terça-feira, 2 de março de 2010

História (90) - Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (6)

Num site do Projeto  Memória  dedicado ao jurista, diplomata, político e escritor Rui Barbosa um glossário ajuda a entender melhor o tempo vivido pelo célebre brasileiro. Sobre a greve de 1917, o glossário traz texto de Everardo Dias (História das lutas sociais no Brasil) relatando o que reivindicavam os operários e os compromissos assumidos por empresários e governo.

“Desencadeando-se o movimento de paralisação do trabalho, que se alastrou por todo o Estado de maneira tão rápida e alarmante, sem que o governo pudesse, com seus órgãos de repressão brutal, conseguir debelá-lo, e, pelo contrário, deu-lhe maior vigor e desejo de vingança popular, aceitou o secretário da Justiça, Sr. Elói Chaves, a interferência de uma Comissão da Imprensa, a qual articulando-se com os delegados dos operários da Capital e os industriais, e depois de acertadas todas as garantias para o comparecimento em Palácio dos representantes do operariado, foram por estes apresentadas as reclamações que constam do relatório que abaixo vamos descrever, por se tratar de um documento histórico, que deve ficar registrado nestas páginas para orientação dos pósteros e que foi lido em face dos senhores industriais e de todas as personalidades governamentais ali reunidas solenemente”.

O QUE RECLAMAVAM OS OPERÁRIOS -  ”Os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e das associações político-sociais que compõem o Comitê de Defesa Proletária, reunidos na noite de 11 de junho, depois de consultadas as entidades de que fazem parte, expondo as aspirações de toda a população angustiada por prementes necessidades; considerando a insuficiência do Estado no providenciar de outra forma que não seja pela repressão violenta, tornam públicos os fins imediatos que a atual agitação se propõe, formulando da maneira que segue as condições de trabalho que, oportunamente, serão examinadas nos seus detalhes:

1º - Que sejam postas em liberdade todas as pessoas detidas por motivo de grave; 2º - Que seja respeitado do modo mais absoluto o direito de associação para os trabalhadores; 3º - Que nenhum operário seja dispensado por haver participado ativa e ostensivamente no movimento grevista; 4º - Que seja abolida de fato a exploração do trabalho de menores de 14 anos nas fábricas, oficinas etc.; 5º - Que os trabalhadores com menos de 18 anos não sejam ocupados em trabalhos noturnos; 6º - Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres; 7º - Aumento de 35% nos salários inferiores a 5$000 e de 25% para os mais elevados; 8º - Que o pagamento dos salários seja efetuado pontualmente, cada 15 dias, e, o mais tardar, 5 dias após o vencimento; 9º - Que seja garantido aos operários trabalho permanente; 10º - Jornada de oito horas e semana inglesa; 11º - Aumento de 50% em todo o trabalho extraordinário. Além disso, que, particularmente se refere às classes trabalhadoras, o Comitê de Defesa Proletária, considerando que o aumento dos salários, como quase sempre acontece, possa vir a ser frustrado por um aumento - e não pequeno - no custo dos gêneros de primeira necessidade, e considerando que o atual mal-estar econômico, por motivos e causas diversas, é sentido por toda a população, sugere algumas outras medidas de caráter geral, condensadas nas seguintes propostas: 1º - Que se proceda ao imediato barateamento dos gêneros de primeira necessidade, providenciando-se, como já se fez em outras partes, para que os preços, devidamente reduzidos, não possam ser alterados pela intervenção dos açambarcadores;

2º - Que se proceda, sendo necessário, à requisição de todos os gêneros indispensáveis à alimentação pública, subtraindo-se assim ao domínio da especulação;

3º - Que sejam postas em prática imediatas e reais medidas para impedir a adulteração e falsificação dos produtos alimentares, largamente exercitados por todos os industriais, importadores e fabricantes;

4º - Que os aluguéis das casas, até 100$000, sejam reduzidos em 50%, não sendo executados nem despejados por falta de pagamento os inquilinos das casas cujos proprietários se oponham àquela redução. As propostas e condições acima são medidas razoáveis e humanas. Julgá-las subversivas, repeli-las e pretender sufocar a atual agitação com as carabinas dos soldados, acreditamos que seja uma provocação perigosa, uma prova de absoluta incapacidade. O Comitê de Defesa Proletária crê haver encontrado o caminho para uma solução honesta e possível. Esta solução terá, certamente, o apoio de todos aqueles que não forem surdos aos protestos da fome”.  

