistas, engenheiros, advogados etc" (Fonte: Univeresidade Federal do Pará)