O COMPROMISSO DOS INDUSTRIAIS - ”Os industriais assumiram perante o "Comitê" de Jornalistas o compromisso seguinte: a) manter a concessão feita, de vinte por cento sobre os salários em geral; b) afirmar que não será dispensado nenhum operário que tenha tomado parte na presente greve; c) declarar que respeitarão absolutamente o direito de associação dos seus operários; d) efetuar os pagamentos dos salários dentro da primeira quinzena que se seguir ao mês vencido; e) consignar que acompanharão com a máxima boa vontade as iniciativas que forem tomadas no sentido de melhorar as condições morais, materiais e econômicas do operariado de São Paulo”.

O COMPROMISSO DO GOVERNO - ”Consiste no seguinte o compromisso assumido pelos governantes: a) o governo porá em liberdade, imediatamente após a volta aos trabalhos, todos os indivíduos presos por motivos estritamente relativos à greve, isto é, excetuados apenas os que forem réus de delito comum, os quais, aliás, não são operários; b) o governo baseado na lei e na jurisprudência dos nossos tribunais, reconhecerá o direito de reunião, quando este se exercer dentro da lei e não for contrário à ordem pública; c) que o poder público redobrará esforços para que sejam cumpridas em seu rigor as disposições de lei relativas ao trabalho dos menores nas fábricas; d) que o poder público se interessará, pelos meios ao seu alcance, para que sejam estudadas e votadas medidas que defendam os trabalhadores menores de 13 anos e as mulheres no trabalho noturno; e) que o poder público estudará já as medidas viáveis tendentes a minorar o atual estado de encarecimento da vida, dentro de sua esfera de ação, procurando outrossim exercer a sua autoridade, oficiosamente, junto do grande comércio atacadista, de modo a ser garantido aos consumidores um preço razoável para os gêneros de primeira necessidade; f) que o poder público, aliás no desempenho de um dever que lhe é muito grato exercer, porá em execução medidas conducentes a impedir a adulteração e falsificação dos gêneros alimentícios."

História (89) - Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (5)

 O site da Fundação Desenvolvimento Administrativo (governo do Estado de São Paulo) traz a seção Memória Paulista, na qual é possível a localização, por assunto, de diversos documentos (sobretudo livros e jornais) disponíveis em órgãos públicos como acervos do governo estadual, bibliotecas de Faculdades, entre outros.





Um dos temas que podem ser consultados (com resumo do que traz a fonte citada) é justamente a Greve Geral de 1917, iniciada no cotonifício do empresário italiano Rodolfo Crespi. A seguir, algumas indicações sobre jornais da época noticiando os desdobramentos do movimento grevista.
A simples leitura desses fragmentos já nos dá a dimensão do que foram aqueles dramáticos e tensos dias de julho de 1917.

Carestia de vida - Este artigo relata como o custo de vida no Brasil sempre foi alto. De acordo com o Year Book de 1912, o país aparece no topo dos países mais caros do mundo, onde os gêneros de primeira necessidade sofrem reajustes constantes, enquanto os salários não conseguem acompanhar. Entre 1915 e 1917, os preços do pão, do açúcar, do feijão e do arroz cresceram entre 60 e 150%. O fim da carestia de vida foi uma dos reivindicações feitas pelos trabalhadores paulistas participantes da Greve Geral de 1917. (A Gazeta, São Paulo, 7 jul 1917, capa.)

Na Antarctica Paulista - Operários grevistas da Companhia Antarctica, sem conseguirem êxito nas reivindicações por melhores condições de trabalho, agrediram um reduzido pessoal que trabalhava; por isso, foi ordenado reforço policial nas fábricas da Móoca e da Água Branca. (A Capital, São Paulo, 9 jul 1917, capa). As Arruaças de Ontem O artigo informa que os operários da fábrica de Tecidos Crespi, localizada no bairro do Alto da Móoca, continuam em greve. No dia anterior estes operários se reuniram em frente à fábrica, em manifestação hostil contra seus patrões, além de tentarem apedrejar a polícia pela prisão de dois menores. A resposta veio através do revide da cavalaria, que atirou nos manifestantes para dispersarem rapidamente. Dois policiais foram atingidos por pedras e sofreram ferimentos leves, mas passam bem. ( A Nação, São Paulo, 9 jul 1917, capa).

Agitações proletárias -  No dia anterior à publicação do artigo, alguns operários foram feridos e, em consequência, o policiamento foi reforçado com 80 praças, sendo 50 deles da infantaria armados de fuzis. Neste mesmo dia, outra companhia de infantaria invadiu a Liga Operária da Móoca, retirando dali placas, livros, manifestos e qualquer papel suspeito de anarquismo. Na sequência, o jornal publicou um manifesto de um grupo de mulheres grevistas e o manifesto do Comitê de Defesa Proletária. Noticiou, ainda, a morte do sapateiro espanhol José Iguenez, empregado de uma sapataria na rua Caetano Pinto. (A Capital, São Paulo, 10 jul 1917, capa).

O movimento grevista continua - O artigo mostra reivindicações de operários e a situação deles nas diversas fábricas de São Paulo, durante a Greve Geral de 1917. Os operários da fábrica Mariangela, pertencente às Indústrias Reunidas Matarazzo, embora ainda não tivessem aderido ao movimento, pediam aumento salarial. No Cotonifício Crespi, centro do movimento grevista, o gerente não sabia quando os operários voltariam ao trabalho. A fábrica já havia anunciado aumento de 10% aos trabalhadores diurnos e 15% para os da noite. Já os operários da Antarctica aguardavam os resultados da reunião dos diretores da companhia, marcada para às 11 horas desta data. O artigo relata, ainda, os incidentes ocorridos no dia anterior, na rua Monsenhor Andrade, de que vários operários saíram feridos: José Ignez Martinez foi baleado no peito e não resistiu aos ferimentos; os demais tiveram ferimentos leves. ( A Gazeta, São Paulo, 10 jul 1917, p. 3).

Crise operária -  O periódico opina que é preciso organizar uma legislação operária capaz de efetivar direitos e conter as divergências entre operários e patrões, porque a classe dos trabalhadores luta muito por sua subsistência nestes tempos difíceis. Também pede que os operários mantenham-se calmos, não criem confusões em decorrência da greve geral que estava em curso, mas que continuem a defender sua causa (melhores salários, melhores condições de trabalho e que os preços dos alimentos sejam contidos). (A Platéia, São Paulo, 11 julho 1917, capa e p. 4).

O movimento grevista alastra-se -  Informa a adesão à greve dos operários da Fiat-Lux, Fiação e Tecelagem São Simão, Fábrica de Tecidos Penteado, Estamparia Matarazzo, Moinho Gamba, Dante Ramenzoni, Vianna, dentre outros. Os operários da Light também deverão aderir em breve. Noticia, ainda, o enterro do operário José Martinez que foi acompanhado por cerca de 20 mil pessoas. E apresenta uma foto do aspecto do cortejo fúnebre. ( A Capital, São Paulo, 11 jul 1917, capa e p. 4). O enterro realizado hoje O artigo informa que o enterro do sapateiro José I. de Martinez foi acompanhado por um número extraordinário de pessoas. E que alguns operários conseguiram alterar o percurso do féretro e passar em frente ao prédio da Polícia Central, quando exigiram a soltura de um anarquista. ( Nação, São Paulo, 11 jul 1917, p. 4)

A agitação proletária estende-se por todas as fábricas -  Este artigo define como gravíssima a situação originada pela resistência que os industriais paulistas oferecem diante das reivindicações dos trabalhadores. O movimento vinha recebendo muitas adesões, podendo se transformar em greve geral, o que seria, segundo o jornal, uma grande calamidade, mesmo sabendo que a classe operária não poderia permanecer na situação em que se encontrava - ganhando baixos salários, trabalhando muitas horas por dia e tendo dificuldades para adquirir os gêneros de primeira necessidade devido aos altos preços. (A Gazeta, São Paulo, 11 jul 1917, capa).

O movimento operário -  Informa que o movimento de greve ganhou a adesão de mais operários e que alguns deles, mais exaltados, provocaram depredações. Diz que as negociações entre o Secretário de Justiça e os industriais parecem ir bem, uma vez que os patrões prometeram estudar as reivindicações dos trabalhadores. (Diário Popular. O Movimento Operário. São Paulo, 12 jul 1917, capa).

A crise operária - O periódico afirma que, neste início da greve geral de 1917, houve um aumento da crise e das agitações operárias. Os trabalhadores pedem melhores salários e a regulamentação da tarefa dos menores nas fábricas. Um dos principais problemas, segundo a análise de A Platéia, é que os operários não dispõem de crédito para suas compras e por isso pagam tudo à vista. Seus aluguéis podem subir, assim como o preço dos alimentos, mas seus salários permanecem iguais. O jornal faz um apelo para que as autoridades ponderem este complexo problema e achem uma solução. (A Platéia, São Paulo, 12 jul 1917, capa).

A greve do operariado-  A Greve do Operariado. O artigo relata os acontecimentos do dia anterior, quando grevistas percorreram em massa todas as fábricas do bairro do Brás, obrigando-as que fechassem. Os manifestantes apedrejaram as fábricas Trapani e Moinho Santista. A polícia foi chamada para manter a ordem. Houve troca de tiros e os soldados José Liborio e Luiz dos Santos ficaram levemente feridos. Por isso, um reforço policial foi designado e o 2o. Batalhão recebeu a responsabilidade de manter a ordem na cidade de São Paulo. O bairro do Brás era o centro do movimento grevista. Logo pela manhã cerca de 100 operários nos bairros do Brás, São Caetano, Lavapés e Ipiranga promoveram a desordem e foram presos. Na Companhia de Tecidos de Juta Sant´Anna a direção concordou com o aumento de 20% nos salários dos operários. (A Platéia, São Paulo, 12 jul 1917, p.4.) A situação se agrava de momento a momento O artigo prevê a falta de pão e carne na cidade de São Paulo devido à adesão dos padeiros à greve geral, juntamente com os empregados do Frigorífico. Devido às agitações pela cidade, o tráfico de bondes está em grande parte paralisado. Observação: Esta matéria traz duas fotos com os operários nas ruas acompanhando o funeral do sapateiro José Martinez. (A Gazeta, São Paulo, 12 jul 1917, capa). As agitações proletárias alastram-se, dia a dia O Cotonifício Crespi anuncia o aumento salarial aos seus funcionários. Porém, a greve deverá generalizar-se em todo o Estado, atingindo as cidades de Santos, Campinas, São Carlos, Rio Claro, Ribeirão Preto, Sorocaba e outros centros.(A Capital, São Paulo, 13 jul 1917, capa e p. 3). A situação continua a ser muito grave Relata as desordens ocorridas no dia anterior, quando houve novamente confronto entre polícia e manifestantes. Tanto na Praça da Sé como na rua Monsenhor Andrade aconteceram tiroteios e uma mulher teria sido morta. Observação: A matéria traz três fotos: 1) no Largo da estação do norte um popular fala, do alto de uma escada, para a multidão; 2) na Sorocabana, alguns vagões de carga estão sendo guardados pela polícia depois do assalto dos grevistas; 3) na Avenida Rangel Pestana populares tomam de assalto um bonde que não consegue ir adiante. Os sucessos de ontem e a nova atitude da polícia Representantes de jornais da Capital do Estado se reuniram com o Secretário de Justiça, convidados a explicar sua atuação, com o objetivo exclusivo de conter os grevistas naquele momento. O encontro foi uma ação de conciliação e apaziguamento. A medida visou evitar a publicação de notícias errôneas sobre a Greve Geral. (A Nação, São Paulo, 13 jul 1917, p. 4.)

O movimento operário - Informa que o movimento de greve está crescendo e atinge quase todas as classes, paralisando indústrias dos mais diversos ramos. Diz que as propostas dos grevistas têm sido atendidas, restando, agora, resolver o problema da carestia de vida, ou seja, conter os altos custos dos alimentos. ( Diário Popular, São Paulo, 13 jul 1917, capa).

A caminho de um acordo? - Os representantes da imprensa publicam um abaixo-assinado, manifestando-se simpáticos à causa do operariado e convocando os industriais para uma reunião conciliatória no salão do jornal O Estado de São Paulo. Publicam, ainda, o abaixo-assinado dos trabalhadores gráficos, pedindo aumento salarial e o fim do trabalho de menores de 14 anos, jornada de 8 horas e adoção da semana inglesa. Traz uma foto de Nicolau Salermo, antes de ser morto pela polícia. (A Capital, São Paulo, 14 jul 1917, capa).

Operários em greve -  Informa que os tecelões do cotonifício Crespi pediam aumento salarial há algum tempo devido ao aumento do preço dos gêneros de primeira necessidade. A princípio pensava-se que a reivindicação seria acatada, porém, como nada foi feito, os funcionários declararam a greve. Os funcionários da estamparia Alberti, que também pediam aumento salarial, insultados pelo mestre e sem conseguirem os resultados esperados, declararam-se igualmente em greve.(A Capital, São Paulo, 15 jun 1917, capa).

O movimento operário - O artigo informa que a Comissão de Imprensa, em defesa dos operários, é quem vem intemediando as negociações entre o Comitê de Defesa Proletária e os industriais patrões pelo fim da greve geral e conquista das reivindicações dos operários. E a próxima reunião aconteceu nesta data, às 14horas, na sede do jornal O Estado de São Paulo. (Diário Popular, São Paulo, 15 jul 1917, capa).

 A crise operária -  Anuncia o início da greve na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, onde os telegrafistas pedem aumento de 20% e a diminuição das horas de trabalho. Cinco mil operários também estão em greve na cidade de Jundiaí. São trabalhadores das fábricas São Bento, F. Bulcão e Cia, Fábrica Japy, Jundiahy Agrícola, Cia Paulista, Armazéns da Estrada de Ferro Ingleza, Fábrica de Conservas e Vinhos, Serraria J. Cambraia, dentre outras. Últimas - A Crise Operária. A Platéia, São Paulo, 16 jul 1917, p. 3).

O movimento operário -  O artigo torna públicos os esforços e seus respectivos resultados obtidos pela Comissão de Imprensa Diária, organizada para intermediar o conflito entre as partes na greve geral de 1917. Os resultados, por enquanto, foram: aumento de 20% dos salários, promessa de que nenhum operário será demitido, salários pagos na primeira quinzena imediatamente após o mês vencido, melhora das condições morais, materiais e econômicas dos operários de São Paulo, dentre outras medidas. ( Diário Popular, São Paulo, 16 jul 1917, capa).

O movimento grevista -  Noticia o acordo com o Comitê de Defesa Proletária, que aceitou as concessões dos industriais e as promessas dos representantes do poder público em benefício dos operários. (A Capital, São Paulo, 16 jul 1917, capa). Agitações operárias Anuncia o fim da greve e a volta ao trabalho em muitas fábricas da capital. Ainda declaram-se em greve os operários da Ingleza, da Sorocabana e da Mogyana. Observação: A matéria traz duas fotos. 1) os manifestantes em frente ao coreto do Largo da Concórdia; 2) Aspecto do grande comício realizado no dia anterior no Largo da Concórdia pelas classes operárias.( A Gazeta, São Paulo, 17 jul 1917, capa).

Ainda o movimento grevista  -  Segundo o artigo, a vida na capital paulista foi normalizada e a greve subsiste em apenas alguns estabelecimentos que não quiseram assinar as bases do acordo liderado pela Comissão de Imprensa. A maior parte dos policiais já voltou aos quartéis e os bondes trafegam normalmente sem precisar da proteção da polícia. (A Gazeta, São Paulo, 18 jul 1917, capa).

 A carestia da vida - O artigo sugere medida a ser adotada pelo governo no combate à carestia de vida. Combater a carestia foi uma das principais reivindicações dos operários participantes da Greve Geral de 1917. De acordo com o texto, o próprio governo deveria ser o único comprador de todos os gêneros alimentícios transportados pela estrada de ferro para, desta forma, conter os abusos e, consequentemente, manter os preços estáveis. (A Platéia, São Paulo, 18 jul 1917, capa).

O movimento grevista-  Noticia a diminuição gradativa do movimento grevista com a previsão de completa normalização da situação para breve. Publica o Manifesto ao operariado, redigido pelo Comitê de Defesa Proletária.(A Capital, São Paulo, 18 jul 1917, capa).

O movimento grevista - a situação geral Publica um apelo do Comitê de Defesa Proletária aos industriais que ainda não aderiram ao acordo em prol dos trabalhadores. (A Situação Geral. São Paulo, 17 jul 1917), capa.

Notícias - Informa sobre reunião realizada no Palácio do Governo, de que tomaram parte Altino Arantes (presidente do Estado), Washington Luis (prefeito) e uma comissão de vereadores, com o propósito de investigar as queixas divulgadas na imprensa sobre os preços abusivos dos gêneros de primeira necessidade, praticados pelos armazéns. As autoridades estavam empenhadas em cumprir sua parte no acordo que pôs fim à Greve Geral para combater a carestia de vida. ( A Platéia, São Paulo, 19 jul 1917, capa).

O movimento operário -  O artigo aborda o problema da carestia de vida, que foi um dos motivos para o início da Greve de 1917 e que, após seu fim, continua sendo motivo de preocupação no mundo e no Brasil - mesmo sem estarmos na guerra. Pede para que o governo imponha limites à exploração, baixando os preços de certos gêneros de primeira necessidade. ( Diário Popular, São Paulo, 19 jul 1917, capa).

O movimento grevista -  Com a normalização e o fim das greves, o problema mais preocupante passou a ser a alimentação da população. Assim, este artigo pede que os prefeitos das cidades negociem o pronto abastecimento, diretamente com os produtores, como forma de garantir que atravessadores ou intermediários não elevem os preços. (A Capital, São Paulo, 19 jul 1917, capa).

História (88) - Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (4)

Com o início da I Guerra Mundial, houve na Europa, a fragmentação do movimento operário devido a os caminhos nacionalistas tomados por parte do movimento, alimentando a guerra fratricida. No Brasil, os operários formaram Comitês de Luta Contra a Guerra.

Com o agravamento do conflito na Europa, as condições de vida no Brasil, principalmente para os trabalhadores ficaram piores, com falta de alimentos, roupas e habitação. Com isso, e os constantes reajustes de preços, fizeram disparar a carestia. O movimento operário formou Comitês de Agitação Contra a Carestia da Vida, fomentando reivindicações e organizando e esclarecendo os trabalhadores a respeito da situação. A agitação se acirrou no 1° Maio de 1917 com fortes manifestações contra a carestia e pela redução da jornada de trabalho (neste período era comum jornadas diárias de 14, 16 horas).

Em junho os funcionários do Cotonifício CRESPI (fundado pelo imigrante italiano Rodolfo Crespi) entram em greve por melhores salários e outras reivindicações. A intransigência patronal leva a uma greve de solidariedade crescente.

No começo de julho as agitações operárias aumentam e culminam em confrontos com a polícia, onde foi morto o operário-sapateiro José A. I. Martinez (foto: dia dia cortejo fúnebre) deflagrando uma onda de protestos e greves que param a cidade de São Paulo levando a greve a outras cidades do estado (Campinas, Santos, etc.).

Cada categoria, cada trabalhador solidariamente paralisa suas atividades em uma onda espontânea e organizada em torno de reajustes salariais, redução da jornada de trabalho entre outras. Foi criado o Comitê de Defesa Proletária, que organizou as ações dos grevistas. Do lado do governo, foi decretado toque de recolher e proibida qualquer reunião pública, levando a grandes conflitos, com muitos feridos e mortos. Ao final de uma semana, a força grevista, isto é, os trabalhadores conseguem que suas reivindicações sejam aceitas. (Fonte: Midia Independente )

História (87) - Especial: Influência de socialistas e anarquistas italianos no movimento operário brasileiro (3)

 Quando o assunto é movimento operário no Brasil e a participação do imigrante nitaliano, a primeira coisa que vem à baila é o ativismo anarco-sindicalista. No artigo Desenraizados e integrados Luigi Biondi mostra uma outra face da luta operária e imigração italiana: a forte presença de grupos socialistas.


“O mundo associativo dos trabalhadores ítalo-paulistanos era muito mais articulado do que foi evidenciado pelos estudos que focalizaram a atuação dos anarquistas (..)Os socialistas italianos desempenharam um papel tão importante (muitas vezes mais intenso e ramificado) que o dos anarquistas, exatamente pela maior capacidade de circular entre diferentes tipos de associações étnicas e de classe. Sua atuação previa justamente a participação nos mais variados processos de organização, desde o grupo político até o sindicato, o círculo recreativo, a cooperativa de consumo e de produção, e obviamente, as associações étnicas e as importantes sociedades de socorro mútuo que surgiram entre os trabalhadores italianos de São Paulo da mesma forma que nos outros países onde os socialistas italianos estiveram presentes em todos os processos organizativos dos trabalhadores em São Paulo e, em alguns momentos, os lideraram efetivamente, enquanto em outros períodos compartilharam este papel de direção e organização com militantes anarquistas ou sindicalistas revolucionários”.

“(...)Em relação ao sindicalismo, às ligas de ofício, o papel dos socialistas italianos de São Paulo foi de extraordinária importância. A partir da década de 1890 foram os primeiros fundadores de ligas sindicais na cidade de São Paulo. Mas foi sobretudo entre 1898 e 1903 que eles lideraram o surgimento e a organização das ligas de resistência e todo tipo de ação sindical, desde as greves, as arbitragens nos conflitos de trabalho, até a elaboração dos estatutos e a vida associativa geral dos sindicatos”.

“(...)É necessário dizer também que não se trata de um movimento organizativo sindical exclusivamente dominado por trabalhadores especializados, homens e adultos. Pelo contrário, uma análise mais aprofundada deste período e da atividade dos socialistas italianos, mostrou que a presença de trabalhadores não (ou pouco) especializados e de mulheres não era nada desprezível, tanto que um dos sindicatos que teve maior sucesso em termos de números de filiados proporcionalmente ao número de empregados, em termos de atividade sindical e associativa, foi o dos tecelões e tecelãs (com diversas mulheres em sua direção). Esta atividade organizativa proporcionou um aumento considerável dos trabalhadores sindicalizados neste período, que não eram tão poucos como podia parecer : eles ultrapassavam a proporção que foi encontrada na Argentina de 1904 (modelo usual de comparação na historiografia sobre o movimento operário brasileiro)”.

“Os novos militantes que chegaram a partir de 1911-12, trouxeram consigo novas experiências organizativas. Foi o período do triunfo da corrente socialista revolucionária na Itália, e muitos destes militantes já na Itália tinham sido líderes locais de bolsas do trabalho, o que significava uma prática sindical experiente e que, de qualquer forma, tinha muitos pontos de contato com o sindicalismo revolucionário e a ênfase que este punha no papel do sindicato[6]. Os efeitos foram visíveis na greve geral de 1917, na qual o papel de liderança desempenhado pelos militantes socialistas italianos mais importantes de São Paulo foi evidente e não pode ser ofuscado pela idéia que tivemos até agora de uma greve geral gerada espontaneamente, dominada por anarquistas. Ao contrário, parece-me que ela se desenvolveu num contexto em que ainda havia uma rede de diferentes tipos de organizações políticas, sindicais e mutualistas (mesmo se um pouco enfraquecidas), e onde a falta de organização foi mais aparente do que real”.

Italiani - Ettore Ximenes e o Monumento à Independência do Brasil

Outro grande marco da arquitetura italiana em São Paulo é o Monumento à Independência do Brasil, erguido no bairro do Ipiranga. Trata-se de uma obra de Ettore Ximenes (Palermo - Sicília , 1855 - Roma, 1926).


Ximenes iniciou seu percurso no mundo artístico com estudos na cidade natal (1869-1871). Depois partiria para Napoli e Firenze.Deixou importantes obras na Itália e no exterior. Desembarcou no Brasil em 1919. onde permaneceu até 1926.



O Monumento à Independência foi criado em 1922 como parte das comemorações do centenário da emancipação política brasileira. Em 1917, o Governo do Estado organizou um concurso, aberto à participação de artistas brasileiros e estrangeiros que apresentaram projetos e maquetes. O conjunto de maquetes foi exposto no Palácio das Indústrias.

O meio cultural fez críticas à realização do concurso, à participação de artistas estrangeiros e à composição da comissão julgadora. O projeto de Ettore Ximenes foi o vencedor, mas aprovação não teve a unanimidade da comissão, que estranhou a ausência de elementos mais representativos do fato histórico brasileiro a ser perpetuado. O projeto de Ximenes foi então alterado, com a inclusão de episódios e personalidades vinculados ao processo da independência, tais como: a Revolução Pernambucana de 1817, a Inconfidência Mineira de 1789, as figuras de José Bonifácio de Andrada e Silva, Hipólito da Costa, Diogo Antonio Feijó e Joaquim Gonçalves Ledo, principais articuladores do movimento.


 O monumento, embora não concluído, foi inaugurado em 7 de setembro de 1922, ficando completamente pronto somente quatro anos depois. O artista usou 131 peças esculpidas em bronze.



Ao longo do tempo, o monumento sofreu vários acréscimos. Em 1953, começou a ser construída, em seu interior, a cripta, onde seriam depositados os despojos da Imperatriz Leopoldina, em 1954.Em 1972, consolidou-se a sua sacralização com a vinda dos despojos de D. Pedro I e, posteriormente, em 1984, dos restos mortais de D. Amélia, segunda Imperatriz do Brasil. Em 2000 foi criado um novo espaço em seu interior, concebido pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), possibilitando o acesso público às entranhas desta escultura comemorativa. O trabalho concentrou-se nas alterações arquitetônicas no interior do monumento: novos acessos da Capela Imperial, construção da escada monumental , sanitários, áreas de apoio e serviços. Externamente foram restaurados os grupos escultóricos do monumento. O painel em alto-relevo, “Independência ou Morte”, recebeu intervenção interna e externa.

Italiani – Sangue marchigiano no Modernismo brasileiro: o legado do escultor Galileo Emendabili(2)

O Monumento-Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932 (São Paulo - região do Parque Ibirapuera) é a obra mais famosa do escultor marchigiano Galileo Emendabili. A obra se destaca na paisagem com seu obelisco de 72 metros de altura, revestido de mármore travertino. No subsolo, uma cripta em forma de cruz grega abriga uma capela e os despojos dos ex-combatentes. Popularmente conhecido como “Obelisco do Ibirapuera”, homenageia a Revolução Constitucionalista de 1932, seus heróis anônimos, “mártires”, a causa constitucionalista, as personalidades que mais se destacaram como o poeta Guilherme de Almeida e o “tribuno” Ibrahim Nobre, bem como o dia em que foi deflagrada a revolta armada contra o governo de Getúlio Vargas – “9 de julho”.


A simbologia do 9 de julho foi explorada pelo escultor Galileo Emendabili ao projetar um obelisco que, da base ao topo, tem 72 metros de altura (7+2=9); da cripta ao topo tem 81 metros (8+1=9), sendo que 81 também é o quadrado de 9; pela soma aritmética de 72 e 81, também se chega ao número 9 (7+2+8+1=18 (1+8=9)).

Cada face do obelisco volta-se para um dos quatro pontos cardeais. Em cada uma delas, encontram-se quatro figuras em alto-relevo, com 5,75 metros de altura. Os dezesseis relevos ornamentam o terço inferior do obelisco e aludem à luta militar da Revolução de 1932 e aos feitos dos bandeirantes.



Entre os relevos, estão inscritos versos de Guilherme de Almeida: AOS ÉPICOS DE JULHO DE 32 QUE, FIÉIS CUMPRIDORES DE SAGRADA PROMESSA FEITA A SEUS MAIORES OS QUE HOUVERAM AS TERRAS E AS GENTES POR SUA FORÇA E FÉ NA LEI PUSERAM SUA FORÇA E EM SÃO PAULO, SUA FÉ. Na base do obelisco, duas portas de bronze com cerca de 3,5m de altura por 2m de largura, instaladas nas faces norte e sul, denominam-se Porta da Vida e Porta da Glória, respectivamente.

Com cenas em alto-relevo, a primeira exalta a capacidade de trabalho do povo bandeirante, enquanto a outra retrata a partida dos voluntários para as linhas de frente e o sacrifício dos jovens. Na entrada da cripta, três arcos lembram as arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, de onde saíram grande parte dos constitucionalistas. Acima dos arcos, encontra-se a inscrição: VIVERAM POUCO PARA MORRER BEM MORRERAM JOVENS PARA VIVER SEMPRE






As primeiras providências para a construção de um monumento ao soldado constitucionalista de 1932 foram tomadas em 1934, com a criação de uma Comissão Pró-Monumento por personalidades de destaque da sociedade paulistana. Um concurso público para a escolha do projeto foi realizado em 1937. O edital exigia que a obra fosse eminentemente arquitetônica e não apenas escultórica, devendo destinar espaço para acolher as urnas funerárias dos chamados “heróis constitucionalistas”. Para a seleção final, classificaram-se Mário Ribeiro Pinto e as duplas Galileo Emendabili e Mário Eugênio Pucci, Yolando Mallozzi e Arnaldo Maria Lello. Os projetos foram expostos no foyer do Teatro Municipal de São Paulo, atraindo grande público. Da comissão julgadora faziam parte Mário de Andrade, Júlio César Lacreta, Amador Cintra do Prado, Dácio A. de Moraes e Victor Brecheret. Por decisão unânime, o trabalho de Galileo Emendabili (Ancona, Itália, 1898 – São Paulo, 1974) e Mário Eugênio Pucci (São Paulo, 1908 – 1985) foi selecionado. Pucci era engenheiro e ficou responsável pela parte técnica da construção. Apesar dos esforços na arrecadação de fundos para a construção, o projeto não saiu do papel durante todo o período da ditadura Vargas, contra quem se fizera a “Revolução”. Entre as muitas dificuldades, as verbas disponíveis não cobririam os custos com mão-de-obra e materiais. O lançamento da pedra fundamental ocorreu no dia 9 de julho de 1949. Tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura destinaram recursos para a construção, a cargo da “Fundação Monumento e Mausoléu ao Soldado Paulista de 32”. O Decreto Municipal nº 1.078 de 6 de julho de 1949, determinava que o “Monumento aos Mortos de 32” deveria ser erigido “na parte central da praça circular localizada no prolongamento da avenida Brasil, a 1.100,00 metros, aproximadamente, da avenida Brigadeiro Luís Antônio.”

As obras começaram em 1950 e, cinco anos depois, o monumento foi inaugurado parcialmente. A partir de então, todos os anos, durante as cerimônias do “9 de julho”, os restos mortais de inúmeros ex-combatentes passaram a ser transladados para a cripta

. À Sociedade Veteranos de 32 – MMDC cabia a organização dessas solenidades e a administração do monumento. A conclusão das obras ocorreu somente em 1970. A partir de 9 de julho de 1991, a direção do monumento-mausoléu foi confiada, em caráter perpétuo, à Polícia Militar do Estado de São Paulo, na pessoa do comandante da Academia do Barro Branco, Escola Superior de Formação de Oficiais da Polícia Militar. Dada a série de dificuldades com a conservação do monumento-mausoléu ao longo dos anos 1990 e começo dos anos 2000, a Prefeitura e o Governo do Estado assinaram um convênio em junho de 2006, através do qual a Prefeitura passou a se responsabilizar pelo projeto paisagístico, ajardinamento, limpeza, conservação e segurança da praça em que está implantado, enquanto a responsabilidade pelo restauro e administração ficou a cargo do Governo do Estado